O que se come no Natal

May 25, 2017 | Autor: R. Charters-d'Aze... | Categoria: History, Gastronomy, Historia, Gastronomia
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História Ricardo Charters d:Azevedo

O que se comia no Natal há 100 anos I Antigamente havia tantas mesas de Natal quantas as zonas do país - no Alentejo comia-se came de porco ou até cação de coentrada, no Norte o bacalhau e as indispensáveis rabanadas. Depois com o tempo - e a influência da televisão - segundo Maria de Lourdes Modesto, a ceia de Natal dos portugueses foi ficando cada vez maís parecida. A partir do início do Advento, as fanúlias faziam jejum de carne e, na véspera de Natal, no Sul do país, era jejum total até à Missa do Galo. Normalmente os pais serviam um doce para quebrar o jejum, mas somente depois da missa havia finalmente direito a comer. No dia 25, então, era servido um almoço completo e no Alentejo era sempre porco. Peru, nem vê-lo ... E a troca de presentes, ou depois da missa durante a ceia, ou no dia 25 de manhã. A tradição da árvore de Natal é trazida para Portugal pelo rei consorte D.Femando Il, Nas encenações diante das igrejas colocavam-se nas árvores maçãs para lembrar da história de Adão e Eva no paraíso. Mais tarde, as maçãs foram substituídas pelas bolas de vidro. Hoje em dia, a ceia da véspera de Natal tem tanta importância como o almoço de dia 25. Mas, há 100 anos, no Porto, aí sim, havia uma tradição de jantar em família, com bacalhau - cozido ou em pastéis -, polvo guisado, arroz de polvo e vários peixes. Na véspera de Natal, a família reunia-se à mesa para celebrar a festa em conjunto. E Missa do Galo não existia na região. Quando foi viver para Lisboa, no final do século XIX,o escritor Ramalho Ortigão indignou -se contra a Missa do Galo, que não conheceu no Norte e que se praticava em Lisboa. Afirma ele, truculento, que essa missa "dissolve o serão doméstico" e é "uma invasão do lar pela sacristia", um "intrometimento sacerdotal" que interrompia um jantar com uma missa. "Os padres, sem de modo algum lhes discutirmos o muito que eles sabem do pecado, não sabem nada acerca da família". No Norte, ninguém rezava pelo Menino Jesus à meia-

I Jornal de Leiria 5 de Janeiro dê 2017

DR

-noite. A essa hora toda a gente estava sentada à mesa, à volta de um polvo ou de um bacalhau. Só as fanúlias da nobreza nortenha fugiam à tradição. No final da II Guerra Mundial, o bacalhau começou então a espalhar-se por todo o país. O Estado Novo (1933 -1974) via no bacalhau um prato "simples" e "humilde" que ajudava a educar o povo a ser poupadinho e bem-comportado. Com a distribuição de bacalhau garantida pelo Estado, a ditadura aproveitou para impor uma propaganda nacional em defesa do bacalhau, tomando-o tradição em todo o país. A principal função do então ministério da Economia, nos anos 50, era garantir que a importação de bacalhau era suficiente para todos tivessem, no Natal, o "fiel amigo" no prato. Era tal a ligação do "bacalhau" com a função do ministério da Economia que quando, na sua dependência, criou o Instituto Superior Técnico (IST),para que, ultrapassando o ensino teórico universitário, conseguisse formar e colocar técnicos na indústria para a desenvolver, chamaram ao 1STa "universidade do bacalhau"! Em Portugal, aliás, o bolo-rei nunca foi consensual. A receita foi trazida para Lisboa em 1869 pelo dono da Confeitaria Nacional, Baltasar Rodrigues Castanheiro Júnior, que provou, pela primeira vez, o bolo-rei em Paris e começou a vendê-lo na Confeitaria. Rapidamente, o bolo se tomou um sucesso especialmente na época do Natal. Mas com a implantação da República, um bolo com "rei" no nome virou um ultraje. A venda foi proibida pelo Estado e só a gula e a imaginação dos portugueses é que o conseguiram manter vivo. Antes que os políticos percebessem o que se estava a passar, já as pastelarias vendiam o mesmo bolo, chamando-lhe Bolo de Natal, Bolo de Ano Novo ou até Ex-Bolo-Rei. E tinham sempre uma fava e uma pequena prenda. Texto escrito de acordo com a nova ortografia

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