WEB DESIGN: processos semióticos e sistêmicos de produção

May 18, 2017 | Autor: Cândida Almeida | Categoria: Semiotics, Information Technology, Web Design, Systems Theory, Charles S. Peirce
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Anais do X Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design: 10 - 13 de Outubro de 2012/ Organização, Raimundo Lopes Diniz; Denilson Moreira Santos. - São Luís: EDUFMA, 2012. ISBN 978-85-7862-247-3

WEB DESIGN: processos semióticos e sistêmicos de produção WEB DESIGN: semiotic and systemic production process ALMEIDA, Cândida; Doutora; SENAC-SP; PUC-SP; Anhanguera SP1 [email protected]

Resumo Web design: processos semióticos e sistêmicos é um artigo que defende uma metodologia para se produzir e analisar produções criativas em web design. O termo design aqui é estendido para designar a atividade de se projetar, desenvolver, publicar e retroalimentar hipermídias on line (websites) destinadas à representação de algum produto, empresa, pessoa ou instituição. O que o leitor encontra nas páginas seguintes é um conjunto de reflexões teóricas, baseadas em princípios semióticos e sistêmicos que visam contribuir para o esclarecimento dessa atividade e reforçar a importância de todo produtor (ou analista) de projetos hipermidiáticos desenvolver olhares críticos sobre as produções, cuidando dos propósitos e dos meios nos quais essas produções são desenvolvidas. Palavras Chave: Web design; Semiótica Peirceana; Sistemas e Hipermídia.

Abstract WEB DESIGN: semiotic and systemic production process is a scientific paper that proposes a methodology to produce and analyze the web design creative productions. The term design is used here to describe the activity of designing, developing, publishing and recreating online hypermedia (websites) for the representation of any product, company, person or institution. What the reader finds in the following pages is a set of theoretical reflections based on semiotic and systems principles and their contributions to the clarification of this activity. The reader also finds references to reinforce the importance of every hypermedia design producer (or analyst) of developing analytical perspectives on the production, observing the purposes and means in which these productions are created. Keywords: Web design; Peircean Semiotics; Systems and Hypermedia.

Professora universitária, pesquisadora doutora e coordenadora do projeto de pesquisa “Mídias Sociais: tendências e desafios da comunicação em rede” do qual participam os pesquisadores Prof. Dr. Adolpho Queiroz; Profª Drª Adriana Azzolino; Profª Drª Monica Carniello e Prof. Dr. Tércio Paparoto. Pesquisa financiada pela FUNADESP (Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular). 1

O inacabado web design O que é web design? Esse é o principal questionamento que dirige as reflexões que este artigo apresenta. Para que o leitor esteja devidamente contextualizado é preciso que duas premissas básicas estejam colocadas: a primeira é a de que fazemos referência a uma atividade profissional que cuida da criação e desenvolvimento de sistemas destinados à comunicação interpessoal. A segunda é que tais sistemas devem ser desenvolvidos segundo estruturas de linguagens e princípios comunicativos específicos da World Wide Web (WWW). Isso significa que, para que possamos discutir o modus operandi do web design, é necessário esclarecermos as etapas intrínsecas ao seu processo produtivo e identificar os princípios básicos do meio pelo qual estas produções são fruídas e se prestam à produção de sentido. Enfrentar um cenário em plena e veloz expansão - no que diz respeito às relações cognitivas e à ampliação dos meios, suportes e linguagens - significa depararmos com mais perguntas do que respostas. Como se estrutura signicamente uma produção em web design? Que tipo de ideal deve conduzir o desenvolvimento produtivo de uma hipermídia? O que envolve e de que modo os ambientes interferem nos processos de criação e fruição dessas ferramentas de comunicação interpessoal? O que e como comunicam os sites? Quais parâmetros comuns devem existir nessas produções? Essas são questões fundamentais que derivam imediatamente da proposta de leitura do universo de produção criativa em web design. É notório que atualmente existe uma verdadeira avalanche de sites2 sendo desenvolvidos e publicados diariamente na WWW. A proliferação dessas hipermídias vai tornando os internautas mais dependentes do grande sistema que é a internet como plataforma de informação, intercomunicação, pesquisa e entretenimento. As páginas publicadas tornamse cada vez mais fundamentais aos processos de comunicação e produção de sentido na rede e, à medida que o tempo passa, vão se modificando substancialmente do ponto de vista estético, funcional e informacional. Essas modificações ocorrem muito em função das necessárias atualizações de conteúdo, do aprimoramento conceitual da estrutura informacional, da disponibilização de novos recursos interativos e dos inevitáveis processos de convergências midiáticas que acabam forçando atualizações das ferramentas para serem acessados por suportes emergentes. Esse mecanismo instável e mutante acaba provocando alterações na própria dinâmica cognitiva dos processos comunicacionais entre os indivíduos que utilizam a internet. Além disso, os próprios internautas vão se posicionando criticamente em relação às ferramentas disponíveis, o que resulta em mais mudanças, aperfeiçoamentos e desenvolvimento de produções customizadas para cada tipo de internauta e objeto que representa. Desse modo, a web vai se transformando num sistema “vivo”, em constante ampliação e mutação. Isso significa que, do ponto de vista do web design, os processos produtivos deverão sempre estar preparados para a modificação de seus parâmetros para continuarem representando de maneira fidedigna seus objetos e propósitos. A única verdade que se pode considerar é que o web design não deve ser tratado como um produto, mas como uma produção, um sistema inacabado que deve ser entendido (investigado) em seu aspecto evolutivo. Não basta criar um site, é preciso que ele produza 2

Antes de dar prosseguimento às nossas reflexões, é preciso frisar o que consideramos como site. O termo aqui é utilizado para reportar todo e qualquer ponto interfaceado, ou seja, todo e qualquer conjunto de dados disponibilizados em um provedor, com interface visual gráfica própria visualizável em browsers e cujo fluxo narrativo (o acesso às informações) é constituído por hiperlinks, propiciando processos comunicacionais.

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sentido, propicie, de maneira eficiente, processos interativos de comunicação. Se assim não o for, qualquer desenvolvimento em web design estará fadado a cair na ineficiência comunicativa, perdendo-se na imensidão das tramas das teias da internet. Diante dessa situação, nosso desafio é buscar ferramentas conceituais que nos permitam refletir sobre essas produções, cuidando do contexto evolutivo e transformador do seu meio e os inerentes reflexos que as transformações que dele decorrem são capazes de provocar ao longo dos processos de desenvolvimento produtivo. Não é nosso intuito apresentar receitas ou fórmulas para esse tipo de processo e nem estabelecer algum tipo de condição para uma conduta produtiva ideal, mas analisar a importância das condições que envolvem o processo produtivo em web design. Dessa forma, acreditamos que podemos desenvolver um sistema analítico para que cada produção possa ser analisada em sua individualidade funcional e criativa. A indicação desse mapeamento é fundamental para que produtores e analistas estejam armados com suporte suficientemente crítico ao exercício de suas atividades.

Web design: sistemas e produção A produção web está inserida em um universo de alta complexidade que envolve, entre outros procedimentos, intenções comunicativas, ideais estéticos, retorno interativo, possibilidades de desenvolvimento criativo e integração multimídia. Partimos do pressuposto que a produção em web design é um processo derivado de três situações sistêmicas, inerentes ao seu desenvolvimento. A primeira, inspiradora, detonadora das inferências e concepções criativas necessárias à formalização da hipermídia, enquanto representação de um produto, serviço, pessoa, empresa, comunidade, etc. A segunda, realizadora, cujos procedimentos de formalização material da ferramenta digital devem ser executados de maneira tal, que ela seja esteticamente interessante e funcionalmente adequada àquilo que representa, a quem se destina e aos fluxos de informação viáveis. A terceira, interpretadora, cujas instâncias são relativas aos momentos em que são detonados os processos interativos, através das relações cognitivas que se estabelecem entre os indivíduos (e coletivos) e as hipermídias dispostas à fruição pública. Partindo do mapeamento acima introduzido, trazemos ao conhecimento público (ainda que de forma resumida), através desse artigo, reflexões sobre esses momentos, inerentes a todo e qualquer processo de produção em web design. Os resultados e os apontamentos que este artigo apresenta são frutos de um estudo mais aprofundado 3, finalizado no ano de 2009 e revisitado no momento para conhecimento atualizado. Nesse caminho, defendemos a importância (mas não exclusiva necessidade) dos estudos (semióticos e sistêmicos) sobre os procedimentos que envolvem todo o processo de produção em web design. Entendemos, nesse sentido, que a tomada de consciência (especialmente sob o ponto de vista sígnico) dos procedimentos que envolvem a atividade produtiva, considerando a complexidade do ambiente (a rede, como meio), é fundamental para que o desenvolvimento em web design siga propósitos claros de criação, realização e representação, fazendo com que a hipermídia tornese, de fato, eficiente dentro do contexto que foi projetada. Nesse sentido, nosso material teórico deve servir como um apoio para enfrentar a complexidade na qual esses procedimentos estão inseridos, trazendo à tona a importância dos princípios teóricos como 3

Faz-se referência direta, aqui, à seguinte publicação: ALMEIDA, Cândida. (2009) Web design: guia de produção e análise. Tese de Doutorado. 249 págs. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, São Paulo.

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guia para produção, desenvolvimento e análise crítica de composições sígnicas hipermidiáticas. Qualquer pesquisador que se aventure a investigar o escancarado ambiente da hipermídia está fadado a cair numa imensidão especulativa, se não se posicionar com clareza metodológica frente ao seu objeto. O que chama mais atenção é o fato de podermos contrapor uma postura científica – semiótica e sistêmica – às etapas de desenvolvimento da produção em web design. Se passarmos a observar o web design sob essas perspectivas, podemos diagnosticar o modo como a sistemática (a lógica sistêmica dos procedimentos) de uma produção hipermídia interfere nos processos interativos de produção de sentido e como a fruição interativa pode reconstruir o sistema sígnico da produção web. Consideramos a produção web como uma atividade que vai muito além da criação e programação de sites, mas como uma realização que demanda atenção especial em diversos aspectos de ordem estrutural, social e cognitiva. Do ponto de vista estrutural, é importante chamar a atenção para os avanços tecnológicos que vão influenciar diretamente as formas de desenvolvimento e fruição das produções web. O surgimento de novos recursos interativos, técnicas, linguagens de programação, interfaces, softwares, suportes, hardwares e componentes de informática pressionam as produções em web design a estarem sempre preparadas para serem fruídas e suportadas pelos recursos mais recentes. Do ponto de vista social, é extremamente importante assumirmos que a sociedade aprendeu a se relacionar pelas infovias4 da web, estabelecendo laços (interfaceados, mediados) com outras pessoas, formando grupos, firmando identidades, ignorando de vez as fronteiras físicas da informação que separam os cidadãos nos vários cantos do mundo. Outro ponto a se destacar, sob a perspectiva social, é o fato de o sujeito (interagente) poder se inventar nos nós5 da grande rede, através dos perfis dos internautas (usuários). É o que acontece, por exemplo, nas redes de relacionamento, nas quais é exigido o registro com detalhamento de características visuais, socioeconômicas, escolaridade, gostos pessoais e interesses diversos de cada participante. Esses procedimentos de autorepresentação fazem com que o sujeito tenha a possibilidade de se apresentar (através de seus perfis 6) conforme seus interesses específicos na comunidade, grupo ou redes de relacionamentos das quais participa. Trata-se de um contexto que pode beirar a esquizofrenia, se não pressupormos que há uma diferenciação entre os fatos que ocorrem na rede e fora dela. Sendo a internet um ambiente não apenas de difusão de informações, mas principalmente de intercâmbio informático, os processos de representação da realidade tornam-se mais complexos que nos meios tradicionais de comunicação de massa, uma vez que a realidade na rede se refaz a cada nova interferência de um internauta. (ALZAMORA, 2004, p.102)

De outro lado, parecem-nos inegáveis as mudanças cognitivas de toda e qualquer pessoa que passe a usar habitualmente a internet, não importando se o seu fim é entretenimento, pesquisa ou como ferramenta de trabalho. A velocidade no processamento cognitivo da informação se altera com a mesma rapidez com a qual um internauta sente-se impelido a clicar em um link, a não clicar em outro ou com a rapidez com a qual ele 4

Canais onde correm os fluxos de informação.

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Pontos interfaceados da rede.

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Apresentação pessoal em rede social que demonstra o perfil social e os interesses do sujeito.

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diagnostica e qualifica um site. Assim, o próprio pensamento vai se tornado hipermidiático, ou seja, tendendo a ser concebido por links entre um fato e uma ideia, uma ideia e uma conclusão, uma conclusão e uma nova ideia e assim por diante. Um pensamento veloz, mas que pela própria característica da velocidade, vai perdendo a capacidade de ser profundo e gerar memórias no longo prazo. Nesse sentido, Marcus Bastos aponta que Nos vãos entre antes e depois, é possível narrar a passagem de um tempo que não gira com os ponteiros do relógio. Nesse contexto, é mais importante aprender a pensar na velocidade dos cliques que torcer por um tempo lento, tempo que retorna nos clarões dos esquecimentos ou nos intervalos de silêncio a que o visitante dos fragmentos contemporâneos pode se entregar quando interrompe suas derivas, quando estanca o fluxo de conexões habitual. (BASTOS, 2005, p.25)

De um ponto ao outro da produção web, que se caracteriza por procedimentos que vão desde a necessidade de se desenvolver uma ferramenta para representar alguma coisa, até a fruição interativa dos internautas, o projeto vai se envolvendo em expectativas, perspectivas, desejos e interesses. A expectativa de um cliente em ter um site que alcance seus clientes potenciais; o interesse em construir um fórum de discussão para alimentar uma pesquisa; o desejo de o designer realizar um projeto esteticamente diferencial e arquitetonicamente eficiente ou de um interator encontrar de maneira rápida o que procura e, ao mesmo tempo, realizar uma navegação prazerosa. A lista de interesses e expectativas é extensa e neste trabalho não significa apenas simples desejos, mas a construção de ideais que perpassam todo o processo, rumo ao efeito máximo da realização produtiva e produção de sentido em todos os sujeitos envolvidos. Quando nos reportamos ao exercício de produção em web design, estamos em busca dos caminhos que podem nos conduzir à realização de produções qualitativas e eficientes. Cada produção é por nós encarada como um sistema composto por signos de diferentes tipos e classes – cada um representando uma particularidade (ou propriedade) do sistema – que se inter-relacionam, guiados por ideais normativos, suscitando inferências e raciocínios ao longo de seu desenvolvimento e fruição. Uma estrutura complexa, tanto em sua concepção criativa quanto nas suas formas de fruição que dependem de ações voluntárias (e muitas vezes, involuntárias) do público interator.

O ambiente insipiente do web design A realização de um projeto em web design demanda, além do conhecimento técnico de softwares de edição de imagens, sons, vídeos, estruturas hipermídias e de linguagens de programação, o conhecimento sobre o contexto que envolve as etapas de produção, ou seja, o Umwelt7 associado. Há que se considerar dois grandes sistemas – que também podem ser entendidos como dois ambientes engendrados – que estabelecem as bases para a formação do 7

O conceito de Umwelt foi cunhado pelo biólogo e filósofo alemão Jakob von Uexküll (1864-1944). Aproximando-se bastante da ideia de ambiente sistêmico, o “Umwelt pode ser defi nido como o aspecto fenomenal das partes do ambiente de uma espécie”. (QUEIROZ, 2007, p.13) Valendo-se de uma metáfora, VIEIRA (2007) explica que o Umwelt é uma ‘bolha’ que circunda o signo (ou sistema) destacado, conferindo- he características. Nós, humanos temos o nosso Umwelt biológico, responsável pela manutenção do nosso organismo e mediação dos nossos sentidos, por exemplo.Consideramos como parte do Umwelt das produções web, os agregados sistêmicos que criam um ambiente favorável ao desenvolvimento e fruição de tais produções.

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Umwelt no qual emergem essas produções: a informação digital e a internet. De modo confluente, engendrado e mesclando dinâmicas internas entre seus sistemas, esses dois ambientes fornecem as diretrizes básicas para a sustentação do contexto sistêmico propício à realização de qualquer produção. Toda e qualquer informação veiculada na web é digital. Uma informação – ou signo – digital é aquela definida (em sua forma mais elementar) pela combinação dos bits (binary digit), microestruturas de chaves que se alternam entre ligado e desligado - on e off ou 0 e 1). A cada oito bits, temos a formação de um byte que, além de ser responsável por codificar uma dada informação, também é uma medida de valor da informação. A informação digital não é propriamente uma materialidade, ela é um dado que, mediante traduções intersemióticas8, pode vir a se atualizar como informações verbais, sonoras, visuais e audiovisuais, mediadas pelas interfaces dos suportes digitais. Exemplificando claramente como esse processo ocorre e é inerente aos suportes computacionais – sejam eles microcomputadores de mesa, laptops, palmtops, telefones móveis ou qualquer tipo de suporte computacional apto a realizar leituras dos conjuntos de informações digitais –, Steven Johnson (2001) defende o poder autorepresentativo desses sistemas, em virtude de tais traduções. Aqueles pulsos de eletricidade são símbolos que representam zeros e uns, que por sua vez representam simples conjuntos de instrução matemática, que por sua vez representam palavras ou imagens, planilhas e mensagens de e-mails. O enorme poder do computador digital contemporâneo depende dessa capacidade de autorepresentação. O mais das vezes, essa representação assume a forma de uma metáfora. Uma sequência – ela própria um tipo de linguagem, embora ininteligível para a maior parte dos humanos – é substituída pela metáfora de uma pasta virtual que reside num desktop virtual. (JOHNSON, 2001, p.18)

Refletindo sobre a evolução dos processos comunicacionais, Pierre Levy, uma das sumidades internacionais nos estudos de cibercultura e os efeitos cognitivos das relações humano-computador, em 1993 já alertava para as possibilidades de ampliação dos processos de hibridização das linguagens e a agilidade na produção e transmissão das informações digitais. Ao progredir, a digitalização conecta no centro de um mesmo tecido eletrônico o cinema, a radiotelevisão, o jornalismo, a edição, a música, as telecomunicações e a informática. (...) Ora, a codificação digital relega a segundo plano o tema do material. Ou melhor, os problemas de composição, de organização, de apresentação, de dispositivos de acesso tendem a libertar-se de suas aderências singulares aos antigos substratos. Eis por que a noção de interface pode ser entendida ao domínio da comunicação como um todo e deve ser pensada hoje em toda sua generalidade. A codificação digital já é um princípio de interface. Compomos com bits as imagens, textos, sons, agenciamentos nos quais imbricamos nosso pensamento ou nossos sentidos. O suporte da informação torna-se infi nitamente leve, móvel, maleável, inquebrável. O digital é uma matéria, se quisermos, mas uma matéria pronta a suportarmos todas as metamorfoses, todos os revestimentos, todas as deformações. (LEVY, 1993, p.102)

8

O processo de mutação que uma informação (signo) sofre ao ser adaptada a um suporte diferente do primeiro. Nesse processo, os signos representantes mudam, em função dos códigos impostos pela nova linguagem. As adaptações de obras literárias para filmes são exemplos de traduções intersemióticas. Longe de ser um procedimento simples, o conceito ganhou contorno e definições bem específicas no livro homônimo (Tradução Intersemiótica) de Julio Plaza (2003).

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Partindo das explicações acima reproduzidas (Johnson, 2001 e Levy, 1993) e refletindo sobre os procedimentos práticos ao longo do desenvolvimento criativo em web design, pode-se concluir que a utilização da informação digital como formato de elaboração e transmissão de mensagens traz grandes vantagens à comunicação e aos processos de produção de sentido. Dentre os mais relevantes, destacam-se três: a) o uso de pouco espaço físico para armazenamento dos dados, permitindo um maior fl uxo e arquivamento das informações; b) a capacidade de se realizar misturas e sobreposições de informações de linguagens diversas, haja vistas as “suturas de dados, textos, imagens de todas as espécies e sons dentro de um único ambiente de informação digital” (FELDMAN apud SANTAELLA, 1995), propiciando uma efetiva convergência e hibridização das linguagens; c) a facilidade – e agilidade – de se realizar amplas edições das informações, sem condicionar alterações no próprio suporte9 e acelerando o processo semiósico da informação, favorecendo ações interativas recompositivas10. Outro grande sistema que devemos considerar como essencial no debate da constituição do Umwelt das produções web refere-se ao ambiente de atualização e trânsito das informações: o ciberespaço, “essa turbulenta zona de trânsito para signos vetorizados” (LEVY, 1996, p.46). Marcos Palácios (2004) ao tratar da complexidade inerente à produção webjornalísitca, utiliza o modelo sistêmico para refletir sobre os processos de inter-relação entre os sistemas imersos no ambiente da internet. ...a Internet, no contexto do ciberespaço, é mais bem caracterizada não como um novo médium, mas como um sistema que funciona como ambiente múltiplo e heterogêneo de informação, comunicação e ação para outros sistemas. Sua especificidade sistêmica seria a de constituir-se, para além de sua existência como artefato técnico ou suporte, pela junção e/ou justaposição de diversos (sub)sistemas, no conjunto do ciberespaço enquanto rede híbrida. (PALÁCIOS, 2004, p.94)

No que toca diretamente o web design, a leitura que realizamos sobre o ciberespaço está centrada nas possibilidades de trocas viabilizadas pela internet e o sistema de protocolos da web, a WWW11. Um sistema totalmente aberto em suas perspectivas de ampliação da quantidade de nós12, do número de sujeitos interatores que registram suas marcas simbólicas – construindo uma Babel de representações e interesses – e no que toca a complexificação dos fluxos de informação. As interfaces são as atualizações (traduções) das informações digitais exibidas na tela que fazem a mediação entre o conjunto de dados digitais e os sentidos humanos, através da materialização visual de uma mensagem cognoscível. Aplicada aos processos produtivos que se integram no ciberespaço, a interface pode ser entendida como o nó acessível (cognoscível) 9

Através dos suportes, interfaces e programas de edição, é possível realizar modificações em textos, sons, vídeos, imagens estáticas sem que suportes materiais precisem ser alterados ou substituídos. 10

Ver ALMEIDA (2008).

11

Do inglês, World Wide Web (rede de alcance mundial). A WWW é uma rede de protocolos baseada em alguns códigos específicos de programação, visualizados por browsers (ou navegadores como o Internet Explorer, FireFox, Safari, Chrome ) que decodificam a informação digital, traduzindo-a (intersemioticamente) em textos, imagens, sons e movimentos. 12

Os nós são entendidos como os pontos interfaceados da WWW.

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de uma dada produção, uma vez que cabe a ela fazer a mediação entre o sistema produtivo em toda sua organização e seu público. Assim, as interfaces propiciam o acesso às informações, mediam os fluxos interativos e tornam se responsáveis pela representação verbal, visual e sonora (e suas hibridizações) da produção. Recheadas de sinalizações icônicas, indiciais e simbólicas, as interfaces devem favorecer a apreensão cognitiva dos interatores e orientar os fluxos de informação no ambiente da web.

Considerações finais: recomeçar O web design tem como sua principal função, produzir (criar e desenvolver) essas interfaces, em toda sua complexidade estrutural, estética e organizacional, de modo a servirem como nós eficientes (bem estabelecidos) da rede. Cada página, blog ou ferramenta existente na web, é uma representação de um serviço, de uma pessoa, de uma necessidade, de um fato, de um interesse e, enquanto houverem novidades a serem projetadas para o ciberespaço, haverá a necessidade de uma criação.13 A responsabilidade do design, nesse sentido, recai sobre a importância do desenvolvimento de interfaces que favoreçam os processos cognitivos, comunicacionais e inter-relacionais. Ou seja, o web design, mais do que dar uma “cara” a uma produção web, tem por obrigação promover uma representação eficiente do ponto de vista visual, informacional e interacional. É necessário e fundamental que os produtores estejam sempre atentos e se posicionem criticamente em relação a sua produção, considerando sempre a necessidade de recomposição e reorganização estrutural (sígnica) do seu projeto. Ora, se a rede se move e avança, uma produção web tem que acompanhar essa dança. Ainda que não seja possível o produtor agir na reorganização do seu sistema de produção (como no caso de um contrato comercial não prever atualizações ou o cliente não achar relevante), devemos lançar sempre o olhar crítico para as necessidades de recriação dos sites, verificando se a produção ainda é eficiente. Além disso, temos o compromisso de estarmos sempre alinhados com os avanços tecnológicos, para que possamos propiciar situações cognitivas mais avançadas. O cuidado com as mudanças é fundamental, mas é importante caminhar junto ao tempo e às novas demandas de fruição pública. Há muito mais inteligência (lógica) na produção em web design do que simples aplicações de paradigmas esquemáticos. Precisamos preparar nossas mentes para seguir o caminho da lógica, para entendermos e projetarmos a evolução da própria rede. Afinal de contas o ambiente web é, em si, um incansável processo em produção.

Referências ALMEIDA, Cândida. Web design: guia de produção e análise. Tese de Doutorado. 249 págs. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, São Paulo. 2009. ______. Poéticas da recomposição: arte, rede e cognição. In Estéticas Tecnológicas: novos modos de sentir. Lucia Santaella & Priscila Arantes (org.) p.199-203. São Paulo: Educ, 2008. 13

Além dessa demanda necessária, há que se considerar a já iminente necessidade de muitas dessas ferramentas serem reelaboradas, levando-se em consideração a precariedade representativa – em termos visuais, de organização interna das informações ou da programação – de seus projetos. 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

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