A questão da tradução de super na Exposição sobre o Livro da Teologia Mística, de Pedro Hispano

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Aires A. NASCIMENTO e Paulo F. ALBERTO (Coords.), Actas do IV Congresso Internacional de Latim Medieval Hispânico (Lisboa, 12-15 de Outubro de 2005), Lisboa, Centro de Estudos Clássicos, 2006, pp.963-968.

A QUESTÃO DA TRADUÇÃO DE SUPER NA

EXPOSIÇÃO SOBRE O LIVRO DA TEOLOGIA MÍSTICA DE

PEDRO HISPANO Maria Leonor Xavier O texto da Expositio in Librum de Mystica Theologia Beati Dionysii, que traduzimos sob o título de Exposição sobre o Livro da Teologia Mística do Bem-aventurado Dionísio Areopagita, pertence à tradição dos comentários do Corpus Areopagiticum. Na Patrologia Latina (PL, 122, 267-284), o texto aparece inserido nas obras de João Escoto. Essa atribuição revelou-se, no entanto, ser impossível, uma vez que a Exposição incorpora uma tradução do Livro da Teologia Mística, que é do séc. XII, da autoria de João Sarraceno. O autor da Expositio tem, pois, que ser contemporâneo ou posterior a este tradutor. Pelo menos num dos manuscritos conhecidos, o de Munique (Ms. Clm. 7983, fls. 1 a 132, do séc. XIII), há uma atribuição explícita da Expositio a Pedro Hispano, a qual aparece entre as outras Expositiones dos restantes livros de Dionísio, o Pseudo-Areopagita. Esta atribuição tem vindo a ser debatida no âmbito da questão acerca de Pedro Hispano: a diversidade de obras, que lhe são tradicionalmente atribuídas, pertence a um só Pedro Hispano, o Papa português João XXI, ou a vários autores com o mesmo nome? A questão é antiga e não está resolvida. Em particular, quanto à atribuição a Pedro Hispano da Expositio in Librum de Mystica Theologia Beati Dionysii, os especialistas também se dividem1. Cientes da questão, nós

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Especialistas a favoráveis à atribuição deste texto a Pedro Hispano, Papa João XXI: M. GRABMANN, Handschriftliche Forschungen und Funde zu den philosophischen Schriften des Petrus Hispanus, des späteren Papstes Johannes XXI. Munique, 1936; P. MANUEL ALONSO, «Introdução» in Exposição sobre os Livros do Beato Dionísio Areopagita. Lisboa, 1957, pp.XIX-LXIX; J.M. da CRUZ PONTES, A Obra Filosófica de Pedro Hispano Portugalense. Novos problemas textuais. Coimbra, 1972; J.M. BARBOSA, «O legado do Corpus Areopagiticum no Ocidente. A Expositio in librum de mystica theologia de Pedro Hispano», Cultura, História e Filosofia, 1 (Lisboa, 1982). Especialistas que defendem outras hipóteses: G. THÉRY, investigador da obra de Tomás Galo, abade de Vercelli, chegou a defender, não só a dependência da Expositio relativamente à Extractio – «Inauthenticité du commentaire de la Théologie Mystique attribué à Jean Scot Erigène», Vie Spirituelle, 8, Suppl. (Março, 1923), pp.137-153 –, como até a pertença da Expositio ao autor da Extractio – «Chronologie des oeuvres de Thomas Gallus Abbé de Verceil», Divus Thomas, 37 (Piacenza, 1934), pp.265-277 (Maio-Junho), pp.365-385 (Julho-Agosto), pp.469-496 (Setembro-Outubro); «Catalogue des manuscrits dionysiens des Bibliothèques d’Autriche», Archives d’histoire doctrinale et littéraire du moyen age, 10 (Paris, 1936), pp.210-212; U. GAMBA defendeu esta mesma tese, em «Commenti latini al De Mystica Theologia del Pseudo-Dionigi Areopagita fino al Grossatesta», Aevum, 16 (Milão, 1942), pp.251-271; F. RUELLO negou a atribuição da Expositio a Tomás Galo, pôs a hipótese de atribuí-la a Adão de Marsh, e considerou a dependência da Expositio, não só da Extractio como também da Explanatio, de Tomás Galo, em «Commentaire dionysien en quête d’auteur – le commentaire attribué à Pierre d’Espagne», Archives d’histoire doctrinale et littéraire du moyen age, 19 (Paris, 1953), pp.141-181; J.F. MEIRINHOS dá notícia de ter localizado um outro manuscrito completo do conjunto das Expositiones sobre os livros dionisianos, que o leva a associá-las a um Pedro Hispano dominicano, em «Petrus Hispanus Portugalensis? Elementos para uma diferenciação de autores», Revista Española de Filosofía Medieval, 3

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Aires A. NASCIMENTO e Paulo F. ALBERTO (Coords.), Actas do IV Congresso Internacional de Latim Medieval Hispânico (Lisboa, 12-15 de Outubro de 2005), Lisboa, Centro de Estudos Clássicos, 2006, pp.963-968. não vamos aqui tomar parte nela. Não defendendo tese sobre a identidade do autor, limitamo-nos aqui a adoptar a tradição de atribuição a Pedro Hispano, segundo a indicação do manuscrito de Munique. Na nossa tradução da Expositio in Librum de Mystica Theologia Beati 2 Dionysii , deparámos com algumas dificuldades, que se centram e, de certo modo, se subsumem na questão da tradução de super, como prefixo e como preposição. Trata-se de uma questão de interesse não só filológico como filosófico, uma vez que ela acusa o esforço de expressão e os limites da linguagem humana, que se experimentam em textos de pensamento místico. Trata-se, por isso, de uma questão que permite também introduzir ao texto da Expositio, no seu teor e na sua fidelidade à tradição da mística dionisiana. Saliente-se que este texto incorpora o próprio texto que expõe ou comenta, o Livro da Teologia Mística, de Dionísio, o Pseudo-Areopagita, na versão latina de João Sarraceno, intercalando-se com ele. Temos, por isso, dois textos em presença. A questão de tradução, que vamos analisar, contempla os dois textos. A análise da questão da tradução de super demonstra a impossibilidade de uma tradução uniforme. As soluções, por nós adoptadas para diversos grupos de casos, são aquelas que procuramos justificar a seguir. 1. Super, como prefixo: a alternância de tradução entre “super” e “supra” 1.1. A opção por “supra” A opção por “supra”, para traduzir o prefixo super, justifica-se sempre que neste domina o sentido cimeiro, ainda que transferido para a ordem das realidades espirituais, na qual significa a superação do nível de realidade, indicado pelo termo a que se une como prefixo. Os compostos de super, em que esta opção se justifica claramente, são os seguintes: supersubstantialis (supra-substancial), supersubstantialiter (supra-substancialmente), supersubstantialitas (supra-substancialidade); superintellectualis (supra-intelectual), superintellectualiter (supra-intelectualmente); superessentialis (supra-essencial); superexistens (supra-existente); supermundanum (supra-mundano); supermentalis (supra-mental). Outras soluções de tradução são possíveis, sobretudo aquelas que incluem de algum modo o duplo sentido locativo e intensivo de super, como sejam “ultra” e “mais que”. Por um lado, estas duas soluções poderiam ser aplicadas em quase todos os compostos mencionados, com excepção, pelo menos, para o caso de supermundanum, cuja tradução quer por “ultra-mundano” quer por “mais que mundano” acentuaria muito mais o sentido intensivo do prefixo super, do que o sentido locativo, associado à ideia de superação. Mas também o caso de superexistens, traduzido quer por “ultra-existente” quer por “mais que existente”, tornar-se-ia de difícil compreensão, uma vez que a (1996), pp.51-76; o autor desenvolve e documenta a sua perspectiva em Pedro Hispano, 2 v., tese de doutoramento em Filosofia Medieval, Universidade do Porto, 2002 (texto policopiado). 2 O texto que utilizámos é o que se encontra publicado no seguinte volume: PEDRO HISPANO, Exposição sobre os Livros do Beato Dionísio Areopagita (Expositio librorum Beati Dionysii). Fixação do texto, prólogo, introdução e notas do P. Manuel Alonso, Lisboa, Instituto de Alta Cultura e Centro de Estudos de Psicologia e de História da Filosofia anexo à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1957, pp.473-494.

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Aires A. NASCIMENTO e Paulo F. ALBERTO (Coords.), Actas do IV Congresso Internacional de Latim Medieval Hispânico (Lisboa, 12-15 de Outubro de 2005), Lisboa, Centro de Estudos Clássicos, 2006, pp.963-968. impossibilidade de eliminar totalmente o sentido intensivo destas expressões obrigar-nos-ia a considerar graus de existência, o que não é um pressuposto do senso comum nem um pressuposto amplamente comum em filosofia. No texto, superexistens significa estar acima de todo o existente, significado que é mais precisamente dado pela expressão “supra-existente”. Por outro lado, as mesmas duas soluções, aplicadas a supersubstantialis e derivados, bem como a superessentialis, são potencialmente equívocas, na medida em que, não excluindo o sentido intensivo, podem associar uma conotação de valor aos atributos substancial e essencial. Nesta hipótese, tanto as versões de supersubstantialis, como “ultra-substancial” ou “mais que substancial”, quanto as versões de superessentialis, como “ultra-essencial” ou “mais que essencial”, conotam uma avaliação, a de relevância máxima, e, desse modo, incluem a afirmação de um supremo grau de importância. Tal afirmação não será descabida, a respeito da importância que Deus tem para o crente. Todavia, esta é uma leitura filosoficamente ingénua ou desprevenida, ou seja, uma leitura que não tem em conta os pressupostos filosóficos adequados. No texto, supersubstantialis significa estar acima de toda a substância, que é sujeito de acidentes, em conformidade com a noção aristotélica de substância. De modo similar, superessentialis significa estar acima de toda a essência, que é o ser permanente das coisas, que as define e é objecto de conhecimento inteligível. Note-se que o epíteto de superessentialis é aplicado especialmente ao Verbo divino, porquanto apenas nele susbistem as coisas que passam, isto é, as respectivas essências. Já a aplicação das soluções “ultra” e “mais que” aos casos de superintellectualis e de supermentalis, não só não apresenta inconvenientes como até oferece uma vantagem: é que tanto as versões de superintellectualis, em termos de “ultra-intelectual” ou de “mais que intelectual”, quanto as versões de supermentalis, em termos de “ultra-mental” ou de “mais que mental”, não só significam a superação do intelecto e da mente como co-significam que essa superação se faz ainda pelo intelecto e pela mente, isto é, pelo exercício das forças do intelecto e da mente até exauri-las. Nestes casos, é pertinente articular estreitamente os dois sentidos de super, o intensivo e o de superação, e essa articulação diz-se adequadamente através de “ultra” e “mais que”. Todavia, a solução “supra”, não só precisa melhor o sentido de superação, de super, em todos os casos contemplados, como permanece literalmente mais próxima do prefixo latino do que estas duas soluções. 1.2. A opção por “super” A opção por “super”, para traduzir o prefixo super, justifica-se sempre que neste domina o sentido intensivo, indicando quer o grau superlativo da qualificação quer a intensificação máxima da acção, as quais, qualificação e acção, se exprimem pelo termo a que se une como prefixo. Os compostos de super, em que esta opção se justifica claramente, são os seguintes: superdea (super-divina); superbona (superbondosa); superignotum (superignoto); supersplendens (superesplendente); superclarissimum (superclaríssimo); superpulchrum (superbelo); superlucens (superluzente); superfluens (superfluente); supereffusio (superefusão); superimplens (que faz superabundar), superimplentur (são supersaciadas). Outras soluções de tradução são possíveis, entre as quais a do prefixo “hiper”, o derivado do correspondente grego de super, que obteve um sentido sobretudo intensivo. 3

Aires A. NASCIMENTO e Paulo F. ALBERTO (Coords.), Actas do IV Congresso Internacional de Latim Medieval Hispânico (Lisboa, 12-15 de Outubro de 2005), Lisboa, Centro de Estudos Clássicos, 2006, pp.963-968. De facto, todos os compostos de super, com sentido intensivo, poderiam ser traduzidos por compostos com “hiper”. Mas qual seria, neste caso, a vantagem de verter super em “hiper”, quando o prefixo português “super”, literalmente idêntico ao antecedente latino, desempenha o mesmo papel de modo igualmente satisfatório? Esta solução teria até a desvantagem de criar maior dissonância com os compostos de “supra”, acima considerados: “supra” e “super” são mais afins entre si, fonética e graficamente, do que “supra” e “hiper”. Há também, de novo, as soluções que combinam os sentidos locativo e intensivo de super, como sejam “ultra” e “mais que”. Estas duas soluções poderiam ser aplicadas, sem inconveniente, a todos os compostos de super, com sentido intensivo. Neste âmbito, porém, não há vantagem em substituir a tradução mais óbvia e literal, dada por “super”, pelas versões não literais em “ultra” ou “mais que”. Com efeito, estas só seriam vantajosas, se permitissem uma uniformização da tradução de todos os compostos de super. Ora, atendendo aos inconvenientes, que as mesmas duas soluções acusaram ter na tradução dos compostos de super, com sentido de superação, essa uniformização não é possível. 1.3. Outros compostos de super Há ainda outros compostos de super, que requerem outras soluções de tradução. Referimo-nos aos casos de: superposita causa; superponitur; superveniunt; superveniens. Trata-se, portanto, de compostos verbais. Para o caso do particípio passado superposita, optámos pela tradução de “superior”, obviamente mais adequada do que outras, mais literais, como “sobreposta” ou “posta acima de”. De igual modo, traduzimos superponitur por “é superior a”. Quanto ao verbo supervenire, encontramo-lo em duas ocorrências, no texto da tradução de João Sarraceno, com dois sentidos contrários, e, por conseguinte, insusceptíveis de tradução uniforme. Na primeira ocorrência, sob a forma de superveniunt, o verbo tem por sujeito aqueles que ascendem no caminho espiritual traçado pela teologia mística, e traduz-se adequadamente por “elevam-se acima de”. Em contrapartida, na segunda ocorrência, sob a forma do particípio presente superveniens, o mesmo verbo já tem por sujeito o próprio Deus, no seu gesto descendente de manifestação nos lugares santos, pelo que não admite a mesma tradução adoptada para a outra ocorrência, mas deixa-se traduzir por “sobrevir” ou “vir sobre”. 2. Super, como preposição: a alternância de tradução entre “acima de” e “para além de” Múltiplas são ainda as ocorrências de super, como preposição, nos dois textos em presença. Em ambos, a preposição super tem sentido locativo, indicando o lugar cimeiro de Deus. Confirma esta leitura, o próprio facto de João sarraceno concluir o seu texto de tradução, com a expressão supra tota, isto é, empregando a preposição supra, de sentido dominantemente locativo. Trata-se, como é óbvio, de um lugar cimeiro, não no espaço físico, mas relativo à ordem metafísica dos seres e do conhecimento: acima de toda a substância, sensível e intelectual; acima de todo o conhecimento, sensível e inteligível, humano e angélico. Trata-se também de um lugar cimeiro, relativamente à ordem das afirmações e das negações, com que a teologia louva a Deus: acima da ordem 4

Aires A. NASCIMENTO e Paulo F. ALBERTO (Coords.), Actas do IV Congresso Internacional de Latim Medieval Hispânico (Lisboa, 12-15 de Outubro de 2005), Lisboa, Centro de Estudos Clássicos, 2006, pp.963-968. descendente das posições ou afirmações das teologias catafáticas, bem como da ordem ascendente das ablações ou negações das teologias apofáticas. Daí que, na maioria dos casos, tenhamos optado por traduzir a preposição super pela expressão “acima de”. Todavia, pontualmente, adoptámos a expressão “para além de”: quer em casos de construção negativa, como “nada possuir para além de” (nichil habere super) ou “nada haver para além de” (nichil esse super); quer em casos cujo contexto imediato faz valer e sobressair o sentido intensivo de super, indicando a incircunscrição de Deus ao lugar cimeiro de qualquer ordem, e mesmo a sua independência de tudo o que dele depende, em suma, o seu carácter absoluto. Ocorrências ilustrativas no final do texto [Capítulo V, segundo João Sarraceno] (…); mas, efectuando posições e ablações das [coisas] que estão depois dela, não a pomos nem a retiramos a ela própria, porque acima de toda a posição, está a causa perfeita e unitiva de todas as coisas, e acima de toda a ablação, está a superabundância do que é absolutamente separado de todas as coisas e para além de todas.

(…); set eorum que sunt post ipsam, positiones et ablationes facientes, ipsam nec ponimus nec auferimus. Quoniam et super omnem positionem est perfecta et unitiva omnium causa et super omnem ablationem est excessus ab omnibus simpliciter absoluti et supra tota.

[Exposição de Pedro Hispano] Mas, quando pomos ou retiramos dele o que quer que dele se distinga, nunca o pomos ou o retiramos a Ele próprio, porque acima de toda a posição, está a causa perfeita de todas as coisas, e acima de toda a ablação, está a sua superabundância, separada de todas as coisas e para além de todas.

Set cum quecunque alia de ipso ponimus vel ab ipso auferimus, ipsum tamen nunquam ponimus vel auferimus. Quoniam et super omnem positionem est perfecta omnium causa, et super omnem ablationem est excessus eius ab omnibus et super omnia absolutus.

3. Excessus: a alternância de tradução entre “superação” e “superabundância” No texto da tradução de João Sarraceno, há duas ocorrências do termo excessus, com dois sentidos distintos entre si: na primeira – etenim excessu tui ipsius (cap.I) –, excessus significa superação, como condição de elevação espiritual, e refere-se ao sujeito humano dessa elevação; na segunda – super omnem ablationem est excessus ab omnibus simpliciter absoluti (cap.V) – excessus significa superabundância, e refere-se a Deus, na sua grandeza transcendente. João Sarraceno emprega ainda o particípio presente do verbo excedere, excedens – subiectorum omnia excedenti (cap.I) –, para referir-se a Deus, enquanto transcende tudo aquilo que lhe está sujeito. Nestes três casos, as nossas opções de tradução são literalmente fiéis aos sentidos discriminados. Pedro Hispano, por seu turno, usa abundantemente o nome excessus e o verbo excedere, o que constitui um aspecto característico da sua Exposição. Aspecto que também acusa a irredutibilidade da Exposição de Pedro Hispano à Extracção de Tomás 5

Aires A. NASCIMENTO e Paulo F. ALBERTO (Coords.), Actas do IV Congresso Internacional de Latim Medieval Hispânico (Lisboa, 12-15 de Outubro de 2005), Lisboa, Centro de Estudos Clássicos, 2006, pp.963-968. Galo, posto que se considera que aquela depende desta3. Com efeito, na extracção de Tomás Galo, não se encontra a mesma abundância do uso de excessus e de excedere, que se verifica na Exposição de Pedro Hispano. No texto da Exposição de Pedro Hispano, são múltiplas as ocorrências de excessus, com a principal alternância de sentido e de tradução entre “superação” e “superabundância”. Na verdade, excessus, ora significa superação, isto é, ascensão de grau na ordem do conhecimento, ora significa superabundância, referindo-se quer à união supra-cognitiva com Deus, quer à própria grandeza divina, à luz divina inclusive, que se torna para nós treva, por incapacidade nossa de contemplar tanta luz. Quanto ao verbo excedere, traduzimo-lo quase sempre por “superar”; esporadicamente, por “transcender”. Pontualmente, o próprio autor da Exposição emprega o verbo latino “superare”. Já quanto ao composto de super e do particípio presente excedens – superexcedens – aplicado reiteradamente à superabundância de ser, de saber e de bondade, das pessoas divinas da Trindade, preferimos adoptar uma solução próxima da letra: “que superexcede”. Com efeito, o prefixo super acrescenta intensidade ao verbo excedere, da qual o verbo “superar” não poderia dar senão uma pálida ideia.

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Daí que o texto da Extracção (Thomae Galli Extractio de Mystica Theologia Beati Dionysii Areopagitae) venha incorporado no mesmo volume da edição da Exposição, pp.665-671.

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