Aprendizagem e ferramentas tecnológicas assistidas em ambiente livre

June 14, 2017 | Autor: Fernando Luís Santos | Categoria: Special Education, Accessibility, Open Source and Free Software Studies
Share Embed


Descrição do Produto

Aprendizagem e ferramentas tecnológicas assistidas em ambiente livre Fernando Luís Santos IP-ESE Jean Piaget, Almada [email protected]

Resumo O acto de aprender é básico para o desenvolvimento humano, nesta sociedade complexa em constante mudança é urgente dotar as nossas crianças (todas) das ferramentas necessárias para a sua adaptação. Contudo, a escola mantém-se inalterada não respondendo às necessidades desta época. Quando uma criança tem um computador com ligação à rede, tem uma poderosa ferramenta de desenvolvimento e de participação. Quebram-se barreiras físicas e esta pode literalmente aprender com qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. O software livre e especialmente o GNU/Linux tem desenvolvido um projecto de envolvimento de todo um sistema operativo para qualquer pessoa. A equipa de acessibilidade da Linux Foundation tem apoiado projectos como o projecto GNOME Accessibility (A11y) que tem como pontos fundamentais: •

Desenvolver e promover soluções livres de acessibilidade para utilizadores de interfaces gráficos.



A acessibilidade é um valor fundamental que abrange todos os aspectos do sistema operativo.



Introdução de um modelo embutido no sistema em detrimento de um modelo de aplicações a correr em cima de um sistema. Como resultado deste projecto muitas pessoas com deficiências várias em todo o

mundo, que muitas vezes são pessoas/instituições que não conseguem suportar sistemas operativos proprietários mais soluções de acessibilidade (software e hardware), podem ter acesso a uma interface gráfica moderna canalizando as verbas disponíveis para o custo do hardware. Palavras-chave: acessibilidade, ambiente, aplicação, ferramentas, software livre.

Introdução Segundo a Red Hat (uma das primeiras distribuições de GNU/Linux, raiz de várias distribuições e uma das principais empresas que contribui para o desenvolvimento do kernel e de outras ferramentas e aplicações) existem aproximadamente 500 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência (visual, auditiva ou de mobilidade) em todo o mundo. Essas pessoas muitas vezes encontram dificuldades em utilizar de forma efectiva tecnologias emergentes desenhadas sem ter em conta as suas necessidades. As ferramentas e aplicações de acessibilidade têm sido integradas, de forma voluntária, em distribuições GNU/Linux, interfaces de rede e noutro tipo de tecnologias por serem "a coisa certa a fazer". O acesso igual a tecnologias educativas, profissionais e recreativas tem sido visto como uma necessidade e em termos de legislação têm sido tomados passos para com a criação de normas de acessibilidade e de criação de páginas web. Existem dispositivos de hardware especializados e utilitários que aumentam consideravelmente a usabilidade do GNU/Linux para indivíduos com necessidades educativas especiais. Este artigo é um conjunto de notas soltas com um fio condutor: a acessibilidade com ferramentas tecnológicas recorrendo a sistemas operativos e software livre, nomeadamente uma distribuição: Ubuntu e ferramentas de leitura de ecrã: GNOME ORCA + eSpeak (sintetizador de voz).

Porque se deve escolher GNU/Linux como uma solução de acessibilidade? A grande maioria das distribuições de GNU/Linux oferecem uma solução barata e eficiente para indivíduos com necessidades especiais. O software de código aberto custa muito menos comparado com ferramentas que funcionam noutros sistemas operativos e as ferramentas para GNU/Linux são muitas vezes de download gratuito. Enquanto que o Graphic User Interface (GUI) é conveniente para utilizadores sem dificuldades de visão, inibe muitas das vezes quem tem dificuldades neste campo devido à dificuldade dos sintetizadores de voz em interpretar figuras gráficas. Cada vez mais existe o apelo visual, quer em software educativo, quer nas próprias páginas de internet recorrendo a ferramentas como o flash, GIFs animados para as funções de navegação, etc... sem o cuidado de legendar correctamente os gráficos (basta uma legenda a indicar o que está no gráfico, pelo menos para situar o utilizador). As distribuições de GNU/Linux são excelentes sistemas operativos pois o GUI não é necessário pelo kernel (núcleo de qualquer sistema

operativo). Muitas ferramentas modernas incluindo correio electrónico, notícias, navegadores de internet, calendários, calculadoras, processadores de texto e outras podem correr em GNU/Linux sem GUIs. O próprio ambiente de trabalho podem também ser modificado para minimizar as necessidades que o indivíduo tem em termos de hardware ou software. O desenvolvimento de ferramentas de acessibilidade deixou de ser efectuado por contribuições individuais soltas e desconexas centralizando-se em 2004 como um grupo de trabalho FSGA (Free Standards Group Accessibility Workgroup) que posteriormente se tornou o grupo de Acessibilidade Aberta (A11y) que funciona na Linux Foundation com o apoio da Free Software Foundation (FSF) para estabelecer padrões livres e abertos que providenciem acesso universal a várias plataformas tecnológicas, aplicações e serviços. As tecnologias assistidas promovem no indivíduo uma utilização plena de tecnologia informática apesar das várias formas de capacidades físicas ou cognitivas devido a doença, idade ou deficiência. A GNOME foundation tem dedicado uma atenção especial aos factores da acessibilidade (A11y). Mais significativo é o patrocínio conjunto com a Mozilla Foundation, a Novell, a Google e a Canonical com um valor total 50000 dólares em prémios para ajudar a melhorar a acessibilidade do GNOME. Este anúncio datado de 2008 simplesmente formaliza o que tem acontecido em anos anteriores. O GNOME já inclui ferramentas de acessibilidade como o leitor de ecrã ORCA com uma grande comunidade de desenvolvimento por detrás do projecto. Willie Walker (Byfield, 2008), empregado da SUN Microsystems é um dos responsáveis do projecto ORCA, que tem trabalhado na área desde os anos 80, descreve o estado da acessibilidade do GNOME como uma solução relativamente decente e que se tem desenvolvido rapidamente apesar de reconhecer que ainda não estão ao nível das ferramentas existentes para Windows nomeadamente a nível da compatibilidade com os vários tipos de hardware.

Alguns estudos sobre a utilização de ferramentas de acessibilidade Passos, Vieira e Saheki (2008) comparam vários leitores de ecrã (proprietários como o Jaws e de código aberto como o ORCA) em ambiente de biblioteca. Para os autores existem três formatos principais e acessíveis que podem auxiliar um utilizador com deficiência visual a aceder a documentação escrita: •

Letras ampliadas, segundo Maskort (citado por Passos, Vieira e Saheki, 2008) as

fontes Helvetica e Arial são as ideais em que o tamanho da fonte varia consoante a capacidade de visualização individual; •

braille: a impressão táctil necessita de uma impressora de braille, papel adequado e conhecimentos básicos de escrita para correcção e revisão;



áudio, formato utilizado por leitores de ecrã ou registado em formato de arquivo digital como CDs, podcasts, etc... podendo ser utilizados entre outros em computadores, leitores de mp3 e telemóveis. Esta variedade de formatos pode permitir novas perspectivas de inclusão pois

infelizmente com o advento da escrita e da imprensa aumentou a marginalização da informação pois passou-se a valorizar a informação de forma visual em detrimento da transmissão sonora com a agravante que a tecnologia não acompanhou a adaptação necessária. Outro estudo realizado por Brown e Jay (2008) em Inglaterra sobre leitores de ecrã e navegadores de internet centra a discussão sobre a capacidade tecnológica disponível para que indivíduos com necessidades visuais consigam aceder e interagir. Com o advento da web 2.0 a navegação na internet tornou-se cada vez mais uma experiência interactiva permitindo que partes de uma página sejam actualizadas de forma dinâmica sem ser necessário reler toda a página. Este estudo pretendia descobrir a acessibilidade deste tipo de interacção. A questão base foi: pode-se aceder à informação, e se sim, será que experiência é diferente da de uma pessoa sem necessidades especiais? E as conclusões não são animadoras pois o recurso a tecnologias cada vez mais gráficas e visuais torna a sua leitura muito difícil se não impossível para que tem necessidades especiais, nomeadamente a nível da visão. Um estudo mais prático realizado por Bruckschen, Rigo e Fagundes (2007) no Brasil promove a utilização de software livre recorrendo a uma distribuição GNU/Linux : Ubuntu, ao leitor de ecrã ORCA e ao sintetizador de voz eSpeak obteve resultados muito interessantes com base em requisitos simples: •

O utilizador interagia com a aplicação utilizando somente os dispositivos comuns de entrada como o rato e o teclado;



a solução de voz sintetiza o comando ou a opção seleccionada e reproduz através do sistema de som do computador;



a interface deve ser simples e intuitiva, colorida e os resultados dos comandos e opções serem disponibilizados através do som e não somente através de imagem.

Durante os teste foram considerados os seguintes itens: •

Entendimento das frases sintetizadas pelo eSpeak através do ORCA;



usabilidade do protótipo;



se as funcionalidades propostas foram atingidas. Tendo sido amplamente atingidos todos os objectivos do estudo.

Guia de acessibilidade em ambiente GNOME O ambiente GNOME é de fácil utilização e incorpora várias ferramentas de acessibilidade. Cada aplicação e utilitário é desenvolvido tendo a acessibilidade e a facilidade de utilização. Utilizadores com deficiências físicas como baixa visão ou incapacidades motoras podem utilizar quase todas as funcionalidades do ambiente devido a ferramentas de adaptação disponíveis. Estas ferramentas permitem afinar a aparência e o comportamento do ambiente de trabalho. A possibilidade de facilmente adaptar o ambiente GNOME contribui grandemente para a acessibilidade. Esta secção pretende descrever de forma sucinta as várias opções disponíveis. O ampliador e leitor de ecrã ORCA Esta aplicação permite a utilizadores com visão limitada ou invisuais utilizarem o ambiente de trabalho e aplicações associadas. A aplicação tem as seguinte funcionalidades: •

Leitor de ecrã – permite o acesso de invisuais às aplicações-padrão do ambiente GNOME utilizando o sintetizador de voz e dispositivos de braille. A tecnologia de síntese de voz, descreve o conteúdo exibido no ecrã do computador - a esta tecnologia chama-se Text-to-speech (TTS);



Ampliador de ecrã (lupa) – permite a ampliação do dispositivo apontador (rato ou outro) e a ampliação total do ecrã. A aplicação ORCA permite a sua configuração, quer a nível de comportamento que a

nível de utilização, tal como o tipo de discurso oral, escrito, braille e ampliação. Por exemplo,

pode-se seleccionar o sintetizador de som a utilizar, se o interface braille está activo ou não, e que tipo de ampliação deseja. Pode-se seleccionar que tipo e teclado utilizar e mesmo configurar o teclado normal recorrendo a atalhos (conjugação de certas teclas para executar uma determinada função). Lançando o ORCA pela primeira vez Na primeira vez que o ORCA é utilizado o seu configurador coloca um conjunto de questões: •

Primeiro coloca-se a questão da língua que vai utilizar, neste momento suporta 45 dialectos, basta então digitar o número da sua língua. Não precisa que o ORCA lhe leia toda a lista pois este assume o número 1 como a língua do sistema;



Echo By Word - Esta função instruí o computador a ler as palavras quando o utilizador termina de as escrever;



Key Echo – Esta opção lê todas as letras à medida que são digitadas pelo utilizador;



De seguida é dada ao utilizador a opção de definir a disposição do teclado;



Agora o utilizador define o dispositivo de braille. Esta funcionalidade assume um dispositivo compatível Br1TTY;



Por fim pergunta ao utilizador se quer um monitor braille no ecrã. Este monitor pode de alguma forma permitir a que desenvolve aplicações assegurar-se das correcções entre o texto escrito e o braille. Agora já se pode utilizar o ORCA, basta fechar a sessão e iniciá-la em modo de

acessibilidade. Futuros desenvolvimento do ORCA Nesta secção mostram-se as futuras tendências e as regras definidas para o desenvolvimento e integração da aplicação no sistema operativo. Permite centrar as alterações a curto, médio e longo prazo. Estas tendências e regras foram definidas pela comunidade de utilizadores do sistema operativo, uma das imagens de marca do GNU/Linux. •

Disponível em qualquer altura – Esta aplicação será, na maior parte das vezes a única forma de aceder ao sistema. Assim, deverá estar sempre disponível, incluindo

no início do sistema e nas ferramentas de administração que necessitem de acesso de raiz; •

Resiliente a falhas – Na possibilidade da aplicação falhar ou do sistema do qual o ORCA depende falhar, o sistema deverá ser capaz de recuperar (e reiniciar) de forma correcta;



Interacção com o teclado tradicional – a aplicação deve permitir a navegação no ambiente de trabalho utilizando os atalhos de teclado, não devendo interferir com a sua utilização;



Interacção com outras tecnologias assistidas – é usual os utilizadores utilizarem outras tecnologias assistidas, assim a aplicação deverá coexistir (sem interferir) com essas ferramentas;



Estilo consistente – é expectável que o ORCA seja consistente ao longo de todas as aplicações utilizadas;



Comportamento adaptável e actualizável – a aplicação deve permitir um acesso razoável a todas as aplicações de forma a adaptá-las à utilização de cada indivíduo.



Tempo de resposta aceitável – a aplicação não deverá interferir com o restante sistema, por exemplo, tornando-o lento ou sem resposta;



Capacidade de transmitir informação de sistema – a aplicação deverá apresentar a informação útil tal como a presença de mensagens de correio electrónico, actualizações de sistema, etc...



Desenvolver o som (principalmente a fala) – a infraestrutura do sistema é razoável para sintetizar voz, mas está um pouco ultrapassada a nível técnico pois depende de motores de sintetização para gerir o som. Baseada na experiência de utilizadores e do seu feedback torna-se uma realidade que a sintetização da voz no GNOME chegou ao fim da vida tornando-se necessário adaptar e actualizar a forma como o sistema gere o som em todas as suas vertentes;



Documentação e tutoriais – deverá existir ampla tradução e documentação, tal como boas práticas, etc...

Conclusão O actual desenvolvimento tecnológico tem de ser visto como um todo e colocado ao serviço de todos, sem excepção. A acessibilidade deve auxiliar e viabilizar a inclusão social e educativa. É visível a necessidade de soluções tecnológicas integradas com propostas pedagógicas inclusivas a partir de soluções que envolvam a participação dos principais

visados, sejam pessoas com deficiência ou com dificuldades na aprendizagem. O caminho certo para o desenvolvimento de ferramentas deve ser efectuado em interacção com os públicos-alvo das mesmas. Soluções de acessibilidade inclusivas só trazem benefícios à educação e por sua vez à sociedade.

Referências bibliográficas Brown, A. e Jay, C. (2008). A review of assistive technologies – Can users access dynamically updating information?. HCW – SASWAT Technical Report 2: University of Manchester. Bruckschen, M., Rigo S. J. e Fagundes É. (2007). Desenvolvimento de software educacional livre e inclusão de alunos com deficiência visual. Novas tecnologias na educação. V. 5, 2, Dezembro: CINTED-UFRGS. Byfield, B. (2008). Orca accessibility app makes a whale of an impact. Visualizado em Novembro de 2009 em http://www.linux.com/archive/feature/130942 Liyoshi, T. e Kumar, M. S. V. (editors) (2008). Opening up education – The collective advancement of education through open technology, open content, and open knowledge. Cambridge, Massachusetts/London, England: The MIT Press. Passos, J. R., Vieira R. Q. e Saheki, Y. (2008). Leitores de telas: ferramentas de documentos acessíveis. São Paulo. Anais do XV SNBU. Polleto, C. (2009). Sociabilidade virtual para deficientes visuais: verdade ou utopia?. Trabalho de conclusão da Pós-graduação em Educação Profissional e Tecnologia Inclusiva. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.