XX SEMANA UNIVERSITÁRIA DA UECE - trabalhadores invisíveis

June 5, 2017 | Autor: Cassiano Oliveira | Categoria: Social Sciences, Cities, Cidades
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XX SEMANA UNIVERSITÁRIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
(09 a 13 de novembro de 2015)

Trabalhadores Invisíveis: Uma análise dos problemas enfrentados por trabalhadores informais do centro da cidade de Fortaleza.

Cassiano Oliveira Moreira, Marília Coelho de Sousa e
Rafaela Cajado Magalhães


Resumo

Este trabalho tem como objetivo geral entender a atual situação conjuntural da instalação de feiras e ampliação do comércio realizado por ambulantes e ocupantes do centro da cidade de Fortaleza (CE). Apresenta como objetivos específicos, entender a visão dos comerciantes informais sobre a alocação, os benefícios e os malefícios provenientes do comercio informal das feiras, ambulantes e ocupantes que trabalham no centro da cidade de Fortaleza. Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica a qual consistiu em explorar fontes secundárias a respeito do tema escolhido, principalmente artigos, onde se estuda o crescimento de Fortaleza partir da metade do século XIX, quando a cidade tornou-se o principal núcleo urbano, político, econômico e social do Ceará, fruto do capital proveniente do comércio algodoeiro e da centralização política da monarquia brasileira. Diante disso, registrou-se uma maior oferta de serviços urbanos e uma infraestrutura razoável. Tal fato, aliado ao fenômeno das secas, resultou em um intenso processo de migração da população que vivia em zonas rurais, que tinha como umas das principais atrações o desenvolvimento do comércio, tendo o centro da cidade como maior foco. A partir disso, o local, antes lembrado somente pelos encontros culturais e sociais da elite fortalezense, começou a apresentar novas formas de organizações e estruturas de desenvolvimento, compartilhando, também, de uma visão bastante comercial como forma de sobrevivência de muitas famílias que ali trabalhavam. A pesquisa de campo dividiu o centro da cidade em cinco áreas, facilitando a busca por respostas através de entrevistas e de observação participante do pesquisador, buscando a compreensão dos fenômenos que envolvem o comércio informal naquela localidade. A coleta de informações se deu inicialmente com as entrevistas diretas com ambulantes, feirantes, ocupantes das vias e transeuntes. As conversas se basearam em um roteiro prévio e idêntico para todos os entrevistadores, de forma aberta e de caráter qualitativo. Durante a pesquisa de campo foi possível visualizar um quadro heterogêneo de opiniões a respeito do assunto estudado, variando de acordo com as regiões onde foram realizadas as entrevistas. As perspectivas dos entrevistados variavam, em sua maioria, entre a falta de segurança no centro da cidade para trabalhadores e transeuntes, a falta de investimento por parte do governo na legalização desses trabalhadores e a pouca participação efetiva da classe de trabalhadores informais na atuação de cidadãos em busca de seus direitos. Por outro lado, alguns entrevistados,declararam que o governo já atua de forma positiva e alegaram que os problemas sociais são abundantes e complexos dificultando a atuação dos governantes de forma mais eficiente.

Abstract
This work has as main objective to understand the current economic situation of the installation and expansion of trade fairs held by street vendors and occupiers of the downtown of Fortaleza (CE). Presents as specific objectives, to understand the vision of informal traders about the allocation, the benefits and harms from the informal trade fairs, street vendors and occupiers who work in the downtown of Fortaleza. Initially, there was a bibliographic search which was to explore secondary sources about the chosen topic, especially articles where one studies the growth of Fortaleza from the mid-nineteenth century, when the city became the main urban center, political, economic and social of Ceara, due to the capital from the cotton trade and political centralization of the Brazilian monarchy. Thus, there was a greater supply of urban services and a reasonable infrastructure. This fact, coupled with the phenomenon of drought, resulted in an intense process of migration of the population living in rural areas, which had as one of the main attractions the development of trade, with the downtown as main focus. From there, the place before remembered only for cultural and social gatherings of the Fortaleza elite, began presenting new forms of organizations and development frameworks, sharing, also, in a very commercial vision as a means of survival for many families who worked there . The field survey divided the downtown into five areas, facilitating the search for answers through interviews and participant observation of the researcher, seeking to understand the phenomena that involve informal trade in that area. The information gathering was initially given to direct interviews with hawkers, pedlars, occupants of the roads and pedestrians. The talks were based on a previous and similar roadmap for all interviewers in an open and qualitative way. During the field research it was possible to see a mixed picture of opinions on the subject studied, varying according to the regions where the interviews were conducted. Prospects of respondents ranged mostly between the lack of security in the downtown for workers and passers-by, the lack of investment by the government to legalize these workers and little effective class participation of informal workers as citizens in activity of pursuit of their rights. On the other hand, some respondents said that the government already operates positively and claimed that social problems are plentiful and complex hindering the actions of governments more efficiently.


Introdução

"Também geramos renda no centro da cidade, não somos invisíveis'' trabalhador ambulante do centro de Fortaleza.

Na década de 1930, Fortaleza, retratava um avanço capitalista, com a expansão das lojas e a oferta de produtos importados. Deve-se destacar a instauração de fábricas subdivididas em diversas áreas, como: redes, mosaicos, calçados, tecidos, sabão, óleos, etc. Além do crescimento dos transportes, ferrovias, e ampliação do capital financeiro, como verificamos na matéria do jornal A Rua:

"Uma empresa cearense para construções de casas. Vendas as prestações.Amparada por vários capitalistas desta cidade, projeta-se, para breve, a fundação de uma empresa cearense para construção de casas. Essas construções, dado o estado econômico de nosso povo, serão vendidas a prestações, facilitando deste modo consideravelmente, a solução do problema da habitação com que, por vezes, nos vemos assoberbados.Vários capitalistas da terra têm subscrito grande números de ações da empresa, dando assim um grande impulso a sua breve instalação. Por um acionista da novel sociedade nos foram gentilmente mostrados ontém, os documentos constitutivos da fundação da mesma." (A RUA, 28/08/1933)

A partir da metade do século XIX, Fortaleza tornou-se o principal núcleo urbano, político, econômico e social do Ceará, fruto do capital proveniente do comércio algodoeiro e a centralização política da monarquia brasileira. Diante disso, a cidade passa a oferecer maiores ofertas de serviços urbanos e uma infraestrutura razoável. Tal fato resultou em um intenso processo de migração da população que vivia em zonas rurais e passou a habitar as zonas urbanas do estado do ceará, principalmente a cidade de Fortaleza, que tinha como umas das principais atrações o desenvolvimento do comércio.
Com o processo de intensificação da migração, o centro da cidade de Fortaleza, antes considerado ponto de encontro da elite que se inspiravam nos valores "civilizados" da Europa, passou a ser o foco do desenvolvimento do comércio na capital. E com isso, atraiu muitos imigrantes que passaram a habitar e trabalhar no centro da cidade. A partir disso, o bairro do centro da cidade, antes lembrado somente pelos encontros culturais e sociais da elite fortalezense, começou a apresentar novas formas de organizações e estruturas de desenvolvimento, compartilhando, também, de uma visão bastante comercial como forma de sobrevivência de muitas famílias que ali trabalhavam.


Questão central da pesquisa
Como os ambulantes do Centro de Fortaleza vêem a situação do comércio informal no bairro e como se entendem quanto agente modificador desta realidade?


Objetivos Geral e Específicos
Esse trabalho apresenta como objetivo geral entender a atual situação conjuntural da instalação de feiras e ampliação do comércio realizado por ambulantes e ocupantes do centro da cidade de Fortaleza (CE). Apresenta, ainda, como objetivos específicos, entender a visão dos comerciantes informais sobre a alocação, os benefícios e os malefícios provenientes do comercio informal das feiras, ambulantes e ocupantes que trabalham no centro da cidade de Fortaleza.



Referencial Teórico
O conceito de gestão de cidades pode ser definido como o conjunto de recursos e instrumentos da administração, aplicados na cidade como um todo, visando à qualidade dos equipamentos e dos serviços urbanos. Tem por objetivo a eficácia produtiva através da mobilização de capital e negócios em busca de qualidade de vida para os cidadãos. Dentre as responsabilidades de um sistema de gestão urbana municipal, destaca-se, além da gestão dos serviços públicos como limpeza e segurança, a gestão de projetos urbanos (VILLAESCUSA, 1998).
Considerando as complexidades de atuação do conceito de gestão de cidades e a alta velocidade de transformações ocorridas nas mesmas, entende-se que vários fenômenos econômicos e sociais surgem com o rápido crescimento desordenado das cidades, o comércio informal é um deles. Segundo Cacciamali (1983) o setor informal é apresentado como um espaço econômico subordinado ao movimento das formas de organização da produção capitalista, constituindo-se do conjunto de atividades que podem ser explorado por produtores diretos que possuem os meios e instrumentos para exercer o trabalho. Para Gabriela Cabral (2010) dá-se o nome de emprego informal aquele em que não existe vínculo entre patrão e funcionário (carteira assinada), não há empresa legalizada (CNPJ), não existe recolhimento de impostos, benefícios e outros.
No Brasil, a partir dos anos 1940, iniciou-se um processo de expansão econômica, que associada ao papel da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT, 1940), promoveu um forte crescimento populacional nos principais centros urbanos, resultando em parcelas expressivas de trabalhadores que não foram incorporados nesse processo de expansão do assalariamento com registro em carteira. Tal fato enfatizou e fortificou o surgimento do comércio informal, que foi utilizado como "meio de sustento" para muitas famílias brasileiras que não foram inseridas no mercado de trabalho formal.
No entanto, o surgimento desse tipo de comércio atingiu diversos estados do Brasil, e o estado do Ceará foi um deles. Fortaleza é a capital do Estado do Ceará, no nordeste brasileiro. A região metropolitana é composta por mais de 3,6 milhões de habitantes e engloba 15 municípios. Suas principais atividades econômicas são comércio, turismo e indústria, especialmente os setores alimentícios, mineração e de calçados e têxtil. Apesar de possuir o segundo maior PIB da região Nordeste, é uma cidade de grande desigualdade, com 40% da sua população vivendo em situação de pobreza com renda per capita de meio salário mínimo. De acordo com uma pesquisa realizada, em 2007, pelo o Sistema Nacional de Emprego (SINE), mais da metade da população trabalhava sem carteira assinada.
Trabalhadores invisíveis é, na verdade, uma "outra narrativa" sobre segmentos historicamente marginalizados, execrados da memória social de boa parte das cidades brasileiras, então urbanizadas pela lógica excludente dos hiatos entre periferia e centro, entre ocupados e desocupados, ou turistas e vagabundos (BAUMAN, 2001).
O centro de Fortaleza foi um bairro histórico e de referência que ajudou a cidade a ganhar um lugar de destaque no contexto brasileiro no período dos séculos XIX e XX. A forte presença das atividades comerciais e moradia da elite fortalezense era destaque na cidade. Atualmente o vínculo com o comercio popular no centro é muito forte, provocando a movimentação da economia cearense. O comércio informal encontrado nos centros urbanos das grandes capitais proporciona as pessoas com baixa renda a obtenção de produtos mais acessíveis, promovendo a acessibilidade e a inclusão dessa classe social na adesão de bens.
A pujança do comercio popular, assim como o grande fluxo de pessoas e veículos, evidenciam que o centro da cidade está sendo ocupado e freqüentado por todas as classes sociais, porém, com tendência ao predomínio do comércio varejista direcionado para a população de menor nível de renda (VILLAÇA, 1998).


Metodologia
Essa pesquisa iniciou-se com um levantamento bibliográfico sobre o tema escolhido, onde predominou a exploração de fontes secundárias sobre o assunto estudado, principalmente em artigos, com intuito de se obter maior conhecimento sobre o contexto no qual os trabalhadores informais no Centro da Cidade de Fortaleza – Ce estão inseridos diariamente. Assim, fomentando-nos a desenvolver e a estabelecer os objetivos para realizar a pesquisa.
A pesquisa realizada foi por meio de um estudo de campo, que dividiu o centro da cidade em cinco áreas, facilitando a busca por respostas através de entrevistas, observação, e interpretação dos fenômenos que envolvem o bairro do Centro de Fortaleza, apresentando, portanto, um caráter de pesquisa qualitativa.
Na abordagem qualitativa, o pesquisador procura aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda, sendo eles, ações dos indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente e contexto social. O pesquisador interpreta-os segundo a perspectiva dos participantes da situação enfocada, sem se preocupar com representatividade numérica e generalizações estatísticas. Assim sendo, a interpretação, o instrumento considerado pelo pesquisador como principal ferramenta de investigação e a necessidade do mesmo em estar em contato direto e prolongado com o campo, para captar os significados dos comportamentos observados, revelam-se como características essenciais da pesquisa qualitativa (ALVES, 1991; GOLDENBERG, 1999; NEVES, 1996; PATTON, 2002).
A coleta de dados se deu principalmente através de entrevistas diretas com ambulantes, feirantes, ocupantes das vias, nas quais se basearam em um questionário padrão desenvolvido previamente por todos os pesquisadores responsáveis por essa pesquisa. Tais perguntas iniciavam com a percepção do entrevistado perante a situação diária enfrentada por "ambulantes, feirantes ou ocupantes" do Centro da Cidade de Fortaleza e findavam com o questionamento a respeito do posicionamento dos entrevistados perante a sociedade e órgãos públicos sobre tal temática.
Após a fase de perguntas, realizou-se uma observação geral através da análise das respostas dada pelos entrevistados de cada área, como também observações percebidas pelos entrevistadores sobre o ambiente; as reações dos entrevistados perante o tema e a entrevista; e o próprio tema. Logo, foi possível obter uma maior compreensão sobre a situação em sua totalidade, para assim, sintetizar e categorizar, a ideias principais comuns às percepções da realidade dos trabalhadores informais do Centro da cidade.
Desse modo, entende-se que o método qualitativo é útil e necessário para identificar e explorar os significados dos fenômenos estudados e as interações que estabelecem entre eles, tornando possível estimular o desenvolvimento de novas compreensões sobre a variedade e a profundidade dos fenômenos sociais (BARTUNEK; SEO, 2002)
 

a) Ambiente da Pesquisa: O Centro de Fortaleza
Durante o século XIX, Fortaleza tornou-se o principal núcleo urbano, político, econômico e social do Ceará, acarretando o aumento das divergências de classes sociais, provenientes da expansão do capitalismo na região. Inicia-se a chamada "Belle Époque", onde a elite fortalezense inspirava-se nos valores "civilizados" da Europa, usando luvas, chapéus, casacos, nomes franceses e ideias do "velho mundo". O Passeio Público, localizado no centro da cidade, era local de encontros, lazer e de mostrar a "civilidade" dos frequentadores pertencentes às altas classes sociais. Os intelectuais se reuniam nos famosos "cafés" (quiosques) da Praça do Ferreira, também localizada no centro de Fortaleza.
O centro da cidade de Fortaleza foi o local dos mais importantes eventos e encontros da elite fortalezense. Sua estrutura física, continha edifícios públicos, a câmara de vereadores e a assembleia legislativa. Porém, com a vinda de investimentos no setor comercial, especificamente dos shoppings centers e a formação de empreendimentos informais, muitos moradores e visitantes começaram a frequentar o centro, em sua maioria, em busca de serviços prestados pelo comércio da localidade. Assim, a região passou a exercer uma influência importante para o comércio varejista e aglutinador de pessoas e mercadorias.
O comércio informal no centro da cidade tornou-se referência para o estado do Ceará e foi se estabelecendo em maior proporção como alternativa para os trabalhadores urbanos que precisavam de uma atividade com fins lucrativos para sobreviver. Algumas das feiras de comerciantes mais famosas presentes no centro de Fortaleza é a "feira da Praça da Sé", a "feira da Praça da Estação", que contém cerca de 1200 ambulantes cadastrados pela prefeitura da cidade, e o famoso "beco da poeira", recentemente regularizado pelo Poder Público que construiu um galpão para a atuação desses comerciantes de forma regular.
Apesar da tentativa de atuação do poder público no sentido de organizar e regularizar as atividades comerciais informais no centro da cidade, a região ainda apresenta diversos ambulantes que se espalham por todo espaço físico do centro comercializando produtos e serviços, ainda bastante requisitados pela população de Fortaleza. Desse modo, o espaço físico do centro da cidade apresenta diversas consequências provenientes dessas atuações desse tipo de comércio. Essas consequências podem ser bem definidas como problemas de fluxos de carros e pessoas nas ruas do centro, a péssima manutenção da limpeza das ruas, a desorganizada estrutura física em desenvolvimento, entre outras.
Contudo, entende-se a larga importância do centro da cidade de Fortaleza no decorrer do desenvolvimento urbanístico da mesma. A região que inicialmente apresentou uma característica extremamente cultural para a elite que ali frequentava, com o tempo passa a adotar diversos modelos de importância para a sociedade que ali reside ou visita, destacando-se o comercio informal como grande atração, apesar de suas intercorrências, para a população Fortalezense e os turistas visitantes.

b) Instrumento da Pesquisa
A pesquisa realizada foi por meio de um estudo de campo através de entrevistas, observação, e compreensão dos fenômenos que envolvem o bairro do Centro de Fortaleza.
Segue o roteiro de entrevista:
Qual o problema visto pelo entrevistado sobre o tema estudado?
Qual a solução principal que ele sugere para o problema apresentado?
Qual a visão dele sobre a ação do poder público em relação ao tema?
Qual a participação dele em discussões sobre a cidade?
Quais as impressões do Pesquisador sobre o tema, sobre a participação dos cidadãos na pesquisa, entre outras observações feitas durante o trabalho.

c) Processo de Coleta de Dados e Sujeitos da Pesquisa
A coleta de dados se deu inicialmente com as entrevistas diretas com ambulantes, feirantes, ocupantes das vias e até mesmo alguns com alguns transeuntes. As conversas se basearam em um questionário prévio e idêntico para todos os entrevistadores. Perguntas essas que iniciavam com a percepção do entrevistado perante a algum problema gerado pelos ambulantes ou feirantes e findava com qual era o posicionamento do entrevistado sobre tal temática.
Vale ressaltar que as perguntas foram aplicadas de forma aberta, de caráter qualitativo, para se obter uma visão geral sobre a situação atual do Centro de Fortaleza.
Após a fase de perguntas, realizou-se uma observação geral através da análise das respostas dada pelos entrevistados de cada área, como também observações percebidas pelos entrevistadores sobre o ambiente; as reações dos entrevistados perante o tema e a entrevista; o próprio tema. Logo, seria possível uma maior compreensão sobre a situação em sua totalidade, para assim, sintetizar por meio de um display, a ideias principais comuns às percepções da realidade dos ambulantes, feirantes e ocupantes do centro da cidade.

Resultados Obtidos
Com o intuito de melhor visualizar cada aspecto da entrevista, os resultados foram divididos em 5 temas distintos, cada um refletindo uma das questões levantadas no questionário apresentado:

TEMA I – Visão do Sujeito
Foi percebido neste tema o amor do entrevistado pelo centro. Disseram, no geral, que o centro é vida, é história, tem coisas que um shopping não possui, como os monumentos e as praças por exemplo, mesmo que os shoppings estejam tirando as pessoas deste espaço. Ressaltaram ainda que as pessoas tem um certo vício pelo centro.
Os entrevistados na Monsenhor Tabosa não se reconheciam como pertencentes ao ecossistema do Centro da Cidade, se autointitulando vendedores da Praia de Iracema, já os entrevistados do Mercado dos Pinhões possuíam mais identificação com o Centro da Cidade, talvez por quase todos morarem no entorno do aparelho.
Todos os entrevistados comentaram sobre a falta de segurança e da queda de movimento no centro da cidade


TEMA II – Indicação de Soluções
Um número expressivo de entrevistados não visualizou problemas em sua convivência com o Centro da Cidade, não conseguindo, ainda, apontar pontos de melhoria.
A relação entre aqueles que, no geral, não veem problemas é obvia com o fato de não participarem de reuniões que discutam suas relações com a cidade. Seria interessante investigar as relações de causa e efeito nesses comportamentos.

TEMA III – Visão sobre o Poder Público
No geral foi constatado um baixíssimo grau de inconformismo com a situação dos trabalhadores ambulantes. Quase a totalidade dos entrevistados apontaram satisfação com a atitude da prefeitura e conhecimento de modos simples para garantir a legalização da sua atividade.
Já, próximo a Praça do Ferreira, muitos ambulantes se mostraram insatisfeitos com a atual gestão da cidade, principalmente por causa da dificuldade de fazer o cadastramento de ambulantes.

TEMA IV – Discussões sobre a Cidade
Destaca-se que a maioria dos entrevistados não participam das discussões sobre a cidade, e a minoria dos participantes não demonstram o seu ponto de vista em relação ao assunto questionado em reuniões. A escolha dos ambulantes de não se manifestarem em reuniões deve-se ao fato de eles alegarem não serem atendidos, tornando-se trabalhadores cada vez mais invisíveis.

TEMA V – Impressões do Pesquisador
Com a pesquisa realizada, conclui-se que o movimento do centro caiu bastante nos últimos anos, no qual vários fatores contribuíram para isso, como a falta de segurança e o difícil acesso. É válido ressaltar que o número de shoppings na cidade aumentou e se tornou mais vantajoso que o centro por apresentar uma maior segurança, um acesso facilitado, uma disponibilidade de estacionamento e um sistema de climatização, proporcionando mais conforto aos clientes.
Na pesquisa realizada, devido a grande concentração de ambulantes, tinham locais em que a calçada ficava totalmente ocupada por eles, dificultando a locomoção das pessoas que lá circulam.
Foi observado, ainda, forte presença do trem como meio de transporte, principalmente pelos entrevistados que residem longe, até mesmo em Caucaia.

Conclusão
Durante a realização da pesquisa foi possível identificar que o Centro da Cidade de Fortaleza, na atualidade, apresenta um perfil extremamente comerciário e com um elevado número de trabalhadores informais, como ambulantes, camelôs e feirantes. Com isso, notou-se que as disposições de ruas e as organizações das mesmas são favoráveis ao desenvolvimento das atividades comerciais ligadas aos determinados ramos de atuação. Desse modo, o comercio informal, na maioria dos casos, também, apresentava essa disposição geográfica, divergindo, apenas, os comerciantes que trabalhavam com o ramo alimentício, pois esses se distribuíam de maneira dispersa no espaço geográfico do centro da cidade, a fim de atingir um maior número de clientes possíveis.
No decorrer da pesquisa realizada em três áreas do centro, foi percebido as semelhantes opiniões a respeito da atuação do comercio informal no centro da cidade. Tais divergências se baseavam, geralmente, em torno da política de regularização desses profissionais. Além disso, percebeu-se que grande parte da população frequentadora do centro da cidade de Fortaleza utiliza dos serviços ou produtos oferecidos pelos "feirantes e/ou ambulantes" que trabalham naquela localidade, enfatizando, ainda mais, um comportamento cultural da sociedade que contribui para o crescimento desse setor comercial.


Referências Bibliográficas
CABRAL, Gabriela. Empregos Informais, [S.l.]: Brasil escola 2010. Disponível em: http://www.brasilescola.com/geografia/empregos-informais. Acesso em: 14 de setembro de 2015.
CACCIAMALI, M.C. Setor informal urbano e formas de participação na produção. São Paulo. Editora Universidade de São de Paulo. 1983.
COSTA, Emly de Andrade. Laboratório de Estudos da Pobreza, UFC, 2009 declarado ao Diário do Nordeste, 12 de abril de 2009. Disponível em: http://www.arturbruno.com.br/images/conteudo/file/cartilhaHFortaleza.pdf. Acesso em: 13 de setembro de 2015
Mesquita, Erle Cavalcante. Informalidade no mercado de trabalho de Fortaleza: dimensão e característica. Fortaleza: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho, 2008.
VILLA, Fernando Dalla; VILLA, Maria Estela Casale Dalla. TRABALHO INFORMAL: ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE MARINGÁ/PR. I SEURB: Paraná, 2011.
SILVA, Eciane Soares; SANTOS, Marlon Cavalcante; SILVA, José Borzacchiello. Comércio Informal no centro de Fortaleza: Beco da Poeira e Feira da Sé. In: ENCONTRO NACIONAL DOS GEÓGRAFOS, 16., Porto Alegre, 2010. Anais… Porto Alegre: ENG, 2010.
ALVES, A. J. O planejamento de pesquisas qualitativas em educação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 77, p. 53-61, maio, 1991.
GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Record, 1999
NEVES, J. L. Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades. Cadernos de Pesquisas em Administração, v. 1, n.3, 2º sem., 1996.
PATTON, M. Qualitative research and evaluation methods. Londres, Thousand Oaks : Sage Publications, 2002.
BARTUNEK, J. M. & SEO, M. Qualitative research can add new meanings to quantitative research. Journal of Organizational Behavior, v. 23, n.2, , mar., 2002
Ana Cláudia Fernandes Terence e Edmundo Escrivão Filho. Abordagem quantitativa, qualitativa e a utilização da pesquisa-ação nos estudos organizacionais - XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006



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