A informação fotográfica nas capas dos jornais de Frutal: a construção da violência e da morte em forma de imagens do cotidiano

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS UNIDADE ACADÊMICA DE FRUTAL

A informação fotográfica nas capas dos jornais de Frutal: a construção da violência em forma de imagens do cotidiano Relatório Final

Prof. Dr. Rodrigo Daniel Levoti Portari

Frutal / MG JANEIRO / 2015

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Sumário INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3 1. Conceitos sobre violência.......................................................................................................... 5 2. A violência e a morte enquanto notícias ................................................................................... 9 3. A morte e a violência na capa: apreensões de sentido ............................................................ 14 4. Jornalismo local: O Jornal Pontal e o Jornal de Frutal ............................................................ 16 4.1 O Jornal Pontal .................................................................................................................. 16 5. A morte e a violência no Jornal Pontal e no Jornal de Frutal .................................................. 18 5.1 – A violência e a morte pela perspectiva dos jornais Pontal e de Frutal ........................... 28 6. Considerações Finais ............................................................................................................... 36 7. Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 36

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INTRODUÇÃO O presente relatório de pesquisa é fruto do desenvolvimento de projeto de pesquisa realizado junto à Unidade Acadêmica de Frutal da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), contemplada com Bolsa de Professor Orientador (BPO) e Bolsa de Iniciação Científica no âmbito do Edital Nº 2/2014 - UEMG/FAPEMIG/PAPq. A pesquisa propõe um estudo sobre a imagem da morte nas primeiras páginas do jornalismo impresso da cidade de Frutal, no interior de Minas Gerais. Parte-se da perspectiva de que a morte é um “valor-notícia fundamental”, como observa Nelson Traquina (2004) e, sendo assim, tem lugar privilegiado nas publicações locais. Apesar do autor português vincular esse valor-notícia à notoriedade do “morto”, em cidades de menor porte e em jornais com linha popular, a notoriedade é dada post mortem, ou seja, basta morrer para que a atenção da mídia seja despertada, em especial, em situações onde há o envolvimento de violência, ou seja, assassinatos, suicídios, estupros, entre outras formas de representação do dano físico a outrem com a intenção de ferir. Dessa forma, faz-se um estudo comparado entre as edições de janeiro à junho de 2014 dos jornais de Frutal e Pontal, por serem os mais tradicionais em tempo de existência (25 e 27 anos, respectivamente) e terem circulação semanal ininterrupta, chegando a seus leitores às quintas-feiras. Optou-se por um recorte específico nos casos de morte em decorrência da violência, quando há intenção de uma pessoa em matar a outra, apesar de termos encontrado também representações da morte em outras situações: por acidentes, tragédias, fatalidades ou mesmo de causas naturais. Todas essas formas de aparição da morte serão apresentadas em detalhes no Capítulo 5, onde, calcados em Bardin (1988), foi realizada uma Análise de Conteúdo para auxiliar no processo de interpretação das páginas das publicações. No entanto, entendemos que as mortes intencionais carregam por si só um peso maior na percepção da sociedade por romper ou provocar uma “quebra” da normalidade do cotidiano de forma mais intensa, reunindo todas as condições para se transformar m um verdadeiro “acontecimento midiático”, tal como postulam QUÉRÉ (2013), MOUILLAUD (2012), FRANÇA (2013) e CHARAUDEAU (2006) ao tratarem da tipificação de acontecimentos sociais que alcançam a atenção da mídia. Dessa forma, o objetivo da pesquisa é apurar como é feita a construção da violência e da morte nas capas destes jornais, identificando e analisando possíveis intenções sobre o noticiário de violência por meio da análise de textos e imagens,

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mostrando pontos de vista e linguagem distintas utilizadas por ambas as publicações para dar conta de um mesmo assunto. Para procedermos com as análises, durante o primeiro semestre de 2014 coletamos todas as capas do Jornal Pontal e do Jornal de Frutal com o objetivo de registrar todas as imagens e notícias que informavam sobre a morte. A partir de um estudo comparado das publicações, calcados na análise do discurso das mídias (CHARAUDEAU, 2006), selecionamos como corpus as edições de janeiro à junho e então selecionamos as capas que mostravam morte fruto de violência para ilustrar a dimensão de como são relatadas nas capas dos veículos em questão. Também foi realizada, para fins de ilustração, uma análise quantitativa sobre a incidência do tema nas capas das publicações, permitindo-nos visualizar as estratégias de seleção dos jornais acerca do assunto. Assim, mesmo que figure em menor número quantitativo nas capas, o local privilegiado da primeira página para se noticiar esses “feitos”, em especial nas manchetes principais, também apontaram indícios de como a violência e a morte são privilegiadas nas publicações, uma vez que, segundo PORTARI (2013), SOUZA (2005) e FERREIRA JUNIOR (1996), as capas das publicações são elaboradas criteriosamente para conquistar a atenção do leitor.

O mais alto patamar hierárquico em uma capa de jornal é destinado à manchete. A chamada em corpo maior, muitas vezes em caixa alta, existe com a função deliberada de fisgar o potencial leitor para o conteúdo da publicação. É o espaço editorial de luxo. Os profissionais encarregados de pensar e redigir as primeiras páginas são invariavelmente os de maior responsabilidade no staff da redação. Cabe a ele exercer com um misto de criatividade, precisão e visão mercadológica a escolha de palavras, sentenças ou frases que condensem o recado que pretendem transmitir. (NOVO, 2012, p.549)

Logo, a manchete principal traria o “prato do dia”, ou seja, aquilo que é o mais importante segundo o a publicação. Nesse sentido, a exploração da morte e da violência é notória, conforme poderemos apontar nos capítulos seguintes. Também registramos os aspectos técnicos de composição das capas, como as cores utilizadas na diagramação, considerando que elas têm sua participação na produção de sentido. No entanto, para que possamos alcançar a análise com profundidade, primeiro partimos das definições acerca de violência, uma vez que o termo pode ser passível de entendimentos diversos, desde a questão física à simbólica, além de variar conforme o contexto da emissão e do leitor. Dessa forma, apresentaremos no capítulo a seguir a

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origem do termo e as definições que servirão de guia para as análises encontradas no presente trabalho.

1. Conceitos sobre violência A discussão sobre a violência na mídia é ampla e tem sido realizada ao longo de várias décadas, desde o advento e crescimento dos extintos jornais populares como o Notícias Populares que, nas décadas de 1980 e 1990 traziam diariamente aos leitores manchetes (e não raro, fotos) chocantes acompanhadas de textos igualmente marcantes a ponto de provocar as mais diversas reações em quem se deparava com uma de suas capas, como podemos observar na figura a seguir:

Figura 1 – Jornal Notícias Populares Fonte: Reprodução

Verifica-se na Figura 1 algumas das estratégias de enunciação da violência e da morte que eram adotadas pela publicação, tais como o uso da oralidade (broxa, chifre, mata, haja saco!, bacanal, entre outras) e uma ampla exploração daquilo que Moisés de Lemos Martins (2011) 1 vai chamar de representações do grotesco, ou seja, o rebaixamento e a exploração do lado mais degradante das notícias. 1

Sobre a conceituação de grotesco e a exploração do rebaixamento dos acontecimentos na mídia, sugerimos a leitura de duas obras: SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O império do Grotesco. Rio de Janeiro: MAUAD, 2008.; MARTINS, Moisés. Crise no Castelo da Cultura. São Paulo: AnnaBlume, 2011.; e também a tese de doutorado “O trágico, o esporte e o erotismo: a presença de uma tríade temática

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A discussão sobre a violência, dessa forma, merece destaque em especial quando nos voltamos para os órgãos de mídia impressa de pequeno porte. Se, por um lado, grandes publicações diárias inserem o tema sucessivamente no cotidiano de seus leitores, por outro, jornais situados em municípios menores e que não contam com noticiário televisivo local e têm o jornal impresso como principal fonte de acesso às imagens dos acontecimentos, têm também sua parcela de contribuição na estruturação de sentidos de seus leitores e das representações que terão sobre a cidade onde vivem a partir de seu noticiário. Mas, como definir um conceito complexo “violência”. Apesar de aparentemente simples, considerar um conteúdo como relato de algo violento ou não pode suscitar dúvidas. Basta observamos, por exemplo, os recentes ataques à redação do jornal francês “Charlie Hebdo”2: enquanto o mundo ocidental se aterrorizou com as mortes dos jornalistas, os responsáveis pelo atentado comemoravam o sucesso das mortes. De acordo com Muniz Sodré, podemos encontrar diversas formas de representação da violência, seja no âmbito simbólico, burocrático ou mesmo físico. O autor observa, no entanto, que “o aumento exponencial da violência em todas as suas formas, na maior parte dos grandes centros urbanos da América Latina e do resto do mundo [...] coloca continuamente a mídia – no centro das interrogações sobre o fenômeno da violência.” (SODRÉ, 2006, p.23). A partir dessa constatação, o autor irá discorrer acerca do conceito de anomia da violência, explicando que essa expressão, na Sociologia, representa um estado de desorganização social em que as leis são divergentes ou conflitantes, logo desacreditadas. Esse tipo de violência é, portanto, de acordo com sua etimologia, desregrada e cruel. É cada vez mais pautada na mídia e mais recorrente nas ruas, o que resulta em um aumento dos índices de criminalidade oficiais, constantemente abordados pelos meios de comunicação. Já violência representada, ainda conforme SODRÉ (2006) trata da visibilidade que a mídia dá à violência, seja no campo jornalístico ou do entretenimento, em que filmes e programas enfocam a violência com o intuito de obter maior audiência – o que

nas capas dos jornais populares”, de autoria do professor Rodrigo Daniel Levoti Portari e defendida junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociabilidade da UFMG no ano de 2013. 2 O fato ficou conhecido como “Massacre da Charlie Abdo” e tratou-se de um atentado terrorista ocorrido em 7 de janeiro de 2015 contra a redação do jornal satírico francês Charlie Hebdo, resultando em doze pessoas mortas e cinco gravemente feridas.

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tem sido uma estratégia de êxito em toda a era contemporânea, vide conteúdo televisivo, digital e impresso cujo temos acesso ilimitado à qualquer instante. A violência sociocultural é a herança deixada de anos e anos regidos pela opressão, seja esta de gênero, racial ou orientação sexual. Ela se baseia no fenótipo e se manifesta tanto na forma física como moral. Por gerações mulheres, negros e homossexuais foram discriminados e violentados de diversas maneiras. Os resquícios dessa violência que fora alimentada por séculos ainda predomina em muitas instituições de ensino devido aos mecanismos coercitivos presentes no sistema educacional – que proporcionam um primeiro contato e incitam os alunos à violência e à segregação. Podemos observar isso com clareza no efeito do bullying, ato violento presente em todas as escolas pelo mundo e extremamente recorrente na mídia. Ato este que dissemina a discriminação perante o diferente e as minorias. Segundo Pierre Bourdieu (2002) isso faz com que ações cruéis dessa estirpe aconteçam em todas as camadas sociais, o que ele denomina de violência simbólica, uma ramificação da violência sociocultural. A violência sóciopolítica é fruto da repressão exercida pelos Estados, desde a esfera do estado de até o etnocídio, que podemos observar nas Guerras civis como a da Bósnia e nos conflitos ditatoriais em diversos países da África. A violência sociopolítica trata de situações que envolvem os aspectos sociais relevantes em um determinado grupo. A violência social está presente em todas as esferas da existência do indivíduo (econômica, política e psicológica). É uma reação à indiferença do Estado. Este tipo de violência se manisfesta de forma direta – física- ou indireta – atingindo os campos econômicos, políticos e psicológicos. Na doutrina Marxista, podemos observar a violência social como um efeito orgânico inerente à sociedade de classes; Mas analisar a violência social como ato puro implicaria afirmar que somente os atos que são contrários a legitimidade do grupo dirigente seriam considerados condenáveis, o que foge do conceito da violência, que ocorro em ambos os lados da moeda. De acordo com Hobbes a violência se fundamenta no medo. Violência e medo caminham juntos e são estruturas da sociabilidade humana. “A violência, a agressão enraíza-se tão profundamente quanto a propensão amorosa ou sexual na composição psicobiológica do ser humano. Há uma linha tênue entre a destruição e a libido." (SODRÉ, 2006, p.33).

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Sob o olhar frankfurtiano, a relação de mídia e violência é também fruto do processo de indústria cultural. A concorrência cerrada dos mass media levam a uma disputa pelo mercado e, em conseqüência, a publicação de fatos relacionados à temática chega às capas dos jornais. Conforme Horkheimer (apud COSTA, 2002, p.127) os relacionamentos humanos mediados consolidou a comunicação de forma empresarial, com informações sendo veiculadas em diversos meios de forma até mesmo multissensorial, fazendo com que os meios técnicos de transmissão de notícias passassem também a ser fundamentais para a racionalidade e inteligibilidade humana. O jornalismo impresso teria adotado essa característica multissensorial como estratégia de mercado, e trouxe a violência para suas capas, provocando o despertar de vários sentidos no leitor, como o medo (da morte, da agressão, do seqüestro, do acidente, por exemplo).

Para desvelar essas estratégias comunicacionais (ainda sob o olhar

frankfurtiano), o cientista e sua produção “encontram-se comprometidos com o aparelho social e a lógica da expansão do capital. [...] cabe ao cientista conceber e classificar os fatos num ordenamento conceitual que permitam sua utilização”. (COSTA, 2002, p. 127). Esse ordenamento conceitual e a classificação trariam, para os receptores, as explicações sobre a forma como a mídia se utilizaria daquelas temáticas para vender mais. Já os funcionalistas Lazarsfeld e Merton tendem a considerar os receptores como meros coadjuvantes no processo, tratando-os como passivos e incapazes de refletir sobre o conteúdo consumido. Mas alertam também para o problema da avalanche de informação causar uma desinformação nos receptores, como uma “disfunção narcotizante dos mass media” (COSTA, 2002, p.141). Ao tomarmos como fonte de pesquisa as capas dos jornais – sincréticas e mosaicas por natureza – vemos, de certa forma, uma infantilização3 na maneira de propiciar a leitura dos temas relacionados à violência. Não que sejam tratados de maneira irresponsável, mas, pelo contrário, os meios valorizam a imagem, numa alternativa de comunicação mais rápida e sem a necessidade de esforço mental, aproveitando da facilidade proporcionada pela leitura imagética, captada com mais facilidade por um grande universo de leitores4.

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Não usamos o termo, aqui, como sinônimo de irresponsabilidade ou ingenuidade, mas sim, para ilustrar a forma de simplificação da mensagem através da valorização da imagem em relação ao texto. 4 Destacamos aqui o que foi dito anteriormente, sobre a maior facilidade em perceber a imagem em relação ao texto. Porém, isso não significa que a interpretação de todos os sentidos da imagem aconteça de forma mais simples que em relação ao texto escrito.

9 O problema não está simplesmente numa retórica que presumidamente influencie ou aliene as massas (como se estas efetivamente absorvessem “informação” televisiva e não dispusessem de estratégias de defesa cultural, em sua dinâmica de heterogeneidade). O problema situa-se mesmo na presença concreta e na penetração veloz de um sistema industrialfinanceiro, cujos elementos visíveis (aparelhos de tevê, vídeos-cassete, microcomputadores, Internet e toda uma parafernália de bens de consumo conspícuos) atestam o impulso modernizador do modelo “telerreal” [...]. (SODRÉ, 2006, p.55)

No Brasil o índice de homicídios é quatro vezes superior ao dos Estados Unidos e se engana quem pensa que a situação é igual em toda a América Latina: na Argentina, na Colômbia, no Peru e em outros países latinos o quadro não segue o padrão brasileiro. Pela relação de causa e efeito podemos apontar que a explicação poderia pautar-se no fato do aumento populacional nos centros urbanos e na decaída da qualidade de vida. Essa explicação embasa o prisma da violência invisível, também conhecida como estado de violência. Trata-se da violência por meio da burocracia extensa fabricada pelo Estado. A negligência e precariedade dos serviços públicos é considerada uma forma de violência oculta contra a população que depende da esfera pública. Porém, outra corrente do pesquisador Edmundo Campos Coelho discorda da tese com base no argumento que em capitais menos desenvolvidas e mais pobres como Maceió e Teresina os números de violência urbana são relativamente baixos em comparação com o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Tal corrente baseia-se na violência anômica, visível e desordenada, que foge aos preceitos da construção da ordem jurídica e social. É neste segmento de violência que se inserem os crimes de morte, assalto e os massacres. São muitas as vertentes de violência e estas podem ser combinadas e construídas. Atos violentos não pertencem necessariamente a uma única classificação, os tipos de violência são muitas vezes fundidos. Porém quando pautada na mídia, a violência, na maioria dos casos está relacionada com a anomia dos crimes, que viram alvo de espetáculo quando veiculados.

2. A violência e a morte enquanto notícias "Acontecimento-Imagem. Imagem-Acontecimento. No nosso universo midiático, a imagem costuma ocupar o lugar do acontecimento. Ela o substitui e o consumo da imagem esgota o acontecimento por procuração. Esta visibilidade de substituição é a própria estratégia da informação - quer dizer, na realidade,

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a busca da ausência de informação por todos os meios." (BAUDRILLARD;MORIN, 2004, p.46). Os meios de comunicação expõem a imagem para simbolizar o acontecimento. A imagem funciona como refúgio imaginário aos receptores, passa a ocupar o lugar do próprio acontecimento. Não há meio possível de representar a realidade de um acontecimento em sua totalidade ao divulgá-lo. Pois o acontecimento não pode ser reproduzido, apenas suas imagens. O fato acrescido de um brutal congelamento da imagem gera uma violenta cadeia de informações que chega aos receptores. Assim, a imagem que vemos retratada pela mídia, não é real nem virtual, torna-se um acontecimento por si só, mas diferente do acontecimento original. A imagem é o espetáculo do acontecimento. "Um aumento de violência não é suficiente para mostra a realidade. Porque a realidade é um princípio que está perdido. Real e ficção são imbricados e a fascinação do atentado é antes a da imagem - as consequencias dele, ao mesmo tempo jubilatórias e catastróficas, são em grande parte imaginárias." (BAUDRILLARD; MORIN, 2004, p.31). O jornalismo expõe os acontecimentos que ocorrem no mundo, fazendo com que as notícias sejam extraordinárias ao mesmo tempo triviais. A morte é o maior exemplo deste princípio. É algo que nos aflige embora seja fato rotineiro, que nos cerca o tempo todo e em qualquer lugar. É um acontecimento relatado diariamente pelos meios de comunicação por seu elemento surpresa, que corresponde a sua imprevisibilidade temos consciência de que iremos morrer, mas não sabemos quando. Apesar de vivenciarmos a morte constantemente, quando pautada pela mídia passa a ter uma dimensão maior e um caráter diferente do que a própria morte em si. A morte é portanto, um acontecimento jornalístico cotidiano e ambíguo (PORTARI, 2013; VAZ, 2012; LEAL, 2012; BENETTI, 2012; TRAQUINA, 2002). Nos jornais as mortes são narradas além da imprevisibilidade do morrer, e caracterizadas pelos elementos extraordinários que lhes cabem. A notícia enfoca primordialmente a maneira de morrer e não somente o morrer. Esse fator extraordinário da morte torna-se valor notícia recorrente. Assim encontramos diversas notícias acerca de mortes em todos os meios de comunicação e muitas vezes o mesmo acontecimento narrado de maneiras diferentes por veículos distintos. A banalidade cotidiana é ao mesmo tempo trivial e excitante, afirma Maffesolli (2006). Nesse sentido, Frederico de Mello Brandão Tavares afirma que: "A repetição, não é apenas de um mesmo episódio

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em um mesmo dia em diferentes jornais, mas também uma repetição temática, de tipos de morte cuja imprevisibilidade no fluxo do cotidiano já se encontra prevista no interior das rotinas jornalísticas." (TAVARES, 2012, p.97). Grande parte do conteúdo jornalístico que vemos todos os dias é movida pelo empenho da mídia de relatar maneiras em que a morte acontece, que é o gatilho que a torna indubitavelmente valor notícia. Podemos observar tal fenômeno nos casos de assassinato, acidentes e falecimentos de gente conhecida. Ao falar de falecimentos, as narrativas tem sua estrutura baseada em outros acontecimentos que não a morte por si só (LEAL, 2012). O foco costuma ser outro, como a vida das vítimas, as possíveis causas da morte, a dor de familiares e próximos, a falta de preparo ou negligência das autoridades policiais ou médicas em relação ao caso, etc. Ao falar de uma morte por overdose de drogas, por exemplo, o enfoque da notícia será o tráfico de drogas na região. A notícia do óbito é apenas parte da narrativa que conta outro aspecto da morte. Segundo Nelson Traquina (2002), a morte seria o critério de noticiabilidade por excelência. Mesmo ao desviar o foco para esses outros acontecimentos que envolvem a morte, como as realizações dos mortos ou ainda as circunstâncias do falecimento, a notícia não deixa de revelar que morte está sempre presente e é inevitável a todos. Ao narrar mortes de violência anômica há também um padrão há ser observado: o uso das mesmas palavras para relatar este tipo de acontecimento. A palavra tragédia vira uma simbologia para relatar a morte nestes casos. É usada por vários jornais e torna-se um repertório cultural para caracterizar esse tipo de morte como acontecimento jornalístico. O uso do termo tragédia anunciada também é muito recorrente, ressalta o elemento previsível dentro da imprevisibilidade da morte. O mesmo ocorre com os binômios "outra tragédia" e "mais mortes" que expressam a dimensão do acontecimento que reacontece repetidamente. A morte aparece como não como algo novo, mas de novo. Tendo como valor notícia sua excepcionalidade, como mortes por crime, acidentes e até mortes naturais de celebridades. Nesse sentido, pela recorrência ou por uma ou outra diferença temática, afirmar a morte de uma mesma maneira, dentro de uma mesma grade que pode diferenciar-se editorialmente, mas que, em nenhum momento, deixa de ser jornalística, permite pensá-la de maneira ritualística (Gomis, 1991) e noticiosa (Sousa, 2002), indicando a percepção sobre um enquadramento "generalizante" acerca deste específico acontecimento cotidiano que é o morrer. (TAVARES, 2012, p.99).

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Para o psicólogo Dolf Zillmann (apud WAINBERG, 2006) a violência e a morte interessam ao público pelos seguintes fatores: “a novidade (o horror atrai porque as anomalias comandam a atenção e despertam curiosidade”; “a busca de sensações (produz estimulação e por isso mesmo os seres humanos querem experiências que a produzam)”; “a projeção (a audiência de programas de entretenimento reage aos estímulos da tela da mesma forma que os eventos reais, apoiando e criticando personagens e seus atos)”; “a retaliação e condenação do mal (apóia-se a violência toda vez que ela é dirigida à punição apropriada de um agente ou personagem)”; “a catarse simbólica (o argumento de que a violência simulada teria efeito terapêutico nos indivíduos que estão revoltados e que por isso tendem a comportar-se agressivamente é muito referida, mas essa conclusão está envolta em controvérsias”; “a dessensibilização (há certa evidência empírica de que pessoas expostas a objetos e situações amedrontadoras conseguem reduzir a ansiedade e o medo delas. Tal artifício tem sido utilizado, por exemplo, no tratamento de fobias)”; “a transferência da excitação (há forte estimulação na exposição a estímulos amedrontadores)” (WAINBERG, 2003, p.32). Para CHAREAUDEAU (2006, p.269), a realidade não é dramática, mas a maneira como essa realidade é midiatizada, a descrição, que a torna dramática. Assim, ele aponta a presença de grandes catástrofes na mídia como uma forma de filtragem, onde o mundo palpável passa a ser apenas aquele midiatizado. Vendo a morte do outro estaríamos pensando e refletindo na nossa própria morte. No jornal, o espaço para a ficção ou segunda realidade, fica a cargo das crônicas ou artigos de opinião. Nesse jogo, a carga simbólica da morte tem mais peso do que a vida, já que a ausência definitiva é, para os semioticistas da cultura, uma das causas da criação de textos culturais. Para reverter esse valor simbólico da morte, os jornais a banalizam e a espetacularizam, repetindo incessantemente os conteúdos, acostumando seu público à idéia de morte. Assim, os leitores não se chocarão ao se deparar com uma imagem ou texto retratando a violência logo na primeira página do jornal. A banalização por repetição tem se mostrado um ótimo artifício para conseguir garantir, na capa, a presença constante da morte, figurada, muitas vezes, ao lado de notícias sobre economia, esporte, política ou ciência. Mesmo estando longe de abordar todas as questões envolvidas sobre a violência, o recorte por seu aspecto material será suficiente para conduzirmos o estudo de forma a termos um objeto passível de ser analisado por teorias que o resolvam. Nesse caso, a violência física, principalmente aquela causada à revelia dos envolvidos – acidentes ou

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crimes, por exemplo – se tornam o escopo principal do estudo. As primeiras páginas, seja de forma proposital ou não, vendem a violência cotidiana. Vendem-na por se tratar de mercadoria com alto poder de troca simbólica. E, para isso, uma reconstrução dos fatos e do mundo fragmentado é levada adiante pelos responsáveis pelas edições. Há outra vertente de estudos que afirmam ser notícia apenas aquilo que os leitores desejam consumir. É o caso do trabalho de autores como MEDINA (1988) ou ANGRIMANI (1995). De fato, essa teoria do agendamento da mídia pode até ter seu ponto de intersecção com o estudo. Mas há características em jornais voltados ao público mais abrangente que fazem qualquer fato se transformar na grande notícia do dia. Nesse caso, a intensidade de tratamento dos temas é maior no Agora do que na Folha, mesmo o primeiro fazendo o sensacionalismo mais light. Nos jornais não-sensacionalistas, há sempre uma carga intensa de violência que não se revela, que não se escancara com a mesma intensidade encontrada nos jornais a sensação. Essa violência pode ser detectada na crítica ferina, no editorial agressivo, no artigo emocional, na foto marcante, na reportagem denunciadora. Mas é uma violência “disfarçada”, “ilegível” na forma editorial, enquanto que no jornal sensacionalista a violência faz parte da linguagem e da forma de edição. (ANGRIANI, 1995, p.57)

Danilo Angriani mostra uma característica mais observável na Folha que no Agora. A Folha trata com menor intensidade os fatos violentos em sua primeira página, porém, a carga simbólica contida em manchetes como a da denúncia do escândalo do “mesalão” se torna maior e menos legível para o público. Por outro lado, seu “concorrente” escancara as portas da brutalidade, deixando a violência no limiar do socialmente aceitável ao socialmente não-aceitável – encaixando aqui cenas de morte explícita (tal como acontecia no Notícias Populares), nudez frontal, sexo, entre outras perversões àquilo que se entende como material de bom gosto para o jornalismo. Em todo caso, seja em qualquer uma das duas publicações, “a morte do outro é saboreada como espetáculo”. (ANGRIMANI, 1995, p.54) Por não sabermos, de fato, como ocorre a seleção de notícias, fotos e enfoques, o jornal se torna uma caixa opaca e, assim, o leitor tende a aceitar aquilo como crível, sem levantar dúvidas ou suspeitas. Nesse caso, mostrar os desdobramentos que estão por trás desta produção facilitaria, em partes, identificar quais os caminhos traçados pela publicação a fim de trazer a violência como uma notícia de destaque na capa. Também é necessário considerar que o jornal impresso é uma mídia mais lenta do que a televisão e a Internet. Assim, a notícia estampada na capa de hoje,

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provavelmente já foi vista, discutida e analisada nos meios eletrônicos. Desta forma, cabe, então, ao jornal, tentar lançar um olhar mais crítico sobre o fato, usando, para isto, da flexibilização do espaço da página, o que não acontece com freqüência na TV, por exemplo. Trazer, na capa, uma imagem para informar sobre uma tragédia de ontem tem, então, o papel de fazer com que o leitor possa olhar com mais atenção aquela determinada cena, trazendo, talvez, uma reflexão mais aprofundada, o que não é possível quando se tem a imagem em fluxo eletrônico.

3. A morte e a violência na capa: apreensões de sentido Os jornais pautam em suas capas acontecimentos presentes de forma que ainda não há como medir as consequencias a curto e longo prazo. Segundo Jack Lule (2001), as notícias, por seu caráter imagético-mítico, orientam a sociedade acerca de questões profundas, como a morte, o bem e o mal, a paz e a violência. As mortes presentes nas chamadas de capa de jornais são figuradas por uma composição de imagens de morte que estruturam a notícia. A maioria das mortes relatadas nas publicações são referentes à mortes violentas e portanto as imagens são as responsáveis por fixarem a notícia em nossas memórias. Os óbitos expostos nas capas dos jornais implicam violência, seja crime, atentado, acidente. A única vertente em que a morte não aparece ligada à violência são casos de mortes de celebridades, a notícia da morte é construída através da história de vida do morto. A violência é o vetor que transforma a morte em valor notícia, é o fator que dá autoridade e notoriedade ao morto, mesmo esse sendo desconhecido. A morte violenta, é portanto, noticiosa e se faz presente em todas os jornais e capas. Observa-se também que as notícias exigem um quadro de causa e efeito, que dê sentido à morte retratada. Um atropelamento, por exemplo, a causa é o atropelamento e o efeito é a morte. Toda notícia deve ter uma narrativa envolta e por isso, muitas vezes é comum ver a mesma imagem em diferentes jornais, sob uma perspectiva diferente no texto. As imagens se repetem, mas a notícia nunca é a mesma, visto que cada publicação pode narrar a notícia de uma determinada forma, sob um prisma diferente e em sequência variada. Essa diferença da abordagem e da maneira que é exposta a relação de causa e efeito da morte faz com que o jornalismo desempenhe seu papel de formador de opiniões, exibindo muitas vezes questões sócio-políticas que envolvem os

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acontecimentos referentes a morte. Também é possível através da construção narrativa sobre a morte, despertar a reflexão sobre a importância da vida e a consciência da morte. "Tratar a notícia da morte como imagem-acontecimento da morte nos remete, assim, ao fato de que aí estão implicados padrões ou acervos de temas, problemas e valores localizados na cultura, que são fixados, ordenados e tornados visíveis no ambiente das mídias" (VOGEL; SILVA, 2012). As imagens da morte é que ditam o restante do processo noticioso, em suas distintas situações. Cada imagem simboliza uma história. Por mais contemporânea que seja uma imagem, esta não deixa de ilustrar um fato pretérito, embora faça com que o leitor se sinta conectado com o presente, pois o atualiza dos acontecimentos. Há um senso de identificação e de comunidade na notícia, que transmite experiências e partilha sentimentos, já que a morte só nos pode ser relatada através do óbito de terceiros, embora nos cerque o tempo inteiro e seja inevitável a todos. Portanto do interesse de todos também, mais um fator que a torna valor notícia fundamental nas publicações e nas capas de jornais. As notícias em que a morte e violência predominam nos remetem a sensações perturbadoras e simultaneamente de alívio por não ter acontecido conosco ou com pessoas de nossa estima. Desta forma a mídia ressalta a distância segura que estamos dos acontecimentos relatados, ao mesmo tempo que poderíamos estar no lugar das vítimas. Os acontecimentos de morte, principalmente ligados à violência, aparecem em grande quantidade e de várias maneiras nas chamadas de capa, e todos de alguma maneira apelam para o elemento da emoção ao relatar o mistério da morte e nossa busca em compreendê-la. A morte, só podemos acessá-la, experimentá-la pelo outro. Ora, o jornalismo se constitui basicamente no e pelo relato da experiência do outro, e o faz organizando, montando conjuntos de imagens. No caso específico da morte, o que se faz notório nessa operação de montagem é quais mortes ganham um estatuto (logo, uma dimensão) de visibilidade e compartilhamento e quais ingredientes de carga afetiva mobilizam profissionais e consumidores da notícia. (VOGEL; SILVA, 2012).

As imagens na notícia simbolizam uma quase morte, são sempre referentes a um momento que antecede ou precede o instante do óbito. As fotografias congelam esse momento. Elas representam a morte iminente e despertam emoções e especulações do leitor acerca da morte retratada na notícia. São as imagens o componente que o receptor fixará na memória, mais do que o texto e a história que envolve a morte na notícia.

16 As fotografias jornalísticas são indispensáveis para a compreensão da materialização do acontecimento em duas derivadas: na primeira o fotógrafo apresenta a "morte técnica", imediatamente após a ocorrência do acontecimento, nas outras imagens, em uma segunda derivada, o que se vê da morte é o seu fantasma, ancorado nas informações do texto, mas inteiramente ausente na imagem, não fosse a nossa imaginação, voltada à reconstrução do drama. (MAROCCO, 2012).

Podemos considerar que o uso da imagem da violência e da morte na mídia impressa não atenderia somente à expectativa mercadológica da instância de produção e a necessidade de informação da instância de recepção, mas também pode ter raízes na cultura humana e no repertório já criado não só pela mídia, mas também pelas vivências dos receptores da informação.

As informações são armazenadas ora em memórias internas, como por exemplo a memória individual humana, ora em memórias externas, que o homem constrói a partir de sua técnica como por exemplo a imagem, a escrita, as gravações sobre suportes – como a fita K-7 – ou ainda as grandes memórias dos computadores. (BYSTRINA, 1995, p. 35)

Assim, a imagem da violência e da morte na capa do jornal contribui para a formação desta memória externa e interna (variando de acordo com o leitor) e, ainda, constrói um repertório onde conviver com estas imagens passa a ser suportável, deixando de condenar a mídia por publicar imagens de fatos considerados negativos em suas páginas.

4. Jornalismo local: O Jornal Pontal e o Jornal de Frutal 4.1 O Jornal Pontal O Jornal Pontal foi inaugurado no dia primeiro de julho de 1990 na cidade de Frutal-MG, pelo jornalista Sérgio Carlos Portari e sua publicação era semanal. Com tiragem inicial de 5 mil exemplares, permaneceu como único órgão de imprensa impresso da cidade até 1995, quando surgiu o seu principal concorrente, o "Jornal de Frutal”, fundado pela jornalista Mônica Alves, ex-redatora do Pontal. Segundo Portari (2013), no ano de 1996 foi pioneiro na impressão de jornal a cores no município e o primeiro também a abrir escritórios em cidades consideradas estratégicas no Baixo Vale do Rio Grande, região pela qual o Pontal circulava. Assim, além da sede Frutal, havia sucursais em Campina Verde, Itapagipe, São Francisco de

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Sales, Prata e Iturama, oferecendo a seus leitores notícias de aproximadamente 12 municípios. Ainda de acordo com Portari (2013), pode-se dividir a história do Jornal Pontal em três fases: a primeira vai de 1990 até o ano de 2000, ano da morte de seu fundador. Nesse período, o principal enfoque da cobertura jornalística era a política e notícias de violência ou morte só apareciam quando os casos envolviam pessoas notórias na cidade. A cobertura policial ou de violência urbana era relegada a um segundo plano. A segunda fase da história do Jornal Pontal vai de abril de 2000 a janeiro de 2007, período em que o jornal passou a ser editado e administrado pelos descendentes de Sérgio Portari. No ano de 2002 o enfoque principal do jornal começa a sofrer mudanças, com o noticiário político perdendo espaço para notícias de violência ou morte. A mudança de comportamento do semanário se deu principalmente em razão da queda nas vendas de anúncios publicitários e assinaturas: o noticiário político começou a perder o interesse ao passo que a curiosidade pelos crimes aumentou. Soma-se a isso o fato do município não contar até o presente momento com transmissão de TV local, fazendo com que o jornal impresso seja um dos poucos meios de acesso a imagem dos fatos policiais pela população. O semanário encontra-se no que podemos dizer de terceira fase de sua existência. Desde fevereiro de 2007 a administração do jornal passou para a Organização Franco Brito de Comunicação, empresa que detém uma concessão de rádio desde o ano 1989 na cidade e, com planos de aumentar a sua participação no mercado de mídia da cidade, comprou os direitos de nome do Jornal Pontal da família de seu fundador. Além da reformulação gráfica e aumento no número de páginas coloridas semanais, o jornal segue atualmente o mesmo padrão editorial de quando foi vendido: o noticiário policial foi reforçado com mais repórteres atuando na cidade em busca de informações e imagens sobre os mais variados fatos, sendo que a publicação tem especial interesse nos fatos que envolvam a morte, seja ela intencional ou não.

4.2 O Jornal de Frutal O Jornal de Frutal tem suas origens no ano de 1995 em decorrência de um desentendimento político entre o então prefeito da época, Antônio Heitor de Queiroz e o jornalista Sérgio Carlos Portari, proprietário do Jornal Pontal.

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Conforme é apontado em ARAÚJO et. Al. (2012), após esse desentendimento a jornalista Mônica Alves, então redatora do Jornal Pontal, foi convidada a fundar um novo semanário da cidade para concorrer diretamente com o Jornal Pontal. E nesse, sentido, seus primeiros anos de funcionamento foram extremamente imbricados com o Poder Público municipal, com distribuição gratuita graças a um bom contrato financeiro estabelecido entre a nova empresa e o Executivo local. A publicação se manteve gratuita e com tiragem de cerca de 10 mil exemplares semanais até o ano de 2000, quando passou a ser vendida em ruas e bancas, cobrar pela assinatura e adotar as cores em sua capa e contracapa, além da capa e contracapa de seu segundo caderno. Da mesma forma que inicialmente se dedicava principalmente ao noticiário político, ao adotar seu novo formato, ingressar com a cobrança de exemplares e se desvincular dos contratos firmados com o poder público, o Jornal de Frutal passou também a privilegiar o noticiário policial em suas capas. Assim, num movimento parecido com o do Jornal Pontal, homicídios, roubos, estupros, tráfico, prisões, apreensões e toda outra sorte de notícias relacionadas ao meio policial passaram a ser privilegiadas em suas primeiras páginas, o que leva também a uma mudança no perfil editorial, assemelhando-se aos jornais ditos populares. É esse o formato que prevalece até o momento, sendo esta a principal publicação que concorre comercialmente com o Jornal Pontal em busca de leitores no município.

5. A morte e a violência no Jornal Pontal e no Jornal de Frutal O Jornal Pontal e o Jornal de Frutal são os jornais de maior circulação e de maior credibilidade do município e arredores. Semanalmente as duas publicações circulam por toda a região e suas informações chegam a milhares de leitores. É nítida a repetição de morte e violência em suas capas. A capa é o elemento que faz com que o leitor compre o jornal, é o gatilho que desperta o interesse do leitor. Portanto, deve conter notícias e imagens que seduzam o leitor. A morte embora inevitável e recorrente a nossa volta, nos é um mistério. Isso faz dela um fenômeno perturbador ao mesmo tempo que nos fascina. A morte por violência é ainda mais intrigante, nos choca sua circunstância abrupta e imprevisível. É algo que destoa do comum, embora seja habitual e constantemente repetida nas publicações. Desta forma, observa-se a manipulação da

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violência provocada pelos veículos em suas capas. Em uma tentativa de aumentar suas vendas, usam a violência e morte como instrumentos para seduzir o leitor. Quanto maior o impacto, maior a probabilidade de venda dos exemplares. A manipulação ocorre à medida que se enxerga somente aquela “fatia” selecionada pelo repórter e editor do acontecimento. Uma mesma notícia pode chegar de forma diferente através das páginas dos jornais. Essa manipulação de como o leitor irá enxergar o mundo é alvo de nossa preocupação. Pode-se vender um retrato diferente da realidade, que é consumido sem oportunidade de questionamento (PORTARI, 2013). Ao analisar as capas do Jornal Pontal e do Jornal de Frutal vemos que em todos os casos em que existe morte e violência, são destaque da edição e elemento chave na capa. Nota-se também que há uma utilização recorrente da cor vermelha na diagramação das notícias em ambos veículos. O vermelho é uma cor forte, provoca impacto e remete a sangue e passionalidade, enfatiza a ideia de violência aos leitores, além de ser uma cor tradicionalmente ligada à editoria de polícia, onde se encontram normalmente os fatos frutos da violência anômica. Para fins de análise das capas dos semanários, foi realizada inicialmente uma análise de conteúdo onde, incialmente, separamos as manchetes por assuntos, a fim de poder identificar quais eram as temáticas recorrentes nas capas dos jornais Pontal e De Frutal. Foram realizada análises em 10 edições consecutivas de ambos os semanários, partindo do pressuposto de que “o comportamento editorial dos distintos veículos apresenta características gerais semelhantes ao longo dos dias da semana” (ANDI, 2009, p.12). O conceito se baseia na definição editorial das publicações, bem como o perfil encontrado em jornais impressos. Como as publicações são semanais, as 10 publicações correspondem a 20% das edições anuais. Desta forma, partimos de um recorte onde podemos averiguar o comportamento das publicações de forma a identificar traços de repetição e predileção de temas em suas primeiras páginas. Pautados também por leituras a respeito de jornalismo popular (AMARAL, 2006; PORTARI, 2013; PORTARI, 2009; ANGRIMANI, 1996) e também nos critérios de noticiabilidade comumente encontrados nessas publicações (TRAQUINA, 2006, 2008; MIRANDA, 2009), separamos os conteúdos encontrados em duas camadas: tema e enfoque. Na prática, o que pretendemos demonstrar é que uma temática pode ter enfoques diferentes. Por exemplo: o assunto morte tanto pode ser noticiado a partir da violência como a partir de acidentes de trânsito ou mesmo por causas naturais. “O tema serviria para enquadrar os assuntos expresos nas chamadas de capa em um núcleo de

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sentido comum. O enfoque teria a intenção de desdobrar, qualificar o tema, para identificar, dentro do assunto, a abordagem”.(NOVO, 2012, p.548). Para as categorizações foram observadas todas as manchetes presentes nas capas dos jornais, contando-as nominalmente a fim de estabelecer o número total de vezes de incidência de cada tema nas capas. Assim, para delimitarmos as categorias abaixo enquadradas, partiu-se do seguinte procedimento:

a) Política: notícias que têm relação direta com prefeitos, vereadores, deputados, eleições, entre outros temas ligados diretamente à atuação política de agentes públicos ou candidatos em vista às eleições; b) Violência/Morte: todos assuntos em que figuram atos de violência anômica (roubos, agressões, estupros, etc.) e também manchetes em que a morte é relatada, seja por meio da violência, por acidentes ou causas naturais. O enfoque

dessas

mortes

será

discutido

posteriormente

nas

análises

empreendidas; c) Polícia: notícias relacionadas ao meio policial, tais como fiscalização de trânsito, apreensão de drogas, prisão de suspeitos de tráfico, roubos, furtos, etc. Em síntese: notícias policiais que não envolvam violência anômica ou morte; d) Cidade: foram reunidas aqui manchetes que se relacionam ao cotidiano da cidade, tais como eventos culturais, eventos esportivos, visitas de figuras ilustres, shows, feiras, exposições, etc. e) Outros: manchetes que não se enquadram nas categorias acima citadas, como notícias de outras cidades da região, noticiário esportivo estadual ou nacional, dentre outros assuntos.

A separação dos temas se deu a partir da incidência das manchetes verificadas nas capas de ambas as publicações. Dentro desta perspectiva, alguns achados revelaram o comportamento dos jornais Pontal e de Frutal no que tange à composição das suas primeiras páginas, como podemos observar nas tabelas a seguir:

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Incidência de temas na primeira página do Jornal Pontal Tema

Número de Manchetes

%

Política

39

28,1

Violência/Morte

29

21,6

Polícia

27

19,9

Cidade

22

16,5

Outros

19

13,9

Total

136

100

Tabela 1: Totalização de manchetes e percentuais por temas nas capas do jornal Pontal

A amostragem verificou, no Jornal Pontal, uma incidência maior no noticiário de política do que conteúdos relacionados diretamente à violência e à morte. No entanto, como será demonstrado posteriormente, apesar do maior número de fatos veiculados à vida política da área de atuação do semanário, essas notícias não são destacadas no jornal, ou seja, aparecem em maior número no quadrante inferior da primeira página. Já a morte e a violência, quando presente, tem lugar garantido no destaque da manchete principal, ou seja, é ofertada como principal “prato do dia” para seus leitores, interferindo diretamente no sentido, na percepção do cotidiano a partir do design gráfico que privilegia esse assunto:

Manchetes e demais títulos presentes nas capas dos jornais não só instauram uma forma de sentido que ordena os acontecimentos noticiáveis, mas, também, funcionam como uma fascinação para atrair o público, uma linguagem jornalística que vende publicitariamente o produto denominado jornal. (AZEVEDO, 2008, p.17)

Dessa forma, o conteúdo da primeira página é como um sumário da edição ou um cardápio de assuntos ofertados com a intenção de fazer com que o leitor abra as suas páginas e deguste das notícias apresentadas em seu interior. Dessa forma, a predileção da violência e da morte como manchete principal das edições coloca novamente o tema em destaque e, apesar de menor aparecimento “numérico”, é o que mais se sobressai nas edições analisadas, demonstrando um padrão de repetição como apontado anteriormente. Diante desse achado revelado por meio da análise de conteúdo do Jornal Pontal, procedemos, da mesma forma, com uma análise das capas do Jornal de Frutal, com a intenção de pautar nosso estudo comparado de acordo com a amostragem de assuntos e

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para verificação da presença ou não da violência e da morte em suas capas. Após o processo de filtragem de conteúdos, chegamos aos seguintes valores:

Incidência de temas na primeira página do Jornal de Frutal Tema

Número de Manchetes

%

Política

22

26,5

Violência/Morte

29

34,9

Polícia

16

19,2

Cidade

10

12

Outros

6

7,4

Total

83

100

Tabela 2: Totalização de manchetes e percentuais por temas nas capas do jornal de Frutal

Dois dados interessantes foram revelados com os números obtidos. O primeiro é o fato do menor número de chamadas presentes nas capas do Jornal de Frutal, que tem boa parte de seu rodapé inferior da capa ocupado por uma publicidade de loja de materiais para construção. Além disso, o posicionamento da logomarca da publicação, em área maior que a de seu principal concorrente, também contribui para a queda do número de manchetes tendo em vista a área útil disponível para seus editores. No espaço destinado às manchetes, verifica-se uma incidência maior de temas relacionados à violência e morte nas capas analisadas, com bom percentual de diferença sobre o segundo colocado em nossa análise: a política. No entanto, a comparação dos números obtidos entre as duas publicações nos revelam outro dado interessante que reforça aspectos do jornalismo praticado no município de Frutal: os dois assuntos de maior predileção das publicações são idênticos, com pequena variação na apresentação dos mesmos em suas manchetes5. Em relação ao destaque dado para as manchetes de morte e violência, verifica-se o mesmo procedimento adotado pelo Pontal, ou seja, quando ela surge, sempre vem como manchete principal, assunto destacado e considerado de maior relevância pela publicação tomando por base os critérios de noticiabilidade que levam em conta a 5

Atribuímos esses dados ao enfoque local dado pelas publicações tendo em vista seu leitor projetado, ou seja, moradores do município de Frutal. Em outra pesquisa (MACHIONI, PORTARI, 2015), apontamos que o Jornal Pontal tem um perfil marcante de jornal “local”, com poucas questões “regionais” abordadas em todo os eu conteúdo. Da mesma forma se porta o Jornal de Frutal, o que nos permite compreender mais facilmente a predileção por estes dois assuntos na capa, já que são temas que afetam diretamente a vida dos moradores da cidade: a violência e a ação de prefeito e vereadores.

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morte, a proximidade e a identificação como fatores fundamentais para a escolha dos assuntos que atravessariam a “membrana invisível da mídia” (MOUILLAUD, 2012) para se transformar em acontecimento midiático. Tal predileção reforça o status de preocupação de ambas as publicações a eventos ocorridos dentro de suas áreas de atuação e, dessa forma, o leitor de jornal impresso no município de Frutal-MG vê-se diante de uma dada realidade por parte das publicações onde não há escapatória: a violência e a morte sempre estarão presentes em seus cotidianos e, quanto mais violenta a morte for, mais espaço terá no noticiário. Para percebermos como se dá essa relação dos jornais com a morte, apresentaremos a seguir imagens das capas coletadas no período de análise que nos demonstram como o discurso da mídia é construído a partir dessas duas temáticas, reforçando-as semanalmente, num movimento que Maffesoli (1984) chama de “eterno retorno ao mesmo”. Por mais que apresente variações na enunciação e nas imagens apresentadas, a temática é recorrente e, a partir dessa perspectiva, a notícia seria sempre “a mesma”: “...um presente que se esgota em si mesmo, encontrando nesse esgotamento a garantia de sua própria recondução. Neste último sentido, o eterno retorno do mesmo é a consequência lógica de um presente que concentra em si mesmo toda a sua virtude”. (MAFFESOLI, 1984, p.91).

Figura 1 – Amostras de capas dos meses de janeiro e fevereiro

As primeiras páginas apresentadas na Figura 1 demonstram o interesse do Jornal Pontal pela morte e violência como manchete principal em suas edições. Das quatro edições apresentadas, temos três mortes provocadas por meio da violência (homicídios) e outras três mortes por causas diversas: acidente de trânsito, afogamento e homem encontrado morto em casa. Matérias de editorias como “cidade” ou política, surgem no

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decorrer da capa, em especial na metade inferior da página, tais como “População comemora a chegada de 2014 no Parque dos Lagos” ou “Bloco da 97FM fatura o tricampeonato no CarnaFrutal”, ou seja, acontecimentos que vêm logo na sequência da morte para melhorar a “composição” da página, deixando a edição mais “leve” no que diz respeito aos acontecimentos noticiados 6 . Partindo do pressuposto de que a linha editorial de uma publicação sofre poucas variações no decorrer de sua existência, até mesmo por uma questão de identificação e pelo contrato de leitura firmado entre agente emissor (o jornal) e o receptor (que compra a edição para atender determinadas expectativas de informação), verificamos que em outras capas igualmente coletadas no período de desenvolvimento do projeto de pesquisa, a inserção do assunto violência e morte ocorre de forma semelhante, garantindo que a morte tenha seu espaço privilegiado na narrativa jornalística, como verificaremos na Figura 2 a seguir.

Figura 2 – Amostras de capas do Jornal Pontal

6

No que diz respeito ao valor-notícia de “composição”, Nelson Traquina (2002) destaca que quando se tem muitas notícias negativas ou trágicas em uma edição, as chances de um conteúdo de amenidades ser publicado, aumenta consideravelmente. Isso se daria para equilibrar o conteúdo encontrado nas páginas dos jornais e, dessa forma, aliviar um pouco da tensão do dia a dia retratado nas publicações.

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Independente da forma como ela ocorre, seja por meio de afogamentos, homicídios, causas naturais, entre tantas outras formas de “morrer”, ela está presente como parte integrante da semana do leitor frutalense, ou seja, entre uma edição e outra, por mais que dezenas de acontecimentos ou insucessos sejam registrados no âmbito de alcance de suas redações, o trágico figurado pela extinção da vida do Outro sempre ocorrerá como parte integrante da vida dos leitores.

Figura 3 – Capas do mês de Junho de 2014

Com o que temos apresentado nas Figuras 1, 2 e 3, podemos verificar que a amostragem apresentada pela Tabela 1 é verificada e o “retorno” à temática é inevitável. Partindo de Maffesoli, para quem “...é graças a Satã que a história humana começa, e regularmente encontramos o mal, o assassinato, o sangue na fundação de todas as estruturações sociais” (MAFFESOLI, 1987, p.9-10), pode-se afirmar que a sociedade se desenvolveu tendo em seu imaginário as diversas formas de violência e morte, o que, para os pesquisadores da escola de Tartú-Moscou, leva à criação dos textos culturais7 com o intuito de eternizar o homem em suas criações. Neste jogo de contrastes atos de violência ou morte são vistos como negativos, já que desde os textos mais antigos são tidos como punição ou vingança. Não é estranho que diariamente o ambiente midiático estampe notícias que dão conta destes temas ofertando uma dose diária de tragicidade ao cotidiano de seus receptores. Programas televisivos, portais de Internet, jornais, programas radiofônicos,

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Para os pesquisadores de Tartú-Moscou, a unidade mínima de significação é entendida como texto, sendo textos culturais manifestações conscientes a fim de se eternizar através de palavras, imagens, sons, entre outras formas (BYSTRINA, 1995). BAITELLO JUNIOR (1999, p.40), ao falar da capacidade imaginativa do homem em narrativizar, afirma que: “Assim, o conjunto menor destas associações, denominados “texto” constitui a unidade mínima da cultura”.

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entre outras formas de transmissão de informação, trazem sucessivamente notícias sobre mortes, violência urbana, catástrofes naturais, entre tantas outras formas de representações do trágico. O mesmo procedimento encontrado nas capas do Pontal pode ser observado no Jornal de Frutal, demonstrando que o “valor-notícia” da violência, morte e do trágico é o mesmo para as duas publicações. Em síntese, é como se a cidade de 60 mil habitantes no interior de Minas Gerais tivesse seu cotidiano girando em torno desses assuntos, impossibilitando seus leitores de ficarem distantes da aparição do fim da vida entre uma semana e outra. A forma cíclica como o cotidiano é reconstruído, concentrando no presente toda a sua virtude e toda a sua miséria, dá aos leitores a consciência de seus limites. Através da repetição, os jornais contam e recontam as mesmas histórias. Para MARTINS (2010) esse processo cíclico faz com que a mídia traga reflexos de uma crise da contemporaneidade, estabelecendo o contexto atual como uma época da melancolia8. Ora, se atendermos ao ensinamento de Vladimir Propp, e também de Algirdas Greimas e de Claude Lévi-Strauss, não parece restar dúvidas: “o conto é sempre o mesmo”. Com efeito, a narrativa do jornal televisivo repete a todo o tempo o mesmo conto de tragédia, catástrofe e crise. Exilada da escatologia, e portanto em “sofrimento de finalidade” (Lyotard, 1993:93), a narrativa televisiva expõe a crise desta época, o seu mal-estar, a sua melancolia. (MARTINS, 2010, p.3)

Com as histórias em constante ciclo, chega-se a uma crise da historicidade contemporânea, onde “os média realizam o trágico como o imaginário de uma época sem esperança, sem utopia, a nossa época” (MARTINS, 2002, p.75). O ambiente midiático reforça essa crise. A Figura 4 apresenta como o Jornal de Frutal noticia a violência e a morte e nos dá indícios suficientes para atestar as afirmações dos parágrafos anteriores:

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Ao tratar da melancolia, o autor afirma que nela se encontram pelo menos três desdobramentos: o barroco (figuras escuras, dobras, distorção) em oposição ao classicismo (linhas retas, claridade); o grotesco em oposição ao sublime e o trágico em oposição ao dramático. Para ele, a contemporaneidade tem, predominantemente, a presença do trágico, do barroco e do grotesco em seu imaginário, que, juntos, levam o homem a ser guiado pelo pathos, resultando na melancolia.

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Figura 4- Capas do Jornal de Frutal coletadas durante o período do projeto

A repetição se transforma numa forma de ritualização, onde já é possível prever a edição seguinte mesmo que tenha se mantido afastado da cidade ou do município o tempo suficiente para ficar alheio aos acontecimentos midiáticos. Para Maffesoli (2003) a ritualização do cotidiano é uma das formas de contrapor ao trágico, à finitude. A morte se apresenta, então, de forma homeopática: “Há „pequenas mortes‟, essa da ironia, da ira, do amor, do excesso e da violência, que protegem, de fato, de uma morte

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maior. Processo homeopático, se é que existe, e expressão de uma maior saúde: complementaridade das coisas”. (MAFFESOLI, 2003, p.91) O tempo, ritualizado pela mídia, nos dá a dose diária de morte a ser consumida carregando seu noticiário onde violência e mortes se expõem repetidamente. Harry Pross (1981) vê nessa ritualização a principal força dos meios de comunicação.

A repetição e, com ela, a ritualização resultante do processo de comunicação é o mais importante da imprensa e da radiodifusão, já que esta ritualização expressa em quanto tal, à integração e homogeneidade que não podem dar aos conteúdos diferentes da comunicação. [Tradução] (PROSS, 1981, p.85)

Assim como Cronos os jornais parecem traçar o destino de seus leitores, provocando-os, invadindo suas residências e mentes com temas repetitivos, retomando os mesmos contos, porém, com personagens diferentes, impondo suas notícias como legítimas e criando significados para isso. Também o jornalismo tem deixado clara sua predileção pelos temas catastróficos e, dentre esses temas eleitos, que poderíamos chamar de “escolhas do fim do mundo”, alguns dos temas mais presentes dizem respeito a motivos míticos que envolvem a figura de Pan: catástrofes físicas (e econômicas), acidentes, estilhaçamentos, mortes trágicas, instabilidades, violências, perda de controle, etc. Este pânico, representativo de um momento em que a sociedade parece se “degradar”, também foi, sob alguns aspectos, apresentado por Henry Pierre Jeudy... (CONTRERA, 2002, p.2728)

Seja pela ritualização do tempo, pela presença constante do trágico nas histórias dos antigos mitos gregos ou mesmo na história das religiões – tanto do catolicismo como de várias outras espalhadas pelo mundo afora – temos histórias carregadas de morte, violência e tragédias que se abatem de tempos em tempos na humanidade.

5.1 – A violência e a morte pela perspectiva dos jornais Pontal e de Frutal Ao promover a “ritualização” da morte, promovendo um encontro semanal entre seus leitores e o tema, os jornais objetos desta pesquisa reforçam os “valores-notícia” da morte tal como já observamos a partir de Traquina (2005) e, ao mesmo tempo, reforçam o que Luhmann aponta ao discutir a notícia jornalística enquanto elemento estruturador e participante da construção da realidade dos receptores: a predileção pelo conflito e a transgressão são fatos fortemente marcados nas capas de ambas as publicações.

29 Conflitos são preferidos. Enquanto temas, s conflitos têm a vantagem de jogar com uma incerteza que eles próprios produzem. Eles adiam uma informação apaziguadora sobre ganhadores e perdedores fazendo alusão ao futuro. Isso provoca tensão e, da perspectiva do entendimento da comunicação, um trabalho de adivinhação (guess work). (LUHMANN, 2012, p.49)

E, ainda, de acordo com o mesmo autor:

Também transgressões à norma justificam uma atenção especial. Isso vale tanto para transgressões do direito, mas acima de tudo para transgressões morais e, ultimamente, transgressões contra o “politicamente correto”. Nas exposições mediáticas delas, as transgressões das normas assumem com frequência o caráter de escândalos. Isso reforça a ressonância, reaviva a cena política e evita as manifestações de compreensão e de desculpa que podem ocorrer em transgressões às normas. (Idem, Ibid., p.60)

Violência associada à morte reforçam o status de conflito – já que ao haver uma intenção de ferir o outro no sentido anômico de violência, há o conflito já subentendido – e ainda a perspectiva de “ganhadores” e “perdedores” quando esses crimes são repercutidos, futuramente, em seus processos de julgamento criminal. Nem sempre autores de homicídio são condenados, da mesma forma que nem sempre o morto tenha sido apenas uma vítima passiva do ocorrido9. Da mesma forma a transgressão à norma é verificada nessa situação e, dessa forma, cada edição irá retratar a realidade dos fatos de um jeito, por uma perspectiva ou, recorrendo a Goffmann (1986) por um enquadramento. Recortamos de nosso corpo e análise seis edições onde as manchetes sobre a morte coincidiram e, a partir delas, apresentamos algumas análises do “dito” e do “discurso” adotado por essas mídias em relação a um mesmo fato. Em nossa observação, constatamos que ao abordarem um mesmo acontecimento, a linguagem adotada para o relato jornalístico bem como a seleção de fotografias que acompanham essas manchetes, apresentam diferenças significativas, conforme poderemos observar a seguir nas Figuras de 5 a 9:

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Por exemplo: em uma situação de briga onde um homem mata o outro após ter sido agredido. Nesse caso, a vítima morta também foi autor e agente da agressão. Apesar de não sermos juristas nem mesmo ser essa a perspectiva de nosso estudo, é fato que tribunais normalmente inocentam autores de homicídio desde que se prove a legítima defesa em relação ao crime.

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Figura 5

A Figura 5 no traz duas manchetes (uma principal e uma secundária) sobre dois homicídios ocorridos na semana que antecedeu a publicação dos dois jornais. Enquanto no Pontal a manchete principal é “Rixa XV x Vila provoca mais uma morte em Frutal”, em seu concorrente a notícia de destaque é “Homem é assassinado em assalto próximo ao Náutico”. Na sequência, o Pontal insere a manchete “Tentativa de assalto termina em homicídio” e o Frutal crava “Rixa entre Vila e XV tira vida de mais um jovem”. Uma terceira morte é anunciada pelo Jornal de Frutal ainda na metade superior de sua página: “Mulher que residia em Frutal morre de dengue”. A morte violenta se faz presente em dose dupla nas edições. Apesar da inversão na ordem hierárquica de aparecimento das manchetes, no Jornal de Frutal destaca-se também a notícia do homicídio em uma “rixa”, conforme nos informa os textos. Isso porque essa é a manchete que, apesar de estar em letras menores e ser a segunda na sequência de leitura, é acompanhada de uma foto a vítima e ganha destaque nas cores vermelhas. Já o Pontal crava esse homicídio decorrente da violência entre a “rixa” em letras maiores e no alto da página, local normalmente destinado ao principal assunto da semana. A partir da informação textual – e considerando que conforme nos atesta SOUSA (2002), VAZ;TAVARES (2012), no processo de apreensão da mensagem jornalística texto e imagem devem ser considerados em conjunto, já que a imagem por si só não consegue contextualizar sua informação – verifica-se dois procedimentos

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distintos no tratamento dado à morte por meio das imagens fotográficas que acompanham as manchetes. No Jornal Pontal há uma foto de ação: um homem, deitado, é colocado dentro de uma ambulância do Corpo de Bombeiros. Até aquele momento, conforme nos informa a legenda, ele não estava morto, mas ferido e socorrido até ao hospital. Apesar de ainda apresentar sinais vitais, sua expressão e olhar já não traduzem mais a expectativa de “vida”, estando com a cabeça e os olhos tipicamente encontrados no corpo morto. Mesmo estando vivo na imagem, é a morte que se anuncia e que se “pronuncia” para o leitor. À sua volta, acompanhando esse quase “leito de morte”, uma multidão de curiosos observa a cena, retomando aparentemente o ritual de passagem da vida para a morte que era típico do século XVI, conforme aponta ARIÈS (2012) e HUIZINGA (2014): na Idade Média, morria-se em casa, cercado de amigos, parentes e curiosos. Assim que um homem estava à beira da morte, as portas de sua casa e de seu quarto eram abertas à visitação e, não raro, centenas de curiosos passavam por ali durante o dia para espiar o moribundo, esperando para acompanhar de perto o momento em que a morte levaria a pessoa acamada. Situação como esta foi retratada por Edward Munch em 1895 com sua obra “Leito de Morte”

Figura 5.1 – Leito de Morte – Edward Munch (1895) – Reprodução

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O homem fotografado no Jornal Pontal está em seu “leito de morte”, já que não sobreviveu ao atentado contra sua vida. A morte salta da imagem, mesmo que “escondida” sob a informação de que naquele momento o homem ainda estaria vivo. O leitor é atingido, se vê impactado e processa a informação mesmo que não desejasse estar diante dela já que, tradicionalmente, a horizontal é a posição do repouso e da morte, como são colocadas as pessoas em seus caixões durante o velório. Já o Jornal de Frutal apresenta a imagem da mesma vítima, porém, mais como uma ilustração para dar suporte à manchete do que para agregar informações ao que é noticiado. Numa imagem retirada de redes sociais, a vítima fatal se apresenta em seu pleno esplendor de vida, olha para o leitor, encara-o ainda como uma pessoa que não foi baleada em uma “rixa” entre “XV e Vila”. A sua morte só se faz presente pelo texto e, sem a legenda ou manchete, não se poderia inferir a partir daquela imagem de álbum de família que aquele homem fosse a vítima fatal dos disparos feitos em um malfadado encontro entre duas “tribos” rivais de jovens moradores da cidade de Frutal-MG. A imagem do homem retratada pela publicação é dele ainda vivo e, portanto, a morte se faz “implícita” na foto, sendo constatada apenas somente pelo texto. O contraste entre a apresentação do “corpo vivo” e do “corpo morto” nas capas dos semanários não ocorre de maneira isolada, sendo que a imagem da Figura 6 apresenta-nos outra situação parecida com a demonstrada pela Figura 5 na notícia da morte de mais um jovem em decorrência da violência urbana em “Festa com Final Trágico: Tiros disparados em casa de festa deixam homem morto e duas jovens baleadas” (Jornal Pontal) e “Jovem morre e duas garotas são atingidas por tiros durante festa” (Jornal de Frutal). Em mais uma situação onde a morte é o “prato principal” da capa, as publicações continuam com a sua inserção do tema no cotidiano dos leitores, atuando na percepção que estes têm acerca da cidade onde vivem e, mais que isso, contribuindo para que um assunto naturalmente negativo faça parte de seu dia a dia por meio das narrativas jornalísticas. Enquanto dispositivo estruturador de sentidos, as publicações, com a “autoridade” que é atribuída à mídia, privilegiam acontecimentos trágicos e que são profundamente marcados pelo grotesco para se colocar diante de seus receptores. Isso porque o esperado em uma festa de jovens é que haja alegria e boa convivência mas, no entanto, mais uma vez o desentendimento entre dois personagens afeta a normalidade do cotidiano e o trágico toma conta da situação. Nessa antítese entre a festa (que podemos considerar como algo positivo para o convívio social de jovens) e a morte

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(aquilo que todos querem evitar), os jornais se estabelecem como narradores privilegiados dessa história. No entanto, mais uma vez, somente no Pontal encontramos imagens de “ação” ou do “flagrante” jornalístico que mostra vítimas deitadas (na horizontal) à espera de atendimento, enquanto o jornal de Frutal se resume a ilustrar sua manchete com mais uma foto retirada de álbum de família (ou mesmo de redes sociais como o Facebook, Instagram ou Twitter, por exemplo).

Figura 6 - Reprodução da capas dos jornais Pontal e Frutal

Essa situação de utilizar fotos de álbum de família também é encontrada no Jornal Pontal em alguns casos, apesar de termos notado mais frequência desse tipo de imagem no Jornal de Frutal. Porém, a Figura 6 nos demonstra um exemplo em que ambas as publicações recorreram a fotos das vítimas como ilustração para dar suporte àquilo que anunciam:

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Figura 7 – Reprodução da capas dos jornais Pontal e Frutal

As manchetes de ambos os jornais dão conta de um homicídio contra um professor da cidade de Frutal: “Professor frutalense é brutalmente assassinado” e “Adriano foi vítima de latrocínio em Planura” trazem estampadas nas capas fotografias da vítima retiradas de redes sociais ou álbuns de família (não há indicação de créditos nas fotos). A morte é anunciada pelo texto e, acaso a manchete fosse oculta, as imagens poderiam representar algo como coluna social ou simplesmente ilustrar qualquer outra situação. Dessa forma, demonstra-se a necessidade do texto para reforçar o contexto da imagem, garantindo sua perfeita compreensão e interpretação daquilo exposto ao leitor, como bem observa Jorge Pedro Sousa ao falar do texto no fotojornalismo:

Chamar a atenção para a fotografia ou para alguns dos seus elementos (o texto pode, em certas circunstâncias, ser redundante em relação à imagem); Complementar informativamente a fotografia, inclusivamente devido à incapacidade que a imagem possui de mostrar conceitos abstractos; Ancorar o significado da fotografia (denotar a foto), direccionando o leitor para aquilo que a fotografia representa; (SOUSA, 2002, p.76)

Sem a informação textual para complementar e ancorar a imagem, não seria possível atribuir automaticamente sua ligação com a morte. Quem se apresenta ali, dessa forma, não é o professor, mas sim uma vítima de um homicídio. Por mais que esteja “oculta” na imagem, a pessoa que ali se apresenta sorridente ao leitor carrega aquilo que Barthes (1982) vai chamar de noema da fotografia: a morte. No entanto, em várias outras situações, ao analisarmos a imagens do jornal Pontal, percebe-se que nesta publicação a morte vem acompanhada de cenas de ação, do local do crime ou algo que sugira o desenrolar da tragédia, enquanto, via de regra, o

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jornal de Frutal apela para fotos mais como suporte ilustrativo-informativo, faltando-lhe mais cenas da ação ou que identifiquem o local dos fatos:

Figura 8 – Capas do Jornal Pontal e Jornal de Frutal

O jornal Pontal opta por imagens de ação que mostram o local da morte, como carros destroçados e e cenários devastados pelo caos e violência. É usada a técnica do embrião narrativo. Essas fotografias causam impacto imediato no leitor que leva a publicação com o intuito de saber mais detalhes sobre as circunstâncias do óbito. Já o Jornal de Frutal prefere usar como imagens principais, fotos dos autores do crime e das vítimas ainda vivas. Esse outro ângulo de morte, faz com que o leitor queira saber mais sobre a vítima e sua vida ou sobre o suposto motivo do crime quando se trata de foto do autor. As manchetes abusam da palavra morte e suas variações e de conjugações do verbo morrer. Os termos "tragédia", "mais uma" ou "outra morte" também são recorrentes. A morte passa a ser um evento jornalístico e espetacularizado pela mídia. Os jornais buscam de toda maneira personalizar a morte retratada em cada edição. O ordinário passa a ser extraordinário. Ao noticiar esses fatos, os jornais agem como disseminadores de imagens sobre a morte, “que povoam nossa memória, nossas vidas e culturas, e estão sujeitas a cristalizações ou deslocamentos pela ação da cobertura midiática” (VOGEL; SILVA, 2013, p.23).

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6. Considerações Finais A partir do que foi apresentado, apontamos que os veículos continuam seu papel de informar o público, promover debates e difundir ideias, porém, com grande privilégio para o noticiário envolvendo a violência e a morte. Há uma valorização das fotos que, mesmo quando não estão ligadas diretamente à cena dos crimes, contextualizam a informação e inserem a morte no repertório do leitor por meio do texto, como demonstrado no Capítulo 5. A morte e violência são destacadas e sempre elevadas e noticiadas para o maior impacto possível. Há um uso desenfreado pela mídia impressa frutalense da morte, principalmente em caso de violência anômica, transformando-a no suprassumo noticioso. A morte é tema inesgotável e volátil, portanto, constantemente se renova e se repete no universo dos impressos. Para Márcia Benneti (2013, p.153) a morte está no rol dos assuntos capazes de levar o homem ao encontro de sua humanidade por ser um evento fascinante. E de acordo com Portari (2013), essas experiências, cada vez mais, se tornam mais intensas para os leitores de jornalismo impresso da cidade de Frutal, uma vez que, semanalmente, tanto Pontal como De Frutal fazem questão de inserir o tema no cotidiano de seus leitores, tal como o fazem diariamente os jornais populares no país. Diante dos exemplos destacados em nosso período de análises, não há como o leitor da mídia local se ver distante desses fatos. Mesmo que, uma vez por semana, os jornais inserem o conteúdo de violência e morte em seus cotidianos, atuando em sua percepção de vida sobre a cidade e o município. Se, por um lado, Paul Ricoeur nos diz que há um “mundo do texto” e um outro “mundo do leitor”, por outro, os jornais enquanto dispositivos, estrutura os sentidos de seus leitores e, sob o signo da “credibilidade” e por ser um “narrado privilegiado” dos acontecimentos locais, faz com que o “mundo” presente nas capas dessas publicações provoquem reinterpretações do “mundo” onde o leitor está inserido. Um mundo onde a violência e a morte são palavras de ordem e, mesmo diante do curso natural da semana – mantido por meio de notícias como política ou editorial geral sobre a cidade – ela está sempre presente e merece destaque como principal acontecimento que “ordena” a vida “ordinária” de seus receptores.

7. Referências Bibliográficas BARTHES, Roland. A Câmara Clara. São Paulo: Nova Fronteira, 1984.

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BAUDRILLARD, Jean; MORIN, Edgar. A violência do Mundo.Rio de Janeiro: Anima Editora, 2004. MAFFESOLI, Michel. Dinâmica da Violência. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, Edições Vértices, 1987. MAROCCO,

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Jornalismo

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Acontecimento: Diante da Morte. Vol 3. Florianópolis: Insular 2012. MAROCCO,

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Acontecimento: Diante da Morte Vol 3. In: LEAL, Bruno Souza. O realismo em tensão: reflexões a partir da morte como acontecimento nas narrativas jornalísticas. Florianópolis: Insular 2012. MAROCCO,

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Acontecimento: Diante da Morte Vol 3. In: VOGEL, Daisi; SILVA, Gislene. Imagens de morte na primeira página. Florianópolis: Insular 2012. MAROCCO,

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Acontecimento: Diante da Morte Vol 3. In: TAVARES, Frederico de Mello Brandão. A cotidianidade do morrer na vida noticiosa: ambiguidades de um acontecimento jornalístico diário. Florianópolis: Insular 2012. PORTARI, Rodrigo. A construção da violência e da morte nas capas dos jornais Folha de S.Paulo e Agora São Paulo. Dissertação de mestrado defendida junto ao PPG-Com da UNESP. Bauru, 2009. PORTARI, Rodrigo. O trágico, o esporte e o erotismo: a presença de uma tríade temática nas capas dos jornais Super Notícia e Jornal de Notícias. Tese de doutorado apresentado junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMG. Belo Horizonte, 2013. SODRÉ, Muniz. Sociedade, Mídia e Violência. Porto Alegre: Editora Salinas/PUC-RS, 2006. SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O império do grotesco. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. VASCONCELOS, Silvia Inês C.C de (org.). Os Discursos Jornalísticos. Itajaí: Editora da Univali; Maringá: Eduem, 1999.

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