Por que Juan se afastou da bebida de Jacinto Benavente: uma tradução

May 27, 2017 | Autor: Rodrigo Conçole | Categoria: Translation, Teatro, Jacinto Benavente
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Por que Juan se afastou da bebida – Jacinto Benavente – Tradução de Rodrigo Conçole Lage

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Por que Juan se afastou da bebida

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O monólogo “Por qué se quitó Juan de la bebida” de Jacinto Benavente estreou no “Teatro Solís” de

Insulto ao público: peças teatrais »

Montevidéu, Uruguai, em 30 de agosto de 1922. Foi publicado em 1923 no volume 28[2] do “Teatro” (p. 197-

Integrantes ISSN 2237-0617 Normas de publicação

Profa. Maria Aparecida Barbosa (UFSC).

com as peças “ La Cenicienta” e “Más allá de la muerte”. Ele faz parte dos monólogos do dramaturgo nos quais

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a ação é desenvolvida por um só personagem e em uma única cena. Outras obras desse gênero são: “De

Prof. Dr. Sérgio Medeiros (UFSC).

alivio[3] ” (1897), “En este Madrid”[4] (1903), “Cuento inmoral[5] ” (1905) e “Caridad[6]” (1911).

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Site sobre Ecopoesia (Universidade de Alberta/Canadá) Sobre

JUAN:

“… à procura de autor”/Entrevistas »

E-mail: [email protected]

200), de suas “Obras Completas ”, pela editora “Librería de los Sucesores de Hernando” de Madrid, juntamente

Qualis (CAPES) – B5

Teatro na Praia/ Textos Criativos »

Profa. Dra. Dirce Waltrick do Amarante (UFSC).

Não bebo. Eu disse que não bebo. Que! Rides? Que antes bebia? O sei muito bem. Que bebia e me embebedava?… Aí tens. Assim era. Quantas vezes saí daqui com vocês todos sabem e todos puderam ver! Algumas vezes fostes para censurar-me. ‹Não bebas tanto, Juan!— me dizia —. Que isso não pode ser bom…› Eu não sei se era. Nem é por isso o me privar da bebida. Tampouco bebia eu antes por beber; eu nunca fui um bêbado…; bebia porque era a única coisa que me fazia esquecer de tudo…, de minha desgraça.Vocês já sabem; aquela mulherzinha minha, a mãe de meu filho; aquela mulher que era pra mim to’o[7]o mundo… Com o que havíamos passado até nos vermos casados como Deus manda! Porque com ela não podia ser de outra maneira, que era honrada como não havia outra, sem ofender a nenhuma. Seus pais não queriam nos deixar casar; ela ganhava um jornal[8] muito bom com seu oficio; Seus pais eram egoístas, a queriam pra eles; eu era um pobre tipógrafo aprendiz e meu jornal não dava pra na[9]; mas… nos queríamos muito, nos parecia que com o querer-nos já na[10] podia nos faltar[11]. Seus pais podem tido razão, mas… o que nos fizeram passar!; E ao fim eu me apliquei e já ganhava o bastante, e ela tanto quanto eu, e já nos críamos os donos do mundo e falamos muito claro e muito forte, e não havia outro remédio que casar-nos, e nos casamos… e éramos felizes…, felizes… Em nossa casa não entrava nunca a aflição; a espantávamos a risadas, a canções, a beijos. Que hoje saíram duros os grãos de bico?… Venha a rir e nos apedrejar com eles. Que se acabou o carvão antes do fim de mês?… Comeremos fiambre[12]! Que se queimou o cozido?… Pois não é pra que nos queimemos nós… E assim sempre… Então, e os passeios dos domingos? e o teatro?…, Quando nos sobrava pra ir ao teatro… Pra toda a semana tínhamos o que nos dizer; e sempre juntos, que até quando nos separávamos pra ir cada um para nosso trabalho eu pensava que a tinha ao meu lado, e eu falava com ela, e ela o mesmo, e se eu estava satisfeito do que fazia, falava comigo mesmo como se o dissesse a ela: ‹O que você acha?… Eu não sou nada!›; e se andava indescente[13], igualmente, como se ela me ouvisse: ‹Mas vê tu se serei depravado[14]!›; e eu ria sozinho como se ela estivesse ali para rir comigo. Esta era a nossa vida. Depois veio o garoto, e o que vou dizer; mais cuidado,

isso sim; mais gastos; algumas vezez problemas, mas gostava de tudo!; e assim, se antes era alegria se beijar cara a cara, era a glória de Deus beijar a cara do menino, que também ria, porque foi a primeira coisa que aprendeu o condena’o, que parece que o atraia, aprendeu a rir conosco. E assim seguimos, e o menino já tinha quatro anos, e nisto ela me cae doente, e doente foi, que durou oito dias. Não podia acreditar!… Não podia ser!… Tanto não acreditava, que ainda com o meu filho em meus braços, acreditava tê-la ali, como sempre; e ainda riamos meu filho e eu; e só quando eu me dei conta de que faltava outro riso, eu começava a chorar como um louco, e o menino também chorava, asustao de me ver chorar assim, porque ele não podia se dar conta, como eu, do que eu tinha perdido. Então foi quando comecei a beber, e quanto mais bebia, me parecia vê-la; e em minha embriaguez falava com ela. Quantas vezes meu filho ao me ouvir, se aproximou de mim e me dizia: ‹Mas onde está mamãe? Onde está mamãezinha?… Eu quero vê-la.› ‹Olhá-la…, aqui…, aqui está…, aqui está›, lhe dizia eu, e ele, assusta’o, me abraçava chorando, e só ao lhe ver chorar eu me dava conta; e envergonhado de mim e de que meu filho compreendesse como estava, eu o deitava em nossa cama, nossa cama!…, e eu me deixava cair no chão a chorar, a chorar… Uma noite eu voltava à minha casa, como tantas outras, bêbado, muito bêbado. Ao entrar encontro o menino dando gritos, dando saltos, rindo, chorando, como si houvesse ficado louco… ‹O que acontece? O que é isso?… Mas o que tens?› Logo vi o que era: uma garrafa de aguardente que eu havia deixado, estava vazia. ‹Mas… O que fizeste, endemoniad’o[15]? … Que te mato!…›; e ao levantar a mão para lhe castigar, ele, então, com medo, se abraçou aos meus joelhos, me olhou… —não podem imaginar como me olhou— e me disse, pra não esquecer nunca mais: ‹Não me bata, pai; não foi por nada de errado; foi por ver a mamãezinha como você a via…› Compreendem agora porque não bebo, nem voltarei a beber em minha vida?

FIM

Por qué se quitó Juan de la bebida Jacinto Benavente

JUAN:

No bebo. He dicho que no bebo. ¡Qué!, ¿os reís? ¿Que antes bebía? Demasiado que lo sé. ¿Que bebia y me emborrachaba?… Ahí tenéis. Así era. ¡Cuántas veces he salido de aquí con vosotros como todos sabéis y todos habéis visto! Alguna vez fuisteis para afeármelo. ‹¡No bebas tanto, Juan!—me decíais —. Que eso no puode ser bueno…› Yo no sé si lo era. Ni es por eso el quitarme de la bebida. Tampoco bebía yo antes por beber; yo nunca fui borracho…; bebía porque era lo único que me hacía olvidarme de todo…, de mi desgracia. Ya lo sabéis; aquella mujercita mía, la madre de mi hijo; aquella mujer que era pa mí tóo lo del mundo… ¡Con lo que habíamos pasado hasta vernos casados como Dios manda! Porque con ella no podía ser de otra manera, que era honrada como no había otra, sin ofender a ninguna. Sus padres no querían dejarnos casar; ella ganaba muy buen jornal con su oficio; Sus padres eran egoístas, lo querían pa ellos; yo era un pobre aprendiz tipógrafo y mi jornal no llegaba pa ná; pero… nos queríamos mucho, nos parecía que con querernos ya ná nos podía faltar. Sus padres puede que tuvieran razón, pero… ¡lo que nos hicieron pasar!; y al fin yo me aplique y ya ganaba lo bastante, y ella tanto como yo, y ya nos creímos los amos del mundo y hablamos muy claro y muy fuerte, y no hubo más remedio que casarnos, y nos casamos… y éramos felices…, felices… En nuestra casa no entraba nunca la pena; la espantábamos a risotadas, a canciones, a besos. ¿Que hoy salían duros los garbanzos?… Venga a reír y apedrearnos com ellos. ¿Que se acabó el carbón antes de fin de mes? … ¡Comeremos fiambre! ¿Que se ahumó El guisado?… Pues no es pa que nos quememos nosotros… Y así siempre… Pues ¿y los paseos de los domingos?, ¿y el teatro?…, cuando nos sobraba pa ir al teatro… Pa toda la semana teníamos que contarnos; y siempre juntos, que hasta cuando nos separábamos pa ir cada uno a nuestro trabajo yo pensaba que la tenía a mi lado, y que hablaba con ella, y ella lo mismo, y si estaba yo satisfecho de lo que hacía, me decía yo mismo como si se lo dijese a ella: ‹¿Que te parece?… ¡No soy yo nadie!…›; y si andaba torpe, igualmente, como si ella me oyese : ‹¡Pero ves tú si seré bruto!›; y me reía yo solo como si ella estuviera allí para reírse conmigo. Esta era nuestra vida. Después vino el chico, y a qué voy a deciros; más cuidaos, eso sí; más gastos; alguna vez apuros, ¡pero qué a gusto todo!; y así, si antes era gozo besarse cara a cara, era la gloria de Dios besar la cara del muchacho, que también se reía, porque es lo primero que aprendió el condenao, que parece que lo traía aprendió a reírse como nosotros. Y así seguimos, y el chico tenía ya los cuatro años, y en esto me cae ella mala…, y mala fué, que duró ocho días. ¡No podia creerlo!… ¡No podía ser!… Tanto no lo creía, que todavía con mi hijo en brazos, creía tenerla allí, como siempre; y todavía nos reíamos mi hijo y yo; y sólo cuando yo caía en la cuenta de que faltaba otra risa, yo me echaba a llorar como um loco, y el muchacho también lloraba, asustao de verme llorar así, porque él no podía

darse cuenta, como yo, de lo que había perdido. Entonces fué cuando empecé a beber, y cuanto más bebía, me parecía verla; y en mi borrachera hablaba con ella. ¡Cuántas veces mi hijo al oírme, se acercaba a mí y me decía : ‹¿Pero dónde está madre? ¿Dónde está mamita?… Yo quiero verla.› ‹Mírala…, aquí…, aquí está…, aquí está›, le decía yo, y él, asustao, se me abrazaba llorando, y sólo al verle llorar me daba yo cuenta; y avergonzao de mí y de que mi hijo comprendiera cómo estaba, yo le acostaba en nuestra cama, ¡nuestra cama!…, y yo me dejaba caer en el suelo a llorar, a llorar… Una noche volvía yo a mi casa, como tantas otras, borracho, muy borracho. Al entrar me encontro al chico dando gritos, dando saltos, riendo, llorando, como si se hubiera vuelto loco… ‹¿Qué te pasa? ¿Qué es eso?… ¿Pero qué tienes?› Pronto vi lo que era : un frasco de aguardiente que yo había dejado, estaba vacío. ‹Pero… ¿qué has hecho, condenao?… ¡Que te mato!…›; y al levantar la mano para castigarle, él, entonces, con el miedo, se abrazó a mis rodillas, me miró… —no podeis figuraros cómo me miró— y me dijo pa no olvidarlo nunca: ‹No me pegue usted, padre; no ha sido por nada malo; fué por ver a mamita como usted la veía…› ¿Comprendéis ahora por qué no bebo, ni volveré a beber en mi vida?

FIN

[1] Graduado em História (UNIFSJ). Especialista em História Militar (UNISUL). Professor de História da SEEDUC-RJ. Email: [email protected]. Itaperuna, Brasil. [2] Disponível em: . Acesso em: 03 out. 2015. [3] Ao contrário dos demais, este monólogo possui duas personagens, sendo que uma delas não possui nenhuma fala. [4] Ele não foi incluído nos 38 volumes do “Teatro” de Jacinto Benavente. A única informação encontrada a seu respeito é uma nota no jornal ABC, do dia 9 de Abril de 1903, intitulada “Beneficio de Maria Guerrero“, que menciona a sua encenação. Portanto, não conseguimos descobrir se chegou a ser impresso, nem se existe algum manuscrito do texto. A nota pode ser acessada na internet. Disponível em: . [5] Publiquei uma tradução deste monólogo. Disponível em: . Acesso em: 03 jul. 2016. [6] Publiquei uma tradução deste monólogo. Disponível em: < http://qorpus.paginas.ufsc.br/insulto-ao-publicopecas-teatrais/caridade-monologo-jacinto-benavente-traducao-rodrigo-concole-lage/>. Acesso em: 03 jul. 2016. [7] Em algumas regiões de língua espanhola o “d” é suprimido no final de algumas palavras, característica que foi mantida na tradução. Segundo alguns é uma pronúncia típica da Andaluzia. [8] Pagamento dado por de um dia de trabalho. [9] Em diferentes momentos vamos encontrar no texto em espanhol a utilização de “pa”, a forma coloquial em

espanhol da preposição “para”, o que levou a utilização do “pra”. Em espanhol o texto utiliza a forma coloquial “pa ná” em vez de “para nádie” [para nada]. [10] Em espanhol “ná” é a forma coloquial para “nádie”, no português não temos nada parecido o que nos levou a utilizar esse espanholismo, [11] Literalmente “nada nos podia faltar”. [12] Carne ou presunto preparado para ser comido frio. [13] “Torpe” no original. Segundo o dicionário da Real Academia Española (http://lema.rae.es/drae/) “torpe” tem, entre outros, o sentido de “lascivo”, como em nossa língua, e o de “rude”, que é um sinônimo da palavra “bruto” em espanhol, usada na seqüência. Mas, como a palavra “bruto” em espanhol tem também o sentido de “torpe”, o que não ocorre no português, o texto em espanhol gera uma ambigüidade impossível de ser preservada no português. [14] A partir do que foi dito na nota anterior não traduzimos “bruto” como rude ou grosseiro, como seria usual. O dicionário da Real Academia Española dá a palavra “bruto”, entre outros, o sentido de “vicioso, torpe, ou excessivamente desregrado em seus costumes, o que justifica a escolha da palavra “depravado”. [15] “Condenao” no original. Ver nota 3 a respeito da supressão do d. Segundo o dicionário da Real Academia Española condenado tem, entre outros, o sentido de “endemoniado, perverso, nocivo”.

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