Fronteiras

June 4, 2017 | Autor: S. Machado de Aze... | Categoria: Performance, Dance, Theater and Performance Studies
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Quando as fronteiras arte/vida se esgarçam (ou o meu lugar, sempre fora de lugar, sempre fronteiriço) Todo pesquisador realiza seu trabalho a partir da sua própria vida, do seu próprio olhar e do lugar onde se encontra no mundo. E todo pesquisador é um cidadão desse mundo circunscrito ao seu tempo histórico e à sua história de vida. Então minha fala está indissoluvelmente ligada a essa minha história que começou muito antes do meu próprio nascimento e creio se prolongará até depois da minha morte; é ela que dá significado ao que fiz, faço e farei nos próximos anos. O pesquisador nunca caminha só; ele necessita da companhia dos outros que vai encontrando vida afora, acompanhantes reais e acompanhantes teóricos que não conhece pessoalmente, mas que passam a fazer parte da sua jornada e da sua família cultural. Vem desses acompanhantes sem proximidade e de uma relação dialógica com eles através dos livros, de seus escritos e depoimentos, os alicerces de uma busca, mais ou menos circunscrita e seu desenvolvimento. Há também aquelas companhias cuja proximidade física tornam-nas essenciais: parceiros de pesquisa que vivenciam com o pesquisador essa busca interminável de alteridade, de resgate do outro, do outro também em si mesmo, do outro no mundo e do mundo que toda busca traz. Acredito firmemente que o pesquisador artista está em busca de si mesmo, como de resto todo artista. E o pesquisador artista da cena e das artes presenciais termina por investigar-se a si mesmo, detalhada e minuciosamente numa troca ininterrupta com o outro e com o mundo, em tempo presente. Hannah Arendt uma de minhas constantes companhias, e com quem minha pesquisa dialoga há mais de dez anos, fala da necessidade de busca da própria história, uma história que me coloca como ser único entre os meus pares, que me garante em vida um lugar que me foi assegurado por nascimento. Essa unicidade, minha consciência de ser um ser único na sociedade e de ocupar nela um lugar, ao mesmo tempo me livra da massificação e do autoritarismo e me oferece a oportunidade e a possibilidade de iniciar nesse mundo humano e na cultura à qual pertenço, algo novo que só eu mesmo posso oferecer. Mas como essa cientista política, que deu nome a algumas das minhas mais importantes questões chegou relativamente tarde em minha vida precisarei começar do começo. Sou alguém que estuda e pesquisa a atuação do ator contemporâneo. A partir do corpo do ator, de sua escuta de si e do que o envolve e alimenta. Isso ainda
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