Vitória na guerra, condição para a paz_ uma outra visão sobre o acordo de Paz Colombia-FARC

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26/07/2016 Vitória na guerra, condição para a paz: uma outra visão sobre o acordo de Paz Colombia­FARC | VOX MAGISTER: as relações internacionais pel…

Vitória na guerra, condição para a paz: uma outra visão sobre o acordo de Paz Colombia­FARC Publicado por Rodrigo Albuquerque27 de maio de 2016

Por Augusto Teixeira Jr.*

(hထ㓨ps://voxmagister.files.wordpress.com/2016/05/1443284892_113910_1443285956_noticia_normal.jpg)

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Recentemente  fiz  uma  palestra  para  o  XIII  Curso  de  Extensão  em  Defesa  Nacional (hထ㓨p://www.defesa.gov.br/arquivos/ensino_e_pesquisa/defesa_academia/cedn/XIII_cedn/o_acordo_de_paz_entre_o_go (Ministério  da  Defesa)  sobre  a  questão  do  acordo  de  paz  entre  o  governo  colombiano  e  as  FARC.  O  primeiro estranhamento que tive ao ser convidado para proferir uma fala sobre o assunto consistiu na questão de como alguém  que  pensa  a  guerra  poderia  dissertar  com  isenção  sobre  a  emergência  da  paz.  Este  primeiro inquietamento  me  fez  voltar  a  algumas  leituras  sobre  o  bom  e  velho  ClausewiA  e  textos  sobre  guerrilhas  e insurgências.  Se  guerra  é  a  continuação  da  política,  nenhuma  forma  de  guerrear  é  mais  política  do  que  a guerrilha. Optando por esta chave‑explicativa desenvolvi o argumento que sintetizo abaixo. Home https://voxmagister.wordpress.com/2016/05/27/vitoria­na­guerra­condicao­para­a­paz­uma­outra­visao­sobre­o­acordo­de­paz­colombia­farc/ 1/7 Após mais de 60 anos de guerra civil, o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia

26/07/2016 Vitória na guerra, condição para a paz: uma outra visão sobre o acordo de Paz Colombia­FARC | VOX MAGISTER: as relações internacionais pel…

Após mais de 60 anos de guerra civil, o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) parecem próximas de selar a paz entre si. Num histórico de conflito e violência, marcado por tentativas pregressas de paz, até então fracassadas, o cronograma de negociações a se encerrar em 2016 parecer colocar a guerra intraestatal em seu momento terminal. Desde 2012, a Colômbia e representantes das FARC negociam os termos do acordo de paz. Com a participação de  Cuba  e  Noruega,  enfim  se  chegou  a  um  conjunto  de  medidas  que  preveem  não  apenas  o  encerramento  do conflito,  mas  também  um  plano  de  trabalho  para  o  pós‑conflito.  Desde  a  criação  de  um  sistema  especial  de justiça para averiguar os crimes cometidos por ambos os lados da guerra até o processo de desmobilização foram aspectos colocados na mesa e acordados entre os beligerantes. No espectro puramente político, a conversão das FARC  em  movimento/partido  político  torna  possível  que  este  grupo  substitua  a  gramática  da  guerra  pela linguagem  não‑violenta  da  política  normal.  Na  perspectiva  do  governo,  emerge  o  desafio  de  converter  os sucessos em campo de batalha contra o grupo insurgente em ganho político. Quadro 1 – Cinco pontos principais do acordo de paz[1].

(hထ㓨ps://voxmagister.files.wordpress.com/2016/05/augusto1.png) FONTE: TELESUR. Disponível em: hထ㓨p://www.telesurtv.net/english/analysis/The‑5‑Points‑You‑Need‑to‑ Know‑About‑Colombias‑Justice‑Deal‑20150923‑0037.html (hထ㓨p://www.telesurtv.net/english/analysis/The‑5‑ Points‑You‑Need‑to‑Know‑About‑Colombias‑Justice‑Deal‑20150923‑0037.html). Acesso em: 18/05/2016. Ao avaliar o panorama político do acordo de paz do governo colombiano com as FARC o analista poderá ficar convencido que os beligerantes, imbuídos da consciência da pretensa irracionalidade na manutenção da guerra civil, resolvem abraçar  a  paz  como  principal  opção.  Para  tal,  importantes  objetivos políticos da guerra seriam deixados  de  lado  a  favor  de  uma  paz  duradoura.  O  foco  na  Justiça  Restaurativa  e  na  criação  de  condições sustentáveis para o pós‑conflito podem nos ser ilusórias deste desfecho. Este ensaio sugere outra interpretação, tendo na articulação guerra e política a sua chave explicativa central. A  guerra,  como  conceito  teórico  pensado  fundamentalmente  por  ClausewiA  afirma  que  esta  é  “um  ato  de violência  que  busca  compelir  nosso  oponente  a  se  sujeitar  a  nossa  vontade”.  Em  sua  manifestação,  a  guerra parte do emprego da violência organizada e racionalmente direcionada por unidades políticas. Dentre estas, o Estado é a principal unidade, porém guerrilhas como as FARC constituem não apenas unidades políticas per si como  se  organizam  como  uma  comunidade  política  dotada  de  identidade,  interesses  e  meios  de  força.  Uma unidade  política  que  nasce  como  guerrilha  e  se  metamorfoseia  em  insurgência  em  tempos  contemporâneos. Destarte as múltiplas denominações políticas, como narcoguerrilheiros e narcoterroristas, é lícito afirmar que as FARC são uma insurgência. Em outros termos, são um movimento organizado que busca derrubar um governo através da subversão e do conflito armado. Tendo isto em conta, o governo colombiano realizou ações contra‑guerrilha desde o início do conflito, passando para  o  jargão  e  doutrina  da  contrainsurgência  em  contexto  correlato  a  de  sua  aproximação  com  os  Estados Unidos  (1999‑2009).  A  contrainsurgência  pressupõe  um  amplo  leque  de  ações,  em  múltiplas  dimensões  para além da militar, voltada a debelar a insurgência. Com a assinatura do Plano Colômbia, em 1999, o país andino passou  a  receber  vultosos  recursos,  treinamento  e  suporte  logístico  dos  Estados  Unidos.  A  ajuda  externa, dividida  entre  apoio  econômico  e  assistência  institucional  de  um  lado,  e  assistência  militar  e  policial,  pendeu fortemente em favor da dimensão de força. https://voxmagister.wordpress.com/2016/05/27/vitoria­na­guerra­condicao­para­a­paz­uma­outra­visao­sobre­o­acordo­de­paz­colombia­farc/ Figura 1 – Ajuda Econômica, Institucional, Militar e Policial dos Estados Unidos para a Colômbia 2/7

26/07/2016 Vitória na guerra, condição para a paz: uma outra visão sobre o acordo de Paz Colombia­FARC | VOX MAGISTER: as relações internacionais pel…

Figura 1 – Ajuda Econômica, Institucional, Militar e Policial dos Estados Unidos para a Colômbia (em milhões de dólares).

(hထ㓨ps://voxmagister.files.wordpress.com/2016/05/augusto21.png) FONTE: WOLA, Advance for Human Rights in the Americas. Disponível em: hထ㓨p://www.wola.org/files/1602_plancol/content.php?id=us_aid (hထ㓨p://www.wola.org/files/1602_plancol/content.php?id=us_aid). Acesso em: 18/05/2016. Neste processo, após a implantação do referido plano, especialmente na sua vertente militar e policial, as ações de contrainsurgência ganharam a tônica do combate governamental às guerrilhas. Iniciativas de força como o Plano  Patriota  se  somariam  aos  esforços  de  reconquistar  território,  controlar  e  debelar  os  meios  logísticos  e recursos especialmente das FARC. Figura 2 – A dinâmica do conflito (1960‑2015).

(hထ㓨ps://voxmagister.files.wordpress.com/2016/05/augusto31.png) FONTE: The Economist. Disponível em: hထ㓨p://www.economist.com/blogs/graphicdetail/2015/11/daily‑chart? zid=305&ah=417bd5664dc76da5d98af4f7a640fd8a (hထ㓨p://www.economist.com/blogs/graphicdetail/2015/11/daily‑chart? zid=305&ah=417bd5664dc76da5d98af4f7a640fd8a). Acesso em: 18/05/2016. https://voxmagister.wordpress.com/2016/05/27/vitoria­na­guerra­condicao­para­a­paz­uma­outra­visao­sobre­o­acordo­de­paz­colombia­farc/ O  gráfico  acima  nos  é  particularmente  ilustrativo.  Primeiramente,  observe  que  o  número  de  sequestros  cai 3/7 a

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O  gráfico  acima  nos  é  particularmente  ilustrativo.  Primeiramente,  observe  que  o  número  de  sequestros  cai  a partir  dos  anos  2000,  concomitante  ao  aumento  (e  posterior  declínio)  dos  deslocados  internos.  A  queda  nos sequestros, uma entre as fontes de renda da insurgência é acompanhada pelo aumento dos deslocados internos, resultado das ofensivas militares do governo em territórios em disputa e controlados pela guerrilha. Figura 3 – Fumigação e Destruição Manual da Coca Colombiana.

(hထ㓨ps://voxmagister.files.wordpress.com/2016/05/augusto4.png) FONTE: The Guardian. Disponível em: hထ㓨p://www.theguardian.com/world/2016/feb/03/plan‑colombia‑ cocaine‑narcotics‑farc‑peace‑deal (hထ㓨p://www.theguardian.com/world/2016/feb/03/plan‑colombia‑cocaine‑ narcotics‑farc‑peace‑deal). Acesso em: 18/05/2016. As  ações  de  erradicação  do  cultivo  da  coca,  de  fumigação  e  destruição  manual,  resultaram  em  prejuízos econômicos para a sustentação financeira da luta armada. Apesar dos danos ambientais e sociais causados pela fumigação, território e recursos foram negados à guerrilha por meio de atos de força governamentais. O front econômico se mistura à iniciativa de ofensivas militares e projeção do poder terrestre colombiano pelo território antes  dominado  pela  guerrilha,  levando  o  grupo  insurgente  a  perder  território  e  áreas  de  influência,  como demonstrado no mapa abaixo. Figura 4 –  Presença territorial das FARC 2002‑2013

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(hထ㓨ps://voxmagister.files.wordpress.com/2016/05/augusto5.jpg) FONTE: The Washington Post. Disponível em: hထ㓨p://jto.s3.amazonaws.com/wp‑content/uploads/2013/12/w1‑ colombia‑z‑20131223.jpg (hထ㓨p://jto.s3.amazonaws.com/wp‑content/uploads/2013/12/w1‑colombia‑z‑ 20131223.jpg). Acesso em: 18/05/2016. Se  levarmos  estes  apontamentos  em  conta  na  análise  do  atual  acordo  de  paz  colombiano,  veremos  que  as condições  nas  quais  este  vem  sendo  negociado  são  substantivamente  distintas  de  situações  anteriores.              Previamente, as tentativas de selar a paz fracassaram. Das tratativas no governo Betancur e Vargas nos anos 1980, os diálogos durante o governo Gaviria até a robusta disposição de negociar e ceder do presidente Pastrana no  final  dos  anos  1990,  todos  não  obtiveram  êxito  em  encerrar  as  hostilidades.  Contudo,  as  ações  de  força  da administração Uribe e de suas ações de contrainsurgência colocou governo Santos em condições mais favoráveis para  tornar  a  negociação  política  e  a  paz  as  únicas  opções  viáveis  para  a  sobrevivência  política,  porém  não militar, das FARC. Figura 5 – Ciclos de violência e paz na Colômbia (1980 – 2015).

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(hထ㓨ps://voxmagister.files.wordpress.com/2016/05/augusto6.png) FONTE: The Economist. Disponível em: hထ㓨p://www.economist.com/news/special‑report/21676955‑colombia‑ close‑historic‑peace‑agreement‑will‑transform‑its‑prospects (hထ㓨p://www.economist.com/news/special‑ report/21676955‑colombia‑close‑historic‑peace‑agreement‑will‑transform‑its‑prospects). Acesso em: 18/05/2016. No  momento  atual,  no  governo  de  Juan  Manuel  Santos  (ex‑ministro  da  Defesa  de  Álvaro  Uribe)  tudo  indica que a paz está à vista. Como demonstrado na Figura 2 e 4, as FARC realizaram cessar‑fogo unilaterais em mais de uma ocasião. Entre estes, mesmo quando interrompido (abril de 2015) foi prontamente restabelecido em julho de 2015. Em nossa interpretação, a disposição das FARC em negociar a paz pode ser vista como uma forma de negociar uma saída honrosa do conflito civil de meio século. Como pudemos observar, após o Plano Colômbia o governo de  Bogotá  obteve  êxito  em  reduzir  fortemente  os  meios,  disposição  e  recursos  de  luta  da  insurgência.  A conquista da vitória no campo de batalha, numa batalha final é, neste caso, substituída pela conversão da vitória militar em vitória política. A transição entre guerra e paz se faz com a criação de canais de comunicação em que as demandas do vencedor e do derrotado sejam dialogas e que os passivos do conflito possam ser tratados pelos canais de comunicação da política normal. Em síntese, o atual acordo do governo colombiano com as FARC pode ser visto como a materialização política da vitória  militar,  resultante  de  uma  longa  e  dolorosa  guerra  contra  guerrilhas  e  insurgências  em  seu  próprio território.  A  vitória  política,  consistirá  em  submeter  o  inimigo  à  vontade  do  vencedor.  Na  impossibilidade  da realização plena deste tipo ideal, com uma rendição incondicional, a vitória militar cria condições e vantagens para  que  o  governo  vença  politicamente  com  a  paz,  mas  criando  condições  para  que  a  recusa  às  armas  seja politicamente viável para as FARC. Desta forma, a guerra civil e a contrainsurgência colombiana levam a um interessante  resultado  de  soma  positiva  no  final  do  conflito.  O  governo  recupera  territórios  e  vence  a insurgência, a subversão e a guerrilha. As FARC, no futuro um partido político, segue a luta por sua agenda política sob os meios da política normal. Em outras palavras, o sucesso militar foi importante para estipular as condições em que a paz está sendo negociada. ———‑ *  Doutor  em  Ciência  Política  pela  Universidade  Federal  de  Pernambuco  (UFPE).  Atualmente  é  professor Adjunto  do  Departamento  de  Relações  Internacionais  da  UFPB.  Líder  do  Grupo  de  Pesquisa  em  Estudos Estratégicos e Segurança Internacional (GEESI/UFPB /CNPq). Membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa. https://voxmagister.wordpress.com/2016/05/27/vitoria­na­guerra­condicao­para­a­paz­uma­outra­visao­sobre­o­acordo­de­paz­colombia­farc/ 6/7 [1] Ao lado destas medidas podemos apontar a disposição formal das FARC em apoiar o governo na luta contra

26/07/2016 Vitória na guerra, condição para a paz: uma outra visão sobre o acordo de Paz Colombia­FARC | VOX MAGISTER: as relações internacionais pel…

[1] Ao lado destas medidas podemos apontar a disposição formal das FARC em apoiar o governo na luta contra o  narcotráfico  à  luz  das  garantias  de  que  seus  membros  serão  submetidos  à  condições  político‑jurídicas  do contexto de transição para a paz.

———————————————————————————————————————————————— As  opiniões aqui expressas  são  de  responsabilidade  exclusiva  de  seu/sua  autor  e, portanto, não representam a opinião do Vox Magister nem de todos os seus colaboradores. Sobre estes anúncios (https://wordpress.com/about­these­ads/)

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