DESIGN DE CARDÁPIOS: A FUNCIONALIDADE DE UMA IDENTIDADE VISUAL NA CONSTRUÇÃO DE UM CONCEITO GASTRONÔMICO

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DESIGN DE CARDÁPIOS: A FUNCIONALIDADE DE UMA IDENTIDADE VISUAL NA CONSTRUÇÃO DE UM CONCEITO GASTRONÔMICO Bruno Vicenzo Corecco Calado1

SUMÁRIO: Resumo, p.1; Introdução, p.2; 1. O Fenômeno da Comunicação e a Sociedade de Consumo, pg.3; 2. Design Gráfico, Comunicação e Consumo no Mundo Moderno, p.5; 3. O Design de Cardápios e a Construção da Identidade Gastronômica, p.8; 4. Resultados, p.11; Considerações Finais, p. 12; Referências, p. 13.

RESUMO A sociedade contemporânea de consumo está rodeada por distintos sistemas comunicacionais. Estudar tal processo e o repasse de informações se configura como uma necessidade real em um mundo globalizado. A comunicação com os seus consumidores em um cenário de alta competitividade apresenta-se como fator imprescindível no mantimento saudável de uma empresa. Delimitar e repassar ao público uma identidade coerente com o serviço ou produto ofertados delimita ao design gráfico um papel importante na manutenção da homogeneidade das informações e do conjunto visual. A escolha dos elementos gráficos afeta diretamente o comportamento do consumidor, e, portanto, o nível de vendas. Cores, signos, fontes, textos, formas e texturas, além de suas infinitas combinações e variações, transformam a captação de mensagens em algo maior: a criação de um conceito de valores a respeito de uma determinada ideia, ou, se aplicada ao mercado: um produto, serviço, campanha ou instituição. No mercado gastronômico um veículo de contato direto entre um empreendimento e seus clientes é o cardápio, portanto, no presente trabalho foi avaliado o papel do design gráfico desse elemento na padronização da identidade visual e gastronômica de um serviço de alimentação. Por meios de uma investigação bibliográfica, a pesquisa vigente busca analisar a funcionalidade do design de cardápios dos serviços de alimentação na construção de uma identidade gastronômica própria, fortalecendo as comunicações e as entidades. Tal análise se torna imperativa quando visa compreender a importância da padronização visual no repasse de uma ideia e sua importância na conjuntura atual, na qual uma empresa não mais representa apenas um elemento prestador de serviços, mas sim uma instituição responsável pela disseminação de um estilo de vida. Palavras-chave: Cardápios. Design Gráfico. Gastronomia. Comunicação. Identidade Visual.

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Graduando do Curso de Bacharelado em Gastronomia pela Universidade Federal do Ceará. [email protected]

INTRODUÇÃO

O cardápio representa o primeiro contato entre o consumidor e o restaurante, e é um meio excepcional de transmissão de informações, que visa fortalecer a imagem e a identidade de uma empresa. A escolha de seu design infere diretamente nessa via mútua e se torna essencial para que o processo de consumo seja satisfatório. O perfeito entendimento dos valores da organização deve estar em harmonia com o layout do cardápio exposto e facilitar a compreensão visual por parte dos consumidores da mensagem a ser replicada. De tal modo o presente trabalho visa analisar a funcionalidade do design de cardápios dos serviços de alimentação na construção de uma identidade gastronômica própria. Para tanto buscou-se conceituar e descrever a importância da comunicação na sociedade de consumo e na manutenção de uma saudável relação de entendimento entre as organizações, em especial as do mercado gastronômico, com os seus consumidores. Tal investigação apresenta uma natureza qualitativa, visto que Godoy (1995, p.21) afirma que segundo essa “perspectiva, um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada”. Sobre o caráter descritivo da mesma, Vergara (2007, p.47) afirma que esse “expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno”. Ao mérito dos métodos, a pesquisa se configura como dialética, pois tem por finalidade “buscar as relações concretas e efetivas por trás dos fenômenos” (ZAGO, 2013, p.115). Já quanto aos procedimentos técnicos o presente artigo configura-se como uma pesquisa bibliográfica, visto que essa “implica em um conjunto ordenado de procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo, e que, por isso, não pode ser aleatório”. (LIMA; MIOTO, 2007, p.38). Quanto a coleta de dados optou-se pelo fichamento, visto que esse é o mais comum na realização das pesquisas bibliográficas e o que mais se adequa a sua realidade (GIL,2008). A análise dos dados foi realizada sob uma ótica condicional, pois a mesma considera os fatos sociais relacionados com os fenômenos, simultâneos.

1. O FENÔMENO DA COMUNICAÇÃO E A SOCIEDADE DE CONSUMO

A comunicação é um processo nato do ser humano, e por isso molda as sociedades ao redor do globo de forma sistemática e dinâmica. O ato de comunicar-se não somente representa um pilar de sustentação do entendimento mútuo de simples ideias e conceitos dos indivíduos e da manutenção da ordem, configurando-se para muito além disso. A comunicação é um elemento básico na formação dos caráteres individuais e comunitários dos seres humanos. O “homem não vive sem comunicação. A capacidade de se relacionar coordenadamente com seus semelhantes representa para ele, desde os tempos primitivos, um elemento básico de sobrevivência e satisfação das necessidades” (RÜDIGER, 2011, p.7). Repassar noções, tangíveis e intangíveis, por via de símbolos, sons e imagens dá-se por apenas uma simples análise do termo comunicação, visto que a mesma não é possível separada de um contexto cultural, que absorve e repassa as mesmas ideias de formas distintas para cada agente da comunicação, seja de forma subjetiva ou mesmo por uma percepção coletiva semelhante. A essa noção mutável de identidade, Muniz (2013, p.21) assinala que:

A mudança no entendimento sobre identidade acompanha o intenso caráter da mudança na modernidade líquida. Esse processo de mudança é devedor da globalização que terá grande impacto sobre as diversas formas de organização identitária. O ritmo de mudança nas sociedades são constantes, rápidas e permanentes.

Essa subjetividade da comunicação está intrinsicamente ligada ao modo de vida e de funcionamento de uma sociedade, aos seus padrões culturais, econômicos e sociais. Nicolau et al (2010, p.4) afirmam que todo “fenômeno cultural é também um fenômeno de Comunicação, constituído por linguagens que permitem a produção de sentido. E é no ser humano que se desenvolve a transformação dos sinais em signos pela relação que ele mantém com a linguagem”. “A transferência de informação de um indivíduo para o outro é absolutamente essencial. É o meio através do qual o comportamento é modificado, as mudanças são efetivas, a informação é transformada em algo produtivo e as metas são atingidas” (KOONTZ; O'DONNELL, 1981, p.409).

Logo a comunicação é um processo rotineiro e cotidiano que nos possibilita entender e expressar abstrações, e de mesmo modo repassá-los para outros, com finalidade de nos fazermos compreendidos. Esse processo complexo de câmbios ideológicos dá-se por meios muitas vezes negligenciados por aqueles que estão tomando parte ativa no mesmo, que não mais conseguem perceber a comunicação como fenômeno, devido a sua natureza corriqueira e usual. Símbolos, cores, formas e sons constituem veículos de expressão complexos, e que a medida em que são repetidos em nosso entorno passam a ser compreendidos não mais como agentes ativos da comunicação, e sim de maneira implícita. “Os resultados das decisões compositivas determinam o objetivo e o significado da manifestação visual e têm fortes implicações com relação ao que é recebido pelo espectador” (DONIS, 2015, p.29). Na sociedade atual, baseada numa estruturação mercadológica de consumo, a comunicação rompe fronteiras e adentra na relação das instituições com o seu público. Krohling Kunsch (2007, p.42) afirma que:

Como partes integrantes da sociedade como um todo, as organizações estão sujeitas a todas as suas mudanças e a novas incorporações. Uma organização nessa perspectiva pode ser considerada uma micro-sociedade que opera nas mais diferentes dimensões sociais, econômicas, políticas e simbólicas.

Dada a importância da comunicação para a manutenção das empresas Weick (1995, p.75) salienta que “a atividade comunicativa é a organização”; e ainda sob a mesma premissa, Modaff e DeWine (2002, p.4) afirmam que a comunicação é “fundamental para a existência da organização; cria e recria a estrutura que constitui a organização”. Uma organização que deseja se manter atualizada e em constante evolução deve se adequar aos anseios de seus consumidores, visto que a mesma funciona para suprir a demanda desses, ou sob uma análise mais profunda, por hora criar uma demanda a ser suprida por seus produtos ou serviços. Para entender as tendências, indagações, anseios e vontades de seus consumidores, as empresas devem por diversos meios buscar a mais pura e direta comunicação com esses. Assim, de maneira semelhante, a organização deve expor com a mesma clareza seus ideais, visto que serão por eles que os possíveis consumidores irão tomar suas decisões de consumo e emitirem seus juízos a respeito do produto ou serviço consumido ou até mesmo idealizado.

2. DESIGN GRÁFICO, COMUNICAÇÃO E CONSUMO NO MUNDO MODERNO

O design gráfico se configura como um importante campo de atuação da comunicação, pois o mesmo se utiliza de símbolos gráficos, tal a origem de seu nome, para a construção de uma linguagem visual.

Um projeto de design gráfico é um conjunto de elementos visuais – textuais e/ou nãotextuais – reunidos numa determinada área preponderantemente bidimensional e que resulta exatamente da relação entre estes elementos. Num projeto gráfico, os componentes tipográficos (ou seja, as “letras”) são tratados com a mesma importância visual, que por exemplo, um desenho ou uma foto. Em geral são protagônicos (ou, pelo menos, deuterogônicos) no que se refere à composição estético-formal, mas não necessariamente únicos. (VILLAS-BOAS, 2003, p.12).

A tênue relação entre o texto e a imagem é comumente citada quando se busca uma maior compreensão da função e atuação do design como meio de comunicação. As profundas discussões a respeito de qual das simbologias seria a mais eficaz ou mesmo mais correta de ser utilizada afim de se lograr um efetivo repasse de informações cria uma falsa dicotomia e atrapalha os processos de criação e mesmo do entendimento da função comunicativa do gráfico. Sobre a perfeita sintonia entre o texto e a imagem e seu papel fundamental na construção do design, Skolos e Wedell (2006, p.9) afirmam que:

Tem se dito muitas vezes que uma imagem vale mais que mil palavras. Mais recentemente, em uma palestra na Rhode Island School of Design, o designer de multimídia Mikon Van Gastel disse, "Uma palavra perfeitamente escolhida equivale a trinta minutos de filmagem." Julgamentos de valor à parte, uma coisa é clara: designers gráficos são ambos abençoados e amaldiçoados por trabalharem com dois métodos bastante distintos de comunicação, a palavra e a imagem. Como em qualquer parceria de sucesso, tipografia e imagem funcionam melhor quando elas se completam. [...]. Na verdade, a imagem deve ser "incompleta", para então haver algo a ser feito pela tipografia. (Tradução Nossa)2.

Do original em inglês: “It has often been said that a picture is worth a thousand words. More recently in a lecture at the Rhode Island School of Design, multimedia designer Mikon van Gastel offered, “One perfectly chosen word is worth thirty minutes of footage.” Value judgements aside, one thing is clear: graphic designers are both blessed and cursed for working with two very distinctive modes of communication, the word and the image. As in any successful partnership, type and image work best when they complement each other […] In fact, the image must be “incomplete” so there is something left for the type to do”. 2

Atualmente o design gráfico converteu-se em uma fonte genuína de persuasão, ante seus objetivos de influenciar tendências comportamentais, induzindo ao consumo e criando expectativas, movendo-se entre a ficção e a realidade. O design gráfico do século XXI, em vista dos reflexos da globalização se viu forçado a apresentar uma leitura instantânea de seu conteúdo, a fazer-se compreender por qualquer um, em qualquer parte, não importando a cultura ou meio no qual se insere. Sobre a relação de cultura e design, e a importância do mesmo na construção de um entendimento mais aguçado de uma sociedade, Samara (2007, p.10) afirma que:

Conforme nossa cultura reage à nova tecnologia das comunicações, hoje a profissão do designer faz parte da consciência pública. Na era da informação, ela se tornou uma disciplina de grande importância. Na comunidade do design, o debate sobre os meios de acesso, os gêneros, as raças e outras questões sociais ganhou maior importância do que a simples conversa sobre forma e organização; [...]. Como a construção e a organização da forma estão indissociavelmente ligadas à disseminação visual da informação, esse debate poderia ser um pouco mais complexo, talvez envolvendo aquelas “questões maiores” a que vêm se dedicando os designers gráficos...uma espécie de “inconsciente” estético que decidimos ignorar, sem perceber sua hegemonia.

O layout gráfico é parte inseparável da sociedade moderna, que dele depende para funcionar, no sentido de que constitui um pilar comunicacional usualmente difundido e integrado ao cotidiano das pessoas que já não conseguem desassociá-lo de suas vidas. Consequentemente, a carga imagética a qual elas se veem expostas coloca o profissional de design em um impasse: diante de tantas mensagens como encontrar uma via segura até o consumidor? Em todo caso, um bom layout gráfico já não é sinônimo de um bom produto. O que só reforça a iminência de uma produção gráfica criativa em mundo altamente competitivo e tecnológico. Assim, em um ambiente de intensa difusão de imagens, apresentar soluções gráficas inovadores se torna cada vez mais difícil, tornando-se mais complexo alcançar e manter uma posição de vanguarda. Afim de atingir um determinado público com uma determinada informação o design gráfico se configura como via de interação entre os agentes do consumo. A interação dos elementos gráficos influi diretamente no entendimento da organização por parte do consumidor.

A importância da comunicação visual na escolha por uma instituição em detrimento de outra pode vir de simples escolhas inconscientes do público. As cores, a tipografia utilizada, a quantidade de informações oferecidas, as imagens, composições e tantos outros elementos gráficos informam ao consumidor características que podem ou não o convencer, ou até mesmo o aproximar da marca, por meio de afinidades.

O design gráfico é tão poderoso quanto a arte, para representar uma cultura ou um momento histórico [...]. Por isso falamos também, da capacidade do design gráfico como ator na transformação social. [...]. O design gráfico emite mensagens que se constituem em referentes simbólicos importantes, a possibilidade de identificação e de credibilidade podem contribuir significativamente para modificar a realidade. (PERALTA, 2006, p. 10). (Tradução Nossa)3.

A ilusão é um termo muito recorrente no mundo publicitário, e por vezes entendido de maneiras errôneas. Iludir o consumidor deve ser diferenciado de ludibria-lo ou enganá-lo. Iludir, não visa prejudicar um indivíduo, e nada mais é do que a ação de criar uma expectativa de consumo. Iludir é trazer o público para um ambiente e um estilo de vida semelhante ao proposto por uma determinada empresa. Nesse contexto a comunicação imagética proposta por uma determinada organização reforça a polarização da mesma ante um conceito maior, que a define e a diferencia de seus concorrentes. Um design bem preparado aproxima uma empresa de seu cerne básico, de sua essência, de sua identidade. O design apresenta um papel fundamental quando se analisa o entendimento de uma empresa por seus consumidores. Ao entrar em contato com os materiais visuais, o consumidor vai ser convidado pelo design a se iludir quanto aos valores os quais está optando a consumir. A instituição por meio do design vai estar apta a iniciar um processo de alfabetismo visual no público que almeja expor seus serviços ou produtos. “As coisas visuais não são simplesmente algo que está ali por acaso. São acontecimentos visuais, ocorrências totais, ações que incorporam a reação ao todo”. (DONIS, 2015, p.31).

Do original em espanhol: “El diseño gráfico es tan poderoso como el arte, para representar una cultura o un momento histórico [...]. Por esto hablamos, también, de la capacidad que tiene el diseño gráfico como actor en la transformación social. [...]. La gráfica emite mensajes, que se constituyen en referentes simbólicos importantes, la posibilidad de identificación y de credibilidad pueden contribuir significativamente a modificar la realidad”. 3

3. O DESIGN DE CARDÁPIOS E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE GASTRONÔMICA

O cardápio, também chamado de menu, lista ou carta, é o “veículo de informação, venda e publicidade de um restaurante, e tem por finalidade auxiliar os clientes na escolha dos alimentos ou bebidas. Assim, sua função primordial é informar quais os pratos servidos pela casa, de modo que o cliente possa montar sua refeição” (BARRETO, 2003, p. 21). O cardápio é a alma de um restaurante, ele deve refletir o conceito do mesmo e viceversa. Nele estão contidos os pratos servidos pela casa e que norteiam o funcionamento do estabelecimento, visto que a partir desse que todos os setores do serviço de alimentação se baseiam. A partir da definição do que o restaurante serve é que se pode construir uma identidade a ser repassada para a comunidade. Araújo, Fonseca e Silva Filho (2015, p.8) alegam que:

No planejamento do cardápio é necessário levar em conta os desejos, hábitos, cultura, costumes, posição social de cada um dos indivíduos – clientes, pois estes apresentam diferenças muito significativas que influenciam e definem a decisão de cada uma na escolha de estabelecimentos gastronômicos.

O cardápio não é apenas uma listagem de alimentos e bebidas, com suas tabulações de preços, ele é uma via de contato direto com o consumidor, com a capacidade de repassar informações e agregar valores. As informações contidas em um cardápio são a sistematização do conceito da empresa, que deve buscar a perfeita sintonia e clareza na comunicação, afim de minimizar a deturpação de informações. O menu do restaurante traça a estratégia central do negócio e deve estar sempre alinhado com a sua identidade visual. Por vezes o papel comunicacional dos menus é negligenciado pelas empresas, que o compreendem apenas como uma coordenação e organização dos pratos afim de facilitar a escolha dos comensais. Oliveira et al (2014, p.2) salientam que o cardápio é um “meio de comunicação primordial entre o estabelecimento e o cliente, o cardápio é uma ferramenta de trabalho e de marketing [...] para com o público o qual deseja servir”.

Um design correto de um cardápio oferta informações essenciais aos consumidores, transformando a experiência do consumo em algo muito além das expectativas, fornecendo aos mesmos uma noção subliminar de um conceito que permeia o restaurante. O contato direto dos consumidores e a análise minuciosa do cardápio é uma etapa natural em um serviço de alimentação, logo dá-se a oportunidade do empreendimento de se utilizar de tal meio para repassar avisos importantes e relevantes na escolha e satisfação de seus clientes. Em um restaurante “o menu apresenta o seu plano estratégico de marketing e serve como a primeira impressão para um consumidor” (MCCALL; LYNN, 2008, p.440). (Tradução Nossa)4. O público consumidor define-se a partir de suas convicções que devem estar em linha com as propostas pelo restaurante, o que significa dizer que o mercado gastronômico está baseado fortemente no padrão comportamental de seus consumidores. O perfil do público afeta diretamente as suas escolhas de consumo. Sobre a relação do mercado e o meio de vida dos indivíduos é importante ressaltar que quando os consumidores saem para comer, tratam de equilibrar principalmente três objetivos diferentes: o prazer de estar junto, o prazer de comer e a necessidade de apoiar um estilo de vida.

O comportamento relativo à comida liga-se diretamente ao sentido de nós mesmos e à nossa identidade social, e isso parece valer para todos os seres humanos. Reagimos aos hábitos alimentares de outras pessoas, quem quer que sejam elas, da mesma forma que elas reagem aos nossos. Não é de surpreender, portanto, que o comportamento comparado relativo à comida tenha sempre nos interessado e documentado a grande diversidade social. (MINTZ, 2001, p. 31)

Em exemplo, um determinado público em sintonia com questões ambientais e ecológicas, busca seus ideais também em sua alimentação, procurando alimentos naturais e funcionais, sendo, portanto, imprescindível dos restaurantes que ofertam tal serviço comunicarem-se com esse público através do design, mostrando e salientando informações que irão ser decisivas na hora da escolha do prestador de serviço. A gama de cores empregadas, imagens, fontes, combinações, formas, texturas e até mesmo as informações extras contidas, como por exemplo dados nutricionais, selos de Do original em inglês: “the menu outlines your strategic marketing plan and serves as the first impression for a consumer”. 4

qualidade, curiosidades ou dados de outra natureza inferem diretamente no comportamento do consumidor. “Ao entrar em um restaurante, todo cliente espera, consciente ou inconscientemente, satisfazer desejos de ordem física e emocional, de modo que os cardápios devem vir ao encontro dessas necessidades. Para tal devem despertar a atenção do cliente” (BARRETO, 2003, p.22). O papel do design gráfico na construção do cardápio dá-se por essencial na manutenção de um padrão de coerência visual. Um restaurante especializado em uma cozinha regional, por exemplo, deve repassar tal conceito para seu menu, incluindo no mesmo elementos que remetam o cliente à região, tal como um restaurante que adota uma postura moderna e requintada, deve procurar repassar a finesse do ambiente no papel da carta.

O cardápio é a estrela da casa. A vitrine do estabelecimento. Com técnicas de persuasão que englobam imagens, diagramação, cores e conceito, o cardápio bem apresentado vai aumentar a vontade do cliente em consumir mais de um item, ou até mesmo optar por pratos que ele não experimentou. Vale lembrar que o cardápio está lá para estimular a venda. Assim como um jogo americano bem elaborado, onde o consumidor de forma criativa fica frente a frente com a marca do estabelecimento, além de outras peças de comunicação que interagem com o cliente durante sua estada no estabelecimento. (FONTÃO, 2010, p.1)

Por uma simples análise do design e do estado de um menu o cliente é induzido a atos de consumo distintos. Layouts que condizem com a expectativa do consumidor logram o fazer compreender que está no estabelecimento certo, visto que o que o material que está disposto diante de si condiz com o que ele estava procurando. Reynolds, Merritt e Pinckney (2005, p.2) concluem que: O menu do restaurante tem sido visto como uma ferramenta de marketing e chave para influenciar o comportamento do consumidor. Os designers de cardápios frisam as virtudes de um menu atraente, alardeando várias estatísticas e números indiretamente relacionados que "provam" que o design do cardápio afeta as vendas. (Tradução Nossa)5.

5

Do original em ingês: “The restaurant menu has long been viewed as a marketing tool and key to influencing consumer behavior. Menu designers herald the virtues of an attractive menu, trumpeting various indirectly related statistics and numbers that “prove” that menu design affects sales”.

RESULTADOS

Com a presente análise foi possível delimitar os objetivos e a importância de um cardápio, e seus elementos gráficos na construção da imagem de um restaurante. Entre esses, é de suma relevância ressaltar a direta comunicação dos produtos e serviços disponíveis para o consumo, provendo evidencias tangíveis de vendas. Para aqueles responsáveis para a gerência dos estabelecimentos de restauração o menu deve atuar como uma ferramenta de indução de compra, utilizando-se de técnicas de design para chamar a atenção, ressaltar ou mesmo persuadir o consumidor. A estruturação de um cardápio reflete os valores da empresa e é uma ferramenta essencial na composição visual de uma organização. A escolha do design dos cardápios deve estar em perfeita reciprocidade com a mensagem que será repassada, e deve atentar também ao comportamento do cliente. Através do design efetivo dos cardápios a organização é possibilitada a alterar a percepção de seu público a respeito de determinado conceito. O realce de informações, através da utilização de imagens, cores, formas, diferenças de tamanho, posicionamento, selos ou outros, abre uma margem de intromissão, controlada pelo estabelecimento, no processo de escolha do consumidor. Por meios do correto design dos cardápios as empresas logram vender um novo produto e inseri-lo de forma efetiva no hábito de compra dos clientes, utilizando-se das facetas do grafismo para ressaltar essa novidade de consumo para seus clientes. É comum, por exemplo, confirmarmos essa informação em cadeias de fast-foods, que apresentam seus menus expostos em painéis luminosos, chamativos e convidativos, comumente ressaltando vendas combinadas, promoções e diferenciais. O menu confirma a segmentação do restaurante e é um grande auxílio na percepção do mesmo por parte de seus consumidores. Restaurantes especializados em confeitaria por exemplo, habitualmente ressaltam detalhes gráficos que remetem a delicadeza e a doçura dos alimentos servidos, dos hábitos de consumo e até mesmo de informações periféricas ao simples ato da alimentação, mas que de alguma maneira afetam a experiência gastronômica. Portanto é ressaltada o conceito da influência dos fatores visuais de design na percepção do valor de compra em termos utilitários e hedônicos por parte dos clientes, e sua aplicação ao mercado gastronômico, em especial na elaboração de cardápios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mercado atual, em vigência com as alterações sociais e culturais provindas de um processo intenso de globalização, se torna cada vez mais exigente, acirrando a concorrência entre as empresas pela atenção dos consumidores. Na busca de rever seus conceitos e suas posturas para se manterem em pleno desenvolvimento, para as corporações, o fenômeno e a ação da comunicação dinâmica e eficaz pode garantir a renovação e a reinvenção dos processos de conquista do cliente moderno. O mercado gastronômico, não podendo ser diferente, anda em linha com esses pressupostos, e busca sempre a renovação de seus conceitos. Analisar, portanto, o papel de instrumentos de comunicação dos restaurantes, como o cardápio, é vislumbrar um cenário de maior entendimento do público pelas organizações, Esquadrinhar os efeitos do design no comportamento de compra do consumidor, e prever a adequação dos símbolos gráficos às expectativas destes é um dos caminhos para a perfeita sintonia na relação do prestador de serviços com os seus clientes. O design do cardápio possui uma grande influência e afeta diretamente a experiência dos consumidores em um restaurante. Ele atua principalmente sob quatro dimensões: o posicionamento dos itens, a descrição dos itens, a demarcação das seções e as características da carta física. Portanto o cardápio, e por consequência seu design, exerce papel influente no pedido dos itens por parte dos consumidores e afeta diretamente a percepção dos clientes em quesitos como o valor, a qualidade, a saudabilidade e gosto dos produtos oferecidos. Sob a ótica do exame crítico da presente investigação, conclui-se que a identidade visual de um restaurante é parte importante na construção de um conceito conciso e homogêneo que será repassado a comunidade. O estilo do serviço e a segmentação dos produtos devem ser repassados aos consumidores através do design gráfico, pois o mesmo possibilita uma melhor compreensão, mesmo que por vezes, esses sejam expostos em níveis discretos ou subliminares. Logo reitera-se, exposta a análise do presente trabalho, que o cardápio é um veículo eficaz na propagação de informações, e que a importância de sua aparência e de seus elementos visuais vai muito além da simples estética. Um design de cardápios bem estruturado conduz o consumidor a uma experiência de consumo diferenciada, ressaltando elementos e informações que farão a diferença na aceitação de um produto ou conceito ofertados.

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