Visão Prospectiva III

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III ENCONTRO EM PROSPECTIVA DO TRABALHO

Nº 3 • Brasília 2010

1 Introdução

O

III Encontro em Prospectiva do Trabalho nasceu da necessidade de subsidiar a elaboração de cenários do emprego, das qualificações e da educação pro-

fissional no Brasil para o período 2010/2024. A construção desses cenários partiu da premissa de que no futuro haverá algum tipo de desequilíbrio estrutural entre a oferta e a demanda de educação profissional. Antecipar a natureza dos desequilíbrios estruturais futuros ajuda a instituição a definir programas e projetos que possibilitem reduzir riscos e incertezas advindas desses desequilíbrios. Para tanto, foi necessário capacitar os Representantes de Prospectiva do SENAI, tanto dos Departamentos Regionais quanto do Departamento Nacional, na Metodologia de Elaboração de Cenários e na utilização do Mapa do Trabalho Industrial, com vistas ao planejamento das ações do SENAI para o período 2010/2024. Idealizado e concebido pela Unidade de Prospectiva do Trabalho (UNITRAB) do Departamento Nacional do SENAI, o III Encontro de Prospectiva do Trabalho contou com a presença de representantes de todos os Departamentos Regionais do SENAI e das demais unidades do Departamento Nacional, além de convidados de outras instituições que atuam no campo da educação profissional e da pesquisa econômica, tecnológica, educacional e das ciências sociais. Entre os palestrantes estiveram presentes profissionais de diversos campos de atuação e de diferentes instituições, os quais foram: » » Ian Miles, da Universidade de Manchester, na Inglaterra; » » Francisco Teixeira, da Universidade Federal da Bahia – UFBA; » » Cândido Gomes, da Universidade Católica de Brasília – UCB; » » Paulo Tigre, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; » » Carmem Feijó, da Universidade Federal Fluminense – UFF; » » André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade – IETS; » » Juliano Assunção, da Pontifícia Universidade Católica – PUC-RJ; 3

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» » Gustavo Gonzaga, da Pontifícia Universidade Católica – PUC-RJ; » » Gerard Kuhn, do Conservatoire National des Arts et Métiers – CNAM, França; » » Roberto DaMatta, da Pontifícia Universidade Católica – PUC-RJ; » » Paulo Kramer, da Universidade de Brasília – UnB; » » João Carlos Ferraz, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES; » » Paulo Rech, da Unidade de Educação do SENAI – DN; » » Heloísa Salgueiro, da Unidade de Gestão e Fomento do SENAI – DN; » » Deusa Carvalho Ramos, da Unidade de Gestão e Fomento do SENAI – DN; » » Luiz Caruso, da Unidade de Prospectiva do Trabalho do SENAI – DN; »» Márcio Guerra Amorim, da Unidade de Prospectiva do Trabalho do SENAI – DN; »» Marcello José Pio, da Unidade de Prospectiva do Trabalho do SENAI – DN; » » Denise Rocha, da Unidade de Prospectiva do Trabalho do SENAI – DN. Essas ações foram realizadas no âmbito do III Encontro de Prospectiva do Trabalho, ocorrido no período de 20 a 23 de julho, na sede do Departamento Nacional em Brasília. Na ocasião, também foram feitas a apresentação e a validação dos resultados dos estudos que indicam as tendências do comportamento das variáveis do emprego, das qualificações e da educação profissional para os próximos 15 anos, conforme será apresentado a seguir.

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2 Cenários do Emprego, das Qualificações e da Educação Profissional

Os

mercados de trabalho no Brasil estão cada vez mais complexos e dinâmicos. Os cenários de educação profissional para os próximos 15 anos

indicam que surgirão demandas do sistema produtivo em diferentes regiões do País e com perfis profissionais bastante diferenciados. Ao mesmo tempo, é crescente a exigência por maior nível de escolaridade para exercer uma ocupação no mercado de trabalho, sendo que o setor industrial exige, atualmente, o mínimo de oito anos de estudo, outros setores da economia exigem menos. As rápidas mudanças que vêm ocorrendo na tecnologia e na economia poderão contribuir para aumentar a tensão entre o tempo de resposta das qualificações direcionadas ao atendimento das especificidades do mercado de trabalho e as que possuem caráter mais generalista. As primeiras requerem maior rapidez na formação; já as segundas requerem um aprofundamento dos conhecimentos, habilidades e competências e, por isso, seu tempo de formação é maior. Além disso, as circunstâncias econômicas, sociais e ecológicas criaram a necessidade de indivíduos capazes de aprender de forma eficaz e criativa e de capacidade de adaptação a situações de mudança, tais como as exemplificadas no estudo realizado por Levy e Murnane (2004) 1, como: • resolver problemas para os quais não existem soluções baseadas em regras preestabelecidas; • interagir com os outros para obter informações, explicá-las, ou convencê-los de suas implicações na ação; • realizar tarefas mentais que podem ser descritas por regras lógicas; • realizar tarefas físicas que podem ser descritas através da utilização de regras preestabelecidas; e 1

LEVY, Frank; MURNANE, Richard J. The new division of labor: how computers are creating the next job market. Princeton: University Press, 2004.

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• realizar tarefas físicas que não podem ser descritas como um conjunto de regras “se-então” e, assim, tornam-se de difícil sistematização. Em contrapartida, as avaliações educacionais realizadas pelo Inep/MEC e pela OCDE nos últimos anos constataram que o nível de proficiência dos estudantes brasileiros, especialmente em português, matemática e ciências, é cada vez mais baixo. Em 2007, apenas 24,5% dos estudantes da 3ª série do ensino médio alcançaram o nível de proficiência adequado em língua portuguesa na avaliação realizada pelo Saeb, enquanto em matemática esse percentual foi de 9,8%. O quadro que está sendo pintado para o futuro não é muito promissor. Se tudo correr bem, isso é, se os governos cumprirem os acordos realizados em prol da melhoria da qualidade da educação básica, teremos, em 2024, 76,5% dos estudantes da 3ª série do ensino médio com proficiência adequada à série em língua portuguesa e 81% em matemática, o que corresponderá a uma nota dos concluintes do ensino médio entre 373 e 407 pontos no Saeb em matemática e entre 313 e 351 pontos em português, sendo que o máximo de pontos nessa série corresponde a 500. No entanto, vale lembrar que esse resultado equivale à média alcançada pelos estudantes dos países que compõem a OCDE no Pisa em 2003, o que corresponde ao nível 3, os quais não haviam completado o ensino médio. Esses resultados evidenciam que a preparação dos jovens brasileiros para a vida e para o ingresso no mercado de trabalho está muito aquém da formação ofertada à juventude dos países desenvolvidos e, também, de países sul-americanos como Chile e Uruguai, cuja média no Pisa é superior aos resultados do Brasil. Isso significa que, ainda que promovamos avanços educacionais, a proficiência média de nossos futuros alunos possivelmente estará aquém daquela alcançada pela média dos países da OCDE e, portanto, muito abaixo dos índices mais altos de proficiência. Isso é particularmente preocupante no momento histórico em que vivemos, no qual o conhecimento é cada vez mais o principal elemento que garante as vantagens competitivas de um país. A existência de estudantes com pouca habilidade 6

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em leitura, por exemplo, poderá comprometer a continuidade da aprendizagem ao longo da vida, o que poderá afetar de forma significativa o setor produtivo e o desenvolvimento do País diante das crescentes evidências de que educação e capacitação contínuas além da escola tendem a reforçar as diferenças de habilidades oriundas da base educacional do indivíduo. Já as deficiências em matemática poderão ocasionar aos estudantes baixas perspectivas individuais em relação ao mercado de trabalho e em termos de remuneração, além de não contribuir adequadamente para o avanço tecnológico e científico do País. Temos, portanto, a seguinte equação para ser resolvida: pelo lado da demanda, um mercado de trabalho extremamente heterogêneo e cada vez mais exigente em termos de qualificações profissionais em contraposição, pelo lado da oferta, a público-alvo igualmente heterogêneo e com baixíssimo nível de proficiência. Isso pode ser verificado, por exemplo, com a expansão das obras de infraestrutura em Rondônia, onde há a necessidade premente de formação de cerca de 25 mil trabalhadores para a construção civil. Contudo, nessa região a população possui níveis de escolaridade e de proficiência ainda mais críticos que a média nacional e a oferta de educação profissional está voltada para uma configuração completamente distinta do mercado de trabalho. Essa situação contrasta com a necessidade de formação de mão de obra para atender a uma expansão da planta da VW em São Bernardo do Campo, que possui uma população com escolaridade e proficiência, ainda que abaixo do requerido na escala do Saeb, acima da média nacional e conta com uma oferta de educação profissional bastante expressiva. Além disso, são distintas as condições de vulnerabilidade no mercado de trabalho, sendo que o grupo dos jovens é um dos que se encontram em situação mais crítica. Sendo que esse grupo pode ser classificado, por exemplo, em outros subgrupos, tais como: os de jovens que não trabalham e nem estudam, os daqueles que trabalham e estudam, que só trabalham ou que só estudam. Mas há, também, adultos em diferentes condições de empregabilidade, tais como: adultos empregados com baixa escolaridade, empregados com média e alta qualificação, desempregados de curta e de 7

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longa duração. Além daqueles que trabalham por conta própria e possuem níveis de escolaridade distintos. Diante disso, entendemos que a resolução para essas e outras questões não pode passar por uma solução única. É preciso, portanto, ter soluções diferenciadas para problemas distintos, até porque a aprendizagem é um fenômeno complexo que pode ser traduzida como um vetor resultante do background familiar, da estrutura que a escola oferece, da qualidade e comprometimento dos professores e das características pessoais do aluno, o que envolve a mobilização de seus talentos inatos e adquiridos. Sem dúvida, quanto melhor e mais sólida for a educação básica, melhor será a educação profissional, mais efetivos serão os programas de educação continuada e mais facilmente um trabalhador poderá realizar um curso de formação para mudar de ocupação, caso seja necessário ou desejável. Se no passado a ênfase era dada ao acúmulo de conteúdos, atualmente evidencia-se o uso da informação pelo aluno, o que exigirá tanto do aluno quanto da escola uma nova maneira de ensinar e de aprender. A aprendizagem não poderá mais ser movida pela obtenção de sucesso em provas, mas pela investigação na busca da resolução de problemas. O aluno terá, portanto, que ser instigado a adquirir e produzir conhecimento e não apenas a reproduzi-lo. A importância estará mais centrada em como se aprende do que no que se aprende. Isso indica que as competências e habilidades necessárias para a empregabilidade no futuro deverão ser construídas em uma base que deverá ensinar menos os conteúdos que devem ser apreendidos e mais o processo de aprender tais conteúdos. O formato dos cursos precisará ser o mais flexível possível a fim de manter a empregabilidade dos trabalhadores e a competitividade das empresas. Será necessário quebrar as barreiras da mobilidade e transferência de conhecimentos de uma área para outra. Os itinerários formativos necessitarão, portanto, de maior flexibilidade, o que conduzirá para que sejam cada vez mais estruturados em módulos, a fim de 8

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que possam ser certificados e acumulados ao longo da vida e, sobretudo, redirecionados ao longo do percurso laboral do indivíduo. Haverá aumento da importância da educação continuada, que reflete as mudanças tecnológicas e econômicas em curso e, também, o envelhecimento populacional, o que leva ao desenvolvimento de instrumentos e novos arranjos que permitam a transferência e a acumulação dos resultados da aprendizagem (learning outcomes) e, também, da validação da aprendizagem não formal e informal e da transferência de créditos. Se no passado recente ela já era importante, no presente e no futuro será ainda mais, pois a velocidade de renovação do conhecimento fez emergir a necessidade de um conceito de aprendizagem ao longo de toda a vida, que, ao que tudo indica, será uma exigência para todo tipo de ocupação. A questão da educação continuada (lifelong learning) precisará ser acompanhada da lifewide learning, o que significa que a aprendizagem poderá ser realizada em qualquer momento da vida através da educação e do treinamento formal ou da aprendizagem não formal ou informal. Isso modificará o entendimento do conceito de qualificação, uma vez que eles deixarão de refletir apenas a aprendizagem formal para incorporar a aprendizagem, que pode ser realizada, por exemplo, no local de trabalho ou em outras áreas da vida do indivíduo, como, por exemplo, em um trabalho voluntário. Diante dessas transformações, acreditamos que os processos de ensino e de aprendizagem, flexibilidade, aconselhamento profissional e certificação ocupacional deverão estar presentes na prática das instituições de formação profissional, inclusive do SENAI, pelo menos nos próximos 15 anos.

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3 Considerações Finais

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urante o III Encontro em Prospectiva do Trabalho, os diversos especialistas convidados mostraram que nossas escolas precisarão preparar os futuros es-

tudantes para trabalhos que ainda não existem, para usar tecnologias que ainda não foram inventadas e para resolver problemas que ainda não foram identificados. Mas, também, que precisaremos prepará-los para os trabalhos que já existem e que serão aprimorados, para usar tecnologias que já existem, mas que serão mais sofisticadas, e para resolver problemas atuais, os quais, no futuro, serão mais elaborados e terão de ser resolvidos em um período de tempo mais curto. Disso decorre a importância da elaboração de cenários prospectivos, que representam diversos futuros possíveis e que reduzem incertezas no processo de decisão. Diante desse desafio é que iniciamos a elaboração dos Cenários do Emprego, das Qualificações e da Educação Profissional para o período 2010/2024. Os cenários constituem-se em ferramenta essencial para o sucesso de qualquer instituição em uma sociedade que se transforma cotidianamente, em decorrência das mudanças nas condições econômicas, políticas e sociais. Os estudos apresentados para subsidiar a elaboração dos cenários evidenciam que os fluxos de mudança da economia, da política e da tecnologia são cada vez mais rápidos e podem nos conduzir a diferentes cenários, nos quais variam nossa liberdade de atuação e capacidade de implementação de uma educação profissional de qualidade, com foco na demanda da indústria. Além disso, vimos que a educação profissional contribui, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD), para o aumento da empregabilidade e da renda de seus egressos e da produtividade das empresas. Nesse sentido, em última instância, ao ofertar educação profissional de qualidade, estamos contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do País.

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CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI Conselho Nacional Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente SENAI – Departamento Nacional José Manuel de Aguiar Martins Diretor Geral Regina Maria de Fátima Torres Diretora de Operações

SENAI/DN Unidade de Prospectiva do Trabalho – UNITRAB Luiz Antonio Cruz Caruso Gerente-Executivo Luiz Antonio Cruz Caruso Revisão Técnica Denise Cristina Corrêa da Rocha Elaboração SUPERINTENDÊNCIA CORPORATIVA – SUCORP Unidade de Comunicação Social – Unicom Projeto Gráfico SUPERINTENDÊNCIA DE SERVIÇOS COMPARTILHADOS – SSC Área Compartilhada de Informação e Documentação – ACIND Renata Lima Normalização Vitor Boaventura

Produção Editorial

Ana Cristina Vilela Revisão Gramatical EstudioAB Editoração ©2010. SENAI/Departamento Nacional Setor Bancário Norte – Quadra 1, Bloco C Ed. Roberto Simonsen – 4º andar 70.040-903- Brasília-DF Tel. (61) 3317-9802 – Fax: (61) 3317-9685 [email protected] www.senai.br

Confederação Nacional da Indústria Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Nacional 16

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