Material Didático: O Quilombo dos Palmares

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

QUILOMBO DOS PALMARES: A HISTÓRIA NARRADA

Carlos Eduardo Nicolette – 8576870

Ensino de História: Teoria e Prática Prof. Dr. Maurício Cardoso

São Paulo 2015

INTRODUÇÃO

O Quilombo dos Palmares é um importante tópico a ser discutido nos livros didáticos de ensino básico. Nota-se que nem sempre o assunto é abordado nestes materiais, sobretudo porque, sua história é omitida perante outros temas. Neste sentido, procurou-se construir um capítulo de livro didático que ilustrasse a história de Palmares e, sua relação com a memória que sobrevive ainda hoje nas comunidades remanescentes de quilombo. Para tanto, adotamos uma postura narrativa ao contar essa história, procurando aliar o conteúdo crucial para a compreensão do Quilombo dos Palmares a uma estrutura que facilitasse uma leitura não acadêmica. Visando assim, atingir um público de ensino médio, sugerindo, mais especificamente, o 2º ano. O uso de quadros com informações adicionais, assim como imagens, possibilitou que a leitura levasse a diferentes pontos de compreensão, fazendo uso do apoio visual para a imaginação histórica. Os recursos narrativos usados se referiram, em maior medida, à tentativa de fazer o leitor se aproximar dos personagens da história, colocando-os como agentes de suas ações.

O enredo e a harmonia do Quilombo dos Palmares O maior refúgio de escravos fugidos da história do Brasil se chamou Quilombo dos Palmares, contando em seu auge com 20 mil pessoas. Ele existiu no período em que o Brasil ainda era colônia de Portugal. Seu principal líder foi Zumbi. Há indícios de que o quilombo dos Palmares tenha surgido no ano de 1630 e sido completamente exterminado em 1710. Os quilombos foram uma forma de rebelião contra a condição de escravo e chegaram a oferecer resistência contra o sistema escravista, que obrigava homens e mulheres trazidos da África a prestarem serviços forçados. Os escravos trabalhavam de maneira desumana e sem qualquer tipo de remuneração. Foi na região da Serra da Barriga, na então Capitania de Pernambuco, que Ganga Zumba, Zumbi e outros escravos fugidos formaram o Quilombo dos Mapa da localização de Palmares na Capitania de Pernambuco no ano de 1670. Retirada de: http://www.blackpast.org/files/blackpast_images/Palma res.jpg

Palmares. Este foi atacado diversas vezes. 18 até ser derrotado, demonstrando assim sua grande organização política e militar.

Os quilombolas de Palmares viviam da agricultura de subsistência, da pesca e da caça. Plantavam milho, banana, feijão, mandioca, laranja e cana-de-açúcar. Faziam artesanato com cerâmica, tecido de palha e os excedentes eram comercializados com as populações vizinhas, de tal forma que os colonos chegavam a alugar terras para plantio e a trocar alimentos por munição com os quilombolas.

Descobrindo a origem

Vale destacar que Ganga Zumba foi o primeiro grande líder de Palmares e só depois Zumbi. Em 1678, Ganga Zumba teve papel fundamental ao viajar para Recife, a fim de negociar um acordo com o governador de Pernambuco, Pedro de Almeida. O acordo determinava que, a partir daquela data, todos os escravos fugidos que buscassem refúgio em Palmares

seriam

entregues

às

autoridades

portuguesas por Ganga Zumba. Em troca, o Rei dos

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Mocambo: significa um refúgio de escravos fugidos, que se organizam em torno deste para sua subsistência. Quilombo: assim como o mocambo, a palavra tem origem africana e remete à formação de diferentes regiões com propósitos bélicos em comum, ou seja, podem sem ser vários mocambos. Foi uma denominação comum adotada pelos portugueses para se referir ao conjunto de mocambos formados na região serrana de Pernambuco.

palmarinos teria a garantia de que nenhum filho de Palmares seria escravizado. A preservação deste quilombo estaria garantida e os quilombolas poderiam manter relações comerciais com os colonos. No entanto, alguns dias após esse encontro e sua volta para Palmares, Ganga Zumba foi encontrado morto em circunstâncias misteriosas, fazendo com que seu sobrinho Zumbi chegasse ao comando militar dos quilombolas, posição esta em que permaneceu até o fim de sua vida. No primeiro momento, Zumbi substituiu a estratégia de defesa passiva por um tipo de estratégia de guerrilha, com a prática de ataques surpresa a engenhos, libertando escravos e tomando para si armas, munições e suprimentos, que foram

Retrato de Zumbi, mostrando um homem forte, mas de expressão tranquila e olhar franco. Autor: Manuel Victor. Retirado de http://ipco.org.br/ipco/wpcontent/uploads/2 013/11/Zumbi.jpg

usados em novos ataques, bem como na defesa de sua liberdade. Após algumas investidas infrutíferas contra o quilombo dos Palmares, o então governador da Capitania de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, contratou o paulista Domingos Jorge Velho para destruir a ameaça entoada pelos palmarinos. A partir daquele contrato, assinado na tarde de 03 de março de 1687, os ataques se intensificaram.

A guerra de Palmares Mesmo

dispondo

de

vasta

experiência em guerras de extermínio, os paulistas tiveram grandes dificuldades em vencer as estratégias de resistência quilombola.

Domingos

Jorge

Velho

também teve problemas em contornar a Zumbi e os quilombolas de Palmares na guerra contra os

inimizade surgida com os colonos da paulistas. Ilustração de Henrique Kipper, 1993. Retirado região, vítimas de saques dos de:http://www.oieduca.com.br/misc/quilombo_palmares/imag es/gal5.jpg

bandeirantes em diversas ocasiões.

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Então, sob o forte calor de janeiro de

Os Quilombos nos dias atuais

1694, após um ataque frustrado, as forças dos

Existem diversas comunidades quilombolas no Brasil que têm suas raízes ligadas aos antigos quilombos. Estas comunidades têm grande dificuldades para adquirir uma infraestrutura de tutela do governo, pois suas terras são constantemente alvo de madeireiros, mineradores e grandes fazendeiros. Se fossem reunidas todas as áreas dessas comunidades quilombolas, elas formariam um território do tamanho da Itália ou do estado de São Paulo - são mais de 30 milhões de hectares habitados por uma população estimada em 2,5 milhões de pessoas. Elas estão espalhadas por mais de 800 municípios em todos os estados, à exceção do Acre e de Roraima.

bandeirantes

iniciaram

uma

empreitada

vitoriosa, com um contingente de seis mil homens bem armados e municiados, inclusive com artilharia de fogo. Foi o fim da resistência palmarina. Após este ataque, o quilombo dos Palmares não foi mais o mesmo: tentou resistir a duras penas e com poucos integrantes, mas só sobreviveu até 1710. Além disso, o quilombola Antônio Soares foi capturado e, mediante a promessa

de Domingos Jorge Velho de que seria libertado caso revelasse o paradeiro de Zumbi, acabou entregando o local em que ele se escondia. Então, após meses de buscas feitas pelos paulistas, no dia 20 de novembro de 1695, Zumbi dos Palmares foi encurralado. Fez-se uma batalha, em que o

quilombola

foi

assassinado

por

Domingos Jorge Velho. A cabeça de Zumbi foi cortada e levada para o Recife, sendo exposta em praça pública no Pátio do Carmo. Ficou no alto de um mastro e no centro da praça. Essa cena teve a intenção de servir como exemplo para todos os demais escravos. Como registro deste acontecimento, segue ao lado a carta em que Domingos Jorge

Certifico que assistindo neste Sertão do Palmar fazendo guerra aos negros levantados que nele habitam vendo-os fortificados com uma cerca tão grande e com inumerável poder deles juntos dentro dela, me foi forçoso pedir ao Senhor Governador me socorresse com gente para poder de uma vez acabar com os ditos negros. Certifico que assistindo neste sítio e cerco em que impus aos negros levantados do Palmar os fez obrigar a empenharemse por um rochedo tão inominável que os mais deles pereceram e se espedaçaram pelo dito rochedo. E no tal dia ainda se lhe estreparam dois homens do alcance do dito inimigo em cujo alcance se mataram mais de duzentos negros e se aprisionaram perto de quatrocentos (...). Certifico que depois do sítio em que pus os Negros do Palmar na última desesperação, da qual se urgiu a sua total destruição. Serra da Barriga, nove de Fevereiro 1694 anos. Domingos J. V.

Velho informou o governador sobre o ocorrido:

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Neste documento, Domingos Jorge Velho reafirma sua posição de destaque no jogo de poder entre aquele que domina perante a escravidão e o dominado. O documento ainda traz informações acerca de um possível número de escravos assassinados, bem como, também, o fato de o paulista ter comunicado então governador de Pernambuco da destruição do quilombo. Portanto, ilustra o desfecho do emblemático Palmares. Para sempre Zumbi: Dia da Consciência Negra O “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”, celebrado em 20 de novembro, foi instituído oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. A figura de Zumbi dos Palmares é reivindicada pelo movimento negro como símbolo de legitimação destas conquistas. O dia da Consciência Negra também é visto como fruto dessa reivindicação. Nesta data são realizados congressos e reuniões que discutem temas relacionados ao preconceito racial, as dificuldades encontradas no mercado de trabalho, a marginalização e discriminação, tratando-se também de temas como beleza negra, moda, conquistas e resistências. Outra conquista importante não apenas para o movimento negro, mas também para o patrimônio histórico, é a memória do quilombo dos Palmares, que ainda permanece viva para aqueles que visitam o local onde o quilombo fora instituído. Atualmente, nesta região lá existe o “Parque Memorial Quilombo dos Palmares”, onde é preservado o cenário dessa história de resistência à escravidão. Existe, também, a “Fundação Cultural Palmares”, a qual organiza saraus, encontros entre comunidades da região e outras atividades culturais relacionadas ao quilombo.

ACESSANDO PARA APRENDER ●

Fundação Cultural Palmares: http://www.palmares.gov.br/?lang=en



Revista dos Palmares: http://www.palmares.gov.br/?page_id=6320



Parque

Memorial

Quilombo

dos

Palmares,

na

Serra

da

Barriga:

http://serradabarriga.palmares.gov.br/ ●

Samba enredo sobre Palmares. Salgueiro, 1960: http://letras.mus.br/salgueiro-

rj/683006/

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