Vouzela municipality : Identification and characterization of landscape units | Concelho de Vouzela: Identificação e caracterização das unidades de paisagem

June 16, 2017 | Autor: Pedro Pinto | Categoria: Ecologia da paisagem, Arquitetura Paisagista
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2º CICLO DE ARQUITETURA PAISAGISTA Ecologia da Paisagem Maio | 2013

Concelho de Vouzela Identificação e caracterização das unidades de paisagem

Trabalho realizado por: Pedro Pinto N.º: 28806 UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO | MAIO 2013

2º Ciclo de Arquitetura Paisagista | Ecologia da Paisagem

Concelho de Vouzela – Identificação e Caracterização das Unidades de Paisagem

ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 3 1.1 Contextualização do trabalho ....................................................................... 3 1.2 Estruturação do trabalho .............................................................................. 4 2. O CONCELHO DE VOUZELA – ORIGENS E CONTEXTO TERRITORIAL .... 4 3. UNIDADES DE PAISAGEM DO CONCELHO ................................................. 7 3.1 Unidades de Paisagem com base na obra Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental ...................................... 7 3.2 Unidades de paisagem definidas no PDM do concelho ................................ 8 3.3 Unidades de paisagem do concelho – síntese ........................................... 10 4. ORIENTAÇÕES PARA A SUSTENTABILIDADE DA PAISAGEM ................. 13 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 14

Pedro Pinto | Maio 2013

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1.

INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização do trabalho

No âmbito da unidade curricular de Ecologia da Paisagem, do curso de Arquitetura Paisagista, o presente trabalho debruça-se sobre a identificação e caracterização de Unidades de Paisagem. Na origem deste trabalho está a obra de Cancela d’Abreu, Teresa Pinto Correia e Rosário Oliveira, Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental. Estes autores, em conjunto com uma equipa mais vasta de colaboradores, definiu em termos gerais, as principais unidades de paisagem de todo o território continental português. A escala usada numa análise destas dimensões tem de ser obrigatoriamente muito elevada - é referido neste estudo que a escala base de trabalho é 1:250 000. Devido à escala de trabalho, não são elaboradas abordagens muito aproximadas que levariam a um estudo praticamente inexequível. São apenas distinguidas as grandes unidades da paisagem portuguesa, os padrões da paisagem que de facto são marcantes e caracterizam o território – que definem o carácter da paisagem – “foram consideradas como unidades de paisagem as áreas com características relativamente homogéneas, não por serem exatamente iguais em toda a sua superfície, mas por terem um padrão específico que diferencia a unidade em causa das envolventes”1. Em os Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental, o território continental português é dividido em 22 Grupos de Unidades de Paisagem e no total são definidas 128 unidades de paisagem. Como já foi referido anteriormente, a escala utilizada é muito alargada não havendo oportunidade para uma caraterização mais específica da paisagem. Portanto, torna-se difícil, com base nestas unidades, a análise de uma determinada paisagem num certo território mais específico – distrito, concelho e/ou freguesia. Face a todas as características até aqui apontadas deste estudo de Cancela d’Abreu, os docentes desta unidade curricular propuseram que se desenvolvesse um trabalho sobre identificação e caracterização das unidades de paisagem num contexto mais aproximado, tendo como base determinado concelho. Foi referido pelos docentes que a metodologia base para definição de unidades de paisagem deveria ser a mesma que é usada na obra e estudo já referido. Portanto, o objetivo principal deste trabalho escrito será a definição de unidades de paisagem no concelho escolhido, tendo em conta que, e à semelhança do que foi feito por Cancela d’Abreu, Teresa Pinto Correia e Rosário Oliveira e restante equipa, na delimitação destas unidades é necessário procurar “identificar áreas com características relativamente homogéneas no seu interior, não por serem exatamente iguais em toda a sua superfície, mas por e nelas se verificar um padrão específico que se repete e/ou um forte carácter que diferencia a unidade em causa das suas envolventes”2. 1

Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental, vol. I, cap. 1.3.7 O conceito de paisagem utilizado neste estudo 2 Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental, vol. I, cap. 1.5 Metodologia Pedro Pinto | Maio 2013

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1.2 Estruturação do trabalho Para que haja um seguimento coerente do trabalho, este será estruturado da seguinte forma: primeiramente faz-se uma apresentação da área de estudo, referindo-se as origens históricas e contextualizando a região. Se no final é a definição de unidades de paisagens o objetivo premente, então é importante conhecer bem o território que se está a estudar percebendo-o no contexto da região em que se insere bem como as bases históricas que estão na sua génese. Seguidamente, estando a área de estudo já definida, parte-se para a parte do trabalho escrito que aborda a temática em questão – as unidades de paisagem. Nesta fase do trabalho será feita, primeiramente, uma abordagem às unidades de paisagem caracterizadas por Cancela d’Abreu, et al, 2004, do concelho em estudo – Vouzela. Posteriormente, e tendo como base o PDM, faz-se a apresentação das unidades de paisagem já definidas neste instrumento de gestão do território. Antecedendo o final do trabalho é proposta uma nova abordagem face às unidades definidas por Cancela d’Abreu, et al, 2004, e as já definidas no PDM. Para finalizar, apresentam-se orientações capazes de promover o desenvolvimento sustentável da paisagem do concelho

2. O CONCELHO DE VOUZELA – ORIGENS E CONTEXTO TERRITORIAL3 As origens A antiguidade do concelho está bem patente face à existência de vestígios arqueológicos encontrados no concelho que testemunham a existência da ocupação humana desde o período Neolítico Médio (meados do IV milénio a.C.), passando pela ocupação durante a idade do bronze até à idade do ferro (existências de castros). Mas é da Idade Romana que há mais vestígios que atestam a sua ocupação no território concelhio (as duas necrópoles romanas e alguns troços da estrada romana que ligava a capital da civitas - Viseu, à região de Lafões, passando por Vouzela). Sabe-se que em meados do século VIII, no início da época da Reconquista Cristã, que se prolongou até ao século XII, Vouzela desempenhou um papel de grande importância, pois foi uma das frentes do território conquistadas (como atestam vestígios de sepulturas). A partir da Idade Média, as povoações do concelho começaram a ter a estrutura urbana que ainda hoje têm, tendo sido, grande parte deles, formados em meados século XIII. Deste período, há também a destacar as torres senhoriais que no interior de umas das torres foram descobertos diversos fragmentos de remontam a uma ocupação entre os séculos XII/ XIII e os séculos XVI/ XVII. Entre 1307, c om o rei D. Dinis e 1393, com D. João I, Vouzela tem grande desenvolvimento devido às feiras, de dimensões semelhantes às de Viseu, de Trancoso e da Guarda. Entretanto, em 1336, D. Dinis concedeu foral ao Concelho de Lafões e, em 1436, el-Rei D. Duarte instituiu Vouzela como sede do concelho de Lafões. Posteriormente, esta região foi dividida em dois concelhos: Vouzela e São 3

Informação retirada e adaptada pelo autor, a partir de Câmara Municipal de Vouzela, 1ª Revisão do PDM de Vouzela – Volume 1 – História e Património, Agosto 2011 Pedro Pinto | Maio 2013

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Pedro do Sul. No início do século XVIII, dado já existirem diversos Concelhos e Vilas no interior do território de Lafões, foi construído em Vouzela o Tribunal Judicial e o edifício da Cadeia. A posição central de Vouzela no território de Lafões conferiu-lhe, até ao final do século XIX, uma importância, que face ao período de conturbação política nacional, sofreu alterações. Durante o Estado Novo, entre 1928-1953, há referência a diversas obras orçamentadas. É também, em meados do século XX, que o concelho de Vouzela atinge o seu pico populacional, tendo, a partir daí, vindo a registar decréscimos demográficos sucessivos a favor da atração exercida pelas áreas metropolitanas. Este movimento contribuiu em força para a desertificação das aldeias e para o abandono de algumas atividades.

Contexto territorial

Figura 1: O concelho de Vouzela na Região Centro e na sub-região de Dão-Lafões (fonte: Câmara Municipal de Vouzela, 1ª Revisão do PDM de Vouzela – Volume 1 – Vouzela e o Contexto Regional, Agosto 2011)

O concelho de Vouzela está integrado na Região Centro e na sub-região de DãoLafões (figura 1). Tem uma posição relativamente central no distrito, estabelecendo fronteira com os concelhos de São Pedro do Sul, de Tondela, de Viseu e Oliveira de Frades. O concelho ocupa uma área de 193,7 Km2, o que equivale a cerca de 5,5% da área total da sub-região de Dão-Lafões e 0,8% da Região Centro, sendo constituído por 12 Pedro Pinto | Maio 2013

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freguesias (figura 2): Alcofra, Cambra, Campia, Carvalhal de Vermilhas, Fataunços, Figueiredo das Donas, Fornelo do Monte, Paços de Vilharigues, Queirã, São Miguel do Mato, Ventosa e Vouzela. Das 12 freguesias apenas Figueiredo das Donas, São Miguel do Mato e Vouzela (onde se situa a sede de concelho) são consideradas Áreas Medianamente Urbanas, sendo as restantes classificadas como Áreas Predominantemente Rurais4. Além da vila de Vouzela, que é indubitavelmente o maior centro urbano do concelho, na rede urbana destacam-se, principalmente, as sedes de freguesia de Queirã, de Campia e de Cambra, já que as restantes povoações são, na generalidade, de menores dimensões.

Figura 2: Freguesias do concelho de Vouzela (fonte: Câmara Municipal de Vouzela, 1ª Revisão do PDM de Vouzela – Volume 1 – Vouzela e o Contexto Regional, Agosto 2011)

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De acordo com a Tipologia de Áreas Urbanas da DGOTDU Pedro Pinto | Maio 2013

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3.

UNIDADES DE PAISAGEM DO CONCELHO 3.1 Unidades de Paisagem com base na obra Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental

Tendo apenas como base Cancela d’Abreu, e restantes autores de Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental, constata-se que o concelho de Vouzela se divide por quatro unidades de paisagem – Montes Ocidentais da Beira Alta (unidade 41); Alto Paiva e Vouga (unidade 42); Serra do Caramulo (unidade 44) e Dão e Médio Mondego. Unidade de Paisagem 41, Montes Ocidentais da Beira Alta - A unidade de paisagem 41, é muito extensa e envolve alguma da parte oeste do concelho, até à Serra do Caramulo (unidade 44). Características principais: cotas baixas (até aos 600m); paisagens de transição entre Beira Alta e Beira Litoral; centros urbanos muito diversificados; predominância de áreas agrícolas; predominância de grandes áreas de eucalipto e pinhal bravo. Problemas: esta unidade tem uma florestação maciça que tem influência na perda de identidade e incremento da monotonia. Este facto leva a que estas paisagens percam biodiversidade e aumenta o risco de incêndio. Paisagem muito simplificada. Pontos positivos: mosaico agrícola policultural nos vales mais abertos e na envolvente dos aglomerados urbanos. Unidade de Paisagem 42, Alto Paiva e Vouga – compreende o topo norte, abrangendo freguesias de Vouzela, São Miguel do Mato, e parte das freguesias de Paços de Vilharigues, Ventosa e Queirã. É a unidade de paisagem incluída no concelho com área mais “urbanizada”. Características principais: paisagem definida por longas encostas, vales profundos e por muito verde, dominante e repleto de água; toda a unidade tem semelhanças morfológicas, padrões de uso da paisagem uniformes assim como semelhante densidade populacional; matas viçosas (com alguma dominância de pinheiro bravo e eucalipto); manchas agrícolas ainda bem cuidadas; linhas de água e densas galerias ripícolas; mosaico variado com manchas de mata a insinuar áreas agrícolas; vinha e cereais, afloramentos rochosos; aldeias povoadas, bucólicas. Problemas: ainda alguma rudimentaridade das práticas agrícolas; tendência para a florestação massiva e desordenada; rede urbana em alguns aspetos pouco modernizada. Pontos positivos: paisagem de média e forte identidade; usos em geral adaptados aos recursos presentes; a diversidade agrícola indica a sustentabilidade e capacidade multifuncional da paisagem; biodiversidade garantida. Unidade de Paisagem 44, Serra do Caramulo – unidade mais abrangente do concelho (freguesias de Alcofra, Fornelo do Monte, Carvalhal de Vermilhas, parte de Cambra, Campia e Ventosa) Características principais: maciço imponente que se destaca claramente da envolvente; encostas com eucaliptos, em grandes extensões; alguns usos agrícolas nos vales, Pedro Pinto | Maio 2013

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predominando o pastoreio; parte superior da serra com pastagens e afloramentos rochosos; baixa densidade populacional. Problemas: carácter monótono da paisagem; pouca biodiversidade; padrão de paisagem tendencialmente muito homogéneo. Pontos positivos: belas vistas no topo da serra - Caramulinho; imponência do conjunto serrano; alguns mosaicos agrícolas encaixados nos vales; existência de matas medianamente diversas encaixadas nas encostas da serra; riqueza quase luxuriante da vegetação envolvente ao Caramulo. Unidade de Paisagem 45, Dão e Médio Mondego – unidade com menos área abrangida no concelho. Inclui parte de Queirã e Fornelo do Monte. Características principais: manchas agrícolas diversificadas; galerias ripícolas bem constituídas; áreas de mato; alguns povoamentos florestais extensos e contínuos; edificação dispersa. Problemas: tendência para florestação intensiva, como acontece noutras áreas do concelho, noutras unidades de paisagem; dispersão da área edificada ao longo de estradas e caminhos por vezes em locais de terras férteis ou em plena área florestal. Pontos positivos: em geral nesta paisagem há uma adequação dos usos face às características biofísicas presentes; a existência de matas, manchas agrícolas diversificadas e galerias ripícolas consolidadas permite uma manutenção de alguma biodiversidade da paisagem e, por conseguinte, a sustentabilidade vai sendo mantida.

3.2 Unidades de paisagem definidas no PDM do concelho De acordo com o PDM do concelho, a definição de unidades de paisagem surgiu da análise conjunta e integrada de vários fatores intervenientes na paisagem. O processo de marcação percebe-se que passou pela definição de macro unidades com base, essencialmente nas características fisiográficas da qual surge uma das unidades de paisagem, a unidade de paisagem da Serra do Caramulo. Após esta definição, a caracterização feita no PDM desce a um nível de classificação mais operativo, com base nas restantes características consideradas, de que ressaltam o uso atual do solo e as suas potencialidades de utilização. Assim, surgem as restantes unidades definidas, Floresta e Campos Agrícolas. No concelho de Vouzela, diferenciam-se três grandes áreas que, devido a condições distintas, promovem uma diferente ocupação do solo. Assim, podem definir-se as seguintes unidades de paisagem (figura 3): 1. Serra do Caramulo – na zona central/Sul do concelho, apresenta cotas superiores a 600 metros, possuindo as encostas muito declivosas, na sua maioria, com cobertura herbácea arbustiva;

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2. Floresta – áreas ocupadas, essencialmente por povoamentos puros de pinheirobravo ou associados a outras espécies. Estas áreas encontram-se quase sempre a altitudes superiores a 400 metros e/ou em zonas de declives acentuados; 3. Campos agrícolas – localizam-se onde os declives são mais suaves e nas margens das linhas de água, e apresentam-se em parcelas de culturas permanentes, como a vinha, o olival e pomares, de culturas anuais de dimensões familiares, ou em consociações de culturas permanentes e anuais.

Figura 3: Freguesias do concelho de Vouzela (fonte: Câmara Municipal de Vouzela, 1ª Revisão do PDM de Vouzela – Volume 1 – Caracterização Biofísica, Agosto 2011)

A definição de unidades de paisagem pode seguir variados métodos, não porque o conceito de “unidade” se difere, mas porque as características do território, a informação disponível acerca deste e os objetivos pretendidos na sua delimitação justificam abordagens distintas. Face às unidades de paisagem definidas no PDM de Vouzela, percebe-se que o método utilizado passou por uma definição de unidades através de uma análise integrada e homogénea do território, centrando a atenção no impacto do relevo e usos principais do solo que acabam por ser os componentes que mais modelam e definem este sistema. Há uma clara diferenciação entre paisagem serrana (unidade de paisagem 1) e as restantes, solos agrícolas e florestais, portanto há uma estruturação clara e compreensível do território. Apesar de ser discutível a divisão em apenas 3 unidades e nem se considerar subunidades, não há dúvidas de que esta divisão dá indicações acerca das características globais do sistema e uso generalizado da paisagem pelas atividades humanas – essencialmente definido o uso agrícola. Partindo das unidades criadas há sempre a possibilidade de abordagens mais específicas e o desenvolvimento de práticas de ordenamento do território já tem uma estrutura base criada sobre as quais se pode debruçar. Pedro Pinto | Maio 2013

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Pode-se ainda afirmar que esta divisão salienta aquilo que vários autores, que estudam a Paisagem, definem como aspetos estruturantes e definidores da paisagem e que por conseguinte servirão de base para a delimitação de unidades de paisagem. Um destes aspetos é a geomorfologia o outro é o clima. O primeiro controla todo o sistema ambiental, define a principal fonte de energia e humidade, o segundo porque determina as modificações do clima geral. A uma escala mais pequena são estes fatores que determinam o solo e o relevo, responsáveis por características especialmente condicionantes da vegetação – definindo locais atos para agricultura ou floresta. Pela razão de serem estes fatores naturais que estão na origem de unidades diferenciáveis aos vários níveis, não significa que sejam só estes os parâmetros a utilizar, pois a intervenção humana modificou parte das características cuja origem se encontram nestes parâmetros – solo e relevo.

3.3 Unidades de paisagem do concelho – síntese Face ao que já foi referido no ponto anterior, um processo de definição de unidades de paisagem não pode apenas se debruçar em características naturais do terreno em estudo, como o relevo. A ação humana é o principal modelador da paisagem podendo alterar substancialmente o seu carácter original. Portanto é importante ter em conta o relevo mas articulando a informação sobre usos do solo para que se possa definir unidades homogéneas. Na distinção feita no PDM os parâmetros como a morfologia do território e análise biofísica são claramente tidos em conta e complementam-se com a informação acerca dos usos do solo (que permitem a divisão em solos agrícolas e florestais). No entanto, na elaboração de um PDM há objetivos mais direcionados para a definição de eixos estratégicos de desenvolvimento para o concelho bem como a definição de usos atuais e futuros do solo – com enfoque para o solo urbanizado e industrial e passíveis de ser urbanizados e industrializados. Sendo estas as abordagens principais do PDM, é claro que em segundo plano estão outros aspetos como a definição de unidades de paisagem. Apesar de perceber-se que se trata de um aspeto secundário é importante referir que mesmo assim é abordado, e o concelho é efetivamente dividido em 3 unidades de paisagem. No entanto, esta divisão parece ser insuficiente. Os fatores determinantes para a identificação de qualquer unidade de paisagem dependem muito do próprio contexto, variando desde a morfologia aos sistemas de utilização do solo, a presença de estabelecimento humanos das mais diversas dimensões e formas, a proximidade ao oceano, entre outros, bem como combinações entre estes fatores5. Assim, considera-se importante distinguir sub-unidade(s) de paisagem de forma tornar mais completa a leitura da paisagem do concelho. Essa sub-divisão permitirá abordagens direcionadas para os diferentes locais do concelho o que torna os instrumentos de gestão e ordenamento do 5

A Paisagem da revisão do PDM, Documentos de orientação DGOTDU 02/2011, pág. 33. Pedro Pinto | Maio 2013

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território mais eficazes. Tais subunidades diferenciam-se da unidade em que estão coerentemente inseridas porque apresentam características bem específicas quanto, a pelo menos, um fator significativo – morfologia, presença de água, sistemas de exploração do solo, tipologias urbanas, ou outras. Em alguns casos, justifica-se a sua diferenciação porque constituem paisagens claramente diferentes mas com dimensão insuficiente (ao nível de aproximação desenvolvido) para a individualização como unidade de paisagem. De acordo com os conhecimentos sobre a área, com base no PDM do concelho - Carta de Ocupação dos Solos, Carta de Síntese Fisiográfica, Rede Urbana - situação existente, face às unidades de paisagem já definidas (e apresentadas no ponto anterior), e reunindo a informação de Cancela d’Abreu, et al, 2004, faz-se uma nova abordagem às unidades de paisagem do concelho. Como já foi referido, no PDM fez-se uma divisão muito abrangente que poderá carecer de ser dividida em uma ou mais subunidades da paisagem. Acrescentar a informação veiculada pelo PDM àquela que é apresenta no ponto 3.1 (Unidades de Paisagem com base na obra Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental) permite verificar que existe de facto coerência entre as duas abordagens. Tanto no estudo referido como no PDM é dado principal interesse a aspetos relacionados com os padrões serranos, agrícolas e florestais do concelho. Com Cancela d’Abreu, et al, 2004, é dada uma clara importância ao impacto da Serra do Caramulo portanto é completamente acertado que em base de PDM, a mesma área, muito marcante, seja por si só definidora de uma unidade de paisagem. Trata-se de um “bloco” homogéneo com características diferenciadoras da envolvente, para o qual contribui de uma forma inequívoca o relevo. Portanto, há total concordância que seja definida essa unidade de paisagem – a Serra de Caramulo. Continuando análise da informação presente na obra de Cancela d’Abreu, et al, 2004, percebe-se outro aspeto da paisagem ao qual é dada repetida relevância – a área agrícola. Em todo o concelho a atividade agrícola impõe-se, tendo sido um fator modelador da paisagem (socalcos, emparcelamento). No PDM, é também definida a unidade de paisagem Campos Agrícolas. Tal, faz completo sentido, ainda mais quando é a agricultura uma das principais atividades da população de Vouzela. A paisagem do concelho é claramente rica em áreas agrícolas, variando em termos de expressão, mas com presença contínua ao longo de todo o território. Mesmo nos aglomerados urbanos o mosaico agrícola faz-se notar, ladeando-os. Assim, a definição de Campos Agrícolas como unidade de paisagem vai totalmente de acordo com a perceção que é feita da paisagem. Na obra de Cancela de Abreu, já por diversas vezes referida, as unidades em que o concelho de Vouzela se insere têm todas bastante expressão da área agrícola. Da outra unidade definida em PDM, Floresta, é fácil perceber a sua importância na paisagem. No estudo de Cancela d’Abreu a floresta, florestação, área florestal, são termos que, a par daqueles que estão relacionados com a agricultura são muito referidos. E de facto, a área territorial do concelho é muito marcada por povoamentos florestais, que ocupam área Pedro Pinto | Maio 2013

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semelhante ao que é ocupado por agricultura. A área Florestal é marcante e tem de ser tida em conta como unidade de paisagem pelo aspeto homogéneo que imprime, quer pelas características semelhantes que mantém ao longo do concelho. A presença de área florestal, apesar de formar povoamentos homogéneos, não está dispersa de uma forma igual pelo concelho. Há uma espécie de “rede florestal” e agrícola. A uma escala grande, por exemplo através de uma foto aérea, percebe-se que todo o concelho é abrangido por floresta e campos agrícolas que se interligam. Há locais onde a floresta domina a paisagem, outros em que é o mosaico agrícola. Há por todo o concelho extensos povoamentos florestais, e por todas as razões já referidas é tido como totalmente aceite a definição da Floresta como unidade de paisagem. Assim, de acordo com a informação do PDM e aquela que se obtém na obra de Cancela d’Abreu, percebe-se que é comumente aceite que se definam 3 grandes unidades de paisagem no concelho – Serra do Caramulo, Floresta e Campos agrícolas. No entanto, e como já foi referido, esta distinção em apenas 3 unidades poderá ser insuficiente pois retira a importância que os núcleos urbanos têm na paisagem. Apesar de muito dispersas e de apresentarem manchas que no geral não são marcantes para toda a paisagem do concelho, as áreas urbanas poderão ser definidas como subunidades de paisagem. Como já se percebeu, uma unidade de paisagem requer características muito homogéneas e com dimensão suficiente para formar manchas assinaláveis na paisagem – e percetíveis, por exemplo, em imagens aéreas de grande escala. Neste aspeto, as zonas urbanas são identificáveis em fotos aéreas, no entanto, o seu carácter disperso que pulveriza o território do concelho e as reduzidas dimensões face às outras unidades de paisagem que verdadeiramente se impõem, não lhes permite assumirem esse carácter de unidade. Ora, sendo assim, e porque de facto são componentes essenciais à paisagem concelhia – essenciais para a existência das populações, pela concentração nesses aglomerados de serviços, comércio, educação, apoio social, equipamentos, etc., os aglomerados urbanos deverão ser considerados como sub-unidades da paisagem. Observando as zonas urbanas, assinaladas na carta própria do PDM, Rede Urbana – situação existente, volume I, percebe-se da impossibilidade de as definir como um única unidade. As áreas edificadas surgem um pouco por todo o concelho com tal dispersão que as impede de formar um contínuo urbano. Assim, considerando todas os aspetos já referidos, a marcante imposição na paisagem da área florestal, agrícola e da Serra do Caramulo, é possível concluir que se definem as seguintes unidades de paisagem: Serra do Caramulo, Floresta, Campos Agrícolas. E a subunidade Áreas Urbanas.

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4.

ORIENTAÇÕES PARA A SUSTENTABILIDADE DA PAISAGEM

São variados os problemas que afetam a paisagem do concelho, apesar de ainda não ser das paisagens nacionais mais alteradas. Por isso, é importante aumentar o valor da região, preservar e aumentar a biodiversidade, prevenir a erosão e degradação dos solos, criar atrativos, valorizar a paisagem. Como tal, as seguintes medidas deverão ser implementadas fazendo parte de uma política de gestão que inclua uma estratégia integrada de desenvolvimento sustentável tanto para o ambiente como para as populações. As medidas a implementar deverão ser as seguintes:  Desenvolvimento de atividades económicas complementares a uma agricultura intensiva;  Modernização e valorização da agricultura intensiva;  Aumento de produtividade dos solos agrícolas, mantendo o equilíbrio ambiental;  Gestão da atividade pecuária;  Valorização da atividade agro-pastoril em moldes mais modernos;  Valorização e modernização da pastorícia e ordenamento silvo pastoril;  Ordenamento e gestão florestal (impedir a já existente tendência para uma florestação maciça e desordenada);  Consolidação da rede urbana, aumentando a eficiência e oferta de serviços, contrariando a dispersão urbanística;  Aproveitamento cultural, turístico, recreativo e paisagístico de elementos da paisagem com notável interesse (linhas férreas desativadas, património edificado, geológico, cultural e arqueológico, miradouros, percursos pedestres, etc);  Gestão integrada de todo o território (distribuição adequada de infraestruturas, equipamentos, serviços, rede de comunicação de qualidade e acessíveis a todos).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Obras consultadas D’ABREU, Alexandre Cancela, [et al], Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental, Universidade de Évora – Coordenação/DGOTDU, 2004, ISBN: 972-8569-28-9 D’ABREU, Alexandre Cancela, [et al], A Paisagem na revisão do PDM, Orientações para a implementação da Convenção Europeia da Paisagem no âmbito municipal, DireçãoGeral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano, Lisboa, Setembro 2011, ISBN: 978-972-8569-54-9 CÂMARA MUNICIPAL DE VOUZELA, 1ª Revisão do Plano Diretor Municipal de Vouzela – Análise e Diagnóstico, Volume 1, Agosto 2011

Sítios consultados http://cm-vouzela.pt/ http://terrasdeportugal.wikidot.com http://www.infopedia.pt

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