A BARBÁRIE CIVILIZADA: A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA ENTRE CHARLES FOURIER E WALTER BENJAMIN

June 4, 2017 | Autor: Allan Lourenço | Categoria: Violence, Walter Benjamin, Charles Fourier, Barbarie
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VIII COLÓQUIO INTERNACIONAL MARX E ENGELS A BARBÁRIE CIVILIZADA: A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA ENTRE CHARLES FOURIER E WALTER BENJAMIN ALLAN ANDRÉ LOURENÇO Graduando em Ciências Sociais – PUC CAMPINAS

A dimensão messiânica no romantismo de Walter Benjamin foi o ponto de partida para a elaboração do presente trabalho. Através da leitura de comentadores do autor, como Michael Löwy, foi observado que a questão da violência em Benjamin era uma peça chave para entender sua posição diante do marxismo ocidental, além de suas outras fontes, como o messianismo judaico e o romantismo alemão. A análise realizada sobre as obras de Benjamin, em especial Crítica da violência e Teses sobre o conceito de história, nos permite entender como o autor enxerga o estado atual das coisas na sociedade burguesa, além disso, nos permite entender como o conceito de revolução – que levaria a uma sociedade sem classes – é interpretado com uma carga teológica neste autor. Quando Benjamin faz crítica à sociedade burguesa, ele estabelece, de acordo com Löwy (2005), uma “unidade contraditória” entre barbárie e civilização. Essa ideia de aproximar esses dois conceitos começa com um socialista francês que serviu de base para a origem do marxismo, Charles Fourier. Em sua obra Teoria dos quatro movimentos, Fourier faz uma divisão da história entre quatro fases: a selvageria, o patriarcado, a barbárie e a civilização. Para o socialista, a civilização comete os mesmos vícios que a barbárie praticava em meio a uma maior simplicidade. Tanto Fourier quanto Benjamin deixaram uma reflexão sobre o uso da violência que tem como uma das bases suas respectivas empirias sobre seu uso. Fourier vivenciou de perto a Revolução Francesa e, involuntariamente, foi recrutado para servir ao exército rebelde. Benjamin, contemporâneo do fascismo alemão, foi perseguido e interceptado pelas tropas do Gestapo. Entre ser capturado e a morte, opta pela segunda, e em setembro de 1940 comete suicídio. Por conta do que sofreu servindo às tropas rebeldes e quando foi preso pelos rivais, Fourier adquiriu uma desaprovação por qualquer tipo de violência, sem a possibilidade de nenhuma exceção. Para o utopista, seria mais que possível que a civilização se sentisse envergonhada com tamanha barbárie que cometia todos os dias, fazendo com que, por livre e espontânea vontade, desejassem viver em uma nova ordem social que elevasse as paixões dos seres humanos. Para essa nova fase social, Fourier deu o nome de Harmonia, e nessa fase histórica as pessoas se organizariam em falanstérios. Walter Benjamin, diferentemente de Fourier, não interpretará a violência como sendo uma coisa só e com um sentido totalmente negativo. Devido a sua influência judaica, ele fará a distinção entre dois tipos de violência (ou poder, considerando o termo do alemão gewalt que corresponde tanto a poder como a violência), são eles o poder mítico e o poder divino. O poder mítico seria o poder característico dos homens e levaria a história a uma marcha ininterrupta de consecutivas trocas de direito. A partir do momento que um

direito é instituído, este fará o possível para se manter. Se o direito vigente enfraquece, ele cede a oportunidade de que um novo direito venha e o derrube, instituindo um direito novo. Esse ciclo seria interminável se não fosse a ação do poder divino. O poder divino, para Benjamin, é o poder característico de Deus, e ele se manifesta na atitude revolucionária dos homens a partir do momento que este arrebata e interrompe a marcha do direito jurídico, trazendo, então, a tão estimada sociedade sem classes. Desse modo, a revolução, neste marxista, carrega um tom profundamente teológico. Conclui-se, com esse trabalho, como dois pensadores, ao terem um contato tão próximo com a violência, se aproximam e se distanciam de modo muito marcante. No que reserva a crítica da civilização, os dois não poupam esforços em expor as atrocidades da mesma. Porém, no que diz respeito ao conceito de violência, enquanto um opta por uma generalização do conceito e em sua interrupção total, o outro enxerga a possibilidade do uso de uma violência que, embora traga possíveis consequências catastróficas, ela possa ser moral. BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo, Brasiliense, 1994. _________. Documentos de cultura, documentos de barbárie. Escritos Escolhidos. São Paulo, Cultrix, 1986. ENGELS, Friedrich. Do socialismo utópico ao socialismo científico. São Paulo, Global Editora, 1986. FOURIER, Charles. La armonia pasional del nuevo mundo. Madrid, Taurus, 1973. KONDER, Leandro. Fourier, o socialismo do prazer. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1998. _________. Walter Benjamin. O romantismo da melancolia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999. LÖWY, Michael. Romantismo e messianismo. Ensaios sobre Lukács e Benjamin. São Paulo, Perspectiva, 2008. _________; SAYRE, Robert. Romantismo e política. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1993. ROMANO, Roberto. Corpo e Cristal. Marx Romântico. Rio de Janeiro, Guanabara, 1985.

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