PRINCÍPIOS DO YOGA E DA SOMÁTICA EM PROCESSOS CRIATIVOS, COMPOSIÇÕES E PERFORMANCES EM DANÇA 1

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1 Para citar este artigo: Vieira, Alba Pedreira. Princípios do yoga e da somática em processos criativos, composições e performances em dança. In: 12° Seminário Nacional de Dança Contemporânea: Concepções Contemporâneas em Dança. Anais.... CD-ROM. Belo Horizonte: UFMG, 2016. PRINCÍPIOS DO YOGA E DA SOMÁTICA EM PROCESSOS CRIATIVOS, COMPOSIÇÕES E PERFORMANCES EM DANÇA1

Alba Pedreira Vieira Universidade Federal de Viçosa

RESUMO: Ao explorar neste texto minha experiência vivida como artista-docente de processos criativos em dança e somática na Universidade Federal de Viçosa, vislumbro a articulação desses dois conteúdos com princípios do yoga. Identifico aspectos similares, bem como princípios norteadores específicos de cada uma destas propostas a fim de que possam se enriquecer. O cruzamento desses conhecimentos indica pontos em comum como a prioridade à criatividade e ao autoconhecimento, a observação da natureza e de outros seres vivos como fontes de inspiração para a criação de movimentos privilegiando o aprimoramento técnico e expressivo (por exemplo, criação e apresentação de ecoperformances), o treinamento do som e da voz como parte do corpo holístico e, assim, faz-se essencial seu treinamento para o dançarino contemporâneo, e a investigação constante como parte do crescimento do corpo individual e coletivo. PALAVRAS-CHAVE: Yoga. Somática. Processos Criativos. Performance. Dança.

IMERSÃO Neste artigo compartilho minha experiência vivida (van Manen, 1997) como artista-docente de processos criativos em dança e somática na Universidade Federal de Viçosa. Busco articular os dois conteúdos com princípios do yoga, identificando aspectos similares, bem como princípios norteadores específicos de cada uma destas propostas a fim de que possam se enriquecer. Ressalto que nesse estudo me embaso na “prática como pesquisa” (Practice-Based Reasearch discutida por autores como DENZIN, 2000) ao realizar estudos criativos diversos para investigar como o uso de diferentes práticas corporais do yoga, a qual sugiro ser uma abordagem que integra as propostas de educação somática, podem ser articuladas à performance de dança contemporânea, a fim de agenciar materiais diversos que culminam na composição trabalhos artísticos variados. Meu envolvimento com processos criativos em dança tem se dado de várias formas, como também venho assumindo diferentes papéis ao longo do tempo, seja como docente, mediadora, coreógrafa, diretora, orientadora, facilitadora, intérprete, intérprete-criadora, performer e pesquisadora (figura 1). Ele se iniciou em uma instituição formal de ensino, justamente na escola aonde estudava, quando eu tinha dez anos – nesta época escolhi, dentre várias outras opções de modalidades extra-curriculares que eram oferecidas, ter aulas semanais de um mix composto por 1

Neste texto incluo resultados de pesquisa realizadas com apoio FAPEMIG e CNPq, e também da minha pesquisa de pós-doutorado intitulada “Ioga e soma na contemporaneidade: criação em dança a partir de matrizes transculturais somático-performativas”, UFBA/UFV, 2016-2016, supervisão Dra. Ciane Fernandes.

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2 ballet, dança moderna e jazz. Este processo artístico-educacional era intercalado pelas coreografias que aprendia e que eram montadas pela minha professora de dança de então, para serem apresentadas em mostras variadas. Logo depois deste encontro inicial com a dança e com processos criativos, de forma sistematizada, minha paixão por esta linguagem artística me levou a entrar em um estúdio particular, aonde se intensificaram as aulas, os processos criativos, as apresentações em festivais e mostras.2 Mas o método adotado pelos meus professores de dança do estúdio ainda era, basicamente, o mesmo da escola: o professor/coreógrafo montava as coreografias, e nós bailarinos aprendíamos e tentávamos reproduzir da forma mais fiel, perfeita e virtuosa possível. Nunca questionei esta metodologia de ensino-aprendizagem de processos criativos em dança, por ser a única que conhecia.

FIGURA 1: Vivian Vieira e Alba Vieira (ao centro no solo) em performance com o Coletivo A-feto (Direção Ciane Fernandes, Galeria Canizares, Salvador/BA, maio/2016)

Comecei, formalmente, a dar aulas de dança e também coreografar em uma instituição de ensino formal, no colégio Santa Clara em Goiânia/GO (figura 2). Nesse período, de segunda a sexta, eu ministrava aulas de dança a manhã toda nesta escola, fazia faculdade à tarde e à noite ia para a escola de dança da Sinhá ou do Julson Henrique, para poder eu mesma fazer aulas técnicas. Esta rotina era interrompida quando eu tinha que coreografar e produzir espetáculos para meus alunos no colégio e/ou então, participar como intérprete nas composições das mostras de dança da Sinhá ou do Energia, grupo dirigido por Julson.

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Uma foto desta época, dançando em um festival de dança, poder ser vista no site: http://wikidanca.net/wiki/index.php/Alba_Pedreira_Vieira

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FIGURA 2: Alba Vieira (centro) com suas alunas de dança no Colégio Santa Clara, Goiânia/GO (1986)

Na faculdade, cursando licenciatura, conheci ideias do educador Paulo Freire que me trouxeram ‘tempestades corporais’ (Vieira, 2007), inquietações e mudanças na forma como dialogava e trabalhava com o processo criativo em dança. Assim, como coreógrafa na escola, comecei a incentivar e dar voz aos alunos, permitindo-lhes opinar mais nas coreografias (e.g., temática, figurino, movimentos, vocabulário adotado), e a convidar alguns, mais experientes, a construir células coreográficas que eram então refinadas e aprendidas por todo o grupo. De certa forma, comecei a exercitar a autonomia de alguns alunos para criarem eles próprios seus movimentos, e nossa relação passou a ter maior grau de colaboração. Desconhecia então, o conceito de composição autoral, que é discutido na atualidade; mas já me inquietava com a mera repetição, pelos alunos, de passos que eu criava. Logo depois de formada, mudei-me para Viçosa/MG, aonde continuei minha jornada como professora de dança e coreógrafa, desta vez para alunos da Academia Mywo. Foi somente quando ingressei como professora na Universidade Federal de Viçosa/UFV que pude realmente colocar em prática desejos que já vinha alimentando em relação aos processos criativos desde minha graduação. Coordenei um Curso de Especialização Lato Sensu em ‘Dança Educativa Moderna’, no qual tive oportunidade de trabalhar com vários alunos/bailarinos experientes em que pude, pela primeira vez, desenvolver processos criativos totalmente colaborativos. Concordo com Corradini (2011) que o processo colaborativo “desafia os tradicionais modos de produção no campo das artes, caracterizando-se na dança como um modo de contestação e resistência, abarcando artistas e pesquisadores do corpo, e profissionais de campos afins” (p.04). Essa forma de criação tem como foco o compartilhamento de tudo que permeia o trabalho de composição constituindo-o num lugar de diálogo, interação e negociação constantes – esse processo é entendido como zona de transitividade. Com foco no processo colaborativo, no Lato Sensu em ‘Dança Educativa Moderna’ eu discutia com o grupo de bailarinos ideias, propostas, teorias, metodologias, e buscávamos respeitar os diferentes pontos de vista, repertórios e corpos; o grupo de mais de vinte alunos/bailarinos gerou espetáculos e composições artísticas de dança contemporânea, além de performances, que foram compartilhados com o público viçosense em diferentes locais (e.g., Espaço Acadêmico-Cultural Fernando Sabino, Recanto das Cigarras, hall do Pavilhão de Aulas II da UFV). De forma bastante positiva, este tipo de trabalho artístico, colaborativo, deslocou-me da minha zona de conforto como coreógrafa, pois o fato de compartilharmos, constantemente, abordagens e poéticas diversificadas, 12º Seminário Nacional Concepções Contemporâneas em Dança - PRODAEX/EEFFTO/UFMG Belo Horizonte, 2016, v.2, n.1, junho. ISSN 2358-7512

4 além de estarmos abertos a aprender uns com os outros, desenvolveu minha – nossa, ouso afirmar – potência criativa. Foi nessa época, que criamos, eu e Maristela Moura Silva Lima (professora fundadora do Curso de Dança da UFV), o Grupo de Pesquisa Transdisciplinar em Dança (CNPq/UFV), do qual sou líder, com a linha de pesquisa ‘Processos Criativos em Dança’ – mais recentemente ampliada para ‘Processos Criativos em Arte’, pois passamos a ter colaboradores, do Brasil e do exterior das Artes Visuais que investigam inúmeras nuances do processo composicional artístico (figura 3).

FIGURA 3: Colaboração nos processos criativos com as Artes Visuais: Aulas conjuntas entre alunos dos Cursos de Arquitetura e de Dança da UFV (professores Alba Vieira e Cláudio Magalhães)

O processo criativo colaborativo é uma forma de criação que, apesar de englobar falhas e lacunas, assim como várias outras propostas, busca romper as fronteiras e quebrar espaços privativos de criação na construção do espetáculo. “Isso é proposto não por razões morais, por mera opção por um discurso igualitário, mas por razões práticas: o processo colaborativo tem-se mostrado eficiente como resultado artístico.” (ABREU, s/p, 2004) Outro ‘giro’ na forma de abordar processos criativos aconteceu durante meu doutorado em dança na Universidade Temple (Filadélfia, Estados Unidos); desde então, minha práxis mantém constante diálogo com as investigações sobre corpo, corporeidade e embodiment3 que venho realizando (e.g., VIEIRA, 2007, 2013, 2014a, 2014b). Embodiment é um termo em inglês que não tem tradução exata em português, sendo o mais próximo, a meu ver, ‘in-corporação’. Relaciono este processo com o estado de presença que assumimos no nosso dia-a-dia e, nos processos criativos em dança, nos momentos em que ‘artistamos’ (criamos, fazemos, apreciamos). Nosso engajamento e presença corporal no momento de vivências criativas demanda que nossos múltiplos sentidos estejam conectados ao dentro-fora, pois para mim não existe essa separação rígida que se acredita ter no senso comum entre o que é externo e interno. Ao retornar ao Brasil e reassumir minhas atividades como professora, artista e pesquisadora do Curso de Graduação em Dança na UFV, tornei-me responsável pelas disciplinas de Dança e Educação Somática (2008) e Composição Coreográfica e Composição Solística (2009). 4 Também tenho coordenado e desenvolvido projetos de pesquisa e de extensão, além de orientações na graduação e na pós-graduação, que buscam articulações entre performance, improvisação, dança contemporânea, processos criativos (figura 4) e somática (incluindo minha abordagem de ‘incorporação’, Arte do Movimento de Rudolf Laban, Sistema Laban/Bartenieff e outros). 5 3

Em Vieira (2007) explico com profundidade como entendo embodiment e também em Vieira, 2013, p. 179-

181). 4

Coordenei e ministrei estas disciplinas ininterruptamente até 2015, quando me afastei por um ano das minhas atividades docentes para realizar pós-doutorado. 5 Vide Curriculum Lattes: : http://lattes.cnpq.br/2204010991291958

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FIGURA 4: Alba Vieira durante processo criativo do Espetáculo de Dança Contemporânea “Lei” com a Cia. de Dança Girarte (Cataguases, MG, maio 2016)

Um ‘salto’ na minha trajetória se deu em 2009, quando coordenei e participei do Curso de Formação em Shivam Yoga ministrado na UFV pelo criador do método, Arnaldo de Almeida. Este yoguin, após estudos profundos e várias viagens de residência para imergir na cultura hindu, criou uma proposta que denominou Shivam Yoga, a qual é uma linhagem do Yoga Tradicional Indiano. Seus estudos, em conjunto, abrem um leque de conhecimentos muito amplo e rico, cujo objetivo é despertar a consciência do praticante por meio do autoconhecimento, e da integração consigo mesmo, com o outro e com o universo. (Almeida, 2007, p. 224) Esta proposta também veio aglutinar-se às demais citadas e a princípios da Massoterapia Indiana/MI,6 pois em 2011 coordenei e participei do Curso de Formação em MI ministrado na UFV pelo indiano Mukesh Kumar Sonee e Arnaldo de Almeida. (figuras 5 e 6)

FIGURA 5: Alba Vieira (em pé ao centro) ministrando aula de yoga (parte do relaxamento) no Curso de Extensão “Corpo Vivo” na UFV (2014)

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Vide notícia de divulgação do Curso de Formação em Massoterapia Indiana ministrado na UFV em

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FIGURA 6: Alba Vieira ministrando aula de yoga (na figura, pranayamas ou exercícios respiratórios) para Grupo da Terceira Idade (Projeto UFV e Prefeitura Municipal de Viçosa)

ARTICULAÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS DO YOGA, SOMÁTICA E DANÇA Percebo uma primeira conexão entre o yoga, somática e o que denomino de ‘in-corporação’ (embodiment) em dança: a ênfase em unir ao invés de separar, tendo em vista que o termo ‘Yoga’ tem em si o radical ‘Yuj’ que significa unir. Portanto, sugiro que podemos acionar nossas percepções a fim de haja uma ligação indissolúvel nas trocas constantes entre o conhecimento que se processa no corpo pessoal e o conhecimento processado nas trocas com outros corpos e o ambiente. Sugiro que, para que o conhecimento construído nos processos criativos em dança se tornem significativos, ou seja, sejam embodied/‘in-corporados’, no momento de sua elaboração, haja profunda conexão interna-externa (incluindo conexões de sensações, sentimentos e emoções com as de outros sujeitos e aspectos em gerais do contexto). Nesses momentos, há sincronia, não necessariamente harmonia, como se o conhecimento viesse de um só corpo ou uma unidade que contém muitas partes diferenciadas. O conhecimento em geral, e em processos criativos em dança em particular, aumenta suas chances de se tornar ‘in-corporado’/embodied quando acionamos nossas múltiplas maneiras de perceber, fazendo conexões e mediando diferentes caminhos, formas, possibilidades. Assim, podemos abrir espaços e canais para incorporar (embody) significados no grau máximo. Ao abraçarmos a construção de significados como parte do processo de embodiment, temos que considerar que esses significados estão em um ‘contato-improvisação’ constante, portanto, significados podem ser in-corporados, tornando-se parte do nosso ser, mas assim como nós mudamos, também podem se transformar significados já construídos. Ou seja, não há mundo estável. Sob esta perspectiva, embodiment se cria, se materializa, se (re)constrói, 'dança' e se faz ‘artista’ de acordo com a interminância existencial. Assim como na dança moderna prescrita na Arte do Movimento de Rudolf Laban (1990, 1975, 1959, 1951, 1939) – o qual, por exemplo, realizou várias experimentações artísticas nos campos do Monte Veritá na Suíça – o Yoga também se nutre expressivamente da natureza (ALMEIDA, 2007) e dos animais. Um exemplo são os vários asanas assim inspirados, alguns, a saber: Posição do Rei dos Peixes (Ardha Matsyendrasana), Posição da Lua (Raja Chandrasana), Posição da Cobra (Ardha Bhujangasana), Posição da Árvore (Sukha Vrikshasana), Posição da Rã (Beghasana), Posição do Corvo (Kakkasana), Posição da Garça Azul (Parshwa Bakasana), Posição do Inseto (Titibhasana), Posição do Escorpião (Vrishkasana). Há ainda relações que ambos, Yoga e Arte do Movimento, estabelecem com figuras geométricas. Por exemplo, Laban estudou movimentações com auxílio dos polígonos regulares (figura 7), e há posições do yoga que também 12º Seminário Nacional Concepções Contemporâneas em Dança - PRODAEX/EEFFTO/UFMG Belo Horizonte, 2016, v.2, n.1, junho. ISSN 2358-7512

7 se valem das figuras geométricas como Trikonasana ou Triângulo e Ardha Chakrasana ou Posição da Roda.

FIGURA 7: Alba Vieira em estudo de movimento no icosaedro e no cubo (Laban, 1990) para a performance “Cristal” no Museu de Arte Contemporânea da USP/SP (junho 2016)

Mary Wigman, discípula de Laban, assim como se faz no Yoga, explorou em seus trabalhos os seres humanos em suas relações com o cosmos e a natureza (PARTSH-BERGSOHN, 2004). Ecoperformances (figuras 8, 9 e 10) tem sido elaboradas, desenvolvidas e apresentadas a partir da preocupação com questões ambientais e ecológicas que surgiu como fruto da observação da natureza e de outros seres vivos. Este canal expressivo decorre da prática de posturas do yoga que, por sua vez, foram criadas tendo como fonte de inspiração movimentos de animais. Assim, o exercício e aprimoramento técnico se liga intimamente ao expressivo com as ecoperformances.

FIGURA 8: Alba Vieira na “Performance com Borboletas”, Lençóis, BA, fevereiro 2016. 12º Seminário Nacional Concepções Contemporâneas em Dança - PRODAEX/EEFFTO/UFMG Belo Horizonte, 2016, v.2, n.1, junho. ISSN 2358-7512

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FIGURA 9: Alba Vieira na performance “Revoar”, Campus UFV, Viçosa, MG - setembro 2015

FIGURA 10: Alba Vieira na performance “Karvo”, Arredores da Cachoeira Santa Bárbara, Comunidade Kalunga, Chapada dos Veadeiros, Cavalcante/GO, Setembro 2015

A dança-teatro de Laban, Pina Bausch e Kurt Jooss, dentre outros, se valem do poder do som, das palavras, cantos e/ou e da voz assim como no Yoga. Para os yoguins, o Universo se constituiu a partir do som, é energia vibratória, é um Mantra (que engloba a união harmônica de sons). O yoga desenvolveu toda uma série de estudos voltada para a utilização dos sons como meio de despertar os poderes internos latentes nos seres humanos. Os Mantras são baseados na combinação específica de letras e palavras e, quando vocalizados de maneira específica, produzirão efeitos em nosso organismo físico e psíquico. (ALMEIDA, 2007, p. 42-43) Esta prática da voz por meio dos mantras gerou performances como DR Corpo, em que a integração da voz é 12º Seminário Nacional Concepções Contemporâneas em Dança - PRODAEX/EEFFTO/UFMG Belo Horizonte, 2016, v.2, n.1, junho. ISSN 2358-7512

9 constante durante todo o trabalho. (figura 11)

FIGURA 11: Em ‘DR CORPO’ os performers (Alba Vieira, Caio Fillype e Camila Martins) improvisam enquanto recitam/parafraseiam estrofes de poemas; na figura, momento em que Camila passa microfone para Alba (à esquerda). Pavilhão de aulas II da UFV, Viçosa/MG, agosto de 2015.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo da minha jornada profissional, tenho realizado cruzamentos de conhecimentos sobre processos criativos em dança, somática e princípios do yoga; esses esforços indicam pontos em comum como a prioridade à criatividade e ao autoconhecimento, a observação da natureza e de outros seres vivos como fontes de inspiração para a criação de movimentos e obras (e.g., ecoperformances) para aprimoramento técnico e expressivo, e o treinamento do som e da voz como parte do corpo holístico. Assim, percebo e sugiro como essencial nos processos formativos do dançarino contemporâneo que se incluam esses saberes nas nossas práxis. Ao aplicarmos propostas de yoga (asanas ou pranayamas, por exemplo) de forma somática nos processos criativos em dança, os exercícios utilizados podem ser realizados de forma simples e lenta, a fim de que o/a dançarino/a tenha tempo de entender, registrar (com o que chama de “olho interno” e não o externo) e percorrer com suas sensações e percepções os padrões de movimento, pausas, ações. Tanto no yoga como na somática, buscamos que a pessoa se movimente de forma consciente. Como podemos orientar dançarinos para que eles/elas se tornem conscientes das suas movimentações, das suas criações, da sua experiência de dançar? Essa é uma pergunta que carece mais investigações nessa linha temática, e que podem/devem ser parte do crescimento do corpo individual e coletivo. Conceitos, princípios e teorias aqui tratados, que ainda parecem – a certos pesquisadores – estar desconectados, merecem pesquisas aprofundadas para que nós possamos avançar o estado da arte, bem como enriquecer e aperfeiçoar nossa práxis artístico-pedagógica sobre a temática em questão nesse texto. REFERÊNCIAS ABREU, L. A. de. Processo Colaborativo: Relato e Reflexões sobre uma Experiência de Criação. 12º Seminário Nacional Concepções Contemporâneas em Dança - PRODAEX/EEFFTO/UFMG Belo Horizonte, 2016, v.2, n.1, junho. ISSN 2358-7512

10 Cadernos da ELT, Escola Livre de Teatro de Santo André, n.2, jun.2004. Disponível em: . Acesso em: mai. 2016. ALMEIDA, A. Shivam Yoga: autoconhecimento e despertar da consciência. São Paulo: Casa Editorial Lemos, 2007. CORRADINI, S. Processo Colaborativo e Sujeito Autoral em Dança. Anais.... VI Reunião Científica da ABRACE , Porto Alegre, 2011. DENZIN, N. K. Aesthetics and the practices of qualitative inquiry. Qualitative Inquiry, 6(2), pp. 256-265, 2000. LABAN, R. Dança educativa moderna. São Paulo: Ícone, 1990. __________ . A life for dance: reminiscences. London: MacDonald & Evans, 1975. __________ . The importance of dancing. The Laban Art of Movement Guild News Sheet, 1959. __________ . What has led you to study movement? The Laban Art of Movement Guild News Sheet, [S.l.], v. 7, p. 8-11, set. 1951. __________ . Notes oncChoral dance. The Laban Art of Movement Guild News Sheet, 1939. PARTSH-BERGSOHN, I. A Dança-teatro de Rudolph Laban a Pina Bausch. Tradução de Ciane Fernandes. Revista Digital Art&, abril de 2004. Disponível em: http://www.revista.art.br/sitenumero-01/trabalhos/pagina/03.htm. Acesso em: 12 de março de 2016. VAN MANEN, M. Researching lived experience: Human science for an action sensitive pedagogy (2nd ed). Toronto: Transcontinental Printing Inc., 1997. VIEIRA, A. P. Creative dance and transformative process in Brazil. Congress on Research in Dance, v. 1, p. 145-155, 2014a. __________. Dança, música e processos criativos: possíveis interfaces. Espetáculo (UFPB), v. 5, p. 133-152, 2014b.

Moringa - Artes do

__________. Dança, educação e contemporaneidade: dilemas e desafios sobre o que ensinar e o que aprender. In: Larissa Michelle Lara. (Org.). Dança: dilemas e desafios na contemporaneidade. 1ed.Maringá: Eduem, 2013, p. 155-184. ______________. The ature of pedagogical quality in higher dance education. Tese de Doutorado não publicada. Universidade Temple, EUA, 2007.

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