Confesso que chorei

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Confesso que chorei

Confesso que chorei. Eu tomava café e lia o jornal, quando vi uma foto de mulher e um título "Namorado confessa ter matado empresária". A foto era de Mônica do Rosário de Oliveira, 37 anos, assassinada por um monstro, o namorado de 42 anos. Ele bateu e bateu com uma banqueta na cabeça de Mônica; depois, cavou uma sepultura e enterrou a pobre moça, sem a dignidade de um funeral, jogando o corpo na cova e cobrindo-o de terra. A vida, os sonhos, as esperanças foram esmagadas a cada pá de terra. Segundo a reportagem, tinha ciúmes porque Mônica ia viajar para ver a filha, que vive com o ex-marido na Alemanha. O ciúme, essa forma abjeta de tentar se apropriar do sentimento e das ações de outro ser humano. Essa moça deveria ter o direito de viver, de sonhar, de tentar realizar os seus sonhos, de curtir e ter prazer, mesmo sabendo que teria momentos ruins, de sofrimento, parte da vida. Entendo que ele esteve preso. Já pedi, e peço a todos os que acreditam, e mesmo aos que não acreditam, uma oração o senhor também, missa pela alma de Mônica e me forço a pedir que inclua a alma desse monstro nas intenções das orações. Gente amada, são dezenas de milhares de homicídios no nosso país, todos os anos, entra ano, sai ano. Penso em que Deus nos deu a vida e o direito à felicidade. Creio nisso. Penso no que essa moça poderia ter sido, não foi e nunca será. Lembro-me de discurso recente de Luís Flávio Sapori no qual enfatizava a desvalorização da vida no Brasil, avaliável pelo número de anos que, quem mata, é privado de liberdade. Meu tio postiço francês, falecido, costumava dizer que "a vida era barata no Brasil". E, por acreditarmos que a vida deve ser valorizada, há quem nos classifique como "linha dura". Aliás, as vítimas não existem no discurso da maioria dos que tratam da Segurança Pública. Por favor, incluam as vítimas, suas famílias e seus amigos no seu pensamento, nas suas preocupações, nas suas teorias. Analisei os textos de vários autores, com variadas posturas, que escreveram sobre o Estatuto do Desarmamento e a maioridade penal. As vítimas não apareceram nesses textos, suprimidas pela percepção e memória ideologicamente selecionadas.
Alguns estados e países já demonstraram que podemos reduzir as mortes e salvar vidas. Deixar as vítimas de fora contribui para que haja mais vítimas. E mais. E mais.
Valorizando as vítimas do passado, reduziremos as vítimas no futuro.
Obrigado
Gláucio Soares

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