Turismo Acessível - Enquadramento e Reflexão

June 8, 2017 | Autor: João Neto Azevedo | Categoria: Accessibility, Accessible Tourism
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Turismo Acessível - Enquadramento e Reflexão by João Neto Azevedo is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.

Exercício apresentado em unidade curricular de mestrado (2013/2014) Esboço a ser retificado para produção de paper

Turismo Acessível Reflexão

-

Enquadramento

e

João Neto Azevedo

Resumo O turismo acessível é uma das mais atuais tendências de investigação em turismo, especialmente, devido ao volume de mercado, a este relacionado, cuja exploração ainda se encontra por realizar de forma efetiva. Deste modo, o presente estudo propõem efetuar um enquadramento da temática referente ao turismo acessível, suas características e barreiras de implementação. Metodologicamente, foi efetuada uma revisão da literatura focando os aspetos centrais para a contextualização teórico-concetual do tema. Enquanto resultados, o estudo revela que o turismo acessível encontra-se, ainda, pouco explorado, registando diversas barreiras à sua implementação, contudo, este, apresenta um potencial de crescimento significativo que importa explorar. Palavras-chave: turismo acessível, deficiência, mobilidade, barreiras, infraestruturas

Enquadramento O direito ao lazer e a ele associado, o acesso ao turismo, tornaram-se uma constante na sociedade (Rojek, 2005). À semelhança do que acontece nesta, os valores éticos, socialmente veiculados, de igualdade de acesso aos locais e serviços tornaramse uma preocupação cada vez mais presente na atividade turística (Devile, Jesus e Cruz, 2011). 1

Todavia, por razões de ordem económica e pela carência de informação representativa desta realidade e do seu potencial futuro, os desenvolvimentos no âmbito do turismo acessível, necessitam de ser alargados (Devile, Jesus e Cruz, 2011). Contextualizando o termo “turismo acessível”, Darcy, Cameron e Pegg (2010) afirmam que o conceito se centra nas dimensões associadas à deficiência, acessos e necessidades de apoio a estas. Sendo que, segundo afirmam os autores, os negócios em torno da atividade devem ter a sua raiz neste enquadramento. Compreende-se daqui que, o conceito de turismo acessível assenta na comercialização de serviços a pessoas dotadas de algum tipo de deficiência ou constrangimento na sua mobilidade. Por outro lado, Darcy e Dickson (2009) referem que, este conceito, na verdade, é abrangente. Os autores defendem que, ao longo da vida de qualquer indivíduo, tratando-se dos próprios, familiares ou amigos, de forma apenas temporária ou permanente, poderá ser sentida a necessidade de existência de recursos de acessibilidade adequados. Neste sentido, os estudos de Darcy (2006, 2008) apontam para a existência de um número crescente de indivíduos a requerer, por necessidade de deslocação motivada por interesses pessoais, ou relacionados com o lazer e turismo, condições de acessibilidade ajustadas às necessidades concretas e sentidas nos espaços. Devile, Jesus e Cruz (2011), referindo-se a Fujiura e Rutkowskikmitta (2001), consideram a existência de aproximadamente 600 milhões de pessoas portadoras de deficiência o que, em termos globais, corresponde a 10% da população mundial. Neste domínio, Darcy e Dickson (2009), afirmam que a solução para o encontro entre as necessidades registadas pela polução geral, os turistas, os próprios destinos e o turismo, devem ser colmatadas por via da implementação de design, cujos princípios se devem registar a uma escala global, permitindo dessa forma, acessibilidades e infraestruturas direcionadas para todos. Eichhorn, Miller, Michopoulou e Buhalis (2008) no seu estudo, incluem ainda o fator informação. Os autores defendem que, apesar de um maior ajuste à realidade nacional e regional, os mecanismos disponíveis ainda não satisfazem as necessidades gerais dos turistas que deles necessitam. Na verdade, conforme referido pelos autores, a informação veiculada é ainda fragmentada, de reduzido alcance geográfico e tendencialmente concentrada nos canais de distribuição usuais, pouco direcionados às necessidades características da população com o tipo de requisitos em causa e, por outro lado, pouco significativa no que diz respeito à personalização dos serviços e aos processos comunicacionais necessários para o efeito. Rumetshofer e Wöß (2004), a este propósito, introduziram um sistema (entenda-se aplicação para navegação web) que permite ao utilizador criar um perfil personalizado incluindo as suas necessidades particulares, associadas às suas limitações. Por um lado, o sistema permite integrar para cada destino, bem ou serviço 2

um conjunto de informações referentes às suas acessibilidades em formato de meta dados, sendo que, por outro lado, o preenchimento do perfil do cliente, incluindo as suas limitações, permite efetuar um cruzamento de informação das duas dimensões o que, por sua vez, possibilita ao sistema criar uma oferta específica de acordo com as informações partilhadas pelo cliente. Esta necessidade de personalização do serviço e do acesso à informação, presente no estudo de Rumetshofer e Wöß (2004), é igualmente defendida por Buhalis e Michopoulou (2011). Os autores consideram que cada indivíduo tem um perfil único que deve ser atendido e que, tal facto, se encontra cada vez mais presente na realidade do mercado. Referem os autores que, na europa, existe um mercado de aproximadamente 127 milhões de pessoas com limitações, sendo que, nos grupos alvo em estudo evidenciou-se, de forma generalizada, a necessidade de ser disponibilizada informação respeitante a acessibilidades (em contexto geral do quotidiano), a presença dessa mesma informação online no sentido de ser possível o conhecimento à distância das condições dos destinos e, por outro lado, a necessidade de adaptação da envolvente, nomeadamente no que diz respeito às infraestruturas. Por fim, recorrendo a dois estudos de caso, Devile, Jesus e Cruz (2011) e Borda, Duarte e Serpa (2013), evidenciam-se um conjunto de limitações que, mesmo apesar da implementação dos projetos referidos nos estudos e os sucessos conquistados, se centram nos conceitos anteriormente explorados. Deste modo, registam-se enquanto principais barreiras: 1) as infraestruturas, enquanto condicionantes gerais de mobilidade. A intervenção neste domínio para além de dispendiosa está, muitas vezes, sujeita às condicionantes dos processos burocráticos com as entidades públicas; 2) a adaptação, não apenas das infraestruturas e dos processos de serviço mas também dos equipamentos; 3) a carência de apoios ou incentivos de arranque. Dependendo, geralmente, das entidades privadas tomar o primeiro passo e assumir as despesas inerentes; 4) a limitada formação/qualificação dos profissionais que fazem acompanhamento de proximidade aos turistas portadores de deficiência e, por fim, somando-se a este aspeto um necessário foco na sensibilização geral dos indivíduos, entidades e instituições para a igualdade, o combate ao preconceito e os benefícios sociais e económicos que advêm da implementação de destinos acessíveis.

Conclusão Resulta deste enquadramento que, a incapacidade/deficiência, entendida como a limitação ao acesso, às necessidades de apoio às atividades e as acessibilidades, no contexto ambiental, carecem de um estudo profundo. Por um lado, deverá ser avaliado o impacto dessas dimensões no interesse, perceção e satisfação dos turistas 3

e, por outro lado, no sentido de se implementar medidas concretas de ajuste das infraestruturas, bens e serviços às necessidades de uma procura que é crescente. Assumir o turismo acessível enquanto prioridade, é uma responsabilidade que visa garantir o cumprimento de um direito que é de todos. Os necessários ajustes ao meio envolvente, bens e serviços são um contributo, não apenas para os que pretendem usufruir dos destinos com uma finalidade associada ao turismo. Em verdade, as adaptações introduzidas na envolvente servem, igualmente, à comunidade. O turismo apresenta-se, deste modo, como um agente motivador para o cumprimento desta realidade e, por outro lado, enquanto motor de retorno financeiro dos investimentos necessários a essas adaptações. Vislumbra-se, ainda, um longo caminho a ser percorrido neste âmbito, não obstante, os passos dados até ao momento revelam-se positivos. Importa, assim, a disseminação de informação, boas práticas e do peso dos benefícios a implementar, no sentido de se trabalhar uma estratégia viável, sustentável e mutuamente enriquecedora.

Referências 



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Borda, G. Z., Duarte, D. C. e Serpa, A. B. B. (2013). Tourism for all: Accessibility and social inclusion in Brazil – the case of Socorro (São Paulo State) tourism destination. Cenário, vol. 1, 1, pp. 30-44. Buhalis, D. e Michopoulou, E. (2011). Information-enabled tourism destination marketing:addressing the accessibility market. Current Issues in Tourism, vol. 14, 2, pp. 145-168. Darcy, S. (2006). Setting a Research Agenda for Accessible Tourism. Australia: Sustainable Tourism CRC. Darcy, S. (2008). Developing a Business Case for Accessible Tourism. Australia: Sustainable Tourism CRC. Darcy, S., Cameron, B., e Pegg, S. (2010). Accessible tourism and sustainability: a discussion and case study. Journal of Sustainable Tourism, vol. 18, 4, pp. 515-537. Darcy, S., e Dickson, T. (2009). A Whole-of-Life Approach to Tourism: The Case for Accessible Tourism Experiences. Journal of Hospitality and Tourism Management, vol. 16, 1, pp. 32-44. Devile, E. L., Jesus, F. e Cruz, A. I. (2011). O Desenvolvimento de Turismo Acessível na Lousã: Perspetivas dos Agentes Locais no Sector do Turismo. Book of Proceedings. International Conference on Tourism & Management Studies, vol. 1, pp. 529-539

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Eichhorn, V., Miller, G., Michopoulou, E. e Buhalis, D. (2008). Enabling Disabled Tourists? Accessibility Tourism Information Schemes. Annals of Tourism Research, vol. 35, 1, pp. 189-210. Fujiura, G. L. e Rutkowskikmitta, V. (2001). Counting Disability, em Albrecht, G. L., Seelman, K. D. e Bury, M., (ed.) Handbook of Disability Studies, Sage Publications, Thousand Oaks, pp. 69-96, referido em Devile, E. L., Jesus, F. e Cruz, A. I. (2011). O Desenvolvimento de Turismo Acessível na Lousã: Perspetivas dos Agentes Locais no Sector do Turismo. Book of Proceedings. International Conference on Tourism & Management Studies, vol. 1, pp. 529-539. Rojek, C. (2005). Leisure Theory, Principles and Practices. Reino Unido: Palgrave. Rumetshofer, H., e Wöß, W. (2004). Tourism information systems promoting Barrier-Free tourism for people with disabilities. Lecture Notes in Computer Science, 3118, pp. 280-286.

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