Wetlands em ambientes urbanos: potencialidades do Parque Ambiental Palmital, em Pinhais/PR

July 5, 2017 | Autor: Roberta Romano | Categoria: Urban Studies
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WETLANDS EM AMBIENTES URBANOS: POTENCIALIDADES DO PARQUE AMBIENTAL PALMITAL, EM PINHAIS/PR

Altair Rosa Doutorando em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela USP/SC. Professor do Departamento de Engenharia Ambiental da PUCPR. Cristina Finger Schettini Engenheira Ambiental pela PUCPR. Especialista em Eng. de Segurança no Trabalho UTFPR. Carolina Pereira Mello Engenheira Ambiental pela PUCPR. Especialista em Eng. de Segurança no Trabalho UTFPR. Guilherme Samprogna Mohor Mestrando em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela USP/SC. Mario Procopiuck Professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUCPR. Roberta Giraldi Romano Doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR.

RESUMO: A urbanização com ausência de planejamento urbano e ambiental causa diversos problemas ambientais, dentre eles a incidência de cheias e a poluição nos rios urbanos. Muitas tecnologias vêm sendo criadas para auxiliar e diminuir os resultados do mau planejamento urbano, para esta pesquisa será considerado o sistema de wetlands construídas, compreendidas como sistemas que simulam as áreas de várzea presentes na natureza. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo identificar os benefícios do Parque Ambiental Palmital, referente à implantação de wetlands construídas no rio Palmital em Pinhais/PR, região metropolitana de Curitiba/PR. Trata-se de um rio urbano que possui baixa qualidade de água e alagamentos constantes, pois sua drenagem é afetada pela retirada de mata ciliar e existência de atividades antrópicas potencialmente poluidoras. O método utilizado partiu do referencial teórico e análise documental para posteriormente realizar o estudo de caso, caracterizando-se como pesquisa exploratória. Concluiu-se que as wetlands teriam como principais benefícios: conter cheias, melhorar a qualidade da água, fornecer aos moradores da região uma alternativa de lazer, promover o turismo na região, aumentar a quantidade de mata ciliar na área próxima às wetlands e promover a educação ambiental.

Grupo temático – GT12: Problemas e políticas socioambientais no meio urbano.

Introdução

O crescente processo de urbanização sem um correto planejamento pode ser, atualmente citado, como sendo um dos principais fatores que influenciam na degradação da água, formada a partir do deslocamento da população rural para centros urbanos em busca de empregos e melhoria na qualidade de vida, devido à industrialização. Esse processo fez com que os centros urbanos, que não estavam preparados para receber essa grande quantidade de pessoas, começassem a ter problemas com poluição, falta de espaço, impermeabilização do solo e enchentes. A manutenção do processo de urbanização foi resultado de três fatores: o crescimento vegetativo das áreas urbanas, o movimento de migração rumo aos grandes centros e a modificação de áreas rurais para urbanas. Novas tecnologias estão sendo criadas e implantadas para desenvolver mecanismos de remediação mais sustentáveis no que diz respeito à gestão de recursos hídricos e biota, dentre elas o sistema de wetlands. O sistema de wetlands construídas é utilizado para melhorar a qualidade de água e controlar cheias, através de drenagem. O tratamento da água é feito por intermédio de plantas, que são escolhidas dependendo do tipo de sistema que o local necessita. As enchentes são fenômenos naturais dos regimes dos rios e todo rio tem sua área natural de inundação. As inundações passam a ser um problema para o homem quando este deixa de respeitar esses limites. O principal agravante das enchentes são as ações do homem que alteram o escoamento natural das águas, com o desmatamento, removendo a vegetação, canalizando as águas pluviais e impermeabilizando o solo. Para amenizar esse problema as wetlands são usadas para conter cheias, ajudando na drenagem e armazenamento da água em torno do rio. O objetivo principal deste trabalho é demonstrar, através de projetos elaborados pelo governo do estado do Paraná, as potencialidades da implementação de wetlands construídas em áreas ribeirinhas de rios urbanos e suas contribuições no controle de cheias e inundações, ou seja, uma nova abordagem para os atuais sistemas de drenagem. Como objetivo secundário analisa-se ainda as possíveis contribuições da tecnologia na melhoria da qualidade da água. A área de estudo encontra-se na bacia hidrográfica do rio Palmital, localizada no município de Pinhais, região metropolitana de Curitiba Estado do Paraná. O local, denominado Fazenda Palmital, foi desapropriado pelo Governo do Estado em 1998, com o intuito de implantar o Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Curitiba – PROSAM. O programa tinha como objetivo assegurar a qualidade de vida da população sem prover a área de nenhuma infraestrutura (ROSA, 2010). Como principal resultado desta pesquisa destaca-se que as wetlands construídas podem se constituir de uma interessante ferramenta para gestão de bacias hidrográficas urbanas. No caso

especifico do município de Pinhais e da bacia hidrográfica do rio Palmital, pode contribuir com na melhoria da drenagem urbana; melhoria na qualidade da água; criação de um local de interesse paisagístico, e consequentemente de uma área de lazer e turismo; promoção da educação ambiental; e aumento da mata ciliar. Saliente-se, que executando os projetos apresentados, não serão solucionados todos os problemas, mas terão significativa contribuição, não somente pontualmente, mas para a bacia como um todo.

Método

Partindo da premissa que wetlands podem ser consideradas uma alternativa para minimizar cheias e contribuir para a melhoria da qualidade de aguas de rios urbanos esta pesquisa pretende demonstrar as potencialidades de seu uso. A pesquisa terá como estudo de caso o projeto do Parque Ambiental Palmital proposto pelo ECOPARANA, serviço social autônomo ligado ao governo do estado do Paraná, demonstrando os benefícios do uso de wetlands em áreas urbanas. A sequência da proposta metodológica foi a pesquisa exploratória fundamentada por pesquisa bibliográfica, documental e análise de estudo de caso. A análise foi realizada a partir de informações coletas e projetos já realizados sobre a área de estudo. A proposta consiste na transformação de uma área considerada crítica – por estar propícia ao avanço da urbanização sem o devido planejamento e ter como consequências sérios problemas ambientais – em um parque de lazer para uso público, podendo proporcionar melhorias na qualidade de vida da população, contribuindo para conter cheias e o avanço da ocupação nas margens do rio.

Wetlands

As wetlands são áreas úmidas, paisagens com presença permanente ou periódica da água. Segundo Yamamoto (2011) a definição mais ampla é adotada pela Convenção de Ramsar, Zonas Úmidas de Importância Internacional, que as define como áreas de pântano, charco ou água (natural ou artificial) permanente ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo áreas de água marítima com menos de seis metros de profundida na maré baixa. As várzeas também se incluem na definição abrangente, como wetlands naturais. O sistema de wetlands construídas é utilizado para melhorar a qualidade de água e controlar cheias, através da drenagem. O tratamento da água é feito por meio de plantas que são escolhidas dependendo do tipo de sistema que o local necessita. Segundo Salati (2006, p.2):

As wetlands construídas são ecossistemas artificiais com diferentes tecnologias, utilizando os princípios básicos de modificação da qualidade da água das wetlands naturais e que diferem principalmente das wetlands naturais pelo seu regime hidrológico, o qual é controlado.

As wetlands artificiais do tipo zonas de raízes são representações de áreas alagáveis naturais (brejos, várzeas), construídos para realizar a depuração de águas residuárias, industriais e agrícolas, caracterizando-se em um mecanismo alternativo no tratamento de efluentes, pois utilizam processos naturais. Sua simplicidade de design, operacional e de manutenção, além da elevada eficiência de tratamento, torna essa tecnologia, uma das mais promissoras em aplicação nos países desenvolvidos, e quando utilizada em regiões tropicais há um acréscimo no seu desempenho devido ao clima favorável (COSTA, 2004). A construção de wetlands artificiais, Figura 1, tem despertado interesse mundial porque parte do movimento preservacionista de wetlands naturais vem destacando o uso indevido desses sistemas, o que ocasiona profundas alterações nestas áreas (WETZEL, 1993). Portanto, a ideia principal é construir ecossistemas artificiais que absorvam os princípios básicos positivos dos ecossistemas naturais e controlem os aspectos negativos destes.

Figura 1 - Wetlands construídas de Koh Phi Phi Don, Tailândia.

Fonte: LAUGESEN, 2010.

As wetlands construídas aumentam a qualidade da água e diminuem a poluição, são sistemas com baixo custo, comparados com outras tecnologias, ganham vantagem no que diz respeito à manutenção, mas eventualmente necessitam de áreas mais extensas que os demais tratamentos, havendo um grande movimento de terras e escavações (LAUTENSGLAGER, 2001).

Para determinar o tipo de wetlands, ou combinação das mesmas, é necessário verificar a qualidade do efluente a ser tratado, eficiência desejada, área disponível, interesse da utilização de biomassa produzida e interesse paisagístico. Por existir diferentes tipos de efluentes e áreas, para obter-se uma maior eficiência, tem sido projetadas uma combinação de técnicas (BRIX, 1993).

Área de Estudo

O município de Pinhais está localizado no Estado do Paraná, Figura 2, região sul do Brasil, faz parte da Região Metropolitana de Curitiba, juntamente com mais 28 municípios (Figura 1). Pinhais, o menor município do Paraná, possui área territorial de 61.137 km² e está aproximadamente a 9 km da capital (IPARDES, 2010).

Figura 2 - Localização do Município de Pinhais.

Fonte: ROSA, et al., 2010. p.3.

Pinhais é drenada por quatro rios, todos afluentes da margem direita do Rio Iguaçu: Iraí, do Meio, Palmital e Atuba. Os rios que possuem maior densidade populacional são os Atuba e Palmital, com 53.550 e 51.605 habitantes, respectivamente. Suas densidades também são as maiores do município, com 33,94 e 26,57 habitantes por hectare. A bacia hidrográfica do rio Palmital desenvolve-se no sentido norte-sul, entre os paralelos 25°16' e 25°27' de latitude sul e os meridianos 49°07' e 49°15' de longitude oeste, com uma área de aproximadamente 97 km². As

nascentes do rio Palmital estão localizadas no município de Colombo e a sua foz no município de Pinhais (COMEC, 1996). Na região montante atualmente, o uso do solo rural predomina com a ocorrência de alguns núcleos urbanos dispersos, pertencentes ao município de Colombo, no percurso restante predomina a ocupação urbana (ROSA, 2010). A influência direta de esgotos no rio Palmital faz com que a qualidade de suas águas tenham uma variação muito grande. Isso acontece pela decorrência do crescimento populacional da cidade e ocupação de área a beira de córregos, rios, vales e áreas de mananciais, locais impróprios para moradia. Segundo o Plano Diretor de Pinhais (2010, p. 93):

As bacias hidrográficas que drenam Pinhais correspondem a afluentes da margem direita do Rio Iguaçu, cujos canais apresentam forte controle morfoestrutral subparalelo na direção N-S, e, como característica comum, destaca-se a baixa qualidade das águas superficiais. Tal situação decorre da grande quantidade de efluentes despejados sem tratamento nos rios e córregos, em especial de esgoto doméstico. Tal situação é mais evidente nas bacias dos rios Atuba e Palmital, onde o índice de ocupação é maior que no restante do município. Embora a água de todos os rios que cortam Pinhais tenham sido classificadas como “poluídas” (IAP, 2005), estas se enquadram em categorias que permitem a destinação para abastecimento doméstico, após tratamento por processo convencional.

A área urbana de Pinhais se encontra, em grande parte, na bacia hidrográfica do rio Palmital, sendo mais desenvolvida em sua marguem direita, praticamente toda ocupada, enquanto a esquerda ainda apresenta trechos sem ocupação, cobertos por vegetação. O rio recebe diversas contribuições de esgotos de áreas densamente povoadas, tais como a Vila Zumbi onde mais de 2000 habitações não dispõe de estrutura de coleta e tratamento de esgoto. O carreamento de esgoto e lixo existentes em galerias pluviais e valetas de drenagem nas etapas iniciais de chuvas, especialmente após períodos de estiagem, provocam alterações na qualidade da água (ANDREOLI, et al., 1999, p. 5). Por apresentar um elevado nível de poluição de suas águas o Palmital foi descartado do processo de captação de água, voltada ao abastecimento público. A situação é preocupante porque esse cenário só tende a piorar. O rio Palmital possui seus divisores em altitudes entre 920 metros próximos a foz e 1100 metros nas cabeceiras próximas a nascente. Segundo Santos (1997) a bacia apresenta de modo geral declividades pequenas, em grande parte inferior a 6%, não sendo um fator limitante para a ocupação da área. A região do rio Palmital possui extensas planícies de inundação, pois seus rios possuem nascentes bem próximas a Serra do Mar, e suas características quanto ao relevo, colinas e morros arredondados (PLANO DIRETOR DE PINHAIS, 2010). A Figura 3 mostra as cotas de

alagamentos dos anos de 1999,2003 e 2009. Nota-se que a área do rio Palmital teve menor incidência de alagamentos nos últimos anos.

Figura 3: Áreas atingidas por processos de inundação.

Fonte: PLANO DIRETOR DE PINHAIS, 2010.

O Rio Palmital possui uma vazão de 372 l/s, apresentando muitos pontos de assoreamento ao longo de seu curso, o que indica um grande processo de erosão das margens pela ocupação irregular e reduzida faixa de mata ciliar. Os alagamentos ocorrem na porção à jusante, que segundo Andreoli (2003) acontece devido à planície de inundação em que se encontra ser formada por sedimentos aluvionares, o que torna necessárias operações de dragagens e remoção de resíduos do canal. A área de estudo deste trabalho, denominada Fazenda Palmital, no município de Pinhais, foi desapropriada pelo Governo do Estado em 1998, com o intuito de implantar o Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Curitiba – PROSAM. O programa tinha como objetivo assegurar a qualidade de vida da população sem prover a área de nenhuma infraestrutura (ROSA, 2010). A área está localizada próxima a Estrada da Graciosa, e tem como ponto de referência o Condomínio Residencial de Alto Padrão Alphaville Graciosa, fazendo divisa com ele (Figura 4).

Figura 4: Localização do futuro Parque Ambiental Palmital

Fonte: ECOPARANÁ, 2009.

O local encontra-se sob o guardo do 1° Esquadrão de Polícia Montada do Paraná. Em 2008, o Governo do Estado do Paraná retomou as discussões sobre a área. Inicialmente a ação foi concentrada na revitalização das antigas estruturas da fazenda com o objetivo de melhorar as condições de trabalho da unidade da Polícia Militar. Posteriormente as discussões se concentraram na transformação do restante da área em parque de lazer. A área tinha como planejamento se tornar um parque no ano de 2010, o que não ocorreu até os dias atuais. As obras que estão sendo realizadas na região dizem respeito a controle de cheias.

Análise Situação atual das obras

Atualmente, em primeira etapa, as obras em execução tem o objetivo somente de controle de cheias (Figura 5), o que não impede a implantação do sistema de wetlands. Para que o sistema seja instalado é necessário solucionar o problema de assoreamento e o sistema de limpeza. Segundo o Diretor Técnico e de Saneamento o assoreamento deve ser solucionado mediante dragas de sucção e recalque, o que arrancaria as espécies do fundo, e tornaria inviável o sistema de wetlands com plantas fixas.

Figura 5: Projeto de Contenção de Cheias 2011

Fonte: ÁGUASPARANÁ, 2011.

O projeto em execução é de 2011 e foi formulado pela empresa Veneza Engenharia e Empreendimentos Ltda, localizada no município de Pinhais. Nele somente a área do parque está contemplada. Anteriormente a ele a empresa ECOPARANÁ havia desenvolvido o projeto, Figura 6, no ano de 2009. No qual o local é dividido em: Cavalaria da Polícia Militar, Parque e setor de contenção de cheias. Figura 6: Projeto realizado pela empresa ECOPARANÁ em 2009

Fonte: ECOPARANÁ, 2009.

Não notasse diferença entre os dois projetos desenvolvidos para a área do parque, ambos possuem a mesma quantidade de lagoas e tem visivelmente a mesma extensão. Possuem áreas de lazer e turismo e tem como função principal conter as cheias da região. Os dois projetos citados no trabalho não possuem grandes alterações no que diz respeito à função do parque.

A formulação do Parque Ambiental Palmital é um projeto que já está sendo desenvolvido e reformulado desde 2002. A alteração nos projetos, e consequentemente de empresas responsáveis, é resultado da mudança de governo que ocorre no estado com as eleições. Atualmente (Figura 7 e 8) a obra está longe de ser terminada. Foram escavadas as áreas de contenção, mas ainda é necessário colocar estruturas de descarga, realizar a terraplanagem para a implementação do parque, utilizar o sistema de hidrossemeadura para formar uma camada protetora na superfície do solo (contra agentes erosivos) e realizar a drenagem superficial.

Figura 7: Situação da obra no rio Palmital

Fonte: Autores, 2012.

Figura 8: Situação atual das obras no rio Palmital

Fonte: Autores, 2012.

Nota-se que mesmo em primeira etapa, a área já consegue ter um interesse paisagístico significativo, pois sua vegetação já mostra indícios de recuperação, mas o local ainda não pode

ser considerado uma wetland, visto que problemas de assoreamento e de limpeza ainda estão sendo previstos. O local já foi inundado e, por isso, estes sistemas já realizam a função de conter cheias, pois armazenam água. Realizando uma análise superficial pode-se notar que os lagos possuem uma profundidade significativa e armazenam uma alta quantidade de água. Outro ponto importante é à distância da área da urbanização propriamente dita – a distância de locais que possam vir a interferir de forma negativa a construção do sistema iria atrasar as obras e prejudicar a eficiência de seu funcionamento. A segunda etapa, que é a jusante da primeira, ainda está no processo de licitação, sem data prevista para começar. O fim das obras também não está definido, visto que a obra só estará concluída após a recuperação ambiental de todo o entorno, deixando o local apto para a implantação do Parque Palmital. O Parque terá como funções promover o lazer e o turismo regional, conter cheias, recuperar a mata ciliar, melhorar a qualidade da água e desenvolver a educação ambiental. É um projeto ligado a Ciência da Ecohidrologia, já que seus sistemas visam o desenvolvimento sustentável.

Contenção de cheias Devido à ocupação da encosta do rio de forma irregular por residências e a retirada da mata ciliar, a área de estudo teve uma incidência considerável de alagamentos nos últimos anos. Outro agravante é a extração de areia que acontece a poucos metros da margem do corpo hídrico, que por agregar um valor econômico à região acaba sendo licenciado e/ou autorizado pela prefeitura. O resultado dessa prática inadequada é a ausência da mata ciliar e o deságue de resíduos encontrados na lavagem do material, contribuindo duplamente para o assoreamento do rio. Os bairros que mais interferem no escoamento e na qualidade da água do rio são o Alto Tarumã e o Jardim Claudia, locais de baixa infraestrutura localizados a margem direita do rio Palmital. A população que reside nos bairros em questão, principalmente no Jardim Claudia, é em sua maioria de baixa renda, e muitas não possuem regulamentação fundiária junto ao município de Pinhais. O uso de wetlands construída diminuiria o escoamento e, consequentemente, a probabilidade de enchentes. Porém, somente a construção desse sistema não irá sanar os problemas da área. Para que o aproveitamento e eficiência sejam satisfatórios é necessário realocar a população que reside de forma irregular às margens do rio e evitar atividades comerciais que interfiram na mata ciliar e no nível do corpo hídrico. O sistema de contenção das wetlands irá acumular temporariamente as águas provenientes do escoamento superficial. Segundo dados da Suderhsa (2002), com a adoção de medidas de

controle pode-se obter uma redução de 7 a 10 vezes no valor investido na solução de drenagem, podendo ser usado esse dinheiro para a urbanização e tratamento da paisagem. Por se tratarem de sistemas de baixo custo de implantação e manutenção são considerados mais baratos que outros mecanismos de contenção de cheias e de drenagem de água. Além disso, possuem capacidade de suportar variações na vazão da água, importante nos dias de chuvas, evitando alagamentos.

Melhoraria da qualidade da água As águas do rio Palmital são poluídas devido à existência de residências e indústrias próximas. A área localizada na margem direita do rio possui pouca infraestrutura, resultado da falta de um planejamento urbano inadequado. Desta forma, muitas residências às margens do rio não possuem rede de esgoto e acabam despejando seus resíduos diretamente no corpo hídrico. Esses fatos fazem com que o rio se torne cada vez mais poluído e inapto para uso de captação de água no abastecimento público. As wetlands são capazes de melhorar a qualidade da água do rio utilizando mecanismos de baixo impacto no meio ambiente ao seu redor. Por estar localizada em uma área de manancial, a eficiência do sistema poderia tornar o rio novamente apto à captação da água para abastecimento. As zonas de raízes atuam como filtros biológicos, ao transformar ou reter poluentes por meio da interação entre corpo hídrico, solo, planta, microrganismos e atmosfera. Por possuir simplicidade em seu design, na sua operação e manutenção, além de elevada eficiência de tratamento, esta tecnologia se torna umas das mais promissoras. O sistema de “limpeza” do corpo hídrico funciona mediante o trabalho de plantas aquáticas que são escolhidas de acordo com o clima, tipo de solo e características do rio a ser tratado. Essas plantas podem ser submersas, superficiais ou ambas. Cada sistema é criado para atender as exigências do local. A área de estudo, por encontrar-se ainda na fase de escavações para contenção de cheias, não possui ainda um tipo de sistema definido. Soluções para o problema de assoreamento ainda estão sendo analisadas para posteriormente ser definido e implementado o sistema de wetlands.

Alternativa de lazer e turismo na região

O processo de eutrofização pode inviabilizar a balneabilidade e o abastecimento doméstico e industrial. O mau odor, um de seus resultados, prejudica os serviços ambientais culturais, como

lazer e turismo (ALMEIDA, 2007). A eutrofização acontece porque o local apresenta uma quantidade significativa de lançamento de esgotos e lixo, o que afasta o turismo e o lazer. O lixo jogado próximo ao corpo hídrico é transportado por meio da chuva para o rio. Como boa parte desses resíduos demoram anos para se decompor ele se acumula e forma barreiras para o escoamento, além de poluir a paisagem, o que contribui para a incidência de cheia e falta de interesse paisagístico local. Para reverter essa situação, além de limpeza nos córregos próximos a área, é necessária a criação de um projeto de educação ambiental para os moradores, evitando os lançamentos de resíduos no rio. A implantação das wetlands e, posteriormente, do Parque Palmital, propicia a criação de uma área de lazer e turismo local, o que não existe atualmente. Por tratar-se de um projeto que visa o interesse ambiental, há possibilidade da economia local se beneficiar com o empreendimento por tratar-se de um tipo de turismo que destaca-se por seu caráter ambiental.

Aumento da mata ciliar O sistema de wetlands tem seu funcionamento a partir de plantas aquáticas. Elas têm a função de remover a matéria orgânica, o nitrogênio e o fósforo presentes no corpo hídrico. Com a ocupação irregular e atividades comerciais próximas ao rio, boa parte da mata ciliar original foi retirada, fato que resultou o aumento do nível e da poluição dos córregos. Com a implantação das wetlands o local seria reflorestado a fim de construir um habitat próprio para as macrófitas e outras plantas aquáticas que forem utilizadas para criar o Parque Palmital. Com isso, haveria o aumento da mata ciliar na área de estudo, Aumentando a mata ciliar da região também haveria melhoria da qualidade da água, pois a vegetação é determinante no auxílio da autodepuração do rio. Além disso, haveria beneficio para a contenção de cheias, formação local de interesse paisagístico, incentivando o lazer e o turismo da região. A recuperação da mata ciliar pode ainda ser utilizada como uma forma de educação ambiental, pois sem ela o aumento da poluição, das cheias e a da perda de locais de lazer afetam diretamente a economia e a qualidade de vida da população local.

Promoção da Educação Ambiental

A educação ambiental tem o objetivo de disseminar o conhecimento sobre o meio ambiente. Sua principal função é conscientizar a preservação do meio ambiente e utilização de mecanismos sustentáveis. No Brasil, assume uma perspectiva mais abrangente, não restringindo seu olhar à

proteção e ao uso sustentável de recursos naturais, mas incorporando a proposta de construção de sociedades sustentáveis. As wetlands, por utilizarem plantas, recuperar a mata ciliar e criar uma paisagem natural possibilita a presença de animais e, desta forma, a flora e fauna recuperadas podem ser usadas como mecanismo de conscientização da população, destacando as melhorias na qualidade da água, na recuperação da vegetação e no controle de cheias. O Parque Ambiental Palmital, como também é conhecido, tem como objetivo a contenção de cheias, por intermédio da recuperação da vegetação e da criação de lagos. Com a implantação de quatro wetlands, a água pode ser reutilizada em lagos, espelhos de água, edificações de múltiplo uso e brinquedos lúdicos (ECOPARANÁ, 2009). Segundo Rosa (2010, p.5):

A composição do parque foi concebida de forma a privilegiar os momentos de contemplação, mas, também, desenhando linhas que convidam para caminhadas, além de uma ciclovia. Na porção central da área, onde os caminhos se encontram, foi criado um espaço de convívio, composto por áreas de sombras, playground, espelhos d’água, e estruturas de paisagismo que promovam a interação do homem com elementos da natureza. Na parte mais alta será criado um mirante, além de sanitários, módulo policial e outras edificações necessárias para a manutenção do parque, além do plantio de árvores frutíferas, ao longo de alguns caminhos, objetivando reforçar a proposta de proporcionar interatividade. E, na parte inferior serão construídos wetlands, denominado no projeto simplesmente como setor de contenção de cheias.

O projeto prevê a criação de locais para lazer e turismo como pontes, trilhas e centro de visitantes. A educação ambiental que pode ser inserida no programa seria a de reconhecimento de valores, objetivando o desenvolvimento sustentável e modificando as atitudes em reação ao meio. Ela poderia ser relacionada também com a prática de tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria na qualidade de vida. A ação educativa permanente possibilita conservar o local de estudo, estabelecendo a interrelação dos seres humanos, suas culturas e seus meios físicos. Essa integração proporciona a manutenção e preservação da biodiversidade da várzea.

Conclusão Com base nos resultados obtidos é possível concluir que a implantação de wetlands como ferramenta de drenagem urbana e melhoria na qualidade da água é um método de baixo custo e com grande eficiência. Sua tecnologia, além de ser viável no local, não necessita de mão de obra para operar, pois seu funcionamento acontece por meio de elementos naturais, necessitando somente manutenção periódica.

O projeto de implantação de wetlands no Rio Palmital, em um primeiro momento, tem como finalidade conter cheias, incidentes na região.

Posteriormente as lagoas podem ser

transformadas em wetlands propriamente ditas, mas antes, problemas de assoreamento e limpeza precisam ser resolvidos. O projeto está longe de ser finalizado, já que sua segunda fase ainda está em processo de licitação e a obra só será terminada quando o local estiver apto para a implantação do Parque Palmital. Os benefícios que as wetlands construídas podem fornecer ao município de Pinhais dizem respeito a: melhoria na drenagem urbana; melhoria na qualidade da água; criação de um local de interesse paisagístico, e consequentemente de uma área de lazer e turismo; promoção da educação ambiental; e aumento da mata ciliar ao redor das lagoas. Esses fatores demonstram que ocorre uma necessidade de priorização dos aspectos de saneamento básico na cidade para minimizar a incidência de cheias e a contaminação das águas, proporcionando benfeitorias ao meio ambiente e aumentando a qualidade de vida da população residente na região. Somente realizando a criação do Parque e das wetlands, os problemas não serão totalmente solucionados, os reflexos dessa implementação se destacarão localmente, mas contribuirão para a bacia como um todo. Para que a situação atual seja modificada é necessário realocar a população que reside em

suas margens, não licenciar

empreendimentos comerciais

potencialmente poluidores próximos ao corpo hídrico e solucionar os problemas de saneamento básico. Diante disso, recomenda-se o desenvolvimento de pesquisas futuras sobre o tema, divulgando seus benefícios e eficiência, e o investimento em educação ambiental. A criação de leis específicas para a conservação de suas áreas de várzeas e ocupação de suas margens também seria um instrumento de controle e preservação de seus córregos.

Referências

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