Vitor Ramil: A estética do frio/Fagurfræði kuldans — amostra de tradução do português ao islandês

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a estética do frio

conferência de genebra

de

vitor ramil

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luciano dutra og

gerður gestsdóttir þýddu úr portúgölsku

reykjavík · mmxv

a estética do frio – conferência de genebra fagurfræði kuldans – genfarfyrirlestur Vitor Ramil

autor · höfundur

5. mars 2015

frumútgáfa á íslensku

Gerður Gestsdóttir · Luciano Dutra tradução em islandês · íslensk þýðing

Guðlaug Rún Margeirsdóttir

revisão da tradução · prófarkalestur

Ana Carolina Braz | ananas.is capa · kápuhönnun

Luciano Dutra

projeto gráfico/diagramação · hönnun/umbrot

Arite Fricke

desenho da marca sagarana · hönnuður merkis sagarana

Maiola Pro

tipografia no miolo do livro · leturgerð í bókinni

Munken Pure 120 g/m2 papel do miolo · pappír

Leturprent

impressão e encadernação · prentun og bókband

978 9935 9212 3 9 isbn

Sagarana editora forlag ehf

óðinsgötu 7 | 101 reykjavík | islândia · íslandi [+354] 846 2488 · [email protected] · facebook.com/sagarana Upprunalega gefið út á portúgölsku og frönsku sem A estética do frio/L’esthétique du froid © 2004 Vitor Ramil og Satolep Livros © 2015 Gerður Gestsdóttir og Luciano Dutra – íslensk þýðing Bók þessa má ekki afrita með neinum hætti, svo sem ljósmyndun, prentun, hljóðritun eða á annan sambærilegan hátt, að hluta eða í heild, án skriflegs leyfis höfundarréttarhafa, þýðanda og útgefanda. impresso na islândia · prentuð á íslandi publicado em · gefin út í reykjavík cidade da literatura da unesco reykjavík bókmenntaborg unesco

introdução apresentei A estética do frio em francês no Théâtre SaintGervais em Genebra, Suíça, no dia 19 de junho de 2003, como parte da programação Porto Alegre, un autre Brésil. O texto foi escrito para a ocasião. De lá para cá mudou um pouco. Que futuramente continue nunca sendo o mesmo. Agradeço a Philippe Macasdar, Ben Berardi, Aldjia Moulaï, Fortunat Diener, Patrick Pioggia, Sylvette Riom; Isabella Mozzillo, Edith Barreto, Marie Carmagnolle, Eduardo Filippi; Celso Loureiro Chaves, Jorge Drexler, Felipe Elizalde, Luís Augusto Fischer. Vitor Ramil Porto Alegre, novembro de 2004

inngangur ég flutti fyrirlesturinn Fagurfræði kuldans á frönsku í Théâtre Saint-Gervais í Genf, Sviss, þann 19. júní 2003, sem lið í dagskránni Porto Alegre, un autre Brésil, eða Porto Alegre, annars konar Brasilía. Textinn var skrifaður við þetta tækifæri. Einhverjar breytingar hafa orðið á honum síðan þá. Ég vona að í framtíðinni haldi hann áfram að breytast. Ég þakka Philippe Macasdar, Ben Berardi, Aldjiu Moulaï, Fortunat Diener, Patrick Pioggia, Sylvette Riom; Isabellu Mozzillo, Edith Barreto, Marie Carmagnolle, Eduardo Filippi; Celso Loureiro Chaves, Jorge Drexler, Felipe Elizalde og Luís Augusto Fischer. Vitor Ramil Porto Alegre, nóvember 2004

a estética do frio Sinto-me um pouco discípulo daqueles para quem, na descrição de Paul Valéry, o tempo não conta; aqueles que se dedicam a uma espécie de ética da forma, que leva ao trabalho infinito.

eu me chamo vitor ramil. Sou brasileiro, compositor, cantor e escritor. Venho do estado do Rio Grande do Sul, capital Porto Alegre, extremo sul do Brasil, fronteira com Uruguai e Argentina, região de clima temperado desse imenso país mundialmente conhecido como tropical. A área territorial do Rio Grande do Sul equivale, aproximadamente, à da Itália. Sua gente, os rio-grandenses, também conhecidos como gaúchos, aparentam sentir-se os mais diferentes em um país feito de diferenças. Isso deve-se, em grande parte, à sua condição de habitantes de uma importante zona de fronteira, com características únicas, a qual formaram e pela qual foram formados (o estado possui duas fronteiras com países estrangeiros de língua espanhola); à forte presença do imigrante europeu, principalmente italiano e alemão, nesse processo de formação; ao clima de estações bem definidas e ao seu passado de guerras e revoluções, como os embates durante três séculos entre os impérios coloniais de Portugal e Espanha por aquilo que é hoje nosso território e a chamada Revolução Farroupilha (1835–1845), que chegou a separar o estado do resto do Brasil, proclamando a República Rio-Grandense. Se no passado o estado antecipou-se em ser uma república durante a vigência do regime monarquista no país, no

fagurfræði kuldans Mér finnst ég að vissu marki vera lærisveinn þeirra sem eru óháðir tímanum, eins og Paul Valéry lýsti því; þeirra sem helga sig einskonar siðfræði formsins sem veldur óendanlegri vinnu.

ég heiti vitor ramil. Ég er brasilískt tónskáld, söngvari og rithöfundur. Ég er frá Porto Alegre, höfuðborgar syðsta fylkis í Brasilíu, Rio Grande do Sul sem liggur að Úrúgvæ og Argentínu. Svæðið tilheyrir syðra tempraða beltinu þótt það sé hluti hinnar stóru Brasilíu sem heimsþekkt er sem hitabeltisland. Landfræðilega er Rio Grande do Sul á stærð við Ítalíu. Rio Grande do Sul-búar, einnig þekktir sem gaúchos, virðast upplifa sig sem mjög frábrugðna í landi sem grundvallast á fjölbreytileika. Það er að miklu leiti vegna stöðu þeirra sem íbúa þessa mikilvæga landamærasvæðis, með sínum sérkennum, sem þeir sjálfir hafa mótað og því sem hefur mótað þá (fylkið hefur landamæri að tveimur spænskumælandi löndum); vegna sterkra áhrifa innflytjenda frá Evrópu, aðallega ítalskra og þýskra, í þessu sköpunarferli; vegna lofslags með skýrum árstíðum og vegna stríða og byltinga í sögu sinni, t.a.m. þriggja alda átaka milli nýlenduvelda Portúgals og Spánar um yfirráð yfir svæðinu og Farroupilha byltingin (1835-1845), sem leiddi til aðskilnaðar fylkisins og keisaraveldisins Brasilíu og stofnunar fyrsta lýðveldisins í sögu Brasilíu. Áður fyrr, á tímum einveldis í Brasilíu, varð fylkið lýðveldi og í því pólitíska umhverfi sem var um síðustu aldamót, sem

cenário político nacional desta virada de século, marcado pela desigualdade social, a capital Porto Alegre tornou-se referência internacional como modelo bem sucedido de política com participação popular. Vou falar o mais brevemente possível sobre a minha experiência como artista no Rio Grande do Sul e no Brasil. É importante começar dizendo que essa conferência é uma exposição de minhas reflexões acerca de minha própria produção artística e seu contexto cultural e social. Do tema, a estética do frio, não se pretende, em hipótese alguma, uma formulação normativa. As idéias aqui expostas são fruto da minha intuição e do que minha experiência reconhece como senso comum. A extensão do assunto e o pouco tempo para expô-lo não me permitem desenvolver suficientemente alguns pontos. Mas convido a todos para um debate após esta exposição, para que possamos retomar o que for de seu interesse e compartilhar novas reflexões.

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einkenndist af félagslegu óréttlæti, hlaut höfuðborg þess, Porto Alegre, alþjóðlega viðurkenningu fyrir vel heppnaða innleiðingu þátttökulýðræðis á sveitarstjórnarstigi. Ég ætla að tala í eins stuttu máli og mögulegt er um reynslu mína sem listamaður frá Rio Grande do Sul og frá Brasilíu. Það er mikilvægt að tala það fram strax að þessi fyrirlestur er samantekt á hugleiðingum mínum um mína eigin listsköpun og félagslegt og menningarlegt samhengi hennar. Markmiðið er alls ekki tilraun til að setja fram skilgreiningu eða kenningu um þemað, fagurfræði kuldans. Hugmyndirnar sem settar eru fram hér eru afleiðingar míns eigin innsæis og þess sem reynsla mín segir mér að sé heilbrigð skynsemi. Vegna umfangs umfjöllunarefnisins og stutts tíma til að fjalla um það hér get ég ekki gert næga grein fyrir nokkrum atriðum. En ég hvet ykkur öll til að taka þátt í umræðu eftir fyrirlesturinn, til að fara dýpra í þau atriði sem vekja áhuga ykkar og deila hugleiðingum ykkar um efnið.

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nasci no interior, mais ao Sul do que Porto Alegre, na cidade de Pelotas, que em alguns dos meus textos e canções aparece com seu nome em anagrama: Satolep. Minha vida profissional começou e se desenvolveu em Porto Alegre. No entanto gravei quase todos os meus discos no Rio de Janeiro, centro do país e do mercado da música popular brasileira. A exceção é o meu mais recente cd, Tambong, gravado em Buenos Aires, Argentina.* Aos dezoito anos gravei meu primeiro disco, Estrela, Estrela; aos vinte e quatro troquei Porto Alegre pelo Rio de Janeiro, onde morei por cinco anos. Vivi esse período no bairro de Copacabana, praia símbolo do verão brasileiro, onde, apesar do clima de mudanças discretas entre as estações e do predomínio do calor, mantive sempre alguns hábitos do frio, como o chimarrão, um tradicional chá quente de erva-mate. Em Copacabana, num dia muito quente do mês de junho (justamente quando começa o inverno no Brasil), eu tomava meu chimarrão e assistia, em um jornal na televisão, à transmissão de cenas de um carnaval fora de época, no Nordeste, região em que faz calor o ano inteiro (o carnaval brasileiro é uma festa de rua que acontece * Quando da apresentação deste texto, Tambong era meu disco mais recente. Depois dele, em outubro de 2004, lancei um novo trabalho, Longes, também gravado em Buenos Aires. Ambos foram produzidos pelo músico e produtor argentino Pedro Aznar.

ég fæddist úti á landi fyrir sunnan Porto Alegre í borginni Pelotas, sem vísað er til í nokkrum söngva minna og skrifum með samhverfunni Satolep. Starfsferill minn hófst og þróaðist í Porto Alegre, samt sem áður hef ég tekið næstum alla diska mína upp í Rio de Janeiro, sem er hjarta landsins og brasilískrar tónlistar. Undantekningin er nýjasti diskurinn minn, Tambong, sem tekinn var upp í Buenos Aires í Argentínu.* Þegar ég var átján ára tók ég upp fyrsta diskinn minn Estrela, Estrela. Þegar ég var 24 ára flutti ég frá Porto Alegre til Rio de Janeiro þar sem ég bjó í fimm ár. Á þessum tíma bjó ég í hverfinu við Copacabana ströndina sem er tákn brasilíska sumarsins. Þar hélt ég alltaf nokkrum siðum úr kaldara loftlagi, svo sem að drekka chimarrão, hefðbundið heitt te úr erva-mate, þrátt fyrir mjúkt flæði milli árstíða sem allar voru heitar. Einn funheitan dag í júní (einmitt þegar veturinn gengur í garð í Brasilíu) var ég í Copacabana að drekka chimarrão og horfa á fréttir í sjónvarpinu þar sem verið var að sýna frá karnívali (kjötkveðjuhátíð) sem haldið var utan hefðbundins tíma í Norðaustur-Brasilíu, svæði þar sem heitt * Þegar þessi texti var fluttur, árið 2003 var Tambong nýjasti diskurinn minn. Næsti diskur, Longes, kom út í október 2004 og var líka tekinn upp í Buenos Aires, en upptökustjórinn beggja var argentínski tónlistarmaðurinn Pedro Aznar. [Innskot þýðenda: Heildarlista yfir diska Vitors Ramil er að finna í viðauka].

em todo o país durante o verão). As imagens mostravam um caminhão de som que reunia à sua volta milhares de pessoas seminuas a dançar, cantar e suar sob sol forte. O âncora do jornal, falando para todo o país de um estúdio localizado ali no Rio de Janeiro, descrevia a cena com um tom de absoluta normalidade, como se fosse natural que aquilo acontecesse em junho, como se o fato fizesse parte do dia-a-dia de todo brasileiro. Embora eu estivesse igualmente seminu e suando por causa do calor, não podia me imaginar atrás daquele caminhão como aquela gente, não me sentia motivado pelo espírito daquela festa. A seguir, o mesmo telejornal mostrou a chegada do frio no Sul, antecipando um inverno rigoroso. Vi o Rio Grande do Sul: campos cobertos de geada na luz branca da manhã, crianças escrevendo com o dedo no gelo depositado nos vidros dos carros, homens de poncho (um grosso agasalho de lã) andando de bicicleta, águas congeladas, a expectativa de neve na serra, um chimarrão fumegando tal qual o meu. Seminu e suando, reconheci imediatamente o lugar como meu, e desejei estar não em Copacabana, mas num avião rumo a Porto Alegre. O âncora, por sua vez, adotara um tom de quase incredulidade, descrevendo aquelas imagens do frio como se retratassem outro país (chegou a defini-las como de “clima europeu”). Aquilo tudo causou em mim um forte estranhamento. Eu me senti isolado, distante. Não do Rio Grande do Sul, que estava mesmo muito longe dali, mas distante de Copacabana, do Rio de Janeiro, do centro do país. Pela primeira vez eu me sentia um estranho, um estrangeiro em meu próprio território nacional; diferente, separado do Brasil. 14 | a estética do frio

er allt árið um kring (karnívalið er götuhátíð sem haldin er um allt landið á sumrin). Myndirnar sýndu risastóran pallbíl með hljóðkerfi og þúsundir léttklæddra þátttakenda sem dönsuðu, sungu og svitnuðu undir sterkri sólinni. Fréttaþulurinn, sem talaði til alls landsins úr myndveri þarna í Rio de Janeiro, lýsti viðburðinum eins og ekkert væri sjálfsagðara, eins og það væri sjálfsagt að þetta gerðist í júní, eins og þetta væri daglegur viðburður fyrir alla íbúa landsins. Þótt ég væri sjálfur jafn léttklæddur og sveittur í hitanum, gat ég ekki hugsað mér að ganga á eftir þessum pallbíl með þessu fólki, andi hátíðahaldanna höfðaði ekki til mín. Í beinu framhaldi af þessu var sýnt, í sama fréttatíma, frá kólnandi veðri í Suður-Brasilíu sem gaf vísbendingu um harðan vetur. Ég sá Rio Grande do Sul: sveitir þaktar hrími í hvítu morgunljósinu, börn að skrifa með fingrunum í héluna á bílrúðunum, menn hjólandi í ponsjóum (þykkum ullarslám), frosið vatn, yfirvofandi snjókomu í fjöllum, chimarrão sem rauk af rétt eins og hjá mér. Léttklæddur og sveittur bar ég undir eins kennsl á staðinn sem minn og óskaði þess að vera ekki í Copacabana heldur í flugvél á leið til Porto Alegre. Fréttaþulurinn lýsti aftur á móti þessum myndum af kuldanum sem einhverju ótrúlegu, eins og þær sýndu annað land (sem hann skilgreindi verandi með „evrópskt loftslag“). Allt þetta varð til þess að ég fann sterklega fyrir fráhvarfi eða vinslitum. Mér fannst ég vera einangraður, fjarlægur; ekki frá Rio Grande do Sul, sem var virkilega langt í burtu, heldur frá Copacabana, frá Rio de Janeiro, frá hjarta landsins. Í fyrsta sinn fannst mér ég vera utanaðkomandi, útlendingur í mínu eigin landi; öðruvísi, aðskilinn frá fagurfræði kuldans | 15

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