Quizzes: vantagens da sua utilização na avaliação formativa

May 26, 2017 | Autor: Sónia Cruz | Categoria: Games, Online Quizzes
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Quizzes: vantagens da sua utilização na avaliação formativa Sónia Cruz Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais [email protected]

Resumo – Os nossos alunos, cada vez mais precocemente, fazem-se acompanhar dos mais variados dispositivos móveis e essa oportunidade pode e deve ser aproveitada pelos professores na promoção da aprendizagem dos mais variados temas. Nesse sentido, é nossa intenção apresentar o projeto que, apesar de se encontrar na fase concetual, tem por objetivo demonstrar quer a alunos, quer a professores quais as vantagens da utilização de quizzes na aprendizagem de um tema da disciplina de História, enquanto recursos de avaliação formativa, recorrendo, para tal, aos dispositivos móveis dos alunos.

Palavras- chave: Quizzes, Aprendizagem, Avaliação Formativa, Dispositivos Móveis.

Introdução Numa sociedade que se caracteriza pela globalidade, mobilidade e portabilidade, cada vez mais as tecnologias deixaram de ser meros acessórios ao serviço de alguns e passaram a desempenhar um papel determinante na vida de muitos. Ninguém, hoje, parece estar disposto a abdicar dos seus dispositivos ou conexão à Web sendo que a maioria os considera, inclusivamente, extensões de si próprios, da própria cognição. Os nossos alunos e professores (nativos ou imigrantes digitais como Prensky (2001) os designou), vivendo numa sociedade com estas características e cada vez mais imersos nesta era tecnológica, têm também esse entendimento, ainda que nem sempre compreendam verdadeiramente o fenómeno. Partindo deste entendimento, torna-se claro que os desafios que os professores de hoje enfrentam são vários e que urge que se atendam a novas formas de aprender uma vez que estamos perante a emergência de novas culturas de aprendizagem (Ehlers, Helmstedt & Richter, 2010; Redeckers, 2009). A própria evolução tecnológica criou novas oportunidades de aprendizagem (Moura, 2010) e a crescente aplicação das tecnologias digitais em contexto educativo tem proporcionado avanços no que respeita à descentralização do professor na transmissão de conhecimentos, assistindo-se à progressiva utilização de materiais multimédia na aula por comparação aos materiais impressos (Rolo & Bidarra, 2011). Neste contexto, os quizzes podem constituir-se como um recurso multimédia que, dependendo da plataforma usada na

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sua conceção, podem ser encarados como um jogo e possibilitar experiências educativas interessantes quer para os alunos, quer para os professores enquanto mediadores do conhecimento. Aliado a este tipo de recursos, a sua utilização no âmbito da avaliação formativa permite ao professor, com recurso aos dispositivos móveis dos alunos, proporcionar experiências enriquecedoras e que, na linha da avaliação formativa, poderá ―determinar o grau de domínio de uma determinada tarefa de aprendizagem e indicar a parte da tarefa não dominada‖ (Bloom, Hastings & Madaus, 1971, p. 61). Este tipo de recurso, ao não ter como objetivo atribuir uma nota ao aluno, visa antes proporcionar a ambos os agentes, aluno e professor, um feedback para que se detenham na aprendizagem específica que ainda se revela necessária ao domínio do conteúdo em estudo. Esta modalidade de avaliação ajuda o aluno a aprender e o professor a ensinar, isto é, ―permite, por um lado, ajudar o aluno a ultrapassar as dificuldades de aprendizagem, e, por outro, auxiliar o professor a diferenciar o ensino e a fazer alterações de modo a caminhar no sentido de uma pedagogia diferenciada.‖ (Pacheco, 1994, p. 32). Ao mesmo tempo, ao tirar partido dos dispositivos móveis dos alunos, na linha do BYOD (Bring Your Own Device), podemos envolver os alunos na aprendizagem mostrando-lhes por um lado o nível de aquisição de conteúdos que revelam e qual o nível desejado e, por outro lado, mostrar-lhes que os dispositivos que dispõem podem ser excelentes mediadores na regulação da sua própria aprendizagem. Partindo deste entendimento, apontamos de seguida as potencialidades que os quizzes podem assumir no contexto sala de aula, enquanto instrumento de avaliação formativa, apresentando, igualmente,

algumas

plataformas

que

proporcionam

a

sua

criação.

Seguidamente

descrevemos o projeto que está a ser concebido com o objetivo enunciado acima, sendo que a obtenção de dados só posteriormente poderá ser apresentada uma vez que a fase de implementação decorrerá ainda este ano letivo.

O quiz no processo de ensino-aprendizagem Entre as possíveis utilizações dos quizzes, tipicamente estes podem servir como i) ferramenta de diagnóstico, ii) preparação dos alunos para avaliações, iii) aprendizagem diferenciada, iv) aprendizagem em contextos não formais, v) reforço dos conhecimentos teóricos trabalhados, vi) instrumento para rever conteúdos, vii) recurso para avaliar formativamente e viii) motivação para o estudo (Thalhermer, 2003). Não obstante, Thalhermer (2003) chama a atenção para a necessidade de se compreender que o modo como se formulam as questões podem resultar em efeitos diferentes: ―When we mass questions together before learning, we can call them ―prequestions.‖ When we mass them after learning, we can call them postquestions (ex.quizzes). When questions are used during learning events, we can call them ―inserted prequestions‖ or ―inserted postquestions. […] Prequestions help learners to focus their attention on the targeted information when they encounter it later. Postquestions provide learners with practice in retrieving information from memory. They also can be used to provide

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learners with feedback. Both prequestions and postquestions providere petition of the learning material and motivation for study. They also guide learner attention to the type of material queried by the questions‖ (Thalhermer, 2003, p.5-6).

Importa, portanto, que a formulação das questões seja cuidada, pois desse cuidado resulta o entendimento claro das potencialidades e das limitações dos diferentes tipos de questões e dos

Limitações

Potencialidades

efeitos que se desejam (v. tabela 1).

Pré-questões

Pós-questões

Ambos os tipos de questões

Atenção/concentração

Memória Exercitando a memória, faculta aos alunos a capacidade de identificar a informação relevante aprendida.

Repetição Proporciona uma aprendizagem mais consistente dos conteúdos.

Ajuda os alunos a concentrar a atenção sobre os conteúdos que irão aprender.

Feedback Oferece aos alunos um feedback para corrigir ideias pré-concebidas e/ou erradas.

Pode desviar a atenção dos alunos para informação/ conteúdo pouco relevantes.

Os benefícios da prática de recuperação são maiores se os alunos responderem corretamente à maioria das perguntas.

Atenção/concentração Ajuda os alunos a focar os conteúdos através das questões respondidas. Motivação para o estudo Potencia aos alunos a capacidade de identificar os conteúdos, podendo motivá-los a envolver-se em atividades de aprendizagem adicionais.

A aprendizagem só é efectiva se os alunos prestarem atenção às perguntas e as tentarem responder.

O feedback deve ser efetivamente percebido. Tabela 1. Efeito dos diferentes tipos de questões (Thalhermer, 2003, p.7)

Roediger, Putnam & Smith (2011), desenvolveram um estudo que resultou na definição dos ‗Ten Benefits of Testing and Their Applications to Educational Practice‘ (v. tabela 2), explicitando os benefícios mais ou menos diretos da sua utilização nas práticas pedagógicas.

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Benefícios dos Quizzes 1

The testing effect: retrieval aids later retention

2

Testing identifies gaps in knowledge

3

Testing causes students to learn more from the next learning episode

4

Testing produces better organization of knowledge

5

Testing improves transfer of knowledge to new contexts

6

Testing can facilitate retrieval of information that was not tested

7

Testing improves metacognitive monitoring

8

Testing prevents interference from prior material when learning new material

9

Testing provides feedback to instructors

10

Frequent testing encourages students to study Tabela 2. Os 10 benefícios dos Quizzes (Roediger, Putnam & Smith, 2011, p.4)

Os autores (idem) consideram então que realizar um quiz relacionado com os conteúdos estudados, durante a aula ou na mesma semana, torna mais provável a retenção do conteúdo a longo prazo. Além disso, o quiz permite identificar lacunas no conhecimento e, deste modo, identificar quais os aspetos da matéria que necessitam de reforço. Ao mesmo tempo, ao ajudar o aluno a adquirir e sistematizar alguns aspectos é-lhe possibilitada uma assimilação facilitada dos conteúdos seguintes, tornando a aprendizagem mais produtiva e significativa. Para os autores, um outro benefício de responder a quizzes é que estes possibilitam uma melhor organização do conhecimento, ajudando o cérebro a organizar o material para permitir uma melhor memorização e assimilação, além de potenciar a transferência de conhecimentos para novos contextos. Responder a um quiz pode fornecer mais detalhe sobre assuntos já trabalhados, fomentando a co-responsabilidade do aluno no processo de aprendizagem. Além disso, possibilita ao aluno realizar autoavaliações, dando-lhe condições para avaliar melhor os seus conhecimentos e ser mais confiante sobre o que sabe e o que precisa saber. A realização de um quiz, antes do estudo da temática, pode ter como efeito despertar o interesse do aluno pelo tema a estudar, permitindo ao professor, de acordo com o resultado obtido, orientar as aprendizagens a realizar. Os quizzes são, igualmente, uma forma de feedback que permite aos alunos, mas também aos professores, identificar o que foi e o que ficou por aprender. Os autores defendem também que a realização de quizzes motiva para o estudo e reduz a procrastinação. Acrescentamos a estes benefícios que o aumento de avaliações formativas liberta os professores de parte do trabalho de correcção das provas, constituindo um benefício adicional para a aprendizagem (Thalhermer, 2003).

Ferramentas para a criação (gratuita) de Quizzes Criar um quiz online é uma opção ao dispor dos utilizadores da Web sendo que são inúmeras as plataformas que permitem a sua criação. Geralmente gratuitas e com interfaces intuitivas, a

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dificuldade é mesmo optar por uma delas. Com o objectivo de facilitar a escolha por uma plataforma, optámos por fazer uma breve descrição comparativa entre dez das mais conhecidas plataformas que possibilitam essa criação (v. tabela 3).

Cronometrado

Feedback

Monitorizaçao dos resultados p/ professor

Escolha múltipla, Verdadeiro e falso, seleccionar a partir de uma lista.

Sim

Sim

Sim

Imagem

Escolha múltipla, Resposta curta

Não

Sim

Sim

Imagem

Escolha múltipla, Verdadeiro e falso, seleccionar a partir de uma lista.

Sim

Sim

Blubbr

EduCanon

Zaption

Riddle.com

Imagem Vídeo

www.g osoap box.co m www.goco nqr.com www.online quizcreator. com https://docs.goo gle.com/forms

Formulários do Google

https://activete xtbook.com

Active Textbook

www.blu bbr.tv

QuizWorks

www.ed ucanon. com

GoConqr

www.zaption.c om

GoSoapBox

www.rid dle.com

Kahoot

https://getk ahoot.com

Tipos de media

Imagem

Tipos de Questões

Escolha múltipla, completar os espaços.

(no final do quiz)

Apenas se o aluno partilhar os resultados

Não

Sim

Estatísticas e rankings (somente na versão paga)

Escolha múltipla; Múltiplas respostas; Verdadeiro ou Falso e Resposta curta

Não

Sim

Não

Não

Sim

Sim

Vídeo

Resposta curta, Parágrafo, Escolha múltipla; Caixas de verificação; Pendente, Escala Linear, Grelha de escolha múltipla.

Vídeo

Escolha múltipla

Não

Sim

Não

Vídeo

Escolha múltipla, completar os espaços, Escala Linear.

Não

Sim

Sim

Imagem

Escolha múltipla, completar os espaços, Escala Linear

Não

Sim

Sim

Escolha múltipla, Verdadeiro ou Falso.

Não

Sim

Sim

(15 questões por quiz) Imagem Vídeo Áudio

Imagem

Vídeo Áudio Imagem Vídeo

Tabela 3. Plataformas Web para a criação de Quizzes

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Descrição do Projeto As primeiras etapas deste projecto passaram pela revisão da literatura com o objetivo de fazer um levantamento sistemático de estudos e artigos realizados no âmbito da utilização de quizzes, atendendo quer ao impacto da integração destes recursos em termos de aquisição de conhecimento específico, quer do interesse manifestado por alunos e professores da sua utilização enquanto instrumento de avaliação formativa. A fase seguinte implica o estudo empírico a desenvolver com todas as turmas do 6º ano de escolaridade de um agrupamento de escolas do concelho de Viana do Castelo, no âmbito do estudo do tema ―25 de Abril‖, temática tipicamente abordada no 3.º período letivo. No que concerne ao design de investigação, a intervenção terá lugar em cada uma das turmas envolvidas antes e após a leccionação da temática indicada. O instrumento criado (Quiz) e aplicado antes da leccionação do conteúdo tem por objetivo introduzir os alunos ao conteúdo a aprender, procurando suscitar, igualmente, interesse pelo mesmo ao mesmo tempo que permite aferir do conhecimento tácito e prévio sobre o assunto. O mesmo instrumento será passado aos alunos das turmas após a leccionação da temática sendo que, nesse momento posterior, o quiz visa aferir a aquisição e aplicação dos conhecimentos num momento que se deseja ser de avaliação formativa. Pretendemos que a resposta ao quiz seja feita através dos dispositivos móveis dos alunos. Assim sendo, só após a verificação da posse dos dispositivos móveis que os participantes no estudo detiverem, a atividade se realizará nestes moldes. Na eventualidade dos participantes não possuírem os dispositivos móveis necessários ao bom funcionamento da actividade, a mesma decorrerá mas com recurso aos computadores da escola. Posteriormente, será igualmente recolhida informação através de um inquérito por questionário relativa à i) fluência tecnológica dos alunos e à ii) motivação de ambos os agentes para a utilização destes recursos em momentos de avaliação formativa. Para além disso, iremos procurar percepcionar as questões que os alunos mais erraram em ambos os momentos, a fim de aferir, no primeiro momento, quais as ideias prévias que os alunos possuem sobre esse conteúdo, e no segundo momento, indagar sobre as questões que os alunos tiveram mais dificuldade de modo a corrigir e potenciar as aprendizagens que se pretendem ver alcançadas.

Conclusão Com o estudo que pretendemos aplicar no âmbito da disciplina de História, é nossa intenção aferir em que medida os quizzes podem ser utilizados como recursos de apoio educativo em momentos de avaliação formativa e formadora dos alunos, bem como indagar sobre a posição dos agentes educativos envolvidos sobre a sua utilização. Após a recolha de dados, intencionamos adotar um procedimento estatístico para a análise dos resultados obtidos através dos inquéritos por questionário e, mediante as conclusões observadas, melhorar os instrumentos criados e desenhar um novo projeto a aplicar aos alunos do 3.º ciclo do ensino básico.

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Referências Bloom, B.; Hastings, J.; Madaus, G. F. (1971). Handbook of formative and summative evaluation of student learning. New York: McGraw-Hill. Ehlers, U.D., Helmstedt, C. & Richter, T. (2010). Analizing New E-learning Culture. In Alain Tait & András Szücs (eds.), Proceedings of the EDEN 2010 Annual Conference (pp. 3). Budapeste: European Distance and E-learning Network. Moura, A. (2010). Apropriação do Telemóvel como Ferramenta de Mediação em Mobile learning: Estudos de Caso em Contexto Educativo. Tese de Doutoramento em Ciências da Educação. Especialidade em Tecnologia Educativa. Universidade do Minho, Braga. Pacheco, J. A. (1994). A avaliação dos alunos na perspectiva da reforma. Porto: Porto Editora. Prensky,

M.

(2001).

Digital

Natives,

Digital

immigrants.

Disponível

em:

http://www.marcprensky.com. (Acessível em 2 de Fevereiro de 2016). Redeckers, C. (2009). Review of Learning 2.0 Practices: Study on the Impact of Web 2.0 Innovations on Education and Training in Europe. JRC Scientific and technical reports. Espanha: Joint Research Centre/Institute for Prospective Tecnological Studies (European Comission). Roediger, H. L., Putnam, A. L., & Smith, M. A. (2011). Ten benefits of testing and their applications to educational practice. In J. Mestre & B. Ross (Eds.), Psychology of learning and motivation: Cognition in education (pp. 1-36). Oxford: Elsevier. Disponível em: http://psych.wustl.edu/memory/Roddy%20article%20PDF's/BC_Roediger%20et%20al%2 0%282011%29_PLM.pdf (Acessível em 5 de janeiro de 2016). Rolo, R. & Bidarra, J. (2011). Jogos e aplicações multimédia em educação musical. In P. Dias e A. Osório (orgs), Atas da VII Conferência Internacional de TIC na Educação – Challenges 2011. Braga: Centro de Competência da Universidade do Minho, 313-321. Thalheimer, W. (2003). The learning benefits of questions. Disponível em: http://www.worklearning.com/ma/PP_WP003.asp

(Acessível

em

5

de

fevereiro

de

2016).

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