Prevenção do consumo de álcool e drogas: Da centralidade da informação à centralidade da relação

June 4, 2017 | Autor: Maria Carmo Carvalho | Categoria: Drugs And Addiction, Family, School, Community psychology prevention mental health promotion
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© 2015 by Aletheia – Associação Científica e Cultural. All rights reserved. Estudos sobre o Álcool: Contributos para a Prática, 2015, p. 105-140 DOI 10.17990/Axi/2015_9789726972372_105

CAPÍTULO 5 Prevenção do consumo de álcool e drogas: Da centralidade da informação à centralidade da relação Neste texto reúnem-se saberes de três áreas disciplinares – a Psicologia do Comportamento Desviante, a Psicologia da Educação e as Neurociências – com uma missão: dotar os leitores a quem se levanta o desafio de implementar intervenção preventiva, com um conjunto de racionais, estratégias e conteúdos informativos adaptados ao estado atual do saber sobre prevenção e uso de substâncias psicoativas nos jovens. Muito se avançou desde as primeiras abordagens nesta matéria, baseadas na difusão do medo e na inoculação social através de informações acríticas e desajustadas das necessidades dos jovens. Sabemos hoje como é importante uma aposta na dimensão relacional quando pensamos intervenção dirigida a jovens. Sabemos também da necessidade de uma abordagem que privilegie segurança e conhecimento científico. E sabemos da centralidade dos contextos Escola e Família. Por isso nos centramos aqui em Pais e Professores os dois grandes atores na missão de Educar. Frequentemente perdidos na direção a seguir na abordagem do tema do uso de substâncias entre jovens, a eles se destina este esforço, assim como a todos os Técnicos que com eles trabalham.

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M. Carmo Carvalho é licenciada em Psicologia pela Universidade do Porto e mestre em Psicologia do Comportamento Desviante pela mesma Universidade. Atualmente encontra-se a finalizar o doutoramento em Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. É docente da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa (Porto), onde integra a equipa docente do Mestrado em Psicologia – Especialização em Psicologia da Justiça e do Comportamento Desviante. Dedica-se desde 1999 à investigação na área da Psicologia do Comportamento Desviante com especial interesse pelo fenómeno-droga no seu encontro com a população juvenil. É autora de várias publicações, com destaque para o livro “Culturas Juvenis e novos usos de drogas” (Porto, Campo das Letras). Dedica-se ainda à supervisão e coordenação de projetos de intervenção na área da prevenção, redução de riscos e intervenção em crise nos consumos de SPA. [email protected] Lurdes Veríssimo é licenciada em Psicologia pela Universidade de Coimbra, mestre em Psicologia Social e doutorada em Psicologia da Educação pela Universidade do Porto. É Professora Auxiliar na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa (Porto), onde é também Coordenadora do Mestrado em Psicologia. É coordenadora e dinamizadora de várias formações e workshops no âmbito da Educação Parental e Formação de Professores. Tem experiência de consulta psicológica com crianças, adolescentes e famílias. É co-editora e autora de dois capítulos no livro “Aprender a Educar – Guia para Pais” (Gaia, Fundação Manuel Leão). [email protected] Teresa Summavielle é doutorada em Ciências Biomédicas pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto e licenciada em Bioquímica pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Atualmente é investigadora do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) onde é responsável pelo grupo de investigação em Biologia da Adição, é docente na Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Instituto

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Politécnico do Porto e é responsável pelo módulo de Neurotoxicologia do Programa Doutoral em Neurociências da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. A sua investigação incide sobre os efeitos da exposição a drogas de abuso a nível da função cerebral no desenvolvimento, com especial foco no cérebro adolescente. É também responsável por ações de prevenção no consumo de droga na população adolescente. TSummavi@ ibmc.up.pt

Introdução Durante as últimas décadas do século XX, o crescimento do fenómeno da toxicodependência, muito por via do problema da dependência à heroína, ofereceu-nos relativamente ao tema das drogas uma representação coletiva que associava os atores deste fenómeno a cenários de degradação física, pessoal e social (Carvalho, 2007; Fernandes, 2002). Popularizou-se, sobretudo nos grandes centros urbanos, a figura do junkie ou toxicodependente de rua, sinónimo de medo, insegurança e marginalização. Quando julgávamos, porém, ser esta a definição do problema das drogas nas sociedades contemporâneas começa a tornar-se visível, a partir da década de 90, uma outra face do fenómeno-droga associada à emergência da música eletrónica, com “novas” substâncias como protagonistas, presentes em contextos (recreativos) altamente valorizados pela juventude (Carvalho, 2007). Nesta sequência, e abreviando várias etapas duma história recente, somos confrontados na atualidade com um incontestável e globalizado crescimento dos consumos de substâncias psicoativas (SPA) nos países ocidentais, em padrões de uso não-problemático marcados pelos policonsumos, com uma forte associação aos contextos recreativos, cenário este que se desenvolve em paralelo com a também evidente diminuição do consumo problemático (Carvalho, 2007; Negreiros & Magalhães, 2009; Negreiros, 2003). Estas tendências não são alheias, porém, à compreensão mais clássica do processo de construção da identidade juvenil que engloba a experimentação de diferentes papéis e, associada a esse processo, uma propensão à experimentação e exploração – comportamentos até certo ponto esperados e naturais nesta fase do ciclo vital, mas que trazem consigo o envolvimento em condutas de risco (Lerner & Galambos, 1998). Torna-se necessária, deste modo, uma compreensão sobre a temática do envolvimento

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em comportamentos de risco na adolescência enquanto tarefa normativa, não sendo de esperar como desfecho mais típico, uma progressão nestas condutas até uma trajetória desviante; bem pelo contrário: é sabido que a grande maioria dos adolescentes fará uma trajetória de adaptação positiva através da adolescência e até à entrada na idade adulta (Lerner & Galambos, 1998)). Este processo foi especialmente caracterizado no Reino Unido através de estudos epidemiológicos que recorreram a métodos longitudinais aplicados a uma vasta amostra de jovens britânicos em idade escolar. Parker, Aldridge e Measham (1998) e Aldridge, Measham & Williams (2011) têm vindo a desenvolver, na tentativa de compreender esta evolução, uma explicação assente no conceito de normalização dos usos de drogas capaz de explicar a forma como o uso de SPA parece ter saído, definitivamente, da esfera dos comportamentos específicos de certas subculturas (marginais ou não), para serem assimilados aos modos de estar das culturas juvenis ditas mainstream. Assim, e segundo os autores, a normalização explicaria não só o crescimento objetivo dos consumos, como também fenómenos paralelos, de que são exemplo o aumento da disponibilidade e acessibilidade às diversas SPA; o aumento da experimentação de SPA entre os jovens em idade escolar e um abandono espontâneo ou diminuição dos usos em intensidade e frequência, a partir da entrada na idade adulta (25-30anos); um expressivo saber relativo às SPA e seus usos, que pode ser encontrado mesmo junto daqueles que se abstêm; a abertura à experimentação (no futuro), que cresce com a idade, sobretudo entre aqueles em que não ocorreu experimentação durante a adolescência; e uma aparente acomodação do uso de drogas (no passado, representado como um ilícito), a vários níveis da vida social e cultural, muito visível a partir da esfera mediática (Parker, Aldridge, & Measham, 1998; Aldridge, Measham & Williams, 2011). Neste contexto social e epidemiológico são consideráveis os desafios que se levantam à prevenção e educação sobre drogas na Escola e na Família. E são igualmente de assinalar as evoluções a que temos assistido, na comunidade científica, sobre a forma de conceber o papel das informações na mediação da comunicação sobre drogas e na prevenção dos riscos associados ao seu uso. Hoje sabemos, fruto de extensivos resultados da avaliação dos diferentes modelos de prevenção, ser necessário recorrer a estratégias que valorizem a experiência direta e o conhecimento que os jovens já possuem sobre as substâncias, sobre os seus efeitos e seus riscos, de uma forma integrada

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e harmoniosa com o seu desenvolvimento e processo educativo (Lerner & Galambos, 1998; Negreiros, 2000). Conhecemos também as vantagens de uma abordagem que parte de um conhecimento realista sobre as experiências que têm maior probabilidade de acontecer durante a juventude, e do papel que a experimentação do uso de SPA ocupa neste conjunto (Rosenbaum, 2007). Estes pressupostos têm vindo a apurar-se simultaneamente com a estabilização de novas perspectivas sobre o que é prevenir, em que nos temos afastado da visão tradicional do Modelo de Saúde Pública (Caplan, 1964), e nos temos aproximado da avaliação do risco (Carr, 2006) e, mais recentemente, da promoção do bem-estar (O’Connell, Boat, & Warner, 2009).

Esta nova compreensão, no que implica de abertura aos princípios de promoção do desenvolvimento humano e adaptação psicológica, dá o mote a este texto que pretendemos que venha responder à necessidade de clarificar junto dos profissionais que têm por missão a intervenção com jovens, seus pais e professores, a importância da comunicação sobre o uso de SPA que parte do reconhecimento da centralidade da dimensão da relação (secção 2), suportada nos conteúdos informativos cientificamente validados que são chamados a alimentar essas estratégias (secção 3). A Prevenção no domínio do abuso do álcool e outras SPA – da iatrogenia das informações à promoção do bem-estar Desde muito cedo, ainda em inícios do século XX que, de forma intuitiva e pré-científica, o fornecimento de informação foi eleito como estratégia central da prevenção do abuso do álcool e outras drogas (Negreiros, 1998). O paradigma da instrução didática, o primeiro demarcar-se nas práticas em prevenção, populariza-se precisamente pela ênfase na transmissão de informação sobre as drogas integrada nos curricula escolares, focando a intervenção nas dimensões cognitivas dos alunosalvos, e perseguindo a abstinência dos jovens e a inibição da experimentação como objetivos da prevenção (Negreiros, 1998). Vários programas surgiram sob os pressupostos gerais do modelo informativo - o produto direto do paradigma da instrução didática - de que são exemplo a ideia de que a iniciação ao consumo resulta da ausência de informações relevantes sobre os efeitos das drogas; de que existe

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uma relação entre conhecimentos, atitudes e comportamentos face às drogas; de que o aumento de conhecimentos, associado à difusão do medo e alarme, se torna num obstáculo ao seu uso porque desencadeia uma resposta racional (“Eu sei que as drogas são prejudiciais”) e/ou emocional (“Tenho medo das consequências provocadas pelo abuso de drogas”) de índole protetora; ou de que a exposição a informações contraditórias permitiria inocular as atitudes dos jovens, protegendo-as do risco do consumo (princípio da inoculação social) (Negreiros, 1998). Suportando-se no estudo dos fatores que garantiam a produção de uma comunicação persuasiva contrária ao consumo, o modelo informativo promoveu investigação sobre as variáveis relativas ao emissor (e.g. credibilidade, atratividade), à mensagem (e.g. tipo de apelo, estilo bilateral versus unilateral, etc.) e ao recetor (e.g. diferenças individuais, variáveis como a autoestima ou a ansiedade). Persistiu-se nas opções preventivas das décadas seguintes, muito para além do que os resultados da sua avaliação poderiam permitir validar, já que o fornecimento de informação não só viria a ser descredibilizado na sua eficácia em promover abstinência e diminuir padrões de utilização, como veio a ser demonstrada a sua iatrogenia. (Negreiros, 1998). Morgan e Hayward (1976 cit in Negreiros, 1998) reportaram como as “lições” sobre drogas tornaram os sujeitos mais interessados pelas drogas e menos contrários à sua utilização; Stuart (1974 cit in Negreiros, 1998) concluiu que alunos do 9º ano de escolaridade que participaram num programa de informação sobre drogas apresentaram níveis mais elevados de consumo de álcool, marijuana e LSD quando comparados com os estudantes que não tinham sido alvo do mesmo programa; e 75% dos jovens universitários a quem foi fornecida informação sobre drogas consumiam pelo menos uma substância, em contraste com 57% dos estudantes que nunca tinham participado nessas intervenções (Hanson, 1980 cit in Negreiros, 1998). Desde cedo que um conjunto de estudos começou a demonstrar não só a falha das estratégias informativas em atingir os seus objetivos, como também a sua responsabilidade na promoção do consumo e experimentação, fruto de processos como a diluição dos preconceitos que inibem o adolescente de usar drogas; levá-lo a considerar-se como potencial utilizador; promover a dessensibilização relativamente ao uso de SPA; e conduzir à experimentação através da estimulação da curiosidade sobre as mesmas (Negreiros, 1998; 2000). Estas conclusões protagonizaram a transição do paradigma da instrução didática para o paradigma sócio-psicológico, com o afastamento do modelo informativo e com a aproximação aos modelos humanista e

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cognitivo-comportamental, que submeteram as estratégias informativas a forte crítica. Deste modo, o reducionismo e linearidade das abordagens informativas da primeira geração de programas de prevenção (Botvin & Dusenbury, 1989) foram substituídos por propostas que retiraram centralidade à informação, passando a encará-la como apenas mais uma componente dos programas a par de outras; e que voltaram o enfoque para a promoção de competências de vida (life-skills) a partir de modelos de influência social (Negreiros, 2000). Com o aumento da preocupação com a avaliação da eficácia das intervenções preventivas, e já numa segunda geração de programas de influência cognitivocomportamental (Botvin & Dusenbury, 1989), os programas tornaram-se mais complexos, destacando-se o seu carácter multicontextual (envolvimento não só da Escola, mas também da Família e da Comunidade); o seu carácter multidimensional (reconhecendo que o consumo é parcialmente determinado pela ausência de competências específicas ao nível social, de tomada de decisão, de expressão emocional, de autocontrolo, etc.); tornam-se mais intensivos; passam a privilegiar as metodologias interativas; e passam a ser implementados por agentes percebidos como próximos da população-alvo (como acontece no recurso à educação pelos pares) (Cuijpers, 2002; Negreiros, 2000; Veríssimo, Carvalho, Guimarães, Silva, Aguiar, & Caetano, 2008). Não se tratou tanto, com este movimento, de erradicar a informação como componente dos programas, mas antes de lhes conferir um outro estatuto e contexto, no respeito pelos critérios identificados pela avaliação. Assim, e ainda que a informação tenha abandonado o seu carácter hegemónico na prevenção sobre abuso de álcool e outras drogas, é consensual que sejam utilizadas enquanto estratégias específicas, contando que sejam asseguradas condições fundamentais ao seu bom uso. Essas condições, como destaca Negreiros (2000), consistem em garantir a combinação de informações com outras estratégias gerais (como o treino de competências sociais); garantir conteúdos que contribuam para uma visão complexa (biopsicossocial) do fenómeno de uso de SPA; escapar a conteúdos generalistas, focalizando antes em SPA específicas e diretamente relacionados com as necessidades, conhecimentos e experiências da população-alvo; oferecendo conteúdos sobre consequências imediatas e a longo-prazo do consumo; voltadas para o ajustamento de expectativas normativas sobre a extensão do consumo entre jovens; e privilegiando o recurso a metodologias ativas na sua obtenção (Negreiros, 2000). Passa a assumir-se, globalmente, que a informação sobre drogas

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deve surgir integrando um projeto mais amplo de comunicação positiva com o adolescente suportada numa sólida base relacional. Deste modo, é uma orientação importante a possibilidade do envolvimento em diálogos francos entre um adulto (pai ou professor) e um adolescente, que privilegia a partilha de informação precisa no reconhecimento dos benefícios (por e.g. prazer, diversão) que os jovens consumidores atribuem aos consumos (Cruz & Machado, 2010); que escuta as opiniões do adolescente e o incentiva a desenvolver pensamento crítico e a procurar informação fidedigna (Alarcão, 2006); que estimula o jovem a encontrar as suas conclusões ao invés de impor ideias (Castilho, 2007). São critérios que se apresentam bastante mais adaptados ao que é hoje a compreensão geral para a intervenção preventiva, e para o campo do risco associado ao uso de SPA em particular. Como atrás referíamos, um longo percurso foi entretanto atravessado desde que Caplan (1964) apresentou a sua conceção de prevenção a partir do modelo de saúde pública, com um forte enfoque na prevenção do aparecimento da doença. A definição de saúde, reconhecida hoje como sendo biopsicossocial e distanciada da preocupação exclusiva com o corpo físico e com a esfera da doença, implicou a renovação das práticas e da terminologia aplicável ao domínio da prevenção, passando esta a definir-se, antes de mais, pela sua missão de promover um estado positivo de saúde, bem-estar e desenvolvimento humano (OMS; Springer & Phillips, 2009). No que toca às franjas mais jovens, tal implica uma atenção não apenas à eliminação do risco e das ameaças ao desenvolvimento, mas sobretudo um enfoque nos aspetos positivos do desenvolvimento emocional. Deste modo, prevenir o aparecimento de comportamentos-problema como o uso de SPA mas também de outros tipos, passa atualmente não apenas por prevenir o risco, mas também por promover competências protetoras e desenvolvimento psicológico. A pais e professores colocam-se, fruto da centralidade destas esferas na emergência de fatores de risco e de proteção (Institute of Medicine & National Research Council, 2011) desafios fundamentais, reunidos num denominador comum, que é o enfoque na relação. No pólo da Parentalidade são reconhecidos fatores protetores a existência de um adulto apoiante no universo relacional de um jovem, que oferece suporte emocional, oportunidades de desenvolvimento positivo, que está recetivo perante as expectativas e objetivos de um jovem; e o tipo de contexto relacional em que regras e normas de conduta são negociadas e estabelecidas (Kumpfer, Olds,

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Alexander, Zucker, & Gary, 1998). No pólo da Escola, levantam-se vários desafios à figura do Professor, sobre a qual recaem inúmeras responsabilidades (por vezes excessivamente ambiciosas) no que toca não só à informação, como à sinalização de problemas e implicação na intervenção sobre os mesmos. Ainda assim, a relevância da componente relacional mantém a sua centralidade, já que dela dependem muitos outros fatores de sucesso como a disponibilidade do docente para envolver-se na criação de redes de suporte social multicontextuais (Família, Escola, Aluno) (Jesus & Ferriani, 2008); para atuar como modelo de conduta e desenvolver relações suportadas na confiança e na orientação (Fletcher, Bonnell, & Hargreaves, 2008); para implementar boas práticas como a integração curricular das informações e mensagens preventivas, superando as limitações dos recursos disponíveis (Negreiros, 2000). Deste modo, enformada pela componente relacional, a abordagem de Escola e Família à prevenção no campo do abuso do álcool e outras SPA, abandona o “discurso do medo” que antes se acreditava inocular resistência ao consumo, e aproxima-se duma abordagem honesta, pragmática, que elege a promoção da segurança dos jovens como prioridade, que toma em linha de conta os contextos sociais em que o uso frequentemente ocorre e as disposições individuais do utilizador, que oferece conteúdos suportados em evidência científica, que não confunde “uso” com “abuso” – ou seja, uma abordagem baseada na realidade (Rosenbaum, 2007; Skager, 2007). Estratégias relacionais e comunicacionais para Pais e Professores

Encontram-se, em seguida, um conjunto de orientações práticas para o desenvolvimento de prevenção de uso de SPA suportada numa sólida base relacional, pensando especificamente nos pais e, depois, nos professores, a quem é colocado o desafio de integrar esta temática na sua interação com adolescentes e jovens. Longe de esperar atingir, com estas propostas, qualquer espécie de panaceia para a educação eficaz sobre drogas, as autoras procuram simplesmente sintetizar o produto de um trabalho desenvolvido em múltiplas vertentes da investigação e intervenção sobre as drogas e a educação nos últimos anos. Várias fontes de experiências contribuíram, deste modo, para a produção dos conteúdos que se seguem. A primeira delas resulta, incontornavelmente, das solicitações da

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comunidade a que se procura oferecer resposta sob a forma de formação a alunos e professores em meio escolar, iniciativas de educação parental, supervisão a projetos de prevenção, etc. Um estudo exploratório realizado junto de pais e professores conduzido recentemente com o objetivo de caracterizar as suas necessidades de conhecimento e perceções sobre o fenómeno, ofereceu igualmente um importante ponto de partida, por permitir constatar como a preocupação sobre os conteúdos se encontrava desfasada do reconhecimento da centralidade da relação (Carvalho & Veríssimo, 2009). A docência e investigação que cada uma das autoras desenvolve individualmente, nos campos da psicologia da educação, psicologia do comportamento desviante e neurociências oferecem também um poderoso acervo de recursos que se sentiu necessidade de transformar em saber útil às comunidades. É com esta motivação que se apresentam em seguida, e sem hierarquia específica, um conjunto de estratégias articuladas de modo a sintetizar conhecimento científico atualizado na área da educação sobre drogas, numa linguagem inteligível e adequada às necessidades dos agentes educativos em questão. Separaram-se, em secções distintas, orientações para pais e depois para professores, porque se atendeu à especificidade da relação que em cada contexto (Escola e Família) se estabelece com o adolescente. Esta organização não despreza, naturalmente, o facto das orientações contidas para uns, poderem ser igualmente pertinentes para outros. São estratégias que, no seu conjunto, resumem a convicção partilhada com Rosenbaum (2007), quando afirma (no original): “Prevention is fundamentally about caring, connected relationships and an open exchange of information. There are no easy answers, just thoughtful conversations” (p.11). Estratégias para Pais Investir na relação parental. A família atravessa diversas fases ao longo do seu ciclo de vida. Uma dessas fases, complexa, difícil de gerir e com grandes desafios à dinâmica familiar é precisamente a fase da “família com adolescentes”. Um dos aspetos que caracteriza esta etapa é a transferência da relevância antes conferida aos pais, para o grupo de pares. Na adolescência o grupo de pares é hipervalorizado, e a família é (aparentemente) desvalorizada. Esta perceção por parte da família leva frequentemente a alterações extremistas na postura parental. É de facto importante que os pais reconfigurem a relação parental em função destas novas necessidades

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dos seus filhos. Mas, apesar das manifestações comportamentais muitas vezes dissonantes, os adolescentes continuam a precisar de sentir a presença dos seus pais e ser orientados por estes. Nesse sentido é muito importante que os pais reconheçam a importância de reforçar a relação parental, para que esta seja verdadeiramente afetiva e securizante. É no contexto de uma relação parental desta qualidade que os adolescentes se sentirão mais confiantes para expor as suas dúvidas e abordar o assunto das SPA. Conhecer e respeitar o grupo de amigos. Mas sem procurar controlá-los. Os pais nunca vão conseguir controlar totalmente o impacto do grupo de amigos, nem afastar o jovem de todos os contextos em que existam SPA, ou outras ameaças à sua segurança e desenvolvimento… Assim, a lógica não pode ser a do controlo do que é externo ao adolescente, mas antes o desenvolvimento das ferramentas internas. A promoção das competências pessoais e sociais dos adolescentes aumentará a probabilidade destes conseguirem antecipar consequências, serem assertivos, perceberem a diferença entre uso e abuso de SPA, saber “dizer não”… A lógica é dotar os adolescentes da capacidade de fazer escolhas livremente, lidando de forma eficiente com a pressão dos pares e não querendo controlar todas as situações externas que os pais percecionem como ameaçadoras no domínio das SPA. Participar na vida escolar dos filhos. Comunicar e articular com a escola. Os adolescentes passam a maior parte do seu tempo na Escola. Os pais devem garantir que conhecem como é que os jovens estão a aprender, como está a ser a sua integração social, como passam os tempos livres e os espaços sem-aulas, que relações têm com os professores... Reunir com os professores é uma estratégia indispensável para conhecer uma grande parte da vida dos jovens, a sua adaptação psicológica, a sua socialização, assim como uma fonte precoce e eficaz de deteção de possíveis problemas. Promover a ocupação de tempos mortos. Prevenir o aparecimento de um problema relacionado com SPA implica uma ação planeada antecipadamente. Uma iniciativa útil poderá ser manter os adolescentes ocupados, sobretudo nos espaços e tempos livres de aulas, através de atividades extracurriculares disponíveis na escola ou na comunidade … Esta estratégia tem a vantagem adicional de promover competências variadas nos jovens (sociais, físicas, musicais, ou outras…em função das atividades escolhidas).   Interessar-se genuinamente pela vida dos filhos. Não julgar. Dar espaço e contexto à expressão, pelos adolescentes, do que estes têm a dizer sobre as suas vidas, sobre

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os seus sentimentos é o ponto de partida para uma ação inteligente, refletida e pertinente, na prevenção de um problema relacionado com SPA. Esta deve ser uma missão construída no quotidiano com a demonstração de interesse pelas atividades do jovem. Os pais devem esforçar-se por manter uma postura não-avaliativa, sem indignações... Desta forma, o jovem tenderá muito mais frequentemente a procurar espontaneamente a opinião e a orientação do adulto, porque sentirá que se pode expressar livremente. Trata-se de um desafio difícil – ouvir, conter os receios e evitar incorrer em excessos de admoestação. Apesar de todos os receios que surgem com o conhecimento de factos da vida de um adolescente que preferiríamos não saber acontecerem, um Pai tem razões para sentir-se agradecido quando tal nível de partilha acontece. Uma relação aberta, de confiança com os pais pode ser o elemento mais protetor perante um eventual problema de abuso: “o jovem deve saber que os adultos mais importantes na sua vida, estão preocupados antes de mais, com a sua segurança; e que têm alguém a quem recorrer quando precisarem de ajuda numa situação difícil” (Rosenbaum, 2007, p.19). Estimular competências pessoais e sociais no dia-a-dia. Tal como referido anteriormente, o desenvolvimento de competências pessoais e sociais é fundamental no âmbito da prevenção das SPA. Assim, é importante aproveitar as situações de vida quotidianas para estimular e promover estas competências pessoais e sociais. Exemplificando, os adolescentes podem ser envolvidos em tomadas de decisão de situações familiares (por exemplo, decidir o destino de férias), ajudados a antecipar consequências dos seus comportamentos (por exemplo, perceber que consequências terá se não estudar), ou estimulados no seu sentido de responsabilidade (por exemplo, a gerir a mesada). Indiretamente, estas situações poderão auxiliar o adolescente ao nível da prevenção do uso de SPA. Monitorizar, enquanto figura parental, o seu próprio comportamento em casa. Os pais devem apresentar-se perante o filho como um modelo. Isso significa que o seu comportamento deve ser equivalente ao discurso que adota. O que exige ou quer promover, deve ser também o que faz. Tal implica abster-se de todos os comportamentos que pretende prevenir, de que fumar é um exemplo. Não fugir do tema “Drogas”. É importante que os pais reconheçam a importância de falar com os seus filhos sobre SPA, que não fujam do assunto. No entanto, não há regras nem receitas de quando e como fazê-lo. O importante é ir integrando o tema nos assuntos do dia-a-dia. Será fundamental privilegiar uma postura honesta e baseada

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em informação científica, tomando-a como ponto de partida. A probabilidade de assim acrescentar conhecimento útil e promotor da segurança dos seus filhos é maior. Aproveitar oportunidades… Se surge uma notícia na televisão ou no jornal sobre SPA, pode ser um momento oportuno para naturalmente discutir o assunto. É fundamental que os pais saibam aproveitar estas oportunidades! Aproveite espaços em que o tema das SPA surge (na TV, no cinema, nos media…), para intencionalizar mensagens preventivas, protetoras e de promoção da segurança. Pode ser também importante escolher pessoas, espaços e tempos próprios para uma conversa sobre SPA. O adolescente pode preferir falar só com o Pai ou só com a Mãe. Deve fazê-lo num espaço tranquilo e com o tempo suficiente de começar e acabar uma conversa. Aprender. Para poderem ter uma base científica para fornecer informação fidedigna sobre SPA, é importante que os pais aprendam. Não é fácil estar a par de todos os conhecimentos sobre efeitos fisiológicos, psicológicos e sociológicos do álcool e outras SPA. Mas essa é uma responsabilidade dos pais. É um esforço que implica ler, pesquisar, fazer perguntas, familiarizar-se com as características da cultura juvenil e de todos os canais (media, internet, redes sociais, etc.) valorizados por esta. Nesta iniciativa, há que garantir que as fontes têm uma base com evidência empírica e científica. Neste sentido, neste capítulo é apresentada uma síntese de informações sobre álcool, cannabis, cocaína e ecstasy (ver secção 3). Apoiar a procura de informação. Recorrer a materiais de apoio. Quando uma “conversa sobre SPA” é necessária, muitos pais têm dificuldade em saber como começar. Usar suportes e materiais da literatura como ponto de partida é uma opção. O mais importante, porém, é basear essa iniciativa num interesse por partilhar conhecimento e informações cientificamente validadas, que possam acrescentar conhecimentos específicos e úteis aos jovens, que estejam para além do que naturalmente são capazes de descobrir pelos seus próprios meios. Os pais devem, sobretudo, distanciar-se de um discurso simplista de “não às Drogas!” que, sem mais, ficará também por acrescentar qualquer dado útil à sua segurança. Quando os pais não souberem responder a questões levantadas, deverão reconhecer isso mesmo e apoiar o jovem a encontrar respostas para as suas perguntas (na internet, nos recursos da comunidade, junto de especialistas, etc.). Esta dimensão interativa de aprendizagem é normalmente mais eficiente e efetiva. Tomar a iniciativa. Apesar de ser imperativa a disponibilização para pais de fontes de informação credíveis e baseadas em evidência científica, a ênfase deve ser

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colocada num trabalho em rede, a partir da comunidade, baseado ou não na escola, mas que permita um trabalho conjunto de orientação para a implementação de estratégias articuladas nos diferentes contextos dos jovens. Não moralizar. Não amedrontar. Tal como referido anteriormente, o diálogo com adolescentes deve ser isento de julgamentos. Reforçamos aqui a ideia de que o objetivo nunca deve ser o de implementar um discurso moralista ou provocador de medo. Esse tipo de discurso não informa, não esclarece, nem cumpre nenhum objetivo neste domínio. Com maior probabilidade, esse tipo de discurso reforçará a ideia por parte dos adolescentes que os pais não os compreendem; reforçará a vontade de voltar/continuar a consumir para desafiar a autoridade parental; ou pelo menos, eliminará qualquer possibilidade de o adolescente voltar a partilhar com os pais a experiência do consumo. O importante é que os adolescentes sintam que os pais os respeitam e que estão ali para os apoiar, com uma postura compreensiva e um interesse genuíno. Ser honesto e concreto. É fundamental ser preciso e concreto. O desenvolvimento cognitivo dos adolescentes caracteriza-se por uma grande necessidade de concretização da informação para que esta possa ser verdadeiramente processada e integrada. Informações vagas, não fundamentadas têm reduzido impacto nos adolescentes. Não interessa referir, por exemplo, “As drogas são más” ou insistir em mensagens simplistas de rejeição do consumo, que não desenvolvem mais argumentação. Interessa concretizar o discurso, utilizando informações verdadeiras, fundamentadas e claramente formuladas (por exemplo: “Quem consome ecstasy pode ficar cansado e deprimido durante dias”). Escutar ativamente. Mais do que compreender as causas gerais dos adolescentes para consumir SPA, importa que cada família tente compreender as causas concretas dos seus filhos. E para isso é preciso escutar. Perceber se está perante uma situação de pressão dos pares e necessidade de aprovação, de redução de ansiedade provocada por outra causa qualquer, ou apenas curiosidade e experimentação, que provavelmente resultará em uso mas não em abuso. Partilhar histórias pessoais cuidadosamente. Perante a dúvida comum de saber se devemos ou não, enquanto adultos, partilhar o que foram as nossas experiências enquanto adolescentes, confrontados também com possíveis experiências de uso de SPA, não existe uma resposta simples. Existe o receio legítimo de poder, deste modo, estimular e validar o interesse do jovem na experimentação. Uma partilha do

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adulto, a este nível, poderá todavia ter o mérito de tornar o adulto num confidente mais credível – mas nem todos os detalhes precisam de ser partilhados para este efeito… Distanciar-se de mitos. Existem muitos mitos em torno do uso de drogas. Por exemplo: “Se eu não deixar o meu filho sair à noite ele não consumirá drogas”; “Se o meu filho consome drogas é porque eu falhei na sua educação”; “Consumir álcool não é tão grave ou perigoso do que fumar charros”… É importante que se mantenha atualizado e informado, para poder também desmistificar algumas destas ideias preconcebidas e afastar-se de pressupostos distorcidos e pouco realistas. Reconhecer a diferença entre “uso” e “abuso”. Com a intenção de evitar a experimentação de substâncias pelos jovens, as mensagens preventivas cometem frequentemente o erro de confundir “uso” e “abuso” de SPA. Não só é comum o erro de confundir os conceitos, como se exagera a definição, considerando com frequência que “qualquer uso de uma substância ilegal” é “abuso”… Acontece que um jovem rapidamente aprende a diferença entre as duas formas de relação com as SPA, até porque vive rodeado de exemplos em que substâncias de uso mais comum (como o álcool, por exemplo) são usadas, sem serem abusadas. É preciso não esquecer que por muito receio que um adulto tenha sobre o possível descontrole do uso de SPA de um adolescente, os dados científicos confirmam que uma vasta maioria de jovens que experimentam SPA (legais ou ilegais), não se torna toxicodependente ou consumidor problemático. Apesar de qualquer uso de SPA envolver sempre risco, é necessário falar sobre as mesmas de uma forma realista que, entre outras coisas, distinga adequadamente estas duas situações. Reconhecer a normatividade da experimentação.   A necessidade de experimentação das SPA deve-se a muitos fatores e é de esperar que tenha feito, ou venha a fazer parte, em algum momento, da vida dos adolescentes. Sabemos que o consumo de algumas substâncias muito problemáticas no passado (como é o caso da heroína) está a diminuir, assim como a toxicodependência que lhe está associada. Estão a emergir padrões de uso em policonsumo (uso de várias substâncias, de forma não regular, mas com picos de utilização e de forma combinada entre si), associados a alguns contextos recreativos. Trata-se de um fenómeno globalizado, com enormes desafios para encontrar as estratégias mais adequadas para manter os jovens seguros, enquanto atravessam esta fase da sua vida. Neste contexto, a experimentação de substâncias por um adolescente não pode ser diretamente interpretada como uma falha ou negligência das responsabilidades que os pais têm enquanto educadores.

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Há que reconhecer que, com uma grande probabilidade, um adolescente irá, pelo menos ocasionalmente, experimentar substâncias. Saber como reagir em situações de emergência. Perante um problema real relacionado com o uso de SPA por um adolescente, e principalmente em situações de emergência, os pais devem saber como proceder. Os pais devem, por exemplo, saber como lidar com um adolescente embriagado ou em coma alcoólico (por exemplo, de modo a prevenir asfixias), e quando chamar os serviços de emergência médica. A questão da identificação do consumo problemático, ainda que configure um cenário menos provável, é uma preocupação frequente dos pais, que não tem resposta fácil. Muitos dos programas disponíveis para o tratamento da toxicodependência apresentam modelos rígidos e que carecem de avaliação sobre a sua eficácia. Os pais devem desconfiar de abordagens “militaristas” ao tratamento, e informar-se sobre os programas disponíveis que melhor se adaptam ao adolescente e fase do problema em questão. Estratégias para Professores  Apostar na relação pedagógica.   Está demonstrado que a qualidade da relação professor-aluno pode ter um impacto significativo na evolução do uso de SPA (Fletcher, Bonell, & Hargreaves, 2008). Assim, a promoção da qualidade da relação professor-aluno apresenta-se como uma característica dos programas de reconhecida qualidade. Os professores deverão investir seriamente nas suas relações pedagógicas, assumindo que um educador de qualidade é o que é capaz de respeitar o aluno, mesmo quando desaprova o seu comportamento. Interessar-se genuinamente pelos seus alunos. Uma postura de desinteresse pelos problemas do aluno faz com que o adolescente desenvolva uma conceção de si mesmo como tendo pouco valor ou pouca importância (Jesus & Ferriani, 2008). É essencial que os professores sejam credíveis e demonstrem interesse genuíno pelo bem-estar dos seus alunos, pelo seu desenvolvimento académico mas também pessoal. Ao vincular-se positivamente com cada aluno, o professor está a contribuir para a construção de uma autoestima sólida e positiva, protetora do envolvimento não só do uso de substâncias, como de um vasto conjunto de comportamentos de risco. Conhecer as características do desenvolvimento humano na adolescência. A adolescência é um período de desenvolvimento complexo. É uma fase de múltiplas

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mudanças, nomeadamente a nível físico, cognitivo e social. A construção da identidade é uma das tarefas desenvolvimentais desta fase, mas é simultaneamente responsável pela típica instabilidade comportamental e afetiva (que tem, apesar de tudo, um carácter normativo). Enquanto interlocutores privilegiados dos jovens, os professores devem compreender e conhecer as características da adolescência enquanto fase do desenvolvimento psicológico. Só assim atingirão um nível de conhecimento que lhes permita refletir sobre o significado que assume, aqui, o envolvimento em comportamentos de risco como o uso de SPA (Jesus & Ferriani, 2008). Monitorizar o seu próprio comportamento na escola.   Também o professor é inevitavelmente um modelo para os seus alunos. Como tal, o professor deve monitorizar o seu próprio comportamento no espaço escolar, abstendo-se de todos os comportamentos que pretende prevenir (por, exemplo fumar), e revelando os comportamentos que pretende estimular nos alunos (por exemplo, uma alimentação saudável). Adaptar a educação sobre SPA aos currículos escolares. A investigação que tem avaliado a eficácia dos programas de prevenção implementados em meio escolar tem demonstrado que há mais vantagens em integrar as mensagens preventivas nos currículos já existentes, do que criar programas com currículos especialmente concebidos para o efeito (Negreiros, 2000). Alguns exemplos: em Biologia, podem abordar-se os efeitos das SPA no Sistema Nervoso Central; em Psicologia pode abordar-se o impacto das SPA sobre a mente e o comportamento; em Química pode explorar-se o que contêm as diferentes substâncias; em Sociologia pode abordar-se que grupos usam SPA e porquê; em História pode explorar-se as diferentes formas com que politicamente se tem lidado com o tema… Usar métodos ativos e participados.   Vários autores têm vindo a referir-se à importância dos professores utilizarem métodos de ensino mais interativos e adaptados à diversidade cultural dos seus alunos (Fly, 2004 cit in Rosenbaum, 2007). Se se decidir desenvolver e implementar um programa de prevenção e educação sobre SPA, é fundamental adotar algumas estratégias que garantam que esse é um processo participado pelos próprios alunos a que o programa se dirige. Assim, o que se pode fazer é, desde o início, envolver os seus alunos na própria avaliação das necessidades da intervenção (através de entrevistas, grupos de discussão ou caixa de perguntas…). É urgente conhecer o grau de informação que os seus alunos já apresentam sobre as temáticas que se vão abordar – deste modo não se incorrerá

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no grave risco de fornecer informação sobre substâncias que os jovens não sabiam existir, referindo efeitos que lhes despertam curiosidade pela experimentação, e destruindo tabus que têm um efeito protetor associado. Consultar os adolescentes sobre as estratégias que mais sentido lhes fazem e valorizar a interação, a partilha de experiências e os métodos ativos, em alternativa à mera exposição, parecem ser úteis (Skager, 2006). A discussão que promove o envolvimento, a confiança, o respeito mútuo, e se desenvolve no pleno reconhecimento das experiências e capacidades mentais dos adolescentes é mais produtiva. Reconhecer que “dizer não”, não chega…  Pedir a um adolescente que se abstenha completamente de experimentar álcool e outras substâncias enquanto atravessa a fase da sua vida de maior tendência para correr riscos, poderá ser um pedido irrealista de formular… Ao limitar-se a apregoar a mensagem da abstinência, dificilmente chegará a comunicar efetivamente com os jovens junto dos quais é mais urgente entrar em contacto – precisamente aqueles que admitem a possibilidade de experimentar substâncias, que o fazem ocasionalmente, ou para os quais o uso acontece já numa base regular. Estar informado. Ser crítico.   O adolescente possui muitos recursos para estar informado sobre as diferentes SPA - adquire esse nível de informação através dos pares, dos media, da internet... Aos professores resta, necessariamente, investir na aquisição de conhecimentos e informação que possam complementar as fontes informais que os jovens já dominam, com conteúdos de natureza mais formal e que possam acrescentar rigor e evidência científica àquilo que o adolescente já sabe. Neste processo, os professores devem procurar, ainda, ser críticos relativamente à forma como o próprio conhecimento sobre as SPA é concebido e difundido, uma vez que o modelo proibicionista fez proliferar explicações tradicionais e autoritárias e limitou muito o debate sobre o uso de SPA (Tupper, 2007). Não acreditar no “mito da escalada”.  Existe a crença largamente difundida, de que o uso de certas SPA definidas como “SPA leves”, conduz, inexoravelmente, ao uso de “SPA duras” como a cocaína e a heroína. Acontece que a investigação recente não dá qualquer suporte a este dado. A vasta maioria de utilizadores de cannabis não chega, como sabemos hoje, a progredir nos usos de SPA até àquelas consideradas “mais perigosas” (e.g. Advisory Council on the Misuse of Drugs, 2002 cit in Rosenbaum, 2007). Um dos inconvenientes desta crença é desprezar o facto de que, num conjunto menos frequente de situações, o uso de tabaco, álcool ou cannabis pode

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transformar-se num problema de dependência também merecedor de intervenção específica. Neste sentido, o importante é que os professores conheçam os seus alunos, os seus fatores protetores e os de risco, de forma a compreender a possível evolução e escolher a intervenção mais ajustada. Evitar o “discurso do medo”.  Durante muito tempo persistiu a crença de que se o jovem acreditar que as SPA são perigosas, abster-se-á de usá-las… Esta crença suportou, e suporta ainda, muitos programas de prevenção cuja principal estratégia consiste em apregoar um discurso assente no “medo relativamente às SPA”. Porém, de acordo com o que sabemos hoje (e.g. Negreiros, 2000), esta estratégia não é eficaz. Os jovens convivem com inúmeros exemplos de uso de substâncias, seus ou dos seus pares, e resistem naturalmente a uma mensagem que contradiz claramente a sua experiência direta. Estas mensagens ficam, então, votadas ao descrédito e promovem a desconfiança em relação ao discurso dos adultos. Fornecer informação objetiva e realista.   A alternativa ao “discurso provocador de medo” é uma abordagem com informação neutra, objetiva, realista, baseada em evidência científica. O fundamental é informar sobre os riscos e os efeitos das diferentes SPA, mas confiando na capacidade dos jovens de desenvolver pensamento racional sobre essa informação. Os professores devem oferecer informação honesta e credível, compreensiva e respeitadora das experiências e da inteligência dos alunos. Neste sentido, neste capítulo é apresentada uma síntese de informações sobre álcool, cannabis, cocaína e ecstasy (ver secção 3). Facultar informação em função das necessidades e situações específicas. O conhecimento sobre SPA não está limitado aos efeitos e propriedades das diferentes substâncias. Essa informação deve ser usada com muita parcimónia, partindo sempre do que são as experiências e necessidades de informação dos alunos, sob risco de poder, ao contrário do que pretende, desencadear curiosidade pela experimentação de substâncias até aí desconhecidas. Fornecer informação que privilegie a segurança.  Os professores deverão também informar também sobre como reconhecer uma intoxicação alcoólica, o que fazer quando um amigo está mal, como identificar os sinais da toxicodependência (em si e nos outros) … É fundamental valorizar a informação sobre contextos sociais de uso e disposições individuais para o consumo que, a par das substâncias e suas propriedades farmacológicas, exercem um efeito igualmente importante sobre a experiência do consumo.

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Quando o uso de SPA é uma realidade, não excluir o aluno…  Quando o uso de SPA se manifesta efetivamente na Escola, uma reação a evitar é a tendência a excluir e a punir. Excluir os alunos visados da participação em atividades extracurriculares valorizadas, transferir para outra escola, suspender e expulsar são, entre outras, estratégias frequentes quando é necessário lidar com a questão dos usos de SPA na escola. Não existe, porém, qualquer evidência sobre a eficácia da aplicação deste tipo castigos e punições na modificação deste tipo de comportamento. O facto de um adolescente usar SPA é um acontecimento provável. Pode até associar-se à forma que o jovem encontrou de ser aceite pelos pares que valoriza, num contexto que, como a escola, é muitas vezes vivido como pouco seguro, falhando frequentemente no suporte social aos adolescentes mais vulneráveis. Deste modo, atitudes de rejeição, estigma e censura contribuirão apenas para a exclusão - não são estratégias de resolução, são fatores de risco, porque empobrecem a rede de suporte social, conduzem à marginalização e ainda empurram mais o jovem para percursos desviantes. Preferir estratégias restaurativas quando as regras são violadas.  Quando o jovem quebra regras da Escola ou do Estado aplicáveis à posse, uso ou venda de substâncias, deve compreender as consequências do seu comportamento. O professor deve ajudá-lo neste processo, explicitando como o comportamento individual se traduz num forte impacto não só para si, como para os seus pares, professores e toda a comunidade escolar em geral. Para o efeito, o professor poderá explicar quais as consequências disciplinares e/ou legais inerentes a esses comportamentos, em função do que for, também, a política escolar para lidar com estas situações. Deve implementar-se um processo que promova a mudança comportamental do jovem, através da tomada de consciência sobre o impacto negativo que o seu comportamento tem sobre si e sobre os outros. Deste modo, o primeiro passo é a tomada de consciência. Segue-se uma fase em que o aluno se dedica a procurar formas de reparar o dano que causou (realizando, por exemplo, tarefas úteis à comunidade escolar) e apresenta desculpas aos professores e colegas que foram perturbados com o seu comportamento. Repare-se que é ao aluno que infringiu as regras que cabe encontrar ativamente as estratégias para compensar o dano causado – ao invés de acatar passivamente a punição que decidiu superiormente aplicar-se-lhe. Deste modo, promove-se um vínculo positivo, ao invés de alimentar a alienação e o ressentimento em relação à Escola, aos professores e à comunidade, que são o resultado mais frequente das estratégias punitivas (Skager, 2006).

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Identificar comportamentos desajustados e irresponsáveis.  A dependência de SPA não é nem o primeiro, nem o principal risco a temer quando um jovem está a utilizar substâncias. No entanto, os jovens devem ser capazes de reconhecer os limites do comportamento irresponsável, percebendo a diferença entre “uso” e “abuso”, “uso ocasional” e “uso diário”, contextos, momentos, doses e frequência de uso desajustados. Perante situações em que o descontrolo se instala, o jovem deve ser levado a perceber de que formas o seu uso de substâncias está a comprometer o seu sucesso académico, a sua capacidade de cumprir para com as suas responsabilidades (escolares ou familiares), a sua capacidade para praticar um desporto que valoriza, de conduzir veículos, ou envolver-se em qualquer atividade séria e responsável. A Escola deve garantir, ou desenvolver as parcerias que assegurem que, perante casos em que um problema se instala, o jovem beneficie da ajuda necessária ao tratamento desse problema (Skager, 2006).  Alertar para riscos reais à segurança dos adolescentes. De acordo com dados recentes de uma investigação promovida pela OMS (Patton, et al., 2009), os acidentes de viação são a principal causa de morte no mundo para jovens entre os 10 e os 24 anos (mais do que guerras e catástrofes naturais, violência ou suicídio). Não há dados que permitam quantificar, com rigor, qual é o contributo dos usos de álcool e SPA para os acidentes de viação, mas é de esperar que seja significativo. Assim, justifica-se uma atenção especial por parte da Escola e dos professores a esta ameaça bem real. É também papel do professor reforçar a importância de, numa saída noturna, se salvaguardar um “motorista-designado” que se abstém por aquela noite, ou de privilegiar sempre o contacto com a família quando em situações de emergência ou risco de condução sob efeito de álcool ou SPA. Colaborar na promoção de um envolvimento global da escola para lidar com a realidade das SPA. A abordagem ao problema das SPA em meio escolar exige mais do que a intervenção focalizada no aluno. As intervenções preventivas dirigem-se quase sempre ao aumento da informação, à promoção de competências, ou a tornar mais ajustadas as relações com os pares. Estes programas que elegem o aluno como o foco da intervenção, apesar de fundamentais, têm-se revelado insuficientes na produção de efeitos significativos e sustentáveis no tempo (Fletcher, 2009). A intervenção bem-sucedida tem de ser multicontextual envolvendo idealmente escola, família e comunidade. Na Escola são também focos de intervenção centrais, as políticas educativas, as práticas de trabalho e avaliação, a cultura e o ambiente

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escolar, uma vez que afetam potencialmente fatores como a integração do aluno, o suporte social que lhe é disponibilizado ou a vivência da escola como espaço seguro. Informação sobre drogas de abuso na adolescência – os casos da ecstasy, do álcool, e da cannabis O texto que se segue é escrito com o objetivo de munir, Pais e Professores, do conhecimento necessário à atuação proposta neste capítulo. Trata-se de um conjunto selecionado de informações sobre conceitos básicos e substâncias cujo uso tem maior expressão junto da população jovem. Estas informações poderão ser utilizadas como base para uma comunicação sobre drogas baseada em evidência científica, que beneficia de uma articulação com as estratégias atrás enumeradas. Inicia-se esta abordagem pela introdução de alguns conceitos de modo a clarificar a linguagem utilizada. Assim, considera-se substância psicoativa toda aquela que altera o estado mental do utilizador. Estas substâncias podem ser de uso lícito ou ilícito, consoante são produzidas e comercializadas legalmente (ex. álcool etílico, tabaco, nicotina, cafeína), ou não. É importante realçar que esta classificação não denota a sua perigosidade para o adolescente. Por abuso, entende-se neste contexto, o uso nocivo de uma substância em doses e/ ou frequência acima da necessária a um efeito terapêutico. O abuso poderá levar a danos físicos e mentais e à dependência, ou adição. Embora adição seja de facto a palavra correta para descrever o abuso compulsivo de uma determinada substância, em português é corrente utilizar o termo dependência. Por dependência (ou adição) entende-se o uso compulsivo de uma determinada substância, associado geralmente a um reforço positivo (ou recompensa) e à necessidade física ou psíquica de consumir essa mesma substância. O consumo continuado pode levar à tolerância, isto é, à perda de efeito de uma determinada substância após uso repetido, o que tem como consequência o aumento das doses de consumo. Por vezes, a repetição de consumo pode também levar à sensibilização, isto é, a uma resposta aumentada a uma mesma dose, o que é comum, por exemplo, em consumidores com função hepática comprometida (hepatites, cirroses, etc.). A interrupção do consumo, voluntária ou forçada, designa-se por abstinência, sendo inicialmente acompanhada de sintomas comparáveis aos de uma gripe mas de muito maior intensidade.

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Os efeitos do consumo de uma determinada substância variam com a idade, sexo, dose, período de exposição e contactos prévios com outras drogas. É também importante salientar que as diversas populações humanas processam estas substâncias de modo diferencial, pois apresentam diferentes formas das enzimas envolvidas na sua metabolização. De um modo geral estas substâncias dividem-se em depressoras, se exibem maior inibição do controlo motor e capacidade de avaliação, causando relaxamento (a sobredosagem leva a depressão respiratória e asfixia); e estimulantes, se aumentam a atividade, excitabilidade e geram comportamentos maníacos (podem causar falência cardiovascular). No adolescente, os consumos com maior expressão são os de álcool, cannabis e algumas anfetaminas modificadas como a ecstasy, razão pela qual serão aqui detalhados os efeitos destas substâncias. A Ecstasy A ecstasy ou MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina) é uma droga sintética estimulante que gera um estado de euforia, empatia e autoaceitação. É vulgarmente vendida sobre a forma de pastilhas e ingerida oralmente. Após consumo, este composto demora cerca de 20 minutos a chegar ao cérebro, atinge um efeito psicoativo máximo 60-90 minutos após ingestão, e a sua atividade pode prolongar-se por 3 a 5 horas. Uma pastilha pode ter uma dose variável de MDMA (60 a 120 mg) mas a sua pureza é incerta, sendo frequente encontrar quantidades variáveis de outras substâncias. A sua deteção na urina pode ser feita até 2 a 4 dias após consumo. Os efeitos agudos do consumo de ecstasy dividem-se em: POSITIVOS - elevação do humor, aumento de energia, perceção sensorial acrescida, sentimentos de conforto e proximidade, acompanhados de dissipação de ansiedade e medo obsessivo ou neurótico; NEUTROS - perda de apetite, distorção visual, movimentos de olhos rápidos e involuntários (REM), aumento do ritmo cardíaco e da tensão arterial, inquietação; e NEGATIVOS - incapacidade de gestão de eventuais emoções negativas e inesperadas, contração da mandíbula e bruxismo, dificuldades de concentração, alterações de memória a curto-prazo, tensão muscular, disfunção eréctil, desregulação da temperatura corporal (podendo conduzir a desidratação e

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hipertermia), náuseas e vómitos, dores de cabeça, tonturas, perda do equilíbrio e vertigens, sentimento de tristeza e angústia quando a droga começa a perder o efeito e potenciação de crises psicológicas (psicoses, ataques de pânico, etc.). Os principais perigos da ecstasy estão associados à hipertermia (aumento da temperatura corporal) que pode levar a paragem cardiorrespiratória, e hiponatremia (intoxicação por excesso de água seguida de desequilíbrio hídrico). Associada ao aumento de temperatura corporal existe a necessidade de aumentar a ingestão de líquidos para facilitar a transpiração e o controlo da temperatura. No entanto, grandes volumes de água (cerca de 3 litros), ingeridos num curto espaço de tempo, levam a um desequilíbrio das concentrações de sódio e potássio, com graves consequências a nível das funções vitais (Docherty & Green, 2010). Assim, é extremamente importante manter o equilíbrio hídrico à custa de bebidas isotónicas como as utilizadas pelos desportistas ou sumos de frutas, e não de água. Neste ponto é também importante notar que a mistura de anfetaminas com álcool é ainda mais crítica, potenciando a hipertermia, pois o álcool inibe a produção da hormona responsável pela regulação do volume de urina (hormona antidiurética, ADH), desviando a água necessária à transpiração para um maior volume de urina. Como atua a ecstasy no cérebro? O cérebro é constituído por vários tipos de células, incluindo neurónios e as chamadas células glia. Estas células formam entre si complexas redes de comunicação e são os principais alvos das diferentes drogas de abuso. Os neurónios subdividem-se em vários grupos consoante a sua função e morfologia, produzindo diferentes tipos de neurotransmissores, mensageiros químicos utilizados na comunicação entre neurónios (Summavielle & Relvas, 2012). As células da glia são essenciais à sobrevivência do cérebro, assumindo funções tróficas, de proteção e de refinamento da comunicação neuronal (Summavielle & Relvas, 2012). Tomemos como exemplo um neurónio serotoninérgico, neurónio que produz o neurotransmissor serotonina, e que é o mais afetado pelo consumo de ecstasy. Para comunicar com os neurónios vizinhos, este neurónio liberta serotonina na sinapse (espaço que o separa do vizinho). Uma vez na sinapse, a serotonina vai ligar-se a recetores que se encontram na membrana de outro neurónio (chamado pós-sináptico). Cada tipo de neurotransmissor tem recetores específicos. Quando uma molécula de serotonina se liga a um recetor, o recetor envia informação que desencadeia reações químicas no neurónio recetor. É importante salientar

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que a molécula de serotonina não pode permanecer ligada ao recetor e deve ser removida da sinapse o mais rapidamente possível, caso contrário ficaria a estimular repetidamente o recetor, gerando uma repetição de uma determinada mensagem. O neurónio pré-sináptico possui estruturas de transporte, chamadas transportadoras, cuja função é recapturar os neurotransmissores para que voltem ao neurónio que os libertou. Desta forma, a serotonina é recapturada e rearmazenada e pode voltar a ser utilizada. Os neurotransmissores que não forem capturados permanecem na sinapse e são metabolizados, ou seja, transformados noutros compostos (Figura 1A)1.

No cérebro, a ecstasy age na fenda sináptica, ligando-se à estrutura recaptadora de serotonina e bloqueando-a, o que leva à acumulação de serotonina na sinapse, com consequente hiperestimulação dos recetores de serotonina, levando às alterações comportamentais acima descritas para esta substância (Figura 1B). A serotonina que não é recaptada para reutilização e permanece na sinapse, acaba por ser degradada. Um neurónio que é impedido de fazer recaptação de neurotransmissores será obrigado a produzi-los de novo (para revisão consultar Sarkar & Schmued, 2010; Song, Moon, Upreti, Eddington, & Lee, 2010). A médio prazo isto implicará um grande desgaste para a célula, que é obrigada a funcionar acima das suas capacidades. Como os neurónios não são capazes de produzir serotonina em tão elevada quantidade, a médio prazo a produção diminui e esgota-se (Figura1C). A diminuição excessiva dos níveis de serotonina traduz-se em sensações de tristeza, depressão, irritação e cansaço. Para além deste efeito clássico da ecstasy, outras 1

Imagens da autoria de Anabela Nunes (IBMC – Universidade do Porto)

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interações negativas com as células do cérebro têm sido evidenciadas nos últimos anos. Por exemplo, foi demonstrado que a ecstasy entra dentro dos neurónios e acelera o processo de envelhecimento, limitando a sua capacidade de produzir energia e diminuído a sua funcionalidade (Alves et al., 2007). Para saber mais sobre as múltiplas implicações do consumo de ecstasy pode consultar os textos que disponibilizamos em http://www.ibmc.up.pt/e-drogas/ .

O Álcool O consumo de álcool assume proporções preocupantes na adolescência, fase em que o cérebro está em reformatação, substituindo ligações entre neurónios que deixam de ser úteis por novas ligações que no seu conjunto formarão o cérebro adulto. A isto soma-se a incapacidade, parcial ou total, até cerca dos 16-17 anos de transformar álcool em acetato. Esta transformação é feita por duas enzimas hepáticas e, num adulto saudável, converte cerca de 90% do álcool ingerido num produto não tóxico para o cérebro. Infelizmente, apesar da legislação em vigor proibir a venda de álcool a menores de 16 anos, no caso do vinho e da cerveja, ou a menores de 18 anos no caso das bebidas com maior teor alcoólico, não há fiscalização eficiente e o consumo de álcool atinge valores de 60% de consumidores ativos na população adolescente (OEDT, 2010). O efeito agudo do consumo de álcool é progressivo, em baixas quantidades (até 0.05 g%) verificam-se alterações de personalidade, diminuição dos níveis de ansiedade, e desinibição social; entre 0,05 e 0,08 g% a desinibição torna-se excessiva, e há diminuição da capacidade de decisão e atenção, associada a alterações motoras moderadas; de 0,08 a 0,15 g% o discurso torna-se incoerente e arrastado, as alterações motoras são acentuadas, o tempo de reação é elevado e podem surgir “blackouts” ou períodos de tempo em que a formação de memórias está comprometida; à medida que dose se aproxima de 0,30 g% a sedação aumenta, podendo chegar ao coma alcoólico; a dose 0,40 g% é letal para 50% da população (Koob & Le Moal, 2006). O álcool age sobre neurónios com recetores para o neurotransmissor GABA, o principal neurotransmissor inibitório no sistema nervoso central. A sucessão

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de efeitos que o aumento da dose de álcool produz, é consequência da sua ação sobre os circuitos cerebrais e é potenciada pelo co-consumo de outros compostos que tenham ação nos mesmos recetores, como por exemplo benzodiazepinas ou barbitúricos. Por outro lado, a mistura com outras drogas pode acentuar a inibição das regiões do cérebro que controlam as funções respiratória e cardíaca, ou dar origem a compostos extremamente tóxicos, como o cocaetileno, resultante do co-consumo de álcool e cocaína. O consumo de álcool na gravidez é extremamente tóxico para o feto. Anualmente milhares de recém-nascidos apresentam malformações resultantes da exposição a álcool durante o desenvolvimento fetal. As alterações podem resultar no Síndrome Alcoólico Fetal, acarretando alterações da morfologia da face, atraso de crescimento global, QI com valores médios entre 65 e 80, atrasos na linguagem, instabilidade e défices de atenção, apatia e desinteresse pelas atividades escolares, dificuldades de aprendizagem, alterações no desenvolvimento motor e malformações várias (Fox & Druschel, 2003). Como tal, na gravidez na adolescência, o consumo de álcool merece especial atenção. A Cannabis O consumo de cannabis é especialmente preocupante na população adolescente, onde atinge taxas de consumo superiores a 15%. A cannabis é um derivado da planta Cannabis sativa. A partir desta planta foram isolados cerca de 70 compostos químicos caracterizados como canabinóides, sendo o delta-9-tetrahidrocannabinol (Δ9 –THC) o mais conhecido. O nível de Δ9 –THC presente na planta varia consoante a variedade de cannabis. A cannabis é a mais popular das drogas ilegais e pode ser conhecida por diferentes nomes de rua como: charro, chamon, liamba, erva, chocolate, pólen, tablete, taco, curro, ganza, hax, hash, bolota, maconha, óleo (óleo de haxixe), boi ou cânhamo, entre outros. A molécula de Δ9–THC é muito semelhante aos endocanabinóides, moléculas endógenas que formam um sistema com propriedades neuromoduladoras, isto é, que estão envolvidos na modelação da transmissão sináptica no sistema nervoso central, podendo alterar a atividade nas sinapses. São especialmente importantes no cerebelo, hipocampo e gânglios da base, ou seja, no controlo do movimento, na formação de memórias, e na modulação do sistema de recompensa.

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A cannabis proporciona sensações de prazer, relaxamento e bem-estar, através da estimulação indireta do sistema de recompensa (centro de prazer do cérebro), através da inibição de neurónios que regulam a atividade deste sistema (Figura. 2).

Tal como para a ecstasy, os efeitos agudos do consumo de cannabis podem dividir-se em POSITIVOS -humor, euforia, riso/gargalhadas, relaxamento, redução do stress, criatividade, pensamento profundo e filosófico, maior consciência sensorial (paladar, olfato, audição), fatiga muscular, sensação corporal agradável, alívio da dor, redução da náusea e aumento do apetite; NEUTROS - alteração geral do estado de consciência, maior lentidão de processamento, alterações na visão, cansaço, sono, letargia, olhos vermelhos, interrupção da memória linear, dificuldade em seguir um raciocínio, boca seca, tensão facial, alteração da perceção do tempo; NEGATIVOS – náusea (especialmente quando misturada com álcool ou outros fármacos), tosse, asma, problemas respiratórios, diminuição da capacidade de memória a curto prazo, taquicardia, agitação, tensão, ansiedade e paranóia, ataques de pânico (em consumidores sensíveis ou em doses elevadas), dores de cabeça, tonturas,

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dependência psicológica, descoordenação motora e acumulação no tecido adiposo (Gonzalez, 2007). Com o uso crónico aparecem outros sintomas: irritabilidade, dificuldade em dormir, ansiedade e crescente agressividade. Em média, o ponto alto dos sintomas manifesta-se uma semana após o último consumo. Recentemente foi também demonstrado que consumidores crónicos de canabinóides apresentam importantes alterações a médio longo prazo a nível da estrutura cerebral (Battistella et al., 2014). Por ser normalmente fumada sem filtro, a quantidade de monóxido de carbono e alcatrão inalado pelos fumadores de cannabis é 3 a 5 vezes superior à inalada por quem fuma tabaco tradicional. Como tal o consumo de cannabis também aumenta a incidência de cancro do trato respiratório. Nos últimos anos, surgiram várias publicações que mostram claramente que no adolescente, o consumo crónico de canabinóides pode ter consequências devastadoras na reformatação de sinapses que tipicamente acontece neste período de desenvolvimento. Como composto altamente lipofílico, o Δ9–THC acumula no tecido adiposo sendo libertado para a circulação de forma constante. Segundo estes estudos, este nível de Δ9–THC é suficiente para interferir com os recetores de canabinóides e inibir a sinalização molecular que guia a formação de novas sinapses no cérebro. Se o consumo for continuado ao longo da adolescência, esta interferência leva a que os neurónios percam parte importante das suas ramificações e pontos de comunicação, produzindo neurónios semelhantes aos do cérebro esquizofrénico, justificando o comportamento que cada vez mais frequentemente apresentam jovens adultos (consumidores regulares de cannabis) que procuram auxílio nas consultas de psiquiatria (James et al., 2011; Shapiro & Buckley-Hunter, 2010). Conclusão Depois de apresentado o paradigma teórico atual no âmbito da prevenção do uso de SPA, de apresentadas estratégias práticas para pais e professores, e de sistematizadas algumas informações sobre as SPA mais consumidas pelos adolescentes, conclui-se este capítulo com a sistematização de algumas ideias-chave. A mera transmissão de informação sobre SPA ou a provocação de “medo” são estratégias ineficazes (ou até contraproducentes) ao nível da prevenção do uso de SPA. Esta abordagem centrada na informação deve ser deslocada para uma

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abordagem centrada na relação. É no contexto destas relações securizantes, quer com pais quer com professores, que será possível o desenvolvimento de competências pessoais e sociais nos adolescentes, que se constituirão como fatores protetores ao abuso de SPA. Neste sentido, é essencial que os próprios pais e professores se apropriem do seu papel inestimável e insubstituível no âmbito da prevenção do consumo de SPA. Se a prevenção centrada no modelo informativo poderia ser operacionalizada a partir do fornecimento de livros, aulas, ou sites da internet, esta abordagem centrada na relação não prescinde do agente educativo em si mesmo, enquanto figura significativa de suporte. São assim exigidas competências específicas nos próprios pais e professores, por exemplo: empatia (para se conseguir colocar no ponto de vista do filho/aluno), escuta ativa (para efetivamente escutar preocupações, necessidades, questões…), interesse genuíno (pelo adolescente), ou ser autodidacta (para recolher informação rigorosa e validada cientificamente). Posto isto, pais e professores deverão então estimular life-skills nos adolescentes, de forma intencionalizada, como estratégia central de prevenção de uso de SPA. Falamos de autoestima elevada, capacidade de lidar com a pressão dos pares, capacidade de antecipar consequências, capacidade de resolução de problemas, capacidade de ser assertivo, entre outras, que direta ou indiretamente se associam ao não-abuso de SPA. Esta maturação sócioemocional contribuirá claramente para a prevenção de outros comportamentos de risco. A compreensão atual do envolvimento em condutas de risco na adolescência chama-nos, precisamente, a atenção para as dinâmicas recíprocas entre as várias problemáticas – uso de SPA, comportamento sexual, comportamento antissocial, condução de risco – reconhecendo-se que estas partilham não só uma forte correlação e co-ocorrência, como também um conjunto comum de fatores de risco e proteção (IOM, 2011). Esta compreensão vem em suporte das vantagens na promoção de competências gerais que contribuem, globalmente, para aumentar a probabilidade dos jovens se tornarem adultos resilientes e com níveis de ajustamento psicológico e social elevados. Neste contexto, o fornecimento de informação continua a ser relevante. No entanto, por um lado, não é o meio único e último de prevenção; e por outro lado, há um enfoque no rigor, qualidade e cientificidade desta informação, que, por exemplo, não omite nem oculta o facto do consumo de SPA conduzir também a

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efeitos positivamente valorizados pelos jovens. Antes reconhece, e esclarece todos os efeitos, promovendo a reflexão acerca destes. Além disso, assumindo que o desenvolvimento dos jovens ocorre em múltiplos sistemas, simultaneamente, e com interferências recíprocas múltiplas, a articulação entre Família e Escola torna-se imprescindível. Esta articulação permitirá atingir vários objetivos, que direta ou indiretamente, contribuirão para a prevenção: otimizar a ocupação de tempos mortos, identificar sinais de alarme, dar continuidade a questões abordadas na Escola e vice-versa, entre outras. Finalmente, é fundamental que se encare a segurança como uma dimensão central, que nunca pode ser negligenciada. É o ponto de partida e o ponto de chegada de uma verdadeira lógica de prevenção. Concluindo, uma abordagem de prevenção de uso de SPA centrada na relação é um desafio. Um desafio ininterrupto e dinâmico, que exige a autorregulação do próprio Educador, adaptações sucessivas, um conhecimento aprofundado sobre vários aspetos. Cremos, no entanto que é um desafio promissor, que vai mais além do que a mera prevenção de SPA. Referências Bibliográficas: Alarcão, M. (2006). (des)Equilíbrios Familiares (4ª Ed.). Coimbra: Quarteto Editora. Aldridge, J., Measham, F. & Williams, L. (2011). Illegal Leisure Revisited: Changing Patterns of Alcohol and Drug Use in Adolescents and Young Adults. London: Routledge. Alves, E., Summavielle, T., Alves, C. J., Gomes-da-Silva, J., Barata, J. C., Fernandes, E., . . . Carvalho, F. (2007). Monoamine oxidase-B mediates ecstasy-induced neurotoxic effects to adolescent rat brain mitochondria. J Neurosci, 27(38), 10203-10210. doi: 10.1523/JNEUROSCI.2645-07.2007 Battistella, G., Fornari, E., Annoni, J. M., Chtioui, H., Dao, K., Fabritius, M., . . . Giroud, C. (2014). Long-term effects of cannabis on brain structure. Neuropsychopharmacology, 39(9), 2041-2048. doi: 10.1038/npp.2014.67 Baumrind, D. (1991). The influence of parenting style on adolescent competence and substance use. Journal of Early Adolescence , 11, 56-95. Botvin, G., & Dusenbury, L. (1989). Substance abuse prevention and the promotion of competence. In L. Bond, Primary Prevention and Promotion in the Schools. Hanover N. H.: University Press of New England. Broman, C., Li, X., & Recase, M. (2008). Family structure and mediators of adolescence drug use. Journal of Family Issues , 29, 1625-1649.

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