Zanella (2015) Resenha de \"O filho de mil homens\", de Valter Hugo Mãe

July 25, 2017 | Autor: C. Koehler Zanella | Categoria: Literature, Portuguese Literature, Literatura, Literatura Portuguesa, Valter Hugo Mãe
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O FILHO DE MIL HOMENS Num pequeno agrupamento humano, espalhado em praia, vila e campo, com indícios de uma história que se passa sem data definida mas em um tempo não muito distante, Valter Hugo Mãe constrói uma descrição complexa das relações entre pessoas muito simples para falar sobre como viemos a ser o que somos, especialmente sobre o tanto de sociedade e de outros homens e mulheres que nos conformam. Mãe o faz costurando o texto por entre amor, preconceito e família. O pescador Crisóstomo, “um homem que chegou aos 40 anos e assumiu a tristeza de não ter um filho” é o fio inicial da rede de pessoas e sentimentos que se conectam em “O filho de mil homens” (São Paulo, Editora Cosac Naify, 2013, 208p.). A partir dele e de Camilo, “o homem pequeno”, as demais personagens vão sendo apresentadas. A anã, de quem todos se apiedavam; a Isaura, que tinha o nome mais bonito do mundo mas era uma mulher para lá da dor; a Maria, aquela que um dia começou a falar afrancesado; Antonino, o homem maricas; a Matilde; o Alfredo; etc. Por meio das histórias que as definiram, Mãe as apresenta uma a uma, não tanto em descrições físicas porque o que lhe interessa são as suas respostas às experiências vividas. Ao autor interessa ressaltar as histórias individuais que as conformam, desarmando gradativamente os julgamentos precipitados que o leitor possa ter feito sobre as personagens. É a história de vida que expia as culpas e desarma os julgamentos. No conjunto de experiências dolorosas e traumáticas que correm pelo livro, a parecerem tão inevitáveis e indiferentes como o passar do tempo, subsiste um fio de amor a costurar a história. Assim, Mãe apresenta um texto bonito em toda a sua tristeza. A redação de Mãe é simples e fluída. O texto, bastante descritivo, flui como fluem as pessoas pelo curso da vida, que segue inexorável, mas nem por isso deixa de ser surpreendente. A dimensão atemporal do romance fica por conta da natureza fundamentalmente humana dos sentimentos de culpa, insegurança, desejo, rejeição, abandono, resignação, compreensão e reconciliação. O livro é generoso em frases que falam à existência, como “Pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende”, “E amar uma pessoa é o destino do mundo” e “As pessoas imaginavam e desejavam as coisas mais feias, tornando-se pessoas feias pelo medo e pela avidez de continuarem a ser como sempre haviam sido”. Com essas provocações sensíveis, o texto reclama para o agora a validade das reflexões levantadas sobre o porquê somos como somos, sobre o como podemos ser e sobre os laços de amor a unirem pessoas sob as mais variadas formas de família. CKZ – Gent/Bélgica, 06 de Abril de 2015.

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